Capítulo 8 Mal-entendido
Na madrugada do dia seguinte, antes mesmo do sol nascer, Vitor já estava de pé. Ele não dormiu a noite toda, mas ainda se sentia estranhamente energizado.
O que mais o deixava inquieto era a sensação de uma chama ardendo dentro do seu estômago, como se estivesse queimando seus órgãos internos.
— Será que foi aquele Ginseng brasileiro? — Vitor se perguntou, ligando a mudança ao Ginseng que havia consumido.
Mas isso não fazia sentido. Afinal, aquele fruto não era apenas um produto supervalorizado? Será que ele estava envenenado ou possuía alguma propriedade mágica?
Sem saber como proceder e sem nenhuma referência sobre os efeitos do Ginseng brasileiro, então Vitor correu para o terraço e começou a praticar o Sutra Taichi. Depois de uma sessão de exercícios respiratórios e meditação, ele conseguiu apagar aquela chama interna, sentindo-se ainda mais revitalizado.
O que o incomodava, porém, era a nova energia que surgia dentro dele. Essa energia fluía de tempos em tempos, fazendo com que ele quisesse extravasar a agressividade. Ele se esforçou para controlar e suprimir esses impulsos violentos.
Logo depois, Vitor percebeu que o Jade da Vida e Morte não mostrava nenhum sinal de atividade. O lado branco ainda estava apagado, mas o lado negro ainda tinha seis manchas escuras. Ele vasculhou suas memórias, mas não encontrou nenhuma maneira de restaurá-lo. Isso destruiu a ideia de Vitor de usar o Jade da Vida e Morte como um atalho para salvar pessoas.
Resignado, Vitor decidiu se dedicar aos conhecimentos médicos que havia herdado.
O Ginseng brasileiro, aparentemente, não era apenas um exagero. Para sua surpresa, sua eficiência era agora dez vezes maior que no dia anterior. Conceitos que antes eram difíceis de entender agora faziam sentido imediatamente. Seu corpo estava diferente, sua mente estava mais afiada e sua energia, embora difícil de controlar, parecia ser uma dádiva.
Com essa nova determinação, Vitor se preparou para encarar os desafios que viriam. Ele sabia que precisava dominar essa nova força e descobrir mais sobre o Jade da Vida e Morte. Seu destino estava mudando, e ele estava pronto para enfrentar o que viesse pela frente.
Vitor rapidamente começou a praticar a Acupuntura Mística Tai Chi, uma técnica de acupuntura composta por nove estilos, cada um com nove agulhas e nove variações. Essa técnica podia estancar sangramentos, neutralizar venenos, dissipar forças malignas e até mesmo trazer alguém de volta à vida. Era incrivelmente poderosa.
O primeiro estilo era a Agulha do Retorno à Vida.
Pensando em Cecília, cuja vida estava em risco, Vitor se dedicou intensamente a essa técnica. Depois, ele continuou com os outros estilos como Quebra de Maldição, Continuação da Vida, Subjugação dos Demônio, Elementos de Coagulação Sanguínea, Desintoxicação dos Venenosos...
Após concluir a prática da Acupuntura Mística Tai Chi, Vitor percebeu que ainda tinha um pouco de tempo, então decidiu praticar alguns manuais de artes marciais. Apesar de não gostar de lutar, ele sabia que precisaria aprender a se defender para cobrar a dívida mais tarde naquele dia.
Depois de três horas de prática, Vitor sentia-se uma pessoa transformada. Ele também notou que seu corpo estava coberto por uma camada de sujeira oleosa e pegajosa, o que o deixou muito desconfortável.
Ele rapidamente tomou um banho e percebeu que as cicatrizes das mordidas de cachorro haviam desaparecido, e sua pele estava mais clara. Até sua força aumentou significativamente, a ponto de acidentalmente quebrar um azulejo no banheiro devido à sua nova força.
