Capítulo 05
Cristian
No domingo fiquei na minha cama até às dez da manhã. A noite anterior parecia tão surreal que por vezes me via tentando relembrar todos os instantes da festa na Mansão Toledo. Na realidade, eu me lembrava de cada segundo desde que pus os meus olhos em Betina.
Havíamos transado.
Aquilo soava estranho e ao mesmo tempo era bom. Confesso que minha mente masculina já tinha imaginado várias vezes como seria tê-la; tive curiosidade em saber qual era o gosto daquela boca carnuda que esbanjava sorrisos facilmente. No entanto, achei que isso nunca aconteceria, pois havia muita confusão em torno das nossas famílias. Se de alguma forma soubessem que eu dormi com Betina na noite anterior, logo diriam que eu estava cobiçando minha ex-cunhado desde que ela estava noiva do meu irmão e seria um falatório desagradável e sem fim.
Mas eu não tive como resistir. O fogo que me dominou foi tão grande e minha amiga se mostrou tão receptiva como se todas as peças se encaixassem. E apesar de pedir que mantivesse as luzes apagadas, sua performance foi louvável; meu corpo pedia por mais.
Será que meu irmão e ela tinham uma vida sexual ativa? Todas as mulheres que me relacionei eram bem experientes e tudo o que ouvi sobre virgindade era que doía muito e teria bastante sangue e justamente porque não vi isso acontecer que me peguei em dúvida. Não me pareceu que Betina fosse virgem porque a penetração transcorreu tranquila e ela não reclamou de nada, aliás, parecia bem relaxada. Além do mais, duvidava que meu irmão Robert, com a fama de mulherengo que teve antes de se casar, teria resistido a tomar o que era seu, principalmente quando a sua noiva era uma moça muito bonita. Senti um pouco de ciúmes, apesar de não ter direito a isso.
Bem, o fato de Betina não ser inocente tinha seu lado bom, porque ela deveria usar algum método contraceptivo, certo? No furor das coisas não lembrei de camisinha...
Peguei o celular na mão e pensei que seria o certo enviar alguma mensagem para a mulher que havia maravilhado minha noite anterior. No entanto, o que escrever sem parecer um bobo? Pensei um pouco a respeito e decidi continuar a brincadeira que deu início a nossa conversa na noite passada:
"Bom dia. Me diga que tipo de feitiço você lançou sobre este pobre vampiro; Ainda estou sob os efeitos dele e confesso que a sensação não é nada ruim."
Não demorou muito e ela me respondeu:
"Bom dia. Podemos nos ver amanhã no almoço? No Matteo? Te encontro lá às doze horas."
O bilhete não deixava transparecer o que ela sentia. Me senti meio envergonhado pela mensagem que enviei instantes antes.
Me levantei com preguiça. Eu estava morando na casa dos meus pais desde que voltei da Europa há dois anos, confesso que apesar da vida badalada, eu senti saudades do Brasil e principalmente da família. Não havia sombra de dúvidas que lá na Europa estavam as melhores faculdades de empreendedorismo, além que pude aprimorar meu inglês e o alemão. Agora estava procurando um lugar só meu para comprar, todavia confesso que nenhum imóvel tinha me conquistado ainda.
Desci do meu quarto e quando cheguei à sala da Mansão Servantes fiquei surpreso ao encontrar Robert e minha cunhada Theodora sentados no sofá, tomando chá com minha mãe.
— Que surpresa ver vocês aqui!
Todos estavam sérios, mas vários sorrisos se abriram em minha direção. Robert veio e me abraçou. Minha mãe pareceu aliviada quando me juntei a eles, pois ela e a nora ainda não se davam muito bem.
— Que saudades de você, Cristian! — Rob sorriu mais uma vez. Eu ainda não tinha me acostumado com ele usando a barba, mas agora ele a mantinha para agradar a esposa.
— Olá, cunhado. — Theodora também me abraçou — Sempre tenho notícias suas através da minha irmã Lisa. Ela me liga todos os dias.
— A Lisa virou meu braço direito — Comentei.
Theodora ficou satisfeita com o que ouviu. Ela era uma mulher muito bonita, negra com grandes olhos verdes e cabelos crespos; alta e magra como uma modelo. Meu irmão era completamente doido por ela e acredito que o inverso também acontecesse.
— Não sabia que viriam para São Paulo nesse final de semana. — Me sentei no sofá e todos me imitaram.
— Eu me inscrevi para um workshop de dança aqui em São Paulo. Vamos ficar a semana toda — Theodora explicou.
— E vou aproveitar nossa visita para resolver algumas coisas com o pai. Ele quer fazer um investimento muito arriscado, quero entender todos os pormenores para não deixar nenhuma ponta solta. — Disse Robert.
Quando o assunto era finanças, meu irmão era espetacular e não havia no Grupo RCS quem entendesse mais sobre investimentos. Eu seguia numa linha diferente, gostava do contato com as pessoas e tinha facilidade para negociar e criar estratégias de vendas. Juntos fazíamos um bom trabalho e era uma pena que ele estivesse morando longe de nós. Robert havia ajudado a esposa a montar uma escola de dança em Ubatuba e pareciam contentes com a vida pacata que construíram.
Conversamos sobre amenidades e não demorou muito para que Robert e eu ficássemos sozinhos. Não fiquei surpreso quando ele perguntou da Betina.
