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Capítulo IV - Vladmir

Amir observava cauteloso os movimentos de Anne. De repente, sentiu uma forte sensação de apreensão. Sabia que alguma coisa estava prestes a acontecer, ainda que não soubesse exatamente o que seria. Seus olhos encontraram com os de Anne, ela também sentia, não tinha como adivinhar o que essa sensação significava, mas ele notou que ela também estava inquieta.

Era uma sensação com a qual ele já estava acostumado: a aproximação de um deles.

"Vladmir deve ter enviado um de seus lacaios e tal lacaio deve estar nas proximidades." Pensou.

Anne foi atender a porta, alguém tinha chegado. Sem que ela percebesse, Amir se posicionou por trás de seus ombros, apreensivo, para que pudesse ver quem tinha acabado de chegar. Foi tomado de surpresa ao ver entrar Ezequiel Vladmir em pessoa. Não era o que os Élderes esperavam. Lorde Barrington havia sugerido que ele talvez enviasse um dos seus, mas estar presente pessoalmente era muito audacioso.

Seria possível que Lorde Vladmir acreditasse tão intensamente na profecia quanto os Élderes?

Assim que Vladmir entrou, Amir se mostrou a ele. A reação do recém chegado foi tranquila. Amir estava com os nervos a flor da pele, preparado para o que quer que acontecesse, mas Ezequiel parecia nem mesmo se importar com a presença dele. Obviamente não estava ali para uma batalha. Talvez estivesse justamente interessado em se mostrar pessoalmente para Anne, ou para seu guardião.

Todos esses pensamentos dominavam a mente de Amir, até ver Anne dançando com ele. Amir custou a se controlar. Ver os dois tão próximos um do outro o aborreceu. Tinha que evitar aproximações entre eles, eram ordens diretas do Lorde, mas o jeito que ela olhava para Ezequiel o incomodava mais do que seria natural.

Após a dança, Amir percebeu que Anne estava meio zonza. Ela estava sem o amuleto que ele havia lhe dado como presente de aniversário. Ezequiel talvez estivesse tentando entrar em sua mente, ele precisava fazer alguma coisa. Ao ver que Anne se encaminhava para a cozinha, olhou em volta para se assegurar de que Ezequiel não os seguia e foi atrás dela.

Assim que entrou, segurou-a pelo braço evitando que caísse de tão instável que eram os passos dela. Logo que a ajudou a sentar, buscou um copo com água e entregou. Ela bebericou devagar, recuperando as forças. Perguntou pela pulseira e ela respondeu que estava arrebentada, de alguma maneira, sem ser percebido, Ezequiel deve tê-la arrebentado.

A pulseira era feita de platina e nela Amir colocou um pequeno pingente que era um amuleto com poder de afastar magias direcionadas àquele que a usasse. Amir recebeu o amuleto de Lorde Zaffir, líder de seu clã e mestre treinador de Amir.

Anne ainda estava zonza, Amir pegou sua mão e recolocou a pulseira. Continuou segurando e massageando seu pulso para ativar a circulação e a defesa natural que aquela jovem deveria possuir.

Estava funcionando.

Amir a olhou e temeu por ela. Não queria que nenhum mal acontecesse com a mulher cuja delicada mão estava segurando. Não achava justo que ela tivesse crescido tão alheia a tudo que dizia respeito ao seu passado. Observou as linhas de seu rosto, já tinha reparado na beleza dela antes, no primeiro dia que a viu. Era o primeiro dia de Amir naquela faculdade e pressentindo a presença dela foi em sua direção chegando a tempo de ampará-la quando perdeu os sentidos. Como poderia estar tão aberta às magias mentais?

No dia em que a conheceu, Amir desejou que ela não sobrevivesse. Não gostou de ser escolhido para a missão de proteger uma adolescente humana, considerava perda de tempo. Se ela morresse, todos os problemas estariam resolvidos. Ele voltaria para seu exército, a vida seguiria em frente e toda essa preocupação com profecias seria enterrada com ela. Mas naquele instante, enquanto segurava sua mão, se arrependeu do próprio egoísmo. Ela era inocente em tudo aquilo e não foi escolha dela ser quem era.

Amir saiu de seus devaneios no momento em que Ezequiel entrou. A entrada de um Lorde quebrando o silêncio, ainda que fosse Lorde Ezequiel Vladmir, o trouxe de volta a seu lugar instantaneamente. O lugar de um guardião, apenas um cavaleiro diante de dois nobres e ele soltou a mão dela mecanicamente.

O antagonismo dos dois a irritou e ela saiu da cozinha, deixando-os sozinhos.

— O que pensa que vai conseguir vindo aqui essa noite?— Perguntou Amir.

Ezequiel sorriu e tirou uma vermelha e suculenta maçã da fruteira que estava sobre a mesa, mordeu e mastigou tranquilamente antes de responder:

— O que te faz pensar que tenho alguma intenção escondida? Vim apenas pelo aniversário da bela Anne.

— Como se demônios como você não tivessem segundas intenções em tudo o que fazem!

— Cuidado, meu jovem, deve se dirigir a mim com mais respeito.

— Não é mais considerado um Lorde para meu povo.

— Lorde Lucien Zaffir puxaria tua orelha, garoto! Tuas palavras poderiam fazer com que eu não considere mais sua gente como parceiros comerciais, muito menos neutros...

— Não queremos nada que venha de você!

—Engraçado... — Disse se aproximando de Amir.— Não foi essa a impressão que tive ao te ver segurando a mão de minha bela sobrinha. Pergunto-me se o conselho dos Élderes incluiu esse comportamento em sua missão.

— Escute aqui seu... — Começou Amir, mas foi interrompido por Ezequiel.

—Escute aqui você, não se atreva a se colocar em meu caminho! Não sabe do que eu sou capaz. — Ezequiel o encarava, seus olhos faiscavam.

— Não pense que temo suas palavras, estou aqui para proteger Anne de você e de sua gente. Sei que quer o mal dela, ou dominá-la, mas os Élderes não permitirão!

— Pois eu estou aqui para proteger Anne de gente como você e seus Élderes decadentes. — Disse Ezequiel sorrindo desafiador.— Ela é meu sangue e vocês não tem o direito de interferir. Se atravessarem o meu caminho teremos um banho de sangue e os Élderes serão os únicos culpados. Dê esse recado a seu...Tio.

—Porque a chamou de sobrinha?

— Parece que os Élderes não lhe contaram tudo, não é? — Ezequiel sorria mostrando os dentes, parecendo um lobo prestes a devorar sua presa. — Vou deixar você perguntar isso a seu Lorde caquético.

Ezequiel saiu da cozinha sorridente, estava satisfeito com a visita. Seguiu em direção à rua sem se despedir de ninguém. Amir ficou parado por uns momentos no mesmo lugar pensando nas palavras de Ezequiel. Por que Lorde Barrington omitiria uma informação tão importante? Perguntaria tão logo encontrasse o Lorde, mas não faria julgamento algum, Ezequiel era uma vergonha para os Upyrs e suas palavras eram como veneno. Voltou para junto dos outros convidados pensativo.

Passava das duas da manhã e os convidados começaram a se despedir. Amir foi o último a sair e Anne o levou até a porta.

— Obrigada por ter vindo, Amir, e obrigada pelo presente. Desculpe-me se fui grossa mais cedo na cozinha e espero que a festinha não tenha sido tão chata...

— Não foi chata, me diverti e conheci gente nova. Eu que devo pedir desculpas pelo mau humor de antes e agradeço por ter me convidado.

— Não há o que agradecer, gostei de ter você aqui. Vamos começar do zero?

— Claro! — Amir lhe entregou um pequeno cartão de visitas com seu nome e número de telefone. — Se precisar de alguma coisa ou alguém para conversar, é só ligar.

— Obrigada, ligarei sim!

— Espero poder vê-la novamente em breve, para que nos conheçamos melhor...

— Eu também. Vai ser um prazer!

Despediram-se com beijos no rosto.

Ao sair da casa de Anne, Amir caminhou devagar com as mãos nos bolsos, ainda pensativo. "Aquela maldita profecia não pode ser verdade!" Dizia de si para si. Entrou em seu carro e ficou lá parado, vigiando a casa de Anne, para que nenhum visitante indesejável chegasse até ela.

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