CAPÍTULO 7
|KAYRA|
Eu ainda estou remoendo um plano de vingança contra Andy em meu coraçãozinho peludo e rancoroso, é verdade, mas nada supera a falta de paciência que me sobe rapidamente por dentro toda vez que vejo Gregory Queen me olhando de esquina, com uma cara de ressentimento como se eu tivesse atropelado seu cachorrinho de estimação.
Haja domínio próprio para controlar a terrível vontade que tenho de lhe dar umas bofetadas para ele ver se acorda para vida e supera logo isso.
Após a conversa bastante franca e esclarecedora que tivemos da última vez, graças aos céus ele não disse mais nada com palavras para insistir no assunto novamente. Contudo os olhares ofendidos e inconformados que vem lançando em minha direção, toda vez que tenho a infelicidade de esbarrarmos um com o outro em algum lugar, tem me tirado do sério e falta pouco para eu explodir com ele.
Até porque não é como se eu me importasse muito com sua opinião ao meu respeito, todavia seu comportamento infantil tem provocado um crescente burburinho pelo rádio corredor do hospital, que eu também não perderia meu precioso tempo dando confiança a uma coisa irrelevante como essa, se tudo isso não estivesse afetando de algum modo o meu trabalho no hospital.
Mas está!
As más línguas por aqui estão espalhando fofocas e até mesmo inventando absurdos ilógicos a respeito do que eu possa ter feito para o panaca do Queen, o qual é chamado pela maioria dos funcionários que mal conhecem o ser chatíssimo que ele é, de bom doutor.
Ah, faça-me o favor, pelo amor de Deus! O cara não supera um fora, é insistente e grudento e eu é que saio como a grande vilã da história, sendo que ninguém sabe o porre que é um homem como ele que não aceita um não como resposta, continuar me perseguindo dia após dia?
As vezes eu acho que é Deus que me contém e segura as vontades loucas que tenho de furar com um canivete um ou dois pneus do carro desse médico dos infernos por atazanar minha vida desse jeito. Como se eu não tivesse serviço de mais para fazer todos os dias e alguns problemas para resolver aos finais de semana, agora Queen vem arranjar mais confusão para minha vida logo no meu ambiente de trabalho? No meu intitulado santuário diário?
Ah, mas ele está caçando... e vai encontrar! Ô se vai!
Pois na hora que qualquer enfermeira maluca ou algum outro médico amiguinho seu, tomar suas dores, e apresentarem má vontade para realizar a menor coisa que seja que eu lhes pedir, pedir não... que eu mandar, porque ocupo um cargo superior ao deles, e tenho o direito de exigir estando na minha função, sem ser desrespeitosa com ninguém é claro, eu serei forçada a tomar medidas drásticas para que isso acabe de uma vez por todas.
Não é certo eu ser prejudicada nos meus afazeres e consequentemente meus pacientes sofrerem também, tudo por causa de um posicionamento machista e injusto perpetuado por pessoas que fazem parte do meu trabalho, as quais eu dependo da mão de obra delas assim como elas também dependem da minha em uma via de mão dupla, sem que nenhuma delas saiba a pressão a qual eu venho suportando a tempos.
Gregory que não me irrite mais ou eu jogarei a educação que recebi dos meus pais pela janela, e resolverei este caso como a boa briguenta que existe dentro de mim pede, com uns belos socos e chutes. Cara mal amado, eu hein! Penso comigo mesma.
-Suzan...
Ergo uma mão para chamar a atenção da enfermeira que está passando por mim pelo corredor, preciso que os exames de um paciente sejam pegos no laboratório para que eu os examine antes de ir visitá-lo num dos quartos hospitalares no andar de cima o qual estou neste momento, porém a mulher finge, porque eu percebo nitidamente o instante em que seus olhos me veem ao virem na direção contrária a minha, mas mesmo assim ela passa direto por mim fingindo não me ver ou escutar eu chamando seu nome.
-Agora já chega Gregory seu miserento, você me paga! Filho da...
Extremamente irada noto que a situação já foi longe de mais e está se arrastando por muito mais tempo do que o tolerável por qualquer pessoa minimamente paciente, quatro dias! Há exatos quatro dias essa porcaria de situação injusta está me prejudicando sem que eu não tenha feito nada para merece-la, e nem tenha reclamado por causa disso... até agora!
Mas já basta! Não irei admitir ser desrespeitada e desmerecida por meus colegas de trabalho por causa das merdas que esse idiota deve estar inventando e espalhando por aí feito um babaca de maior marca.
Não mesmo! Ele que engula seu orgulho ferido ou enfie no rabo, como quiser, entretanto, que me deixe em paz no meu canto e vá fazer algo de útil por alguém. Meus pacientes necessitam dos meus cuidados, e não será um merdinha como ele que irá atrapalhar o meu bom desempenho com suas birras e infantilidades.
Dessa forma, paro tudo o que estou fazendo neste instante e deixo de lado, disposta a ir me encontrar com Queen para resolvermos amigavelmente, nos meus termos é claro, este longo caso. Marcho espumando de raiva por dentro até o elevador e digito o número do andar em que sua sala fica.
Leva apenas alguns poucos segundos que parecem um breve estalar de dedos para quem está com sangue nos olhos assim como eu, para que as portas metálicas se abram novamente e eu saia para fora no segundo andar.
Eu não preciso me esforçar muito para localizar Gregory Queen assim que começo a andar, pois a porta de sua sala se abre assim que um médico acaba de sair pela mesma. E isso somente facilita o meu trabalho, pois vejo-o assentado confortavelmente atrás de sua mesa, girando a cadeira de um lado para o outro tranquilamente, como se ele fosse a bosta de um homem sem peso na consciência por tudo o que está me causando.
Babaca!
-Ei, Queen! Tenho um recadinho para você!
Digo entrando de súbito em sua sala, e mal lhe dou tempo para entender o que está acontecendo ou fugir para longe, apenas lhe transmito minhas mais sinceras considerações do jeitinho que sei.
-Vira homem e deixe de ser mentiroso, seu bundão!
E pontuo a frase acertando seu rosto com um belo soco merecido.