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CAPÍTULO 5

|KAYRA|

-Como você conseguiu isso, garota?

Pergunto com um misto de curiosidade e desconfiança enquanto mordo o canto dos lábios sentindo o súbito perigo do monstrinho da tentação começar a crescer dentro de mim. Caramba, por que é que às vezes eu cismo em dar ouvidos a essas duas garotas mesmo sabendo que devido a insistência de ambas acabarei me deixando levar pela conversinha fácil delas?

Veja bem, o problema não é simplesmente ir a uma festinha com Coliins e Willous, curtir o momento, conhecer um novo ambiente e se divertir até o outro dia com pessoas as quais você nunca mais verá a cara novamente na vida. Isso é bacana, e eu adoro realizar programas como estes, seja em minha própria companhia ou com alguma amiga.

Contudo, o problema em questão é quando uma das duas malucas perdem as estribeiras e a noção do perigo ao exagerarem além do limite, e acabam arranjando confusão no final de uma noite que deveria ser apenas uma saída social agradável e descontraída.

Tudo vira um verdadeiro caos e sobra para quem tirar as bonitas das enrascadas para não levarem umas belas bofetadas nas fuças? Isso mesmo, para euzinha aqui! Elas falam ou fazem o que não deveriam e sou eu é que tenho que me meter em suas brigas para não vê-las apanhando vergonhosamente ou perdendo um ou dois dentes no processo.

Eu poderia simplesmente ignorar e fingir que nem as conheço? É claro que poderia, afinal de contas não sou obrigada a nada nesta vida, entretanto meu coração idiota e minha consciência pesada jamais permitiriam que eu fizesse tal coisa. Muito provavelmente eu não conseguiria deitar minha cabeça no travesseiro de noite e dormir tranquilamente sabendo que havia abandonado minhas amigas quando elas mais precisaram de mim, e o pior de tudo, tendo consciência de que eu tinha plenas condições de fazê-lo, porém não o fiz apenas por pura questão de preguiça e egoísmo.

E eu não sou essa pessoa. Digo egoísta, preguiçosa e mesquinha que não se importa com a dor dos outros. Por fora posso até aparentar ser uma pessoa durona que não liga a mínima para muita coisa, mas a verdade é que eu me importo sim. Confesso que realmente sou uma mulher de modos um tanto estranhos para quem não me conhece mais intimamente, contudo gosto de pensar que não devo seguir um padrão pré-estabelecido que a maioria das pessoas sequer gostam de seguir na verdade.

Se eu faço algo bom para alguém não preciso sair espalhando isso para os quatro cantos da terra, eu simplesmente vou lá, faço e pronto. Não é necessário aplausos ou ficar me gabando por isso eternamente. Na realidade eu detesto os holofotes. Senão a intenção por trás de qualquer feito é inútil e desprezível.

Por essa razão é que eu abomino acompanhar esses sites sensacionalistas ou de fofoca que trazem notícias de celebridades que fazem isso ou aquilo outro, como se fazer caridade para quem necessita lhes fosse um grande ato, quase heroico ou sagrado.

Nada disso importa para essa gente podre de rica que não tem nada de relevante para fazer pela sociedade, e por isso buscam somente fama e mais poder para satisfazerem seus egos já inflados. Ninguém merece isso, só de pensar nesse fato eu me já me estresso fácil e acabo envelhecendo uma média de uns cinco anos num único dia.

Dessa forma, tento me manter o mais longe possível das mídias sociais, também conhecidas como terra de ninguém, onde rolam soltas as últimas novidades sobre esse tipo de gente a qual desejo me manter afasta quilômetros de distância, e se possível nunca estabelecer contato com elas um dia na vida.

-Isso é segredo de Estado, minha querida amiga Pextton. Eu consegui com um conhecido de amigo, que tem um amigo, que também tem outro amigo e assim por diante...

Marie responde evasiva sem de fato me dizer um nome conclusivo de verdade. Bom, que seja! Essa não é a questão principal no momento, eu apenas quero saber se é seguro, se sua fonte é confiável o suficiente para não ter lhe passado a perna vendendo-lhe convites falsos, e que... se por um acaso nós realmente formos utilizá-los, não acabaremos presas atrás de um camburão da viatura policial por tentarmos invadir uma festa chique com convites falsos.

-Você tem certeza mesmo que isso não é mais um dos seus esquemas furados para nos meter em uma roubada, né Willous?

Eu questiono com uma sobrancelha arqueada no alto, enquanto retiro um dos convites da mesa e o observo com grande atenção. Com uma rápida passada de olhos leio todo o conteúdo, data, hora e local impressos no papel de gramatura especial que provavelmente daria para trocar no valor de um carro popular. Bem, talvez eu esteja exagerando um pouquinho, é verdade, mas é apenas por estar visivelmente impressionada com a promessa que esse pequeno pedaço de papel parece trazer consigo.

Eu devo aceitar ou não a tentadora oferta de Marie Willous? Não entendo o porquê, mas algo parece estar me puxando, me atraindo de forma inegável para essa festa, que me faz sentir extremamente inclinada a dizer um belo sim para essas duas mulheres insistentes que estão a minha frente somente aguardando por minha resposta. E uma resposta positiva, é claro.

Ah! Quer saber? Dane-se o medo e a precaução! A vida só se vive uma vez, assim como também um convite de graça como este cai nas mãos de pessoas comuns como eu. Apenas uma vez. Então é melhor eu aproveitar a chance e curtir o quanto puder numa festa que terá tudo do bom e do melhor. Apenas coisa fina.

Afinal de contas o que pode dar tão errado apenas num curto período de horas e num lugar que terá a melhor segurança possível? Acho que nada de muito grandioso, é claro. Talvez uma pequena discussão ou uma briguinha inocente por parte das garotas, mas nada além disso, e que pode ser resolvido facilmente.

-Tudo bem, vocês venceram pela última vez!

Finalmente eu cedo a tentação e aceito a proposta. Eu irei a essa festa, vou curtir uma boa noite com as duas, e talvez até encontrar uma companhia agradável para me distrair por algumas horas, para depois voltar para casa mais leve e relaxada depois de me livrar do estresse de uma semana inteira de trabalho duro. É, eu mereço isso! Uma folguinha. Até porque não é como se apenas um evento bobo pudesse mudar o rumo de toda a minha vida apenas numa noite, certo? Será só mais uma festinha...

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