— Você tem notícias da Betina? Sabe se ela está melhor depois que... você sabe.
— Depois que você terminou com ela? — Suspirei profundamente. — Sim, eu a vi há pouco tempo.
— Ela está bem? Alguém disse que ela mal sai de casa — disse Robert. — Não queria que o término fosse tão difícil para ela.
— Você ficou noivo dela e pouco tempo depois a traiu... — Critiquei, mas logo percebi que estava tomando as dores da Betina. — Eu sei que você e a Theodora se apaixonaram...
— Você tem razão, Cris. Eu fui babaca e sei que você é amigo dela desde o colégio. — Robert passou a mão pela barba, costume que havia adquirido recentemente — Será que eu deveria conversar com ela? Pedir desculpas do jeito certo?
— É óbvio que não — Respondi apressado. — Acredito que a Betina já está superando você, Rob. Acho que falar com sua ex-noiva só ia deixá-la desconfortável. Além disso, acho que a Theodora não iria gostar nenhum pouco.
— Engano seu, é a Theodora que tem insistido nisso. Ela também se sente mal pela Betina.
— É uma péssima ideia, ok? Ela já está te superando.
— Betina está saindo com alguém? — Robert ficou curioso.
— E se estiver?
— Eu acho ótimo. Me sinto até mais aliviado — Robert sorriu. — Eu acho que ela nunca foi apaixonada por mim, mas sim pela ideia de formar família comigo. Além disso, teve toda a pressão dos nossos pais para que ficássemos juntos. Hoje eu percebo o quanto éramos influenciáveis
— Você sempre gostou de agradar o pai. Tinha medo de decepcionar o grande Octávio Servantes!
— Acho incrível que você me lê tão bem! — Robert chegou a sorrir — Ainda bem que você não é igual a mim; sempre fez as coisas do jeito que quis sem se preocupar com a opinião dos outros.
— É o que se espera do filho caçula! — Brinquei. — Além disso, no final das contas você ignorou toda essa bobagem e foi atrás do que realmente queria. Isso é o que importa.
Robert concordou.
— Vamos indo, Rob? — Theodora reapareceu, já com a bolsa no ombro — Está lembrado que vamos almoçar com meus pais, né?
Nos despedimos e vi meu irmão sair da Mansão Servantes de mãos dadas com a esposa. Eles formavam um belo casal.
Por um momento senti vontade de contar para o Robert sobre a festa na noite passada, mas preferi não o fazer, mesmo sentido que meu irmão aprovaria.
A verdade é que eu estava ansioso para conversar com minha amiga. Conforme as horas passavam eu ia me dando conta de que Betina poderia não estar empolgada como eu. Na festa ela parecia outra mulher; mais desenvolta e sedutora como se estivesse fantasiando… O que não deixava de ser verdade.
Merda, talvez ela até estivesse arrependida! A sua resposta para minha mensagem foi muito direta e objetiva e isso não era um bom sinal.
E foi pensando em todas essas coisas que o restante do meu dia se arrastou como uma tartaruga idosa.
No dia seguinte cheguei a RCS com meu melhor terno e logo minha secretária notou:
— Uau Cristian, você está muito elegante. A última vez que o vi neste terno foi para receber aquele pessoal do Chile — Lisa falou. — Alguma ocasião especial?
— Tenho um almoço importante.
— Negócios? Eu saberia, pois cuido da sua agenda. É uma mulher! Acertei, né? — Ela sorriu, envaidecida pela própria esperteza. — Seja lá quem for, vai gostar.
— Você acha? — eu perguntei, passando a mão pelos cabelos.
— Está incrível. — Lisa aproximou-se ainda mais — E aí, é alguém que eu conheço?
— Não vou falar disso com você, Lisa.
— Ah, eu conheço! A sua cara é muito reveladora.
— Lisa, sua mesa está cheia de trabalho para fazer. Chispa daqui! — Brandei.
— Ok, não pergunto mais… por enquanto.
Lisa saiu rindo e com certeza iria fofocar a respeito disso com a secretária do Victor. Maribel e ela se davam muito bem.
A hora do almoço chegou e eu retoquei o perfume. Quando eu encontrasse Betina iríamos tocar direto no assunto ou haveria rodeios? Apesar de ao longo dos anos termos criado uma amizade, eu me sentia levemente inseguro.
Eu não era um homem inseguro. Cresci ouvindo que sou atraente e conheço o meu charme, mas Betina sempre pareceu imune a mim. E eu também mantinha uma relação de amizade, principalmente por saber que ela queria meu irmão.
Será que ainda queria?
Abandonei esses pensamentos e fui até o local marcado.
O restaurante Matteo era conhecido pela cozinha italiana, com pratos tradicionais apresentados com todo o requinte que seus clientes mereciam. Eu particularmente preferia um belo bife de boi, mas sabia que Betina era apaixonada por massas.
Assim que pisei no restaurante o hostess me recebeu.
— Sou o Cristian Servantes. Tenho uma mesa reservada com a Srta. Betina Santoro.
O hostess era um homem calvo de nariz comprido que me olhou com desconfiança e vasculhou a lista das mesas:
— Parece que a Srta. Santoro já está na mesa com o Sr. Servantes.
Então ele apontou para uma mesa próxima a janela. Vi a Betina sentada conversando com meu irmão Robert. Eles riam.
Meu sangue gelou.
— Que merda é essa? E porque meu irmão está aqui?