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CAPÍTULO 03

Estou enlouquecendo com tantas coisas sobre meus ombros. São os assuntos da máfia, que não são poucos, e ainda tem o fato importantíssimo de eu não saber como cuidar bem da Clara, minha doce bambina. E, além de tantas preocupações, minha mamma não dá sossego aos meus ouvidos, deixando claro que não devo me casar com Irina, e sim me apaixonar outra vez. Como se fosse possível depois do que passei, sendo abandonado com minha pequenina pela mulher que achei que me amava. Se necessário, teria dado minha vida para honrar a palavra que dei a ela, sem saber que, na verdade, não passava de uma vadia. Uma vadia que fugiu com o dinheiro que eu tinha no cofre e com um dos meus sicurezzas. Ele era uma das minhas sombras della morte, e mesmo sabendo dos riscos, foi embora com ela. O pior é que o cara era da minha inteira confiança.

Tudo que a mamma da minha filha deixou foi uma carta dando adeus. Minha famiglia não queria meu casamento com ela, e como o babaca que fui, convenci a todos de que ela era uma boa moça. Porém, enganei-me e me casei com uma vagabunda. Agora estou prestes a pagar um alto preço.

Apesar de ela ter me roubado, traído e abandado, o pior foi abandonar nossa figlia. Só não deixei o escândalo envolver os Pasini porque não poderia fazer isso com eles. Coisa que não foi fácil, já que a mídia está sempre no nosso pé. Tento me manter afastado desses urubus, entretanto é difícil. Estão sempre farejando “carniça”, principalmente quando se trata de tentarem descobrir algo sobre nós, os Pasini.

Afinal, minha famiglia e eu somos o que muitos chamam de “o meio-termo entre o céu e o inferno”. Na verdade, todos borram as calças ao ouvir o nosso nome; especialmente o meu e dos meus primos. Mas não ligo. Sei que ninguém tem reais provas contra nós.

Por ora estamos seguros dos urubus, assim como dos escândalos e de tudo que vem com eles. Sendo o capo responsável pela segurança da famiglia, não cacei e matei a vadia e seu amante, pois para ser respeitado, muitas vezes tenho que abrir mão do que quero, para trazer segurança e bem-estar a todos. Não matar Estefani e o figlio di puttana foi um “mal necessário” que garantirá que todos nós fiquemos ilesos, sem escândalos e sem seus efeitos colaterais. Contudo, isso não evitará uma vida de pobreza e humilhação para a vadia. Afinal, um dia o dinheiro vai acabar, já que o valor roubado não foi grande coisa se comparado ao estilo de vida que ela gosta de levar. O que deixou meu papà, Arthur, muito contente. Não é para menos. O homem nunca se descuida de tudo ao nosso redor, assim como dos negócios. E, por ele ser o patriarca dos patriarcas, todos nós devemos obedecê-lo sempre, sem hesitar, pois é um dos mais velhos membros da famiglia. Nós o obedecemos sem pestanejar, assim como aos anciões. Jamais, nenhum deles deve ser desrespeitado.

O primeiro ensinamento da famiglia é: respeitar e obedecer aos mais velhos, sem contestar.

Mesmo eu sendo quem sou, jamais fui contra as ordens de qualquer um dos patriarcas. O que me lembra da maldita palavra que dei ao meu papà.

Vejo Irina sentada ao meu lado, e a única coisa que realmente penso neste instante é: onde eu estava com a cabeça quando aceitei me casar com ela?

Ao mesmo tempo penso que a união da família depende de honrarmos as palavras que damos uns aos outros. E ela está acima de tudo. Enfim, nós somos o diabo na terra, os intermediários della morte e a tábua de salvação de muitos. “Sem piedade” é o meu lema.

Agora estou a caminho da escolinha Esmeralda, indo pessoalmente buscar minha pequena Clara. Minha bambina tem apenas dois aninhos e já está sem a mamma. Talvez meu papà tenha razão em dizer que Irina será uma boa mãe para ela. Mas, por outro lado, minha mamma acha que ela é uma mulher fria demais para isso.

A minha cabeça de cima anda indecisa, meu coração fechado e meu pinto quase satisfeito. Quase. Que merda!

Olho através do vidro do carro e noto o mau tempo. Com certeza não demorará a começar a cair mais uma forte e fria chuva. O inverno em Roma nem sequer começou ainda, todavia elas já estão presentes.

O carro para no sinal vermelho e eu vejo arruaceiros e arruaceiras, jovens homens e mulheres andando de skate. Uma coisa rara para a nossa querida Roma. Provavelmente, são imigrantes.

Olho mais à frente e noto a escolinha.

Volto o olhar para a mulher ao meu lado e penso em jogá-la para fora do carro. Assim, eu me livraria da maldita palavra. Porém, contenho-me ao me lembrar de que meu papà não acreditaria em um acidente. E, caso ela não viesse a óbito, eu teria que cumprir a maldita palavra, mesmo com ela danificada.

Como diz Fred, meu primo, “o sacrifício será grande ao cumprir uma palavra mal pensada”. Uma palavra que o patriarca dos patriarcas não vai permitir ser quebrada. Ao mesmo tempo, talvez ele tenha razão.

Olho pelo vidro novamente, vendo a chuva que agora começa a cair.

 

 

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