Capítulo 5
Eu poderia dizer a ela da veracidade das notícias, da foto e do quanto tudo aqui é realmente estranho. Mas ela faria eu voltar imediatamente, e eu não sei se foi a alma investigativa da Kim, ou da turma, mas eu não queria voltar.
— Melhor do que eu imaginava, acho que foi só um susto por ser tão diferente de casa. Nada de anormal. - Menti.
Atrás de uma árvore próxima, notei uma sombra. Engoli seco e minhas pernas travaram, espremi os olhos para tentar enxergar algo naquela escuridão. Se fosse aquele veterano, eu lhe daria uma palmada na cara.
— Hein, Rafa? - Minha mãe insistiu na outra linha.
— Oi?
— Você está distraída. Vamos fazer uma chamada de vídeo?
— Mãe. -Continuei olhando, e dei alguns passos na direção da pessoa, estava apavorada mas precisava ver quem era. - Posso te ligar daqui a pouco?
— Pode. Realmente está tudo bem filha? - A pessoa saiu correndo quando percebeu que eu estava indo até ela.
Fui até onde ela estava, e vi algo caído no chão. Abaixei, e um nó foi formado na minha garganta.
Era uma máscara. Uma máscara veneziana.
— Sim, mãe. Está tudo bem. - Respondo tentando esconder o pânico.
Desliguei o telefone e guardei no bolso de trás do jeans, para poder segurar a máscara com as duas mãos. Ouço alguns passos, galhos secos quebrando e levanto rapidamente virando-me pra trás.
Parecia um armário de tão alto, cabelos baixos, tão negros que pareciam carvão. Os olhos castanhos claros me encaravam com intensidade. Meus olhos seguem para os seus lábios que fazem uma linha reta em seu rosto quadrado, lábios úmidos e avermelhados.
— Que merda! - Respirei aliviada. Não era a pessoa que estava aqui mais cedo, porque o homem na minha frente usava uma camisa social preta dobrada até a metade do antebraço. - Quem é você?
— Está tudo bem, Rafa!? - Ouço a voz do Lucas distante, e quando viro o pescoço pra ele, todos estavam nos olhando. Aceno que sim com a cabeça, mesmo não sabendo se realmente estava.
— Devolve. - Ele sussurrou. Minha barriga treme com a sua voz autoritária.
— O que? - Virei pra ele. A minha respiração trava na garganta ao encara-lo e eu não sei ao certo o porque.
O nariz é um clássico reto, lábios bonitos e um cheiro maravilhoso. Sinto um formigamento geral, um sentimento quase elétrico.
— Devolve o que você achou. - Sussurrou mais uma vez, impaciente. Sua língua passa discretamente entre seus lábios, ação que faz as minhas pupilas dilatarem e o meu corpo ficar imóvel.
— É teu? É você que está me observando? - Questiono, confusa.
— Estão te observando? - Deu uma pausa. - Tarde demais então.
Deu as costas e com seus sapatos sociais começou a andar com passos largos pra longe, parte de mim resmungou por aquela beleza exuberante ir embora. Guardei a máscara no meu bolso do moletom, com uma sensação de estar entrando em um caminho sem volta. Precisava conversar com a Kim a sós.
Olhei para a galera que ainda estavam olhando. Parei ao lado deles, ainda em silêncio.
— O que ele disse? - Gabi perguntou descontraída.
— Você o conhece?
— Claro! - Respondeu óbvia. - Felipe Campelo, é um professor. Gostosão, né?
Enquanto todos diziam o quanto Gabi era abusada e seus inúmeros micos, Kim se aproximou.
— O que foi? - Sussurrou disfarçadamente.
— Eu acho que estou em perigo, e tenho a sensação de que ele sabe.