Capítulo 8
Mármore branco reluzia aos pés de Amir, conforme as portas douradas e entalhadas rangiam até se fecharem. Candelabros e tochas pendiam por toda parte. As cortinas com um tecido fino pareciam flutuar e Amir observou as paredes com entalhes em ouro e prata. O rapaz parou no espaço aberto diante do enorme trono dourado e curvou-se em uma reverência baixa, antes de erguer os olhos para o homem naquele trono.
As asas amareladas foram as primeiras coisas que Amir viu. Logo em seguida os cabelos pretos com alguns poucos fios brancos, a pele bronzeada, a mandíbula reta e forte, sem barba e os olhos em um castanho tão claro que pareciam dourados.
— Mandou chamar-me, Grão-Sultão?
Ele perguntou em um tom neutro. Amir o odiava, odiava tudo que aquele dralekin havia feito com ele. Mas não arriscaria entrar na rebelião por vingança, não quando sua mãe poderia correr algum risco. Mas quando soube o que ele fazia com o povo, com as famílias… a bile subiu por sua garganta. Ajudar a dar um golpe de estado era o mínimo que ele poderia fazer para recompensar seu povo.
O sultão, por outro lado, sequer o encarou. Ainda observava uma papelada entregue por um de seus conselheiros. Ele apenas ergueu uma mão e um dos soldados entregou uma pasta a Amir.
— Deve ser cumprida amanhã.
Foram as únicas palavras que o sultão proferiu para Amir. Mais alguém que ele deveria matar… ele odiava aquilo. Aquele trabalho. O que era obrigado a fazer.
Amir abriu a pasta, mas mal teve tempo de ler as informações, antes de as portas se abrirem com certa brutalidade. Naguib adentrou o local parecendo estar furioso.
— Pai. - Ele falou alto. O sultão desviou os olhos para ele, perigosamente. Aquilo pareceu ser o suficiente para lembrar ao príncipe quem era o macho sentado naquele trono, pois Naguib endireitou a coluna de forma tensa e se curvou profundamente. - Perdoe minha intromissão. Mas é um assunto com certa urgência. Aquela semi-feérica deve ser morta.
Amir ficou tenso. Naguib tinha uma certa obsessão por Mahira, uma das poucas pessoas das quais Amir realmente se preocupava.
Ele e Mahira se conheceram perto de uma fonte, logo quando ela chegou. Se deram bem quase que imediatamente, talvez pelo fato de ambos serem tratados como escória e isso ter feito ambos acabarem se identificando e se aliando, de alguma forma e com o tempo, ele, Hadia, Nahir e Mahira acabaram desenvolvendo uma certa irmandade.
Mahira foi vendida pelo pai quando criança para se tornar uma hentaira. O sultão havia pagado caro por ela, um presente para seu filho Nahir, o único príncipe que Amir considerava irmão, de certa forma. Nahir quis libertar Mahira e Naigub, com certa birra, pediu que o pai a entregasse para ele. E assim o sultão fez.
A semi-feérica havia dado uma filha a Naigub, mas foi impedida de se casar por ser semi-feérica. E porque Naigub não a queria como esposa. Hadia odiava a forma que ele tratava Mahira, a forma que era agressivo. E Amir sabia o motivo da raiva de Naigub, sabia porque havia escutado a conversa das irmãs. Hadia havia dito a Mahira para terminar com Naigub. Elas haviam feito um plano para que Mahira não fosse punida.
O sultão suspirou, com certa irritação, voltando a ler a papelada em suas mãos. Amir ouviu passos baixos e suaves, como se alguém estivesse vindo para a sala do trono.
— Por que razão ela deve ser morta, Naigub?
O príncipe estufou o peito com certa arrogância, mas não teve tempo de falar, antes de ouvirem uma voz feminina e poderosa soar pela sala do trono.
— Saiam.
Hadia falou, sem sequer se preocupar com o macho sentado naquele trono. Não que ela precisasse. Ao contrário de como ele olhou para Naigub, ele ergueu os olhos com verdadeira adoração para Hadia. Sequer tentou esconder o sorriso de canto por ouvir as ordens da filha para Amir e até mesmo para Naigub.
Hadia caminhava como a rainha que foi criada para ser, ela usava um vestido verde escuro decorado com fios de ouro, uma tiara pendia em seus cabelos. Um colar com uma pedra de esmeralda enorme brilhava em seu pescoço. E em suas mãos, ela carregava uma bandeja com um bule, duas xícaras e alguns doces e frutas.
Naigub a encarou com certa raiva.
— Estou falando com nosso pai, Hadia.
A fêmea bufou, revirando os olhos, enquanto se aproximava do trono. Aquele simples gesto deveria fazer algum guarda se colocar em seu caminho, mas o último que ousou tocá-la, perdeu a mão. E os outros, aparentemente aprenderam a lição.
— Vá lamentar suas perdas estúpidas em outro lugar, Naigub. Pare de incomodar o sultão com seus assuntos mesquinhos.
O macho deu um sorriso de canto, parecendo quase orgulhoso da filha, enquanto ela subia as escadas em direção ao trono. As bochechas de Naigub ficaram vermelhas e Amir quase riu. Então era isso que Hadia tinha em mente… humilhar o pobre macho, até que ele desistisse de importunar Mahira. Não era de todo ruim…
Naigub se recompôs, pigarreando com certa irritação.
— Não é um assunto mesquinho. Vim informar nosso pai da traição de Mahira. - Amir sentiu as costas tensionarem. O sultão desviou os olhos de Hadia e Naigub pareceu orgulhoso de si mesmo, pois estufou o peito novamente com arrogância. - Tenho motivos para crer que ela está passando informações para os rebeldes.