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2

Claro que já observara sua fisionomia e apreciara alguns de seus traços, como o nariz clássico e a boca generosa, mas nunca percebera que o brilho de entusiasmo no fundo dos olhos castanhos poderia valorizar ainda mais o conjunto.

Esta noite, ela usava os sedosos cabelos castanho avermelhados presos numa espécie de coque fofo, de onde pendiam alguns fios que lhe caíam na altura dos ombros delgados.

Ollie sempre lhe parecera elegante e não lhe importava que os olhos dela fossem castanho escuros e não verdes ou azuis como o da maioria das americanas. Na verdade, gostava muito daqueles olhos castanhos, pois eram mais do que expressivos.

Com um movimento felino, Anthony afastou-se da porta e acendeu um abajur, que conferiu um ar mais aconchegante ao escritório luxuoso, pouco antes de apagar as luzes principais. Poderia ser covardia de sua parte, esconder-se atrás das sombras enquanto lhe fazia sua proposta quase indecente, mas não queria pensar nisso. Não agora.

-Você já foi casada, Ollie? –perguntou-lhe abruptamente.

Ela ficou aturdida com a natureza da questão, mas, graças aos céus, não pareceu se sentir insultada.

-Não, e também não pretendo fazer qualquer associação deste tipo nos próximos dez anos.

-Associação? –Anthony se descobriu rindo outra vez. Ollie tinha uma maneira peculiar de ver o mundo, como se tudo fosse um grande negócio.

Dando de ombros, ela voltou-se para procurar uma cadeira. Sem cerimônias, sentou-se naquela que havia em frente à escrivaninha.

-Meu trabalho é minha vida e isto me basta. Quero que as coisas continuem assim por um bom tempo.

Anthony deu alguns passos e sentou-se em frente a ela, do outro lado de sua mesa.

-Quantos anos você tem?

Ela pestanejou, mas respondeu logo em seguida.

-Vinte e seis. Para ser franca, tenho uma meta de cinco anos, como você mesmo disse, que começou a ser posta em prática no ano passado. Quando eu fizer trinta anos, espero ter criado uma cadeia de lojas bastante renomada, e até lá pretendo abrir, pelo menos, mais três filiais.

Anthony se encheu de esperança.

-isto não vai deixar muito espaço para um marido e filhos.

Desta vez ela franziu o cenho e o encarou com expressão curiosa. Anthony sabia que precisava ser cuidadoso, para lhe dar tempo de ir digerindo a ideia pouco a pouco. O problema era que nunca tinha sido um homem paciente. Quando queria alguma coisa queria para ontem. E ele queria um filho.

Inclinando-se para frente, esticou os braços e tentou segurar as mãos de Ollie entre as suas, mas ela foi mais rápida e evitou o contato íntimo, obviamente embaraçada com a situação.

-Não entendo por que está me fazendo perguntas tão pessoais. Sempre achei que estivesse satisfeito com o acordo de negócios que temos.

-Estou mais do que satisfeito. Você dirige lojas bastante rentáveis e as duas que abriu em meus hotéis foram um ótimo acordo para a Augustin Crown. Portanto, não vejo o menor problema em expandi-las. Ollie soltou a respiração que estivera prendendo até aquele momento e presenteou-o com um largo sorriso.

-Obrigada. Confesso que era isso que eu estava esperando ouvir. Ainda assim você me assustou ao tocar em assuntos pessoais. Sei que é importante entender quais são os planos de seus associados, para se certificar de que não mudarão de ideia de uma hora para outra, causando-lhe mil transtornos. Caso seja essa sua preocupação, posso garantir que...

-Não! –ele a contrariou. – Eu quero ter um filho.

A simples frase de cinco palavras deixou Ollie boquiaberta.

E era uma boca linda, macia, carnuda e completamente rosada. Anthony podia ver-lhe a língua úmida... Ela também tinha dentes brancos e perfeitos que o faziam desejar beija-la.

Após alguns segundos, Ollie pigarreou e deu um risinho nervoso.