Ao sair do banho, Vitor ouviu um grito agudo vindo da academia no segundo andar, um grito de dor intensa de Lorena. Vitor não queria se envolver, mas ao ouvir o grito desesperado de Lorena e lembrar que Carlos e Camila tinham saído para correr, ele hesitou por um momento antes de decidir subir.
— Mãe, o que aconteceu?
Na academia, sobre o tapete de ioga, Lorena estava descalça, com as mãos juntas e erguidas, mantendo uma pose de ioga. Seu corpo voluptuoso, envolto em uma roupa preta justa, destacava suas curvas maduras. Desde o busto alto até a cintura fina, das costas lisas até os quadris arredondados, das pernas longas até os tornozelos nus... Tudo nela exalava maturidade e beleza curvilínea. Vitor teve que admitir que sua sogra ainda era muito atraente.
Lorena estava com uma expressão de dor e frustração, lutando para manter a postura. Sua respiração estava ofegante, e o suor escorria por seu rosto.
— Saia! — Ao ver Vitor, ela soltou um grito de raiva. — Você não pode me ajudar em nada, chame o Carlos e a Camila.
— Pai e Camila saíram para correr, vão demorar um pouco para voltar... — Vitor franziu a testa.
Antes que Vitor terminasse de falar, Lorena cambaleou e caiu no chão. Vitor rapidamente deu um passo à frente e a segurou antes que ela caísse.
— Mãe, o que aconteceu com você?
Ele percebeu que a postura de Lorena estava estranha, com as mãos ainda erguidas e rígidas. Vitor pressionou suavemente seus braços.
O toque apenas piorou a dor de Lorena, que gritou novamente.
— Dói, dói, dói.
Sentindo a dor da Lorena, Vitor imediatamente soltou seus braços. Com a mente no Jade da Vida e Morte, uma informação surgiu em sua cabeça.
[Estado: Deslocamento de tendões, fluxo reverso de sangue e energia, deve ser tratado imediatamente, ou pode haver ruptura.]
[Causa: Prática excessiva de ioga. Energia insuficiente para reparo, pode-se usar Técnicas de Tai Chi para realinhar os ossos.]
Vitor ajudou Lorena a se recompor.
— Mãe, você deslocou seus tendões praticando ioga.
— É óbvio! Chame Carlos e Camila para me levarem ao hospital. Rápido, rápido, está insuportável, está doendo demais. — Lorena o xingou.
Ela sentia seus tendões cada vez mais tensionados, e a dor aumentando. Não havia tempo a perder.
— Mãe, eu posso tratar isso, é só realinhar alguns ossos. — Vendo o rosto de Lorena cada vez mais vermelho, Vitor analisou os principais pontos de acupuntura dela. — Eu vi um programa de saúde que ensinava isso.
— Saia daqui! Você está me atrapalhando. — A dor a fazia perder a paciência rapidamente, e ela não queria acreditar que Vitor pudesse ajudar. — Você nem é digno de varrer o chão do meu consultório. O que você sabe sobre tratamento? — Lorena o repreendeu, sua voz cheia de desespero e desconfiança. — Saia daqui, não me atrapalhe mais, só de olhar para você eu fico irritada.
— Mãe, não há tempo. Se demorar mais, seus tendões podem se romper.
Vitor deu um passo à frente e pegou o braço de Lorena, começando a aplicar a técnica que havia aprendido. Seus movimentos eram precisos e seguros, mas Lorena ainda estava desconfiada e furiosa.
Vitor não queria lidar com Lorena, mas sabia que, se ela ficasse com alguma deformidade, a vida de Camila seria ainda mais complicada. Por isso, decidiu ajudar.
— Seu desgraçado! — Lorena, ao ver Vitor se aproximando, entrou em pânico, achando que ele ia cometer algum ato indevido. — Vitor, o que você está fazendo?
Ele ignorou o desespero dela e rapidamente começou a tocar os braços de Lorena, consciente da necessidade de agir rápido.
Vitor pressionou os pontos de Yangchi, Quchi e Tianjing, normalizando o fluxo de energia e sangue em Lorena. Em seguida, deslizou seus dedos para baixo, pressionando os pontos de Jianzhen e Jianjing, corrigindo a posição dos músculos e tendões.
A tensão aumentava à medida que Vitor trabalhava nos pontos de acupuntura. Lorena sentia dor, mas também alívio enquanto Vitor realinhava os tendões deslocados. Após alguns minutos, a dor intensa começou a diminuir, e Lorena podia mover os braços novamente.
Nesse momento, Carlos e Camila, ao ouvirem os gritos, correram para o quarto. Ao verem a cena, interpretaram mal os movimentos de Vitor, pensando que ele estava assediando Lorena.
— Vitor, o que está fazendo? — Gritou Carlos, enquanto ele e Camila se aproximavam.
— Como você se atreve a assediar minha mãe? — Camila empurrou Vitor com força, exasperada.
Carlos, com os músculos do pescoço tensos, estava igualmente furioso.
— Seu canalha, eu vou te quebrar! — Ele socou Vitor no ombro.
Os dois acabavam de voltar da corrida matinal quando ouviram o grito de Lorena. Ao chegarem, encontraram Lorena com uma expressão de vergonha e raiva, e Vitor estava segurando as calças dela. O cenário era chocante. Instintivamente, assumiram que Vitor estava assediando Lorena.
Lorena, percebendo sua própria confusão, mas decidida a manter a aparência, não esclareceu imediatamente.
— Rápido, chamem a polícia! Mandem esse desgraçado para a prisão!
— Vitor, você é um animal. — Camila estava enojada.
O comportamento de Vitor no dia anterior havia dado a Camila a impressão de que ele estava mudando. Mas ela nunca imaginou que ele faria algo assim. Ela estava tomada por um sentimento de raiva e desapontamento.
Vitor, com um semblante calmo, olhou friamente para Lorena e disse:
— Mãe, você deveria me devolver minha inocência!
— Inocência? Que inocência? Você sabe o que fez. — Ela riu friamente, sua voz cheia de desprezo.
— Molestar sua sogra em flagrante, e ainda quer uma explicação? — Carlos gritou, apontando o dedo para Vitor. — Saia, saia daqui.
Ele queria chamar a polícia, mas temia a vergonha pública.
— Mãe, você realmente não vai me dar uma explicação? — Vitor olhou fixamente para Lorena, sua voz cheia de determinação.
Camila deu um tapa forte em Vitor, com os dentes cerrados, olhou para Vitor e repreendeu com raiva:
— Você assediou minha mãe, e ainda ousa ameaçá-la para que te dê uma explicação? Você acha que somos idiotas?
O rosto de Vitor ardia, com cinco marcas de dedos bem visíveis. Ele apertou os punhos, mas ao ver o rosto pálido da Camila, ele os soltou. Tocando a face dolorida, Vitor sorriu com desdém, olhou para Lorena e depois se virou e saiu da sala de ioga.Vitor não tentou se defender. Sabia que, em uma situação como essa, tentar explicar poderia piorar as coisas.
Camila queria dizer algo mais, mas ao ver a expressão desolada de Vitor, ela ficou sem palavras. Aquele tapa pareceu afastá-los ainda mais. Então, seus olhos caíram sobre a câmera no canto. Lorena gostava de gravar suas sessões de ioga. Camila foi até a câmera e começou a reproduzir o vídeo.
Logo, sua expressão mudou drasticamente.
— Mãe, Vitor não te assediou. Você ficou com os braços presos na posição de ioga, e ele estava tentando te ajudar.
Camila mostrou a gravação para Carlos e Lorena. Carlos olhou para o vídeo e seu rosto também mudou. A raiva havia cegado sua razão, mas ao ver o vídeo, ele percebeu os erros. Se Vitor estivesse realmente assediando Lorena, ela já teria feito um escândalo, e não teria apenas mandado ele sair.
— Sim, sim, eu fiquei com os braços presos na posição de ioga, e ele usou uma técnica de acupuntura para me ajudar. — