Capítulo 1 - Carona inofensiva.
¤ Por Ashley Cooper | Miami, Flórida 06:33 PM ¤
Eu me encarei através do espelho, tirando um borrão no canto da minha boca, do meu batom vermelho que usava naquela noite, meus lábios estavam marcantes do jeito que eu gostava, combinando com o meu uniforme da mesma cor. Apertei o laço no topo da minha cabeça e respirei fundo, antes de sair do banheiro, notando o olhar invejoso das garotas ao meu redor. Ergui o meu queixo e desfilei pelo os corredores cheios de alunos, ignorando o recalque das invejosas.
Todos estavam seguindo para o campo de futebol, onde aconteceria mais um jogo. Era o primeiro da nova temporada e todos estavam eufóricos. E como sempre, eu era uma das atrações mais esperadas do jogos.
Assim que cheguei perto das arquibancadas, percebi que as meninas já me esperavam. Eu era a capitã das líderes de torcida, e por quê? (Você me pergunta), e eu te respondo: porque simplesmente eu era a melhor!
A escola beijava os meus pés e não era à toa que me chamavam de "princesa", os meus talentos eram a minha melhor reputação e por isso eu me esforçava para ser a melhor em tudo que pudesse. As minhas notas sempre eram altas e o meu cabelo sempre estava arrumado. Eu sou multitarefas.
— Se preparem, todas na posição! – eu as chamei, pegando de volta os meus pompons, eu os agitei no ar e puxei o grupo até o meio do campo, com elas me seguindo. E lá estava o time formado, do outro lado do campo, esperando pela nossa apresentação para começarem a partida. Todos os garotos olhavam pra gente, inclusive "ele", o meu futuro marido. Dylan O'Brien. — É agora meninas, e três, dois, um!
A música ecoou pelo o campo, e assim que iniciamos a nossa coreografia, o público nas arquibancadas gritou e nos aplaudiu de pé. Todos nos idolatravam, nosso grupo era o melhor que já passou por essa cidade, nenhuma torcida ou time de outra escola conseguia nos tirar do primeiro lugar, e os troféus que enfeitavam as nossas estantes confirmavam isso. Nós éramos a Miami Senior High School, escola de referência no estado da Flórida.
Dylan estava olhando para mim, quando voltei a minha atenção para ele. Eu amava rebolar a minha bunda, principalmente quando eu sabia que ele estava me assistindo. Eu dei um mortal para trás no refrão da música e quando voltei a dançar eu o vi balançar a cabeça. Eu acabei rindo. Dylan se negava à admitir que eu o atraía. Ele preferia morrer à fazer isso, e por isso eu nunca esperei que ele viesse até mim. Eu mesma sou corajosa o suficiente para ir atrás do que eu quero. E essa sou eu buscando o que é meu.
Me virei de costas, empinei a minha bunda, e joguei os pompons para o alto. Assim que as meninas se posicionaram, eu corri e me joguei nos braços delas e elas me levantaram para o alto, me deixando no topo da pirâmide. Todos gritaram e aplaudiram, enquanto lindamente eu sorria para as câmeras apontadas para mim. Esse era o meu mundo, eu nasci para brilhar, e para ser a primeira.
Assim que terminamos a nossa apresentação, nós fomos sentar no banco para assistir ao jogo. Aliás, todos assistiam ao jogo, mas eu não, eu assistia o meu amado pelo o campo, que era muito mais interessante. Dylan era o garoto mais lindo que já vi, cabelos e olhos pretos, pele pálida pois ele não gostava de tomar sol, músculos belos, alto, um verdadeiro sonho de consumo. O único defeito que ele tinha era o seu péssimo humor.
Ele é introvertido, muito sério e centrado. Ele não interagia com todo mundo, suas amizades eram bem seletivas, e infelizmente eu não estava entre elas. Sempre tentei me aproximar dele, mas ele nunca se interessou igualmente.
Ele finge que não está nem aí pra mim, mas eu sei que eu chamo a sua atenção.
Eu nunca vi Dylan com uma namorada, nunca o vi perto de qualquer garota tendo gestos afetuosos ou românticos. Isso me dava a esperança de ser a sua primeira, e estaria certa de que seria marcante. Sou uma pessoa extremamente intensa. Ele sabe quem eu sou e ele tem ideia do meu potencial. Do mesmo jeito que tenho o poder de tornar algo melhor, também tenho o poder de causar estrago.
Nós dois juntos seríamos épico. Ele, o capitão do time de futebol, o melhor jogador de sua equipe, um dos melhores alunos da turma, assim como eu. E eu, capitã das líderes de torcida, uma das melhores alunas também, fora a minha beleza e charme, que combinaria completamente com o porte dele.
Quer mais clichê que isso, meu bem? Para mim está claro, está escrito nas estrelas!
Divinamente lindo, mesmo com a sua arrogância. Não, Dylan não era apenas lindo, ele era um grande gostoso, isso sim! Ele era um atleta nato, alto e forte, totalmente o meu tipo. Eu tenho o maior prazer do mundo em me guardar especialmente para ele. Combinariamos tanto que...
— Ei, para de sonhar acordada! – Meghan estalou os seus dedos na frente do meu rosto.
— O que foi? – bufei para ela. Ainda estávamos sentadas no banco, assistindo ao jogo.
— Estamos perdendo, devíamos puxar um coro da torcida para animá-los – eu olhei assustada para o placar, e dei um pulo do banco, constatando o fato.
— Vamos lá garotas, vamos dar uma animada nos nossos jogadores!
E mesmo emanando muita energia positiva, não teve jeito. Perdemos o primeiro jogo, e todos estavam desanimados quando acabou o tempo. Os nossos rapazes estavam tensos e as garotas murmuravam palavras de apoio para a multidão. "A próxima será nossa, pessoal", o treinador gritou.
Eu olhei para o Dylan, que vinha com a sua costumeira expressão fechada. Ele caminhava atrás dos meninos, como se quisesse se isolar da multidão. Ele sempre ficava terrivelmente mais mal humorado do que já era após perder um jogo. Minha melhor amiga Meghan me puxou pelo o braço, antes que eu pudesse dar um passo na direção dele.
— Cuidado, a cara dele não está nada boa – ela avisou, perto do meu ouvido.
— Que tal você procurar o que fazer?! – resmunguei, deixando minha amiga que ria de mim para trás, decidindo ir para o vestiário. Ela tinha razão, abordar ele agora seria burrice, ele só iria me ignorar como sempre.
Meghan adorava zoar com a minha cara, ela achava que eu nunca iria conseguir a atenção dele. Aliás, ela acha que eu devia desistir, alegando que eu não devia ficar me humilhando para ter a atenção de ninguém, e eu sei que ela está certa. E eu quase desisti, concordando com ela. Mas, você já se apaixonou perdidamente por alguém? Eu meio que tenho que ao menos tentar conquistá-lo, e se tudo na vida fosse fácil nada teria graça, concorda?! E, desde o dia que eu o peguei encarando a minha bunda, eu fiquei ainda mais determinada. Ali eu tive a certeza de que eu chamava a sua atenção, e que ele me assistia em segredo.
Eu arrumei as minhas coisas, peguei a minha mochila, e quando quase todo mundo saiu, eu finalmente resolvi ir embora. Dylan era sempre um dos últimos à ir embora quando perdiam os jogos. Ele gostava de ficar na academia pensando, como se ele se culpasse pelo o resultado do jogo, e ficasse se cobrando por respostas. Ele era bastante competitivo, e isso era o seu ponto forte, e também o seu ponto fraco. Ele exigia muito de si mesmo, e isso pode levar à um caminho perigoso.
Ele sempre estava de carro, e como uma boa estrategista eu sou, fiquei à sua espera na espreita, para tentar pegar uma carona com ele. Nós moramos na mesma rua, ele mora na casa ao lado da minha. E se isso não for o destino, eu não sei o que é!
Antes de sair do terreno da escola, eu notei que ele estava entrando no seu carro, após guardar as suas coisas no porta-malas. Eu virei a calçada da rua, e fui andando devagar, sem pressa. Eu estava morrendo de frio, estava apenas com o meu uniforme, que se resumia à uma mini saia e um cropped. Fora o fato de que já se passava das oito da noite, ou seja, estava ventando muito.
Eu encolhi os meus braços no corpo e continuei andando tranquilamente, e quando eu ouvi o barulho do motor de seu carro se aproximando de mim na calçada, eu quase dei pulos de alegria. Mas, pelo o contrário, eu me virei na direção dele de forma calma e falsamente "surpresa".
Eu sou quase uma atriz de cinema.
— Entra – ele disse, direto e sério, assim que abaixou o vidro da janela.
Ele estava com a mesma expressão fechada de antes e não olhou para mim. Eu me apressei dando a volta no carro e entrei, sentando no banco do carona.
— Obrigada – eu falei sorrindo, mas ele continuou sem olhar para mim, muito menos disse alguma coisa. — Você jogou muito bem, como sempre, porém a vida não é feita só de vitórias, e uma derrota não anula a qualidade dos jogadores, mas eu sinto muito – comentei, olhando ele enquanto dirigia, querendo puxar um papo para distraí-lo. Quando ele fica sério e centrado no volante ele fica tão lindo. — Você não tem que ficar procurando motivos para se culpar, você é um excelente capitão, e...
— Dá pra ficar em silêncio? – ele falou, grosseiramente. — Eu só te dou carona porque se a minha mãe descobre que você chegou depois de mim e sozinha tarde da noite, ela vai encher os meus ouvidos de baboseiras, e eu sei muito bem que você se atrasa de propósito. Então, eu não sou obrigado à me enturmar com você só porque a minha mãe gosta de você. – Eu abri a minha boca, incrédula com as suas palavras, e quase acabei rindo.
— Ok, meninão, você quem manda – lambi os meus lábios, me segurando para não rir.
Com certeza ele desejava me jogar pela janela só por ter lhe chamado de "meninão". Mas, como chamar alguém que só está sendo gentil com você só porque a mamãe o obrigou, caso contrário ficaria de castigo?! Eu queria era gargalhar, mas me segurei.
O meu uniforme ficava lindo no meu corpo, a minha mini saia valorizava as minhas pernas, deixando minhas coxas fartas e belas. Mas, infelizmente ele não estava dando bola para isso, o que me deixava decepcionada. Qualquer garoto no lugar dele enlouqueceria com essa visão e tentaria tirar proveito de alguma forma. Todos os caras do colégio dariam tudo por essa oportunidade comigo, de me levar pra casa e fazer algo rolar. E logo o garoto que eu quero não estava nem aí para mim. Que maldade!
Assim que ele estacionou em frente a sua casa, que era ao lado da minha, ele desligou o carro e esperou que eu saísse. E nesse momento eu decidi lhe afrontar, de uma forma gentil e "inocente", é claro. Eu me inclinei rapidamente na sua direção, deixando um beijo estalado em sua bochecha. Eu quase gargalhei de sua cara de bunda, e vi os meus lábios desenhados de vermelho na sua pele alva.
— Obrigada por me trazer, espero que sonhe com os anjinhos esta noite – eu abri a porta e sai do carro rapidamente, para não lhe dar tempo o suficiente para me dizer mais asneiras, e desfilei até entrar em casa, pois eu sabia que ele me assistia de dentro do carro.
Missão cumprida! Lhe dei palavras de conforto e ainda lhe presenteei com mimos! Dá para notar que eu seria uma namorada perfeita, só é uma pena ele não se dar conta disso...
Mesmo sendo forte e determinada, eu me pergunto até hoje se um dia conseguirei descongelar o coração de Dylan O'Brien, pois haja paciência. Eu sei que ele não é rude assim porque gosta, mas sim porque já lhe aconteceu muita coisa, a vida lhe fez ser assim. Contudo, eu estava disposta à suportar, e estava pronta para ser sua quando ele quisesse.