Capítulo 2 - Apenas um café.
¤ Por Ashley Cooper | Miami, Flórida 07:22 AM ¤
Assim como existem dois lados de cada história, existem dois lados de toda pessoa. Um lado que revelamos ao mundo e outro que mantemos escondido. Todos acham que me conhecem. Ashley Cooper, filha de um terapeuta renomado de Miami, que é uma das melhores alunas da Miami Senior High School, mas que foi abandonada pela mãe. Pobre coitada. Por muito tempo, eu tive que suportar o olhar de pena dos outros, e por isso eu resolvi dar a volta por cima. As pessoas me acham arrogante, mas isso é porque eu parei de deixar que eles me fizessem de boba, e agora eles não conseguem mais me manipular e me colocam no lugar de vilã. Estou com os meus dois olhos bem abertos.
Antes eu deixava os outros serem os protagonistas da minha própria história, mas hoje não, hoje sou eu quem põe os limites, e quem não os respeita eu faço questão de mostrar o caminho para ir para bem longe de mim e da minha vida.
A única pessoa que me entende é a Meghan, ela sim presenciou o meu passado, e por isso ela me dá razão hoje em dia. Foi ela quem segurou na minha mão e me ajudou a levantar a cabeça, e me ensinou à não me importar com a opinião dos outros. É preciso aprender à dizer "não", mesmo que eles te xinguem dizendo que você só está sendo egoísta. As pessoas se irritam quando não conseguem o que querem de você. O mundo é podre. Lembre-se disso.
A minha mãe me abandonou quando eu tinha oito anos de idade, ela se divorciou do meu pai e se mudou para o Canadá. Ela não era a melhor mãe do mundo, mas ela foi uma verdadeira vadia egoísta ao me deixar para trás achando que o divórcio incluía abdicar dos filhos também. Mulher podre e vazia! O meu pai virou uma pessoa totalmente diferente do que era antes. Ele não era uma pessoa tão amorosa e carismática, mas ele virou um pai frio e distante, preferindo se afundar no trabalho, ao invés de apoiar a própria filha que foi privada da presença da mãe. Então, não só a minha mãe me deu às costas, mas o meu pai fez o mesmo. Nós mal conversamos, e por isso eu cresci praticamente "sozinha" nessa casa.
Eu conheci a Meghan nos meus sete anos de idade, desde o jardim de infância estamos juntas, ela acompanhou toda essa confusão na minha vida, ela sim me conhece como ninguém, e sabe quem eu realmente sou. Porém, contudo, todavia, entretanto, eu não me importo com as fofocas que existem ao meu respeito. Eu não dependo de agradar à ninguém.
Já se passava das sete da manhã e assim que fiquei pronta para ir à escola, eu desci as escadas e acabei me encontrando com o meu pai na cozinha, quando fui encher a minha garrafinha de água.
— Bom dia, pai! – falei, dando um suspiro.
Ele estava no canto da cozinha, bebendo o seu café enquanto lia o seu jornal. Ele sempre faz uma cara engraçada, se achando todo intelectual.
— Bom dia – ele disse baixo, me fazendo revirar os olhos.
Parecia que nem tinha vontade de falar comigo. Como que um terapeuta não sabe agir com a própria filha? E olhe lá que ele era elogiado como um grande profissional renomado! Nesse mesmo segundo, uma buzina surgiu na frente de casa, e eu reconheci imediatamente que era a Meghan.
— Não chegue depois do horário, você ainda está de castigo.
— Tenha um bom dia você também, pai – bufei, indo embora o mais rápido que pude.
E lá estava Dylan, saindo de casa no mesmo momento que eu pus os pés pra fora da minha. Ele me olhou rapidamente, me notando também, mas, como sempre, me ignorou, porém eu fiz questão de apreciar a sua beleza. Ele vestia a sua jaqueta preta que o deixava tão lindo, seus cabelos pretos estavam assanhados como sempre, mas isso não o deixava menos maravilhoso, pelo o contrário. Ele tinha um estilo todo badboy, mas ele era todo certinho, então era só o estilo mesmo.
Eu despertei do tranze com outra buzinada e logo entrei no carro vermelho de Meghan.
— Bom dia, Ash – ela me cumprimentou, abaixando o voluma da música que ouvia, e eu sorri para ela.
— Bom dia, Meg – eu puxei o meu espelho da bolsa e resolvi retocar o meu batom, enquanto ela dirigia para a escola.
Eu estava usando um gloss rosa que havia ganhando da Meg no meu último aniversário. Eu me sentia uma patricinha com ele, adoro!
— Quais são as novas? – questionei.
— Jane e Gabriel terminaram.
— De novo? – perguntei, rindo.
— Parece que agora é sério, ela até nos convidou para a festa do Ton, disse que vai tocar o terror lá – ela comentou, me fazendo rir.
— Eu iria de qualquer jeito – falei, bufando, vendo Dylan em seu carro ultrapassar o carro de Meg na pista. — Preciso espairecer um pouco.
— Você contou à seu pai sobre a ligação da sua mãe? – ela quis saber.
No último fim de semana, me surpreendi com uma ligação da minha mãe. E fiquei presa num dilema, sem saber se atendia aquela chamada ou não. "O que o coração não sabe, o coração não sente". Eu não queria ter mais um motivo para me aborrecer com aquela mulher. Não tenho nada para conversar com ela, e não quero ter contato.
No passado, eu até tentei ter uma boa comunicação com ela, mas seu descaso para comigo foi um tapa na minha cara, e me serviu para me despertar da ilusão de ter um relacionamento saudável de mãe e filha, pois com aquela mulher seria impossível!
— Não, e não é necessário, já que eu não atendi – dei de ombros.
E logo chegamos na escola. Assim que saí do carro, Dylan passou por mim, deixando seu perfume amadeirado para trás. Fiquei abobalhada.
— Você quem sabe, e talvez tenha razão – Meg se aproximou para seguir comigo. — O que ela iria querer, depois de tanto tempo?
— Acha que o Dylan vai para a festa? – perguntei, mudando de assunto, e observando ele se distanciar e se perder no meio dos alunos. — O amigo dele, Noah, é amigo do Ton também. Acho que é bem provável, não é?!
— Nossa, eu no seu lugar já teria me cansado de dar moral pra ele. Ele não tá nem aí pra você! – eu sorri.
— Você que pensa, ele é orgulhoso, e por isso ele não corresponde, mas eu sei que ele presta atenção em mim! – Meg riu da minha cara. — É sério, você quer apostar?
— Não – ela riu ainda mais. — Lambendo as feridas, querida? – Meg perguntou à Jane, assim que chegamos perto dela nos corredores. Assim que me aproximei dela, senti o cheiro forte de vodka.
— Tá de brincadeira comigo? Às oito da manhã? – perguntei, incrédula.
Fora o fato de que ela estava na escola, e não em um cabaré. Entendo que poderia estar sofrendo, mas tudo tem limite. Que sem noção!
— Ele me traiu com a Regina, aquela vadia... – bufou seu hálito na minha cara, me deixando tonta.
— Você sabia muito bem que isso ia acontecer de novo – Meg reclamou, ajudando Jane a andar em linha reta.
— Vou comprar um café pra ela – avisei, me distanciando.
Pobre Jane, ela é muito influenciada por esse babaca por quem ela é apaixonada. Não foi a primeira vez que ele a traiu, mas ela sempre acaba voltando para ele, e fica nesse ciclo doentio.
Assim que atravessei os corredores e cheguei na máquina, enquanto eu comprava um café, um movimento atrás de mim me chamou a atenção. Era Brendon e o seu grupinho se aproximando de mim.
— E aí, princesa – ele sorriu cafajeste para mim. E eu ri de sua expressão contorcida. Ele jura que o charme dele me conquista.
