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Capítulo 03

A forma como José Maria me olhou durante o jantar, deixou o meu marido desconfiado. Meu cunhado até mesmo engasgou-se com o copo d'água enquanto me olhava. Após o jantar João veio me questionar se ocorrera algo fora do normal. O que eu disse? Neguei, virando para o lado e fingindo dormir. Foi um milagre ele não ter questionado onde passara as últimas horas, talvez fosse porque estava feliz de ter o irmão por perto. Acabei adormecendo de verdade, pois estava cansada. No dia seguinte, acordei com meu marido beijando meu pescoço. Revirei os olhos com seu cinismo.

— Desculpe, Elise, por ser tão explosivo. Você sabe que não gosto de ficar brigado com você!

João não queria ficar brigado comigo pelo simples fato de que precisava do meu corpo. Era isso que eu acreditava, não por outra razão. Tinha muito tempo que eu não ouvia um eu te amo sair de seus lábios. Os nossos beijos eram sem sal e sem paixão.

— Você só quer ser carinhoso quando faz algo errado. Por que você mudou tanto?

Eu queria aquela resposta, merecia aquela resposta, na verdade, eu não casara com aquele homem insensível. João se afastou do meu corpo com a minha pergunta, levantando-se rapidamente da cama.

— Tenho que tomar um banho agora para ir para o trabalho, conversamos outra hora! Não fique muito próxima do meu irmão, entendeu? Você sabe que eu não gosto que outros cheguem perto de você, isso inclui meu irmão José Maria. Ele pode ser uma má influência pra você. Somente aceitei o meu irmão na nossa casa porque ele me pediu muito. Avisei ele para ficar longe de você, apenas falar o básico do básico. Não me olhe assim, estou cuidando de você!

Cuidando de mim? Se aquilo que estávamos vivendo era cuidar, não queria descobrir quando não fosse. Sentei na cama pronta para o que viesse em seguida.

— É o seu irmão, como você pode falar assim? Não sente vergonha desse papel ridículo que está fazendo? João, esse seu ciúme não está colando! Não podemos ter uma conversa como um casal? Sem brigar?

Descontente e aparentemente chateado, meu marido mordeu o lábio inferior, demonstrando nervosismo.

— O que você quer dizer com isso? Pensa em ficar amiguinha do meu irmão caçula? Ele é homem, Elise, não é porque é meu irmão que não pode ir de gracinha pro seu lado! Você é minha mulher, tem que se respeitar como uma senhora casada! Fica longe de José Maria, caso eu saiba que vocês ficam de conversinhas pela casa teremos um sério problema!

— Devo morrer agora ou depois de medo? Seu irmão não vai me engolir por simplesmente conversarmos! Sei bem que você sabe de tudo que acontece nessa casa, devido sua querida Martinha. Você quer manter ela conosco para ser sua informante, sei que é isso! Não entendo porque você tem a síndrome do corno, sendo que nunca ousei te trair durante esses anos.

— Não vou mais perder tempo com essa conversa!

Meu marido me deixou falando sozinha. Nossa rotina não seria a mesma com a presença do meu cunhado, de certa forma, julgava que isso poderia ser bom, porque poderia evitar muitas discussões. Saí da cama e resolvi caminhar pela casa, não queria estar no quarto quando o João saísse do banho. Como sempre encontrei Marta próxima ao meu quarto, talvez ela estivesse ouvindo a conversa atrás da porta. Trocamos olhares que mais pareciam ameaças. Minha vontade era de sair arrastando aquela mulher pelos cabelos para fora da minha casa, mas tudo não passava de um desejo, pois não poderia se tornar realidade, porque ela poderia me denunciar e eu acabar me dando muito mal.

Afastei-me de Marta e decidi ir até o jardim. Chegando no Jardim me encontrei com José Maria, ele estava fazendo abdominais. Minha boca secou, confesso que fiquei em pânico, não queria estar a sós com ele, portanto, queria sair depressa de perto dele, no entanto, em um ato impensável, meu cunhado me impediu de ir embora, segurando meu braço. Virei o rosto para encará-lo e senti falta de ar. Ele estava suado e seu abdômen definido brilhava por conta do suor.

— Cunhada, quer me deixar constrangido? Primeiro olha nos meus olhos e agora vai descendo o olhar pelo meu corpo? Quer que eu pegue uma cadeira? Você pode sentar e me observar enquanto faço abdominais se quiser! Está tão vermelhinha igual pimenta. Pensei que tivéssemos superado o momento no banheiro...

Retirei a mão do meu cunhado do meu braço. Tive a leve impressão de que ele estava dando em cima de mim, com aquele sorrisinho de canto de boca e pose de machão.

— Não sabia que era um convencido metido a besta. Tenho mais o que fazer do que ficar observando um franguinho como você! Faça o que quiser no jardim, não estou nem aí! Apenas sai para pegar um ar, pois estou com calor, não há outra razão. O que aconteceu ontem foi uma fatalidade, algo que eu nem lembrava mais, faça o mesmo, esqueça!

— Esquecer? Você pode me pedir o que você quiser, mas esquecer, eu não consigo. Não sabia que o meu irmão tinha uma mulher tão gostosa assim. Você sabe que ele nunca deixou que ficássemos próximos, caso não saiba foi por causa dele que nunca me aproximei muito. Sempre te achei uma gata, porém, te ver daquela maneira como vi, bateu um negócio aqui dentro que você nem imagina, também causou um efeito no meu amigo, se é que você me entende.

Fiquei chocada, descobrindo aquele lado seu sem vergonha. Meu cunhado me olhava com malícia enquanto segurava no saco propositadamente. Onde tinha ficado o respeito? José Maria era um homem vulgar e eu não sabia antes.

— Franguinho, devo admitir que tem coragem, porque falar tudo isso para esposa do seu irmão, não é qualquer um que cometeria essa loucura. Não tem medo que eu conte para o seu irmão tudo que acabou de me falar? Sou uma mulher casada e não uma dessas vadias com quem você anda por aí! Vejo que ainda está coçando o saco, você deve ter uma daquelas doenças do mundo, afinal de contas, você é um piloto da Força Aérea Brasileira, as mulheres costumam se jogar em homens como você, entretanto, não serei uma delas, se toca!

Além de ser objetiva para o meu cunhado entender, apertei com força suas bochechas. Quem disse que ele entendeu? José Maria pegou as minhas mãos e beijou.

— Vamos nos dar muito bem, cunhada. Suas palavras entraram no meu coração! Estou apaixonado! Meu amigo também ficou mega apaixonado pela mulher decidida que aparenta ser. E agora? Você cuidará da gente? O franguinho precisa ser bem temperado antes de ser comido...

— Vai se ferrar! Isso parece uma piada pra você? Não vejo graça em suas insinuações! Sabe o que você faz com esse seu pau que ontem estava do lado de dentro do vaso-sanitário?

— Elise! — meu marido berrou. Senti minha alma sair do corpo na hora.

— Boa sorte, cunhadinha!

O safado do José Maria sussurrou, me dando um tapinha no ombro direito e fugiu. Não era possível que João tivesse ouvido toda nossa conversa. Eu não deveria ter falado nada, só deveria ter saído de perto do irmão do meu marido, contudo, era tarde, estava estampado no rosto do meu marido que algo havia lhe desagradado. Iríamos ter outra discussão? Perguntei-me.

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