-Sinto muito se o que vou dizer irá desaponta-lo, mas existe uma impossibilidade anatômica para realizar seu desejo –tentou bancar a espirituosa.

-Não se eu encontrar a mulher certa para gerar este bebê.

Ollie endireitou-se na cadeira, apoiando os braços na lateral e voltando a fita-lo com ar estupefato.

Foi só nesse momento que Anthony decidiu que deveria ignorar a maneira como a boca feminina parecia estar convidando-o para o prazer.

-Ora, Ollie, posso até imaginar o que está pensando. E posso lhe assegurar que isto não tem nada a ver com os negócios de sua loja com o hotel. Poderá abrir sua terceira loja quando quiser, independentemente de qualquer coisa. Assinarei o contrato na segunda de manhã e mandarei um courier entrega-lo a você.

-obrigada. –agradeceu, ainda perplexa demais para regozijar-se com a vitória.

-no entanto, gostaria de discutir algo com você.

-O qu6e?

ele sorriu diante do misto de curiosidade e preocupação que se espelhava no fundo dos olhos castanhos.

-Como disse –prosseguiu num pausado –quero ter um bebê. Tenho assistentes excelentes que podem cuidar dos meus negócios e já não preciso passar tantas horas no trabalho. Posso muito bem me dar ao luxo de criar um bebê com todos os privilégios do mundo, embora ache que uma criança não deva ser mimada a ponto de perder o respeito pelos outros e pelo trabalho. Tomarei todo cuidado para que meu filho ou filha seja educado dentro de todos os preceitos de moral e bom costumes.

Ollie inclinou-se na cadeira e tocou-o delicadamente no braço.

Anthony gostou daquele toque, dava-lhe um frio na barriga ao mesmo tempo que, paradoxalmente, incendiava-lhe outras partes do corpo.

-Não tenho dúvida de que você será um ótimo pai –ela comentou, ignorando o rumo que aquela conversa estava prestes a tomar.

-Obrigado –agradeceu, envaidecido pelo elogio.

-Não precisa agradecer. Só que ainda não entendi o que tenho a ver com tudo isso.

Os olhos verdes foram da mão que estava em seu braço para as faces maquiadas com discrição.

-Acontece que desejo que você seja a mãe dessa criança, Ollie Son. –revelou esperançoso.

No entanto, ela não teve a reação que Anthony esperava. Cobrindo a boca com uma das mãos, fitou-o com olhos arregalados e alguns segundos depois um riso histérico emergiu dos lábios rosados.

Anthony levantou-se, contornou a escrivaninha, segurou-a pelo antebraço e ajudou-a a ficar em pé.

-Ollie, você está bem? –Perscrutou-a com os sagazes olhos verdes.

Ela meneou a cabeça de um lado para outro, o risinho histérico voltou a ecoar pelo escritório suntuoso.

-Ora, será que já não deixei claro que minha vida se resume em meu trabalho? Não posso me casar, Anthony, certamente que não.

-Casar?! Bom Deus, eu não quero me casar com você! –Mal havia terminado de falar quando percebeu como o comentário tinha sido infeliz. –Só estou pedindo que gere o meu bebê. Depois que der a luz será livre para fazer de sua vida o que quiser. –explicou. –Mas é claro que terá de mudar para qualquer lugar que deseje, contando que seja bem longe daqui. Não quero nenhuma interferência na educação da criança e, mais importante, é imperativo que tentemos evitar um escândalo. Acho que o noroeste dos Estados Unidos serviria perfeitamente a nossos propósitos.

-Você está dizendo que só deseja que eu...

-Gere o bebê. –Anthony completou com voz pausada. Ainda a segurava pelo braço e podia senti-la tensa sob seu toque. Então forçou-se a solta-la. –Como você mesma disse, existe uma impossibilidade anatômica para que eu o faça. Também não quero que pense que estou sendo atrevido e que tenho segundas intenções ao lhe propor tal acordo. Afinal, existem vários procedimentos médicos que podem implantar meu esperma em seu útero sem que precisemos nos tocar. Tudo será...

Ollie deu um passo atrás como se não pudesse acreditar no que ouvia.

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