Brendon era um gatinho que se achava o rei da escola. E por causa disso, ele talvez pense que faria um belo casal comigo, ele sempre dá mole para mim. Ele é muito convencido e não faz o meu tipo. Ninguém chega aos pés do Dylan, para mim. Porém, assim como Dylan, o Brendon também faz sucesso com as meninas.
— Bom dia, Brendon! – cumprimentei gentilmente. Eu ia pegar o meu dinheiro na minha carteira para pagar o café, mas o Brendon foi mais rápido, e pagou com o próprio dinheiro o meu café. — Não precisava...
— O prazer é meu, gatinha – ele pôs o braço na minha cintura, e eu entendi que ele queria me dar um abraço, e eu não recusei, seria a minha forma educada de agradecê-lo.
Mas, assim que olhei para quem vinha atrás dele, me arrependi no mesmo segundo. Dylan e seu amigo, Noah, vinham pelo o corredor. Os dois olharam para mim abraçada à Brendon, e eu encerrei o contato físico no mesmo segundo. Brendon ficou me olhando, e eu tentei disfarçar o meu constrangimento.
— Sai da minha frente – Dylan falou, rudemente, para o Brendon, que deu de ombros. Ele queria usar a máquina de café. O Dylan ama café, e isso é uma das coisas que não temos em comum, já que eu prefiro um chá.
— Você não é o dono da máquina – Brendon respondeu, devolvendo a grosseira. E eu pressenti o que acabaria acontecendo.
Dylan e Brendon tem uma rivalidade que dura no mínimo uns dois anos, e tudo começou quando o Dylan ganhou o posto de capitão do time da escola, vaga que ele concorria contra o Brendon. E desde então, os dois trocam farpas diariamente, em uma richa interminável e irritante. Porém, tudo isso é culpa do recalque de Brendon, já que ele não aceita que o Dylan é o melhor jogador da equipe!
— Brendon, para com isso – falei, o puxando pelo o braço, para dar espaço para Dylan passar e pegar o seu café em paz.
— Tudo bem, faço o que você quiser, gatinha – ele me respondeu, me deixando vermelha.
Brendon é legal, mas as vezes consegue ser um cretino quando quer. Ele só fez isso para provocar o Dylan, já que tinha uma expressão de deboche no rosto.
Ele foi embora com o seu grupinho, e eu respirei fundo e olhei para Noah e Dylan, que ainda estavam ali perto de mim.
— Bom dia, meninos – sorri, tentando aliviar o clima.
— Bom dia, Ashley – apenas o Noah me respondeu educadamente, enquanto que o Dylan nos deu às costas e foi embora.
— Vocês vão para a festa do Ton? – perguntei, para Noah.
— Não sei, não fomos convidados. – Ele passou a mão nos cabelos, sorrindo, me fazendo rir também. Noah é gente boa.
— Pois está sendo convidado nesse segundo, e por favor, diga ao Dylan que ele também está convidado, já que ele foi embora antes que eu pudesse dizer qualquer coisa – dei de ombros, sorrindo sem jeito.
— Tudo bem, Ash, talvez a gente se veja lá! – ele sorriu e com isso eu me fui.
Ser ignorada pelo o Dylan me magoava, porque as vezes isso me despertava gatilhos, já que também fui muito ignorada pela minha mãe nas vezes que procurei a atenção dela e fui frustrada.
A maior e pior arma que alguém pode usar contra nós, é a nossa própria mente, mesmo que nem sempre seja proposital. Se aproveitam de nossas dúvidas e incertezas que se escondem no nosso subconsciente.
Somos verdadeiros com nós mesmos? Ou vivemos pela expectativa de terceiros? E se formos acessíveis e sinceros, poderemos algum dia ser realmente amados? Poderemos encontrar coragem para liberar nossos segredos mais ocultos? Ou no final, somos todos incompreensíveis até para nós mesmos?