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Capítulo 2.2

— Tenho algo para te mostrar.

— O que é? — pergunta se desfazendo do meu termo e o largando com cuidado em cima do divã.

— Um documento. — Hesito. Ela ergue o olhar e me dá um sorriso significativo.

— Quer que eu trabalhe na minha folga, doutor Alcântara? — sussurra provocativa, ao pé do meu ouvido. Porra! Ela quer tirar a minha sanidade, só pode! Seguro em seus braços a afastando um pouco e ela me encara atônita.

— É sério, pequena, eu realmente preciso te mostrar uma coisa — insisto. Ana se afasta e me lança um olhar confuso, receoso.

— Tá bom então! O que você tem para me mostrar? — Agora ela parece curiosa.

— Espere aqui, eu volto logo — peço e ela assente. Saio do escritório rapidamente e volto até o meu carro, abro rapidamente a porta do carona e pego a minha pasta e tiro o envelope com o dossiê. Respiro fundo. Começo a me arrepender de ter feito isso. Logo agora que tudo está tão calmo! Volto para o escritório e encontro os olhos especulativos da minha esposa, que vão para minha mão que segura o papel pardo.

— O que é isto? — indaga curiosa.

— Antes de te entregar, quero que saiba que eu só fiz isso porque eu te amo — confesso, cheio de receios.

— Você está me deixando com medo, Luís — sibila. Eu lhe estendo o envelope e ela o segura, o olhando por algum tempo. Em silêncio, Ana se afasta de mim e vai até a sua mesa do outro lado do escritório. Ela tira as folhas de dentro do envelope e o descarta o sobre a mesa de vidro e fica um tempo ali parada, olhando atentamente as letras negras no papel branco. Os minutos de silêncio, são como o inferno para mim e quando termina e ergue os seus olhos para mim, me amaldiçoou imediatamente, ao vê-los marejados. Engulo em seco. Sabia que não devia ter feito isso. Puxo a respiração quando vejo uma lágrima escapar dos seus olhos e em seguida os soluços. — Você o encontrou — sussurra.

— Sim — digo no mesmo tom. Ela se senta no sofá como se de repente o chão lhe faltasse e eu rapidamente vou ao seu encontro, me sentando ao seu lado, segurando sua mão livre e a beijo. — Você está bem? — Procuro saber, cuidadoso, cauteloso.

— Não sei. Era bem mais fácil para mim quando ele não tinha um nome e agora… — Ela não termina a frase. Suspiro baixinho.

— Ana, só faremos o que você quiser — falo. Cacete, se arrependimento matasse!

— Eu posso ter uma família… além da que tenho com você… — gagueja com a voz trêmula.

— Sim, querida. — Apenas concordo beijando carinhosamente os seus cabelos. De repente ela se levanta e vai até à janela.

— E se ele não quiser me conhecer? — inquire com voz baixa. Eu me levanto vou até a minha pequena, a abraçando por trás e aspiro o seu perfume.

— Então ele é muito idiota, porque você é uma mulher maravilhosa! — sussurro. Ela me dá um meio sorriso.

— Preciso pensar um pouco, Luís — pede.

— Claro, amor.

— Será que você pode me deixar sozinha? — Ela pede para minha surpresa e eu hesito no mesmo instante. — Por favor, querido, eu só preciso absorver tudo isso aqui — insiste e eu concordo, mesmo contra a minha vontade.

— Estarei do outro lado dessa porta, se precisar, é só me chamar — falo. Ela assente. Eu a beijo de leve e saio da sala, fechando a porta em seguida.

****

Ana Júlia.

Olho para o papel contendo as informações sobre o meu pai pela décima vez. Pelo relatório, é um homem de posses e muito rico. Mas isso é o de menos. Vejo logo abaixo no dossiê um número de telefone. Sentindo a minha tremular, eu pego o meu celular no bolso traseiro do meu jeans e ligo para o número. O telefone chama incansavelmente e a cada toque, sinto o meu coração bater violentamente. Penso em desistir, mas a minha teimosia não me permite, ou seria a minha curiosidade? O telefone volta a chamar e o meu coração quase sai pela boca, quando alguém atende na segunda chamada.

— Residência dos Fassini, quem é? — A voz masculina inquire do outro lado.

— O senhor Fassini se encontra? — Procuro manter a minha voz o mais firme possível

— Deseja falar com o pai ou o filho? — pergunta. Hesito por alguns instantes.

— E… acredito que o filho… — gaguejo e sinto a minha garganta ficar cada vez mais seca.

— Só um momento. Ah, desculpe, quem deseja? — A pessoa pergunta e mais uma vez, engulo em seco. O que devo dizer? Ah! Por favor, diga que é a filha dele? Não mesmo!

— Senhora? — O homem chama me despertando.

— Desculpe! Eu ligo em outra hora, obrigada! — Desligo sem esperar a sua resposta. O que devo fazer? Devo procurá-lo? E o que ele vai pensar? Meu Deus, isso é loucura!

"Tenho que lhe contar uma coisa filha… Eu tinha quinze anos quando fiquei grávida… e, ele tinha que ir para a faculdade… Meus pais não podiam ficar comigo… Tive que fugir."

Santo Deus, ele não sabe da minha existência, nunca soube… nunca teve a oportunidade de falar, de escolher. Penso levando a minha cabeça as mãos e respiro fundo. O que eu faço? Com as minhas emoções em frangalhos, pego o celular e torno a ligar. Dessa vez uma mulher atende.

— Residência dos Fassini, quem deseja?

— Boa tarde, me chamo Ana Júlia Alcântara e procuro o filho do senhor Fassini. — Tento manter a minha voz firme.

— Oh, me desculpe! O senhor Fassini acabou de sair daqui. Hoje foi o sepultamento da mãe dele e ele não está muito bem. Quer deixar recado? — Ela pede. Meu Deus! Sinto o meu corpo inteiro estremecer e ao mesmo sem saber o que dizer. A mãe dele acabou de falecer. A minha… avó. Luís entra silencioso no escritório e noto a sua preocupação estampada em seu rosto.

— Querida, já tem horas que você está trancada aqui dentro. As crianças estão ficando preocupadas — diz se aproximando da minha mesa.

— Me desculpe! — sussurro.

— Não precisa se desculpar, está tudo bem? — Procura saber.

— Quero conhecê-lo, Luís — falo sem rodeios. Meu marido me encara espantado.

— Tem certeza, Ana?

— Não, mas quero conhecê-lo. Quero ter a certeza de que nunca me procurou porque realmente não sabia da minha existência ou se ele nunca quis me conhecer de fato. Preciso resolver esse pedaço da minha vida, Luís - peço quase sem voz e ele assente levando as mãos ao bolso.

— Ok, mas quero que saiba que estarei com você, não importa o resultado disso tudo — diz sério e eu lhe dou um meio sorriso.

— Eu te amo! Obrigada por fazer isso por mim! — sibilo, saindo da minha cadeira e ele abre os seus braços para mim. Deito a cabeça em seu peito e logo sinto um beijo cálido em meus cabelos.

— Sério? — Ele sorri. — Não está chateada por fuçar seu passado, sem falar com você?

— Não, no fundo, eu queria fazer isso, porém nunca tive coragem de fato — confesso. Ele me aperta em seus braços e eu o aperto nos meus.

— Eu te amo, pequena! — sussurra, deixando mais um beijo cálido.

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