Capítulo 3. O Passado
Ela assentiu com a cabeça. O médico pediu que abrisse a boca e espirrou mais uma dose do spray, depois tirou a cânula de suas costas e inseriu outra peça, para introduzir o soro em sua veia. Terminado essa parte, pediu que ficasse de bruço, apoiada onde estava menos ferido.
Ajudou a cobri-la, deixando só as costas descobertas. O Alfa tentava controlar seus rosnados, mas estava difícil. O médico só fazia rir.
-— Porq eeell roooos na?
— Ela quer saber porque você está rosnando? — Traduziu o medico para o Alfa.
O médico estava se divertindo com o ciúme do macho por sua companheira, isso só por um médico tratar ela… imagina se fosse um macho interessado?
O Alfa se aproximou da ponta do leito, próximo ao seu rosto para que ela pudesse vê-lo.
— Meu nome é Darion, sou o alfa da Alcatéia do Norte. E reconheci você como minha companheira e pelo visto, você também me reconheceu.
Betânia tentou falar, mas ele fez sinal que não.
— Não fale, sei que dói. Você irá melhorar e poderemos conversar.
Um barulho de passos se fez ouvir e os dois homens perceberam que estava chegando o furacão.
A porta se abriu com força e o casal entrou e estancou, olhando a jovem deitada. O Alfa Darion saiu da frente da visão deles e a Luna levou as mãos ao rosto, gemendo, chorando e quase foi ao chão, se não fosse o Alfa Geofrei segurá-la.
— Minha filhinha, o que fizeram com você? — Falou a Luna, angustiada ao ver sua filha naquele estado.
— Ela está muito debilitada, desnutrida, ferida e não consegue falar, pois foi queimada, da boca a traquéia. — diz o doutor.
— Ah, pobrezinha da minha filhinha. — Condoíasse dela, a Luna.
— Como está sua recuperação, doutor? — Geofrei perguntou.
— A desnutrição tornou muito lenta sua recuperação, estou limpando e colocando um spray cicatrizante e analgésico para auxiliar a ação do corpo.
— Poderemos levá-la para casa? — Perguntou a Luna.
O Alfa Darion exaltou-se,
— Tem um porém Geofrei e Luna, ela é minha companheira. — Proclamou Darion, com autoridade.
— O quê? Não é possível! Não aceito mais essa. — Exclamou o Alfa Geofrei, revoltado.
— Creio ser melhor irmos ao escritório para conversarmos, vamos? — Chamou Darion, ao Alfa irritado.
Seguiu em direção a porta, o alfa Geofrei o seguiu desgostoso, a Luna Eudora ficou, seu coração não aceitava sair de perto daquela que lhe foi tirada, antes mesmo de ver-lhe o rostinho. Não ligava a mínima para a disputa daqueles dois, havia coisa mais importante em que pensar.
A Luna aproximou-se da jovem, olhou seu rosto com a marca de dedos ao redor de sua boca, a pele pálida, os cabelos compridos, secos e sem corte, suas mãos grosseiras, com calos e unhas quebradiças. Quem a levou tratou como lixo, seu bem mais precioso, pois apesar de ter mais dois filhos, todos eram seus tesouros.
— Olá querida, meu nome é Eudora. Sou sua progenitora. Eu estava para ter você, quando atacaram a Alcateia e você começou a nascer. Alguém bateu-me a cabeça e desmaiei. Acordei e você não estava mais lá. Quando tudo terminou e seu pai soube o que aconteceu, ficou desesperado. Foi atrás das pessoas responsáveis, farejando o cheiro delas. Infelizmente não achou nenhuma pista, então ele culpou o Alfa Darion, e até hoje vivem às turras. Mas agora que você está aqui, vamos cuidar de você com todo amor e carinho que guardamos por todos esses anos. Ah, filhinha, como é bom tê-la de volta.
A Luna desabafou enquanto o doutor limpava os ferimentos e passava o spray cicatrizante em toda extensão das feridas. Assim a jovem ficou distraída da dor e tomou ciência do ocorrido em seu nascimento. Soube que não foi rejeitada e agradeceu o fato de agora, estar livre.
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Enquanto isso, no escritório, os dois Alfas discutiam e só faltavam se socar.
— Eu a encontrei e reconheci como minha companheira, você tem que respeitar o laço de almas! — gritou o Alfa Darion.
— Mas, ela é minha filha! A que foi raptada e só agora voltou, nós precisamos ficar com ela, é uma necessidade da minha Luna. — Justificou o Alfa Geofrei.
— Você sabe da necessidade de ficarmos próximos a nossa companheira.
— Sei sim, mas vocês nem acasalaram! Ela foi criada por humanos, nem deve conhecer ainda nossos costumes, melhor será ela ficar conosco e assim a ensinaremos.
— Não — gritou Alfa Darion.
— Seu cabeça dura. Será que não entende? Ela sofreu a vida toda e por fim, foi severamente agredida, precisa de cuidados. Você fará o quê, com ela nesse estado? Larga de ser teimoso! — Gritava o Alfa pai.
Nenhum dos dois queria desistir de seu interesse, se esqueceram completamente do que a jovem desejava fazer. E também não faziam ideia dos planos da Luna Eudora. Planos esses que ela já estava pondo em prática com o auxílio do médico.
Eles continuaram a discussão até alguém bater na porta.
— Entre!
— Bom dia senhores, posso servir o café meu Alfa? — Perguntou a governanta da casa.
— Sim Hortênsia, temos mais três para o café, depois aviso o que será servido para a mi… hóspede.
— Sim senhor, com licença. — A governanta de nome Hortênsia, saiu sorrindo da briga dos Alfas cabeçudos, que nem sabiam o que a Luna estava aprontando.
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Luna Eudora não esperou por seu companheiro para decidir nada. Ligou para o hospital que atendia as duas Alcateias e pediu uma ambulância, pediu que entrassem até a entrada de serviço, da casa do Alfa Darion. Depois que o doutor terminou de tratar os ferimentos da jovem, Eudora vestiu um avental hospitalar que encontrou ali e esperaram a ambulância chegar.
Os enfermeiros entraram com uma maca e colocaram a paciente nela, com delicadeza, a levando para a ambulância. O doutor e a Luna foram juntos e deixaram recado para os machos exaltados.
O médico recomendou levá-la para o hospital por uns dois dias, para poder observar a evolução do quadro e manter uma alimentação intravenosa. Luna Eudora concordou e ele ajeitou tudo para a internação. Ao chegarem foram direto para um quarto particular, onde a jovem foi instalada. Com todo aquele movimento, ela adormeceu e sua mãe ficou velando seu sono por um bom tempo.
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Quando os homens se deram conta do acontecido, já era tarde demais. Eles estavam tomando o café da manhã e o Alfa Darion mandou chamar a Luna Eudora e o médico. Quando a funcionária voltou e anunciou a partida dos três para o hospital, ficaram que nem barata tonta e ainda brigando entre si. Por fim saíram pro hospital e ao chegarem lá foi outro tumulto. Um queria passar a frente do outro, até que a atendente perguntou:
— São parentes da paciente?
Aí o caldo entornou…
— Ela é minha companheira! — falou o Alfa Darion.
— Ainda não! Ela é minha filha, senhora.
— Ainda não! Você ainda não fez o teste de paternidade — bradou Darion.
— E vocês ainda não acasalaram — bradou Geofrei.
— Senhores! Se acalmem, aqui é um hospital, silêncio! Nenhum dos dois irá entrar. Sentem-se na sala de espera, que vou chamar o doutor para falar com vocês.
Os dois muito contrariados, dirigiram-se à sala de espera calados. Esperaram por um tempo e o médico veio até eles. Quando eles viram o médico, levantaram-se ao mesmo tempo indo em direção a ele. Começaram a interrogar ao mesmo tempo. O médico com um gesto de mão pediu que eles se calassem.
— Será possível que vocês não consigam cooperar um com o outro, nem um pouquinho? Aqui é um hospital, tenham respeito!