CAPÍTULO 8
|KAYRA|
-Você enlouqueceu, Pextton? O que está fazendo? Sai de cima de mim!
Gregory grita amedrontado ao levar uma mão sobre o olho atingido, e empurra a cadeira de rodinhas para trás na tentativa de se afastar da mira dos socos que meus punhos desferem com vontade, porém eu não ligo a mínima se o escandaloso está chamando a atenção do hospital inteiro com seus berros desesperados. Nesse momento, em que estou de cabeça quente e explodindo de raiva acumulada, tudo o que quero é acertar as contas com esse imbecil de uma vez por todas para que ele enfim me deixe em paz e pare de prejudicar meu trabalho.
Sou contra violência gratuita, mas o que estou fazendo agora não tem nada de gratuito, além do que, o doutorzinho Queen merece muito mais do que isso na verdade! Babaca machista e mal resolvido! Precisa aprender uma boa lição.
-Você vai parar de espalhar essas merdas que está inventando sobre mim nos ouvidos das pessoas, ou irei arrebentar a sua cara de fuinha abestalhado, estamos entendidos Queen?
-Eu? Mas eu não fiz nada...
Ele tem a audácia e a cara de pau de mentir diante de mim, então eu não me aguento, parto para cima dele novamente sentindo o imenso desejo de bater sua cabeça contra a superfície lisa mesa, até transformá-lo minimante em um homem que honra as calças que veste, e fazê-lo confessar a verdade, pois sei muito bem que ele esta mentindo descaradamente só porque foi finalmente pego no ato e agora tem medo da retaliação que merece.
-Queen, você está me provocando...
Eu rosno transtornada com o rosto muito próximo ao seu, mas ainda sem agredi-lo outra vez, e lhe dou a chance de se consertar. Contudo ao invés de dizer a verdade logo e prometer que não continuará infernizando minha vida como tem feito ultimamente, o idiota desvia o olhar por um segundo em direção a porta de sua sala, talvez pensando que se correr muito consiga escapar dos meus golpes, e parece gostar da ideia, pois em seguida, quando seus olhos escuros se voltam para mim, não há o menor vestígio de arrependimento ou remorso, mas sim a sombra de um sorrisinho sarcástico que começa a surgir no canto de sua boca, a qual eu quero desmanchar num único soco.
Qual é o problema desse cara?
-Você é quem vai me obrigar a fazer qualquer coisa, amorzinho? E se eu não quiser? O que vai fazer? Me bater de novo?
Ele sussurra com uma risada baixinha que me tira de órbita. O sangue sobe a cabeça e eu não enxergo mais nada a minha frente no instante em que meu punho parece ganhar vida própria, e meus dedos entram em contato com a pele de seu rosto acertando-lhe a boca com um golpe certeiro.
Ergo o braço para desferir o próximo seguido de muitos outros para pelo menos descarregar minha raiva, já que o idiota não pretende se consertar, porém antes que eu consiga completar o percurso, sou detida por uma grande e forte mão que segura meu pulso detendo a ação pretendida.
-Para com isso, Pextton!
Uma voz masculina troveja em meu ouvido, mas eu não consigo me atentar ao comando ou a quem quer que esteja falando comigo. É como se eu estivesse cega de raiva. Borbulhando de um sentimento muito corrosivo por dentro que me consome e impulsiona a agir sem pensar.
-Eu não suporto essa sua babaquice!
Cuspo a frase feroz, louca para avançar de novo, contudo sou impedida de prosseguir com os xingamentos e agressões ao ser alçada pela cintura por um braço grosso feito um tronco de árvore, que tira meus pés do chão.
-Eu já disse para você parar, Pextton! Não se faça de surda e não arranje mais problemas para si mesma!
Eu estremeço ao enfim reconhecer o dono da voz, por sua força e firmeza: é Ryan Foster. Oh, droga! Essa não... Ryan Foster não! Eu me lamento internamente.
-Mas ele...
Eu resmungo contrariada ao apontar o dedo indicador para o imbecil do Gregory que agora ostenta um olhar de despeito e deboche em sua fuça sem vergonha. Salafrário! Ele havia feito tudo de propósito para me ferrar com Foster e também diante das pessoas que estão assistindo toda a cena do lado de fora como telespectadores frente ao desenrolar de uma novela!
Queen armou para mim e eu caí feito uma otária! Eu concluo por fim. Ele sabia o tempo todo que estávamos sendo observados e por isso me provocou em tom baixo para ninguém escutá-lo, e agora sair como a vítima e eu a errada da situação. Era só o que me faltava! Mas é um sonso, cínico e dissimulado esse Gregory Queen! O que mais falta ele fazer pelas minhas costas? Me empurrar escada abaixo? Pois é que parece!
-Mas nada, Pextton! Cale a boca e venha comigo sem retrucar! Eu já estou farto dessa bagunça por hoje.
Ryan diz exasperado e com dureza, e somente me coloca de volta no chão quando já estamos no corredor no lado de fora. E mesmo sem designar um segundo olhar para meu rosto, sei que ele está extremamente irritado pelo que fiz lá dentro apenas pelo som de sua respiração pesada cortando o ar.
Abaixo a cabeça constrangida por ter decepcionado Ryan e ao mesmo tempo o tirado do sério, percebendo a burrada que cometi, e que por essa mesma razão também acabei caindo na armadilha de Queen.
Foster está se contendo para não me sacudir pelos ombros aqui mesmo, e por isso não diz uma única palavra de repreensão ou sobre qualquer outra coisa ao segurar-me pelo pulso, e me levar consigo por entre as várias pessoas que estão cochichando de forma especulativa como as boas fofoqueiras que são, umas com as outras, ao mesmo tempo em que me destinam um olhar de censura com um breve menear de cabeça negativo.
Como se eu me importasse pelo menos um pouco com o que estão pensando ao meu respeito... elas que se lasquem! Tudo o que realmente me preocupa neste instante é somente o que está se passando pela cabeça de Ryan Foster nesse exato segundo, e o que ele fará a partir disso.
O que ele fará comigo?