CAPÍTULO 6
|KAYRA|
Será só mais uma festinha...
Empurro tal pensamento para o fundo da minha mente e trato logo de enxotar as duas para fora da minha sala para poder voltar a me concentrar no trabalho outra vez. Cada coisa a seu tempo, e já que eu estou em um ambiente de trabalho, tenho que cumprir com minhas obrigações como um bom profissional deve fazer.
-Tá, agora que as senhoritas já conseguiram o que queriam vindo até aqui, que é me arrastar junto com vocês para essa tal festa, agora deem o fora daqui e vão fazer jus ao salário que cai na conta de vocês no final de todo mês.
Digo apontando o polegar para a porta em sinal de vazar, ao que ambas riem feito duas adolescentes trapaceiras que acabam de engabelar a própria mãe ao olharem de uma para a outra. Aff... às vezes eu fico perplexa com o nível de maturidade que Andy e Marie parecem possuir. Duas mulheres em corpo de adulto, mas que se comportam de modo bem juvenil. Eu mereço! Com certeza devo ter feito alguma coisa bastante ruim na vida passada, para receber a colheita amarga de tudo na vida a qual estou vivendo atualmente, só pode!
-Vão trabalhar, suas marias-fifis (fofoqueiras)!
Eu finjo lhes dá uma bronca ao me levantar e empurrá-las pelas costas rumo a saída, mas no fundo ambas sabem que não estou falando sério, sobre insultá-las de fofoqueiras, e que tudo não passa de apenas uma brincadeira em forma de alfinetadas como de costume. Afinal de contas amigas não precisam medir palavras ou atitudes para lidarem umas com as outras, esse é o princípio fundamental da amizade, ter total liberdade para se expressar umas com as outras como quiser.
E por mais peculiar que possa parecer nosso grupo de amizade para quem observa de fora, cada uma com suas particularidades e características tão diferentes umas das outras, nós nos suportamos e até mesmo posso dizer que nos amamos cada uma da sua forma, e com seu jeito de demonstrar, seja de modo mais espontâneo ou introspectivo, o importante é que se expresse de algum jeito. E mesmo que na maioria das vezes eu queira matar uma delas, jamais abriria mão do tipo de relacionamento que estabelecemos e que perdura até hoje.
Andy e Marie é o que posso chamar de minhas melhores amizades, apesar de tudo.
É claro que Andy que veio primeiro, ocupa um lugar muito mais especial do que Marie em meu coração, como de uma irmã, e que Marie nunca saiba desse pequeno detalhe, contudo, nem por isso Willous deixa de ser importante em minha vida, pois todas as duas tem o seu devido valor para mim.
-Eu sabia, Pextton! Sabia que você, a rainha das festas não iria resistir a tentação quando seus olhos batessem nesse lindo convitinho preto e dourado
Marie zomba ao gabar-se de seu seu feito, com um enorme sorriso de satisfação pregado nos lábios pintados de um batom vermelho sangue, feito o coringa, e tomba a cabeça para a esquerda já no corredor do lado de fora da minha sala, e me fita com um olhar presunçoso como quem sabe de tudo.
-Não ligue para ela, motoqueira fantasma! Apenas saiba que tomou uma sábia decisão a qual jamais se arrependerá, eu garanto!
Andy diz ao bater um ombro no meu ao parar ao meu lado, e balança as sobrancelhas de modo especulativo e um toque de humor.
-Garante mesmo, Collins?
Questiono com um quê de deboche e cruzo os braços para fitá-la com um misto de desafio e incredulidade. Até parece...
-Sim eu garanto, minha cara! Você irá se divertir como nunca se divertiu em toda a sua vida ou eu não me chamo mais Andy Collins! Troco meu nome no dia seguinte pelo o que você quiser, gatinha!
Andy promete determinada, como se fosse algum tipo de escoteiro, e num minuto de distração, a sem vergonha me pega dando bobeira e acerta um forte tapa em meu traseiro. Pulo de susto com a ação repentina e sinto arder minha pele sob o tecido da calça em consequência disso. Todavia não tenho tempo de retribuir o ato na mesma proporção e intensidade, pois a safada da Collins dispara a correr pelo corredor e Marie a segue no encalço, enquanto ambas começam a rir do estado de raiva em que me deixam para trás.
Fulminando de raiva!
-Vocês me pagam, suas vagabundas!
Eu resmungo irritadíssima e giro sob os calcanhares de volta para minha sala, enquanto planejo em minha mente um milhão de maneiras de me vingar de Collins e sua cúmplice traiçoeira. Elas irão ver só! As duas me conhecem muito bem e sabem o que sou capaz de fazer. Logo Andy e Marie começarão a me encarar receosamente de longe com medo da retaliação que lhes darei de volta. Sim, eu confesso, às vezes posso ser uma mulher bastante rancorosa e vingativa com quem me irrita ou provoca.
Involuntariamente ou não, isso faz parte de mim e eu não posso negar meus genes. Todavia tenho a opção de mudar se tentasse ao menos uma vez, mas quem disse que eu quero? Rio com tal pensamento sem sentido. Isso seria a mesma coisa que tentar mudar o fluxo de um rio em curso, muito difícil, mas possível. Entretanto prefiro evitar a fadiga e continuar sendo a mesma Kayra Pextton de sempre, conhecida por prezar viver sua liberdade ao máximo de seu significado.
-Bom, agora vamos ver aonde foi que eu parei mesmo...
Murmuro em voz baixa ao deixar-me cair sentada sobre minha cadeira de rodinhas atrás da mesa, e procuro pelos papéis que havia guardado na gaveta quando fui interrompida momentos atrás por Collins e Willous.
-Aqui estão...
Digo colocando as pastas sobre o tampo da mesa e separo um caso por cima dos demais existentes ali em fila, o qual eu estou estudando a cerca de vários dias, a respeito de algumas novas técnicas de abordagens que provavelmente serão um grande sucesso para o tratamento do paciente, caso o hospital me conceda a permissão de realizá-las e aprove meu plano totalmente detalhado nos documentos os quais eu já tinha preparado. Agora é só aguardar a resposta vinda dos diretores e do conselho do hospital.
Não há nada tão emocionante e estimulante quanto uma ideia moderna que será muito mais eficaz para ajudar a vida do meu paciente. E é isso que me motiva e encoraja a vir trabalhar todos os dias, a evolução da medicina, e a fé de que posso fazer muito além do que eu poderia imaginar.