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Capítulo 2.1

Em algum lugar do Rio de Janeiro.

Luís Renato Alcântara.

— Tem certeza que quer fazer essa compra Luís? Não sei. O hotel está falido. — Meu sócio pergunta encarando o empreendimento praticamente em ruínas.

— Mas esse é o mérito Marcos. Pegamos o hotel falido. Faremos uma boa reforma nele e fazemos ele produzir — falo com entusiasmo na voz. Marcos dá de ombros e me encara especulativo.

— Qual é, Luís, nunca fizemos isso antes. Como sabe se vai dá certo? — inquire receoso. Dou de ombros.

— É só olhar as plantas, meu caro. O hotel tem potencial, olha essa área e esse espaço, o lugar onde ele está posicionado, ele é perfeito! A Ana pode fazer os projetos de melhoria nele e ele ficará igual aos nossos padrões. — Marcos começa a observar atentamente a planta. Meu celular começa a vibrar em cima da mesa de reuniões. Deixo Marcos olhando a planta e atendo a chamada.

— Luís Alcântara falando.

— Doutor Luís, é o Max.

— Ah! Oi, Max! Alguma novidade?

— Sim, encontrei a casa onde a senhora Rose Falcão viveu quando criança.

— E sobre o pai da Ana?

— Edgar Fassini? Acabei de mandar um dossiê para o seu e-mail.

— Ótimo, Max! — falo saindo com passos apressados da sala de reuniões e sigo para o meu escritório. Janete, minha atual secretária tenta dizer algo, mas não lhe dou atenção e entro na minha sala, abrindo com ansiedade a tela do meu computador e em seguida a caixa de e-mails e lá está.

— Estou olhando o arquivo agora, Max — digo ainda ao telefone.

— Mais uma coisa, senhor.

— O quê?

— O senhor Fassini chegou ao Brasil a três dias. — Paro abruptamente o que estou fazendo. Porra isso é, meu Deus! Como contarei tudo isso para Ana agora?

— Onde? — Procuro saber.

— Goiás, senhor. O endereço já está no dossiê

— Obrigado, Max! Fez um ótimo trabalho, como sempre!

— Disponha, senhor Alcântara, precisando, é só chamar. — Desligo o telefone e o largo sobre a mesa, ainda olhando para a tela do meu computador atentamente.

Dossiê.

Nome: Edgar Fassini.

Idade: 45 anos.

Naturalidade: brasileira.

Estudou na faculdade de Minnesota EUA. Atualmente reside em Hamburgo - Alemanha. Formado em administração.

Sobre os pais:

Mãe: Giovanna Fassini.

Pai: Enrico Fassini.

Endereço: Rua Niquelândia - 124 Anápolis - GO

Fico parado olhando para a tela do computador, praticamente paralisado. O que fazer com tamanha informação? A alguns anos, quando eu e Ana estávamos em nosso cantinho, após fazer amor com a minha esposa, ela parecia especialmente inquieta. Fui dando-lhe carinho e uma atenção especial, até que ela começou a falar-me sobre a sua mãe. Fazia tempo que não falava sobre ela, mas aquela semana era aniversário de sua morte e em um momento do seu desabafo, ela me contou um fato que até então eu desconhecia.

— Ela estava morrendo e foi a primeira vez que me falou dele.

— Dele quem? — perguntei acariciando as costas nuas. Estávamos em uma casa de veraneio no meio das montanhas, deitados debaixo do cobertor no chão da sala e de frente para uma lareira acesa. Ao nosso lado, havia um balde com gelo, onde o vinho descansava e ao lado do balde, duas taças pela metade. Beijei o seu rosto delicado.

— Meu pai. — Ela disse.

— Seu… pai? — perguntei perdido. — Pensei que não tinha mais ninguém — comentei completamente surpreso. Ela suspirou audível.

— Eu também achei… Mas, depois que tudo se acalmou, eu tive tempo para pensar… Eu posso ter um pai por aí… e avós… — disse, mas não sei se estava feliz por isso, ou receosa, talvez os dois. Desde então, resolvi investigar, sem ela saber e aqui estou eu com as informações que a levará até uma parte da sua família que ela nunca conheceu na vida.

Alguém bate a porta e eu fecho rapidamente a tela do computador.

— Me abandonou na sala de reuniões para namorar, garanhão? — Marcos diz ao entrar na sala.

— Ah! Eu… Não, eu precisava… — gaguejo as palavras e ele me lança um olhar especulativo.

— Qual foi? — Marcos pergunta dando alguns passos em direção da minha mesa.

— O quê? — Ele rola os olhos.

— Qual é, Luís, fala sério, cara! Você nunca gaguejou na vida. Desembucha — pede com seu habitual tom debochado, se acomodando na cadeira a minha frente. Encaro o meu amigo e penso se deveria me abrir com ele. Penso que mal nenhum faria, desde que ele mantenha a sua boca fechada.

— Encontrei o pai biológico da Ana — falo de uma vez. O cara arqueia as sobrancelhas perplexo.

— Como é, o pai biolo… A Ana tem um pai biológico? — indaga embasbacado.

— E quem não tem, retardado? — Ele rir.

— Vivo, imbecil, eu quis dizer vivo — esclarece.

— Tem. — Me encosto em minha cadeira e suspiro.

— E ela não sabe?

— Não, quer dizer, ela sabe da existência dele, mas não tem certeza se está vivo, entendeu?

— E qual o problema em contar? — pergunta com desdém.

— Investiguei sem ela saber e não sei como receberá essa notícia — digo. Ele dá de ombros.

— Bom meu, amigo, você investigou, encontrou suas respostas e não é justo ficar calado. Esse segredo não lhe pertence. — Ele diz e pela primeira vez vejo o meu amigo levar um assunto a sério de verdade. Pondero as palavras do meu amigo por alguns segundos. Ele está certo e pensando assim, assinto em concordância.

— Você está certo, Marcos, contarei tudo para ela ainda hoje.

— Bom, garoto! — diz erguendo o seu corpo da cadeira e afaga os meus cabelos espalhando os fios para todos os lados.

— Vai se foder, Marcos! — ralho, fingindo irritação e ele gargalha.

— Analisei a planta. — Muda de assunto. — Se você acredita no projeto, eu também acredito. Quando podemos fechar a compra? — Sorrio amplamente.

— Posso pedir para Janete marcar um almoço amanhã — sugiro e sorri.

— Faça isso, estou indo para casa. Minha morena tem uma surpresa para mim essa noite. — Ele pisca um olho cúmplice para mim.

— Será que é mais um filho? — Brinco. Ele põe as mãos nos bolsos e me encara sério.

— Não diz isso nem brincando, Luís. Da última vez, eu a deixei em casa em pleno trabalho de parto, de tão perdido que fiquei — resmunga.

— Ainda me acabo de rir quando me lembro disso. No que estava pensando, Marcos Albuquerque?

— Em nada senhor, certinho. Saindo, você vem? — pergunta.

— Vou, só preciso imprimir isso aqui. — Aperto o botão de enter e em poucos minutos tenho o dossiê montado em minhas mãos.

****

Paro meu carro no estacionamento da minha casa e Marcos para o seu ao lado do meu. Pego a pasta executiva no banco do carona e saio do carro em seguida e assim que entro na imensa sala de visitas posso ver o trio que mais amo nesse mundo através da enorme janela de vidro transparente. Jonathan, Cristal e Caio estão brincando na piscina com alguns amigos de escola. Sorrio e aceno para os meus filhos através da janela. Depois sigo atravessando a sala e no caminho, Delia avisa que a senhora Alcântara está no terceiro andar da casa com algumas amigas.

— Imagino que a minha morena esteja junto. — Meu amigo comenta parando ao meu lado.

— Não duvido, essas duas não se desgrudam nunca! — falo com um tom de brincadeira e subimos as escadas. Do início do largo corredor já posso vê-la e acredite. Após esses oito anos de casados, ainda fico impactado com a sua beleza. Ana tem uma beleza suave, angelical. Um sorriso que ainda me deixa amolecido. Por isso faço tudo o que me pede. É linda… O meu anjo. Sorrio quando os nossos olhos se encontram e de repente me vejo preso em um mundo só nosso. Nada parece existir quando seus olhos amendoados prendem os meus. Porra, como se pode amar alguém tanto assim?

— Bonitão? — A voz da Mônica ressoa quando ver o marido se aproximando. Chego perto da minha garota e a puxo para um beijo cálido, sem nenhuma cerimônia ou aviso prévio.

— Hiiii, chegou o esquadrão masculino para acabar com a festa das meninas! — Minha irmã, Lilian reclama e só então percebo sua presença ali.

— Olá, pra você também, irmãzinha! — retruco irônico, me afastando da minha esposa e a beijando no rosto. — Preciso falar com você — falo com um tom baixo e sério para que apenas ela me escute.

— Está tudo bem? Por que precisa falar comigo? — Ana parece preocupada. Suspiro.

— Podemos ir ao escritório, é importante — peço. Ela avalia o meu rosto. — Tudo bem! Meninas, eu volto logo. — Ana avisa. Ela segura a minha mão e me puxa para fora do cômodo. No caminho me aproveito da minha deliciosa mulher, que está usando um vestidinho de algodão grafite, soltinho da cintura para baixo. Aprecio o balançar bunda arredondada, sacudindo levemente o vestido enquanto anda na minha frente. Paramos em frente a porta do escritório da nossa casa e solto a sua mão, abrindo a porta para lhe dar passagem. Ela entra e olha direto para o sofá de couro negro com um sorriso sugestivo. Safada! — E então, sobre o que o meu marido lindo quer conversar? — indaga com um olhar malicioso. Ela realmente pensa que arrumei uma desculpa para trazê-la até aqui? Sorrio. Só queria.

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