Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 9 Resgate da esperança

Ao sair da mansão, Vitor foi direto para o ponto de ônibus, seu coração pesando com a decepção. O comportamento de Lorena o deixou desanimado. Sua prioridade agora não era mais provar sua inocência, mas recuperar os dois milhões de reais e se afastar da família Marinho.

No entanto, em vez de ir diretamente para o escritório da Sociedade dos Quatro Oceanos, Vitor esperou pelo ônibus que o levaria ao hospital, a preocupação com Cecília não o abandonava.

De repente, um BMW vermelho parou ao seu lado. O vidro desceu, revelando o rosto frio de Camila. Seus olhos estavam carregados de uma mistura de frustração e arrependimento.

— Onde você tá indo? — A voz de Camila era um pouco mais suave do que o habitual, mas ainda carregava um tom de autoridade.

— Pro hospital. — Respondeu Vitor, sua voz era calma, quase monótona, como se estivesse tentando se proteger das emoções turbulentas que fervilhavam dentro dele.

— Entra no carro, eu te levo. — Insistiu Camila, a frieza em sua voz tentando esconder uma camada de preocupação.

— Não é preciso, a gente tá cada um no seu caminho.Vai pro trabalho. — Vitor balançou a cabeça, seu olhar fixo na estrada à sua frente.

Ele sabia que Camila tinha descoberto a verdade sobre o que havia acontecido; do contrário, ela não teria oferecido uma carona. Mas Vitor não estava disposto a aceitar qualquer ajuda sem um pedido de desculpas. Ele tinha aprendido, da maneira mais difícil, que ser submisso e condescendente só fazia com que os outros o desvalorizassem ainda mais.

Camila mordeu os lábios, uma expressão de frustração misturada com um esforço para manter a compostura.

— Eu tenho tempo hoje. Posso te levar até o hospital. Você tá indo ver a Cecília, não é?

— Sim. — Respondeu Vitor, com frieza. — A condição dela tá instável, e eu quero ver se posso ajudar.

Ele também sentia uma profunda gratidão por Fabiana, que lhe dava ginseng brasileiro. Sentia-se revigorado, mais energizado, e economizava anos de esforço com isso.

— Você não entende nada de medicina, como pode ajudar? — Camila balançou a cabeça em descrença, mas insistiu, a irritação dando lugar a uma preocupação genuína. — Entra no carro. Vamo nessa.

Vitor não respondeu, apenas olhou fixamente para Camila, esperando que ela pedisse desculpas, sua expectativa claramente estampada em seu rosto.

— Você tá aí parado? Um homem de verdade, agindo assim? Qual é o problema? — Camila exclamou, a impaciência evidente em seu tom.

Vitor continuou em silêncio, seu olhar frio e calculado.

— Faça o que quiser. Você acha que é o rei? — Camila jogou um pacote para ele e acelerou, deixando-o na calçada.

Vitor pegou o pacote, seus olhos se suavizando ao ver que dentro havia leite e um pão siu. O pacote evocou uma sensação de nostalgia, lembrando-o dos tempos difíceis em que vagava pelas ruas, com fome e sem esperança.

Pouco antes das nove da manhã, Vitor chegou ao Hospital da Cidade Z. O hospital estava vibrante com a atividade matinal, mas a atmosfera dentro não era animada. Ele comprou um kit de agulhas de acupuntura no departamento de medicina e foi para o quarto andar. Ao sair do elevador, viu Camila carregando uma sacola de frutas.

Ela passou por ele sem dizer uma palavra, sua postura rígida e seu olhar distante. Vitor, conhecendo o temperamento dela, não se importou e seguiu diretamente para o quarto da Cecília. Ao entrar, encontrou Fabiana sentada, com o rosto abatido e uma aura de tristeza que parecia envelhecê-la anos em uma única noite. O desgaste era evidente em seus olhos, que ainda mantinham uma tristeza profunda.

Fabiana estava cercada por várias pessoas, mas a falta de palavras entre elas apenas intensificava a atmosfera opressiva.

Camila parou, refletindo sobre como confortar Fabiana.

— Srta. Fabiana — Vitor se aproximou, sua voz carregada de preocupação. — Como está Cecília?

Fabiana levantou a cabeça, surpresa e emoção estampadas em seu rosto ao ver Vitor. Seu olhar misturava alívio com um toque de desespero.

— Você veio, meu salvador? — A voz dela estava cheia de de gratidão e um pouco de desespero.

A mulher poderosa e bilionária estava desprovida de qualquer pose, mostrando uma vulnerabilidade crua.

— Pode me chamar de Vitor. — Ele sorriu gentilmente, tentando aliviar a tensão. — Salvador é demais para mim.

— Você salvou Cecília, então você é meu salvador. — Insistiu Fabiana, o olhar dela era suplicante. — Se precisar de algo, estou à disposição. Sobre o tapa de ontem, peço desculpas.

Ela estava pronta para se autopunir com um tapa, mas Vitor rapidamente segurou seu pulso, o toque dele era gentil, mas firme.

— Não precisa, Srta. Fabiana. Eu entendo sua reação.

— Se ainda se sente culpada, pode me agradecer quando Cecília melhorar. — Acrescentou ele, sem soltar seu pulso, sentindo a suavidade e a delicadeza da pele dela. Sua voz carregava um tom tranquilizador.

— Você é um homem de verdade. — Fabiana respondeu, sem se esquivar do olhar dele, o tom dela era mais suave e genuíno.

Camila, observando a interação, tossiu discretamente, seu rosto uma máscara de impaciência e constrangimento. Vitor, percebendo a situação, soltou o pulso de Fabiana, sua expressão se tornando mais neutra.

— Obrigada por organizar o socorro ontem. — Fabiana sorriu para Camila, a gratidão evidente em sua voz.

— Não foi nada. — Respondeu Camila.

— Srta. Fabiana, como está Cecília? — perguntou Vitor, com um sorriso que tentava transmitir conforto.

— Não tá bem. — Respondeu Fabiana, com os olhos cheios de tristeza e um brilho de desespero. — A condição dela tá grave. Apesar dos esforços do Dr. Luiz, ela ainda não passou do período crítico.

Fabiana estava claramente angustiada, o peso da situação era visível em cada linha de seu rosto.

— Srta. Fabiana, não se preocupe. Cecília é forte e vai superar isso. — Vitor tentou confortá-la.

Os olhos de Fabiana brilharam com uma pequena centelha de esperança, um vislumbre de alívio.

— Vitor, você salvou ela ontem. Sua habilidade médica deve ser boa. Pode tentar novamente? — Ela estava desesperada, a súplica em seus olhos era quase pevidente.

— Srta. Fabiana, Vitor não é médico. — Interveio Camila. — Ontem foi sorte.

Camila balançou a cabeça com tristeza. Ela também gostaria que Vitor pudesse ajudar Cecília, mas sabia que isso parecia inalcançável.

— Ela está certa. — Admitiu Vitor, com um tom resignado. — Nunca estudei medicina.

Fabiana ficou momentaneamente chocada, mas logo sua expressão se tornou ainda mais triste. O desespero a envolvia, e a ideia de perder Cecília estava se tornando insuportável.

Cecília, embora tivesse sido adotada, foi criada há sete anos e era com ela que Fabiana tinha o mesmo afeto que teria com uma filha biológica. Se a situação fosse a de Fabiana, uma pessoa idosa, enfrentando a perda de Cecília, uma jovem, ela não teria mais desejo de viver.

— Srta. Fabiana, embora eu não seja médico, li muitos livros sobre medicina. Se confiar em mim, posso tentar ajudar. — Disse Vitor, mudando seu tom para um mais decidido e esperançoso.

— Claro que confio! — Fabiana agarrou-se àquela esperança como se fosse uma tábua de salvação. — Vitor, venha comigo.

Ela puxou Vitor em direção ao quarto.

— Vitor! — Camila gritou, sua voz cheia de preocupação e um toque de frustração. — Você não pode fazer isso. É perigoso.

— Confie em mim, eu posso salvar Cecília. — Vitor ofereceu um leve sorriso, tentando transmitir confiança.

— Você tá fazendo isso pra me provocar? Quer ouvir um pedido de desculpas? — Camila estava exasperada, seus olhos mostrando uma mistura de preocupação e irritação. Ela finalmente cedeu. — Desculpe por ser precipitada e por te acusar injustamente. Se isso te faz se sentir melhor, pode me bater de volta.

— Você nunca acreditou em mim... — Vitor respondeu com frieza, seus olhos mostrando uma profundidade de dor e desilusão.

De repente, um alarme soou na UTI, um som estridente que cortou o ar e gerou um frenesi imediato. Médicos correram para dentro, seguidos por Fabiana e Vitor.

O ambiente se tornou um turbilhão de atividade frenética. Cecília estava sem pulso, os médicos tentavam reanimá-la, mas sem sucesso.

Além dos especialistas do hospital, havia muitos médicos que Fabiana havia convidado para uma consulta.

À frente do grupo, caminhava um senhor de cabelos brancos e uma aparência enérgica, vestindo-se com elegância.

Era o Dr. Luiz, o médico milagreiro da Cidade Z. Fundador da Clínica da Primavera Eterna, Dr. Luiz possuía um nome respeitado na comunidade médica. Com mais de quarenta anos de prática, ajudou milhares de pacientes e recebeu inúmeras honrarias. Dedicou a maior parte de sua vida à medicina, ele era um nome respeitado e amado na comunidade médica. Quando havia uma emergência, ele era sempre o primeiro a correr para ajudar.

Fabiana e Vitor o seguiam de perto.

Ao chegarem, viram que Cecília já não respirava, os monitores emitindo alarmes agudos, que aumentavam a tensão e o desespero no ambiente. O médico de plantão estava em um estado de ansiedade visível, suas mãos tremendo enquanto injetava adrenalina e usava o desfibrilador em uma tentativa desesperada de reanimá-la.

Mas Cecília estava em um estado crítico, quase sem reação. O desespero estava estampado nos rostos dos médicos de plantão, e a atmosfera estava carregada de uma tristeza evidente.

— Cecília! — Exclamou Fabiana, seu grito de dor quase quebrando o silêncio opressivo.

Quando o eletrocardiograma começou a mostrar uma linha reta, o desespero tomou conta dos rostos dos médicos.

— Deixem-me tentar! — Pediu Dr. Luiz, afastando os outros médicos. Ele puxou seis agulhas de prata e as inseriu rapidamente em Cecília, sua técnica chamada Seis Agulhas de Restauração, um último recurso para concentrar a última chance de vida em Cecília.

Na noite anterior e naquela mesma manhã, Dr. Luiz havia realizado duas tentativas de resgate, trazendo Cecília de volta à vida.

Infelizmente, desta vez Cecília não reagiu.

Dr. Luiz suspirou, aplicando mais seis agulhas, mas Cecília continuava imóvel, seu estado crítico não dando sinais de melhora.

— Recolher as mãos! Não há mais o que fazer! — Anunciou Dr. Luiz, seu rosto mostrando uma tristeza inevitável.

Quando viram Dr. Luiz abanar a cabeça negativamente, todos ficaram melancólicos, e Fabiana empalideceu ainda mais, suas pernas fraquejando sob o peso do desespero. A cena era desoladora.

Vitor, observando da multidão, viu uma sombra de Cecília aparecer. Sem hesitar, correu para o quarto e deu uma palmada na testa de Cecília, gritando com uma força que parecia desafiar o destino:

— Deixe comigo!

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.