Capítulo 5
Viktor deslizou as mãos para os bolsos novamente, enquanto voltava a caminhar pelos corredores. Ele estranhou não ver Martha vigiando a entrada e entrou no quarto da mãe com cuidado e apreensão, até escutar a gargalhada dela e de sua irmã mais velha, Allura.
Ele fechou a porta, atraindo o olhar dos pais, enquanto escutava Allura falar pelo komunic.
— Mas Eteon estragou tudo!
Allura falou, ainda com um semblante divertido, enquanto sua imagem aparecia pelo holograma. Os cabelos escuros estavam presos em um coque, os olhos azuis brilhando com diversão. Allura e Mike, ao contrário do resto da família, puxaram o pai biológico deles e nasceram metamorfos. Apenas Diana havia puxado mais para o lado feérico de sua mãe biológica e nascido como semi-feérica, sem nenhum poder. Mas ela compensava aquilo com sua tecnologia.
— Do que estão falando?
Viktor perguntou, se sentando no sofá ao lado de Martha. Allura sorriu, acenando para o irmão. Ela possuía vinte e dois anos, sendo apenas cinco anos mais velha que Viktor e Zarya.
— Oi Vik! Estou contando como consegui enganar Diana em uma imitação perfeita da mamãe. - A pele de Allura começou a modificar e seus ossos se esticaram um pouco e logo, Viktor se viu encarando a mãe. Ou melhor, a imagem da mãe. - Diana Ivanski. Por que ainda não recebi seu relatório da semana?
Ela perguntou com tanta frieza e seriedade, que por um momento, Viktor realmente achou que fosse Akilina do outro lado. Martha soltou outra gargalhada ruidosa e Akilina revirou os olhos, enquanto Dimitri ria baixo. Viktor sorriu levemente a encarando.
— Isso nunca vai perder a graça…
Martha murmurou baixo, ainda rindo, enquanto Allura voltava ao normal com um sorriso divertido nos lábios.
— Bem, é só não deixar Eteon ver. Ela acabou com a brincadeira.
Allura murmurou, enquanto apoiava o rosto em sua mão.
— Pelo menos descobrimos que a nova função dela de reconhecimento molecular está quase completa.
A voz de Diana soou enquanto uma parte da cabeça dela aparecia no holograma, bem ao lado direito de Allura.
Diana, apesar de gênia, possuía apenas dezenove anos. Os cabelos escuros dela estavam presos em um rabo de cavalo e havia uma chave de fenda pequena apoiada em sua orelha que era minimamente pontuda. Allura revirou os olhos para a irmã.
— Sabe, Dina… você deveria fazer um upgrade para que ela aprendesse a diferenciar brincadeiras.
Viktor soltou uma risada baixa e Diana sorriu de canto.
— Às vezes você me faz esquecer que sou a mais nova.
Disse antes de sumir do holograma novamente, arrancando uma risada baixa de Dimitri no mesmo momento em que Mike apareceu na imagem, encarando Viktor.
— Onde está Zaza?
Viktor encarou o irmão com um minúsculo sorriso de canto.
— Ela disse que estava cansada do passeio e me pediu para passar as informações.
Até mesmo Allura o encarou com desconfiança. Mas nenhum dos dois falou algo, não porque não se importavam, mas porque Akilina, Dimitri e Martha estavam ali. E se demonstrassem alguma reação, poderiam acabar encrencando a irmã.
Mike sumiu da imagem do holograma e Akilina suspirou novamente, encarando a filha mais velha.
— De qualquer forma, Allura, nós voltaremos pela manhã.
Allura sorriu para os pais.
— Tudo bem. Vejo vocês em breve.
Ela falou, antes de desligar. Viktor então se espreguiçou levemente.
— Você não vai acreditar em tudo o que descobrimos…
Ele começou, atraindo atenção dos três. Viktor sentiu o ar mudar, percebendo que Martha havia feito uma redoma à prova de som e a encarou agradecido. Ao contrário dos Ivanski, que em sua maioria controlavam o gelo também, Martha controlava o ar e poderia facilmente sufocar seus inimigos. Os Ivanski feéricos controlavam os ventos, como a maioria das pessoas de Veldrien, mas os ventos Ivanski eram tão poderosos que os deixava sendo capazes de criar gelo. Bem…menos Zaya. Por alguma razão, Zaya havia sido a única feérica Ivanski a nascer sem poder algum.
— Aljanub está beirando a uma guerra cívil. A revolta começou após o Grão-Sultão matar mais de cem famílias. Incluindo bebês. Todos os membros acima de cinco anos levaram pelo menos vinte chibatadas.
Martha arregalou os olhos.
— Por que? O que eles fizeram?
Viktor encarou a mãe quando falou novamente.
— Não tinham condições para pagar o Tributo. Foi uma verdadeira chacina… - Viktor ouviu o xingamento do pai, mas manteve os olhos na mãe. - O sultão não quer a ajuda de Lupirlan em comércio. Ele quer ajuda armamentista.
Porque graças a Diana, de três anos pra cá, Lupirlan havia evoluído drasticamente no quesito tecnológico e isso aumentou bastante a economia do país.
— Você vai ajudar, Aki?
Martha e Dimitri, talvez, fossem as únicas exceções de Akilina para a chamar por um apelido. Ela jamais os repreenderia por algo assim, não quando eles a ajudaram a assumir e salvaram a vida dela inúmeras vezes.
Ela ainda se lembrava de ser casada com o rei de Lupirlan quando tinha apenas quinze anos, ainda se lembrava das surras e dos dois abortos que sofreu, ainda se lembrava dele ter matado seu primeiro amor bem na sua frente, ainda se lembrava de Dimitri a abraçando e tentando cobrir seus olhos.
Martha e Dimitri se conheceram antes de conhecer Akilina. Isso porque Dimitri era um semi-feérico bastardo, o que tornaria tudo pior para ele. Mas o pai de Martha, um Grão-feérico e duque de uma das maiores terras de Lupirlan o adotou e eles dois basicamente cresceram juntos.
Quando Dimitri alcançou a maioridade, se juntou ao exército real. E Martha ocupou o cargo de seu pai, como cartógrafa real. Ambos viram tudo que Akilina passou, ambos viram ela deixar de ser uma inocente garota de quinze anos para se tornar uma das mulheres mais temidas e respeitadas. E quando tiveram que escolher entre o rei e ela, ambos a escolheram. Escolheram a amizade que formaram.
E foi se lembrando disso que Akilina se levantou com toda graciosidade e disse:
— Não farei negócios com um sádico novamente. Arrumem suas coisas. - E então encarou Viktor. - E quero que deixe claro, implícito, mas claro, que se essa rebelião vencer… terão o apoio de Lupirlan.
Viktor confirmou com a cabeça, antes de se curvar e sair. Aquilo era simples, uma bandeira vermelha com um circulo negro em seus mastros deveriam bastar para mostrar seu posicionamento. Ele só teria que arrumar aquilo.