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CAPÍTULO 04

Voo com o “skate” por cima de um Maybach Exelero preto, um carro de luxo, a julgar pela aparência. As pontas dos meus dedos tocam no teto dele e já ouço alguém me xingando.

Não vejo quem é, mas como a boa “adulta” que sou, mostro meu dedo do meio para o tal. O cara é cego? Só pode ser, para não ter visto uma criança parada no meio do trânsito.

O stronzo não viu a bambina e ainda me xingou? É cego o filho de uma égua. Mil vezes stronzo!

Salto na frente da pequenina que, mesmo assustada, dá os bracinhos para mim. Ela chora, parecendo muito amedrontada, e eu a pego nos braços. Sem hesitar, corro com ela até a calçada. Chorando, agarra-se ao meu pescoço.

— Oi, docinho.

— Oi, doçula. — Soluça.

Acho graça da sua careta e dou risada. Ela gargalha lindamente e se acalma. Neste instante, sinto como se meu coração se abrisse e desabrochasse um sentimento inexplicável.

Limpo suas lágrimas e dou, com certeza, um belo sorriso. Tadinha! Estava tão assustada.

— Bom... Eu sou a Micaela. E você, docinho? Como se chama?

— Clala... Tala... Não sei falar dileitinho.

— Eu entendi. — Ela acaricia meu rosto e dá o sorriso mais lindo e puro que já vi. — Prazer, docinho de Clara.

— Pazei, Mimica.

Dou um beijinho no rosto dela e a protejo da chuva com meu corpo e minha mochila. Já ela dá um beijo na minha face, na minha bochecha, fazendo-me sorrir.

— Onde estão seus pais?

— Não sabolo onde tá mamma. E o meu papà tá atais de bocê.

Antes que eu me vire e possa ver quem é, sinto uma mão grande agarrar meu braço. Sou jogada para o lado e caio na calçada, de costas contra o chão molhado.

Que filho da puta! Caramba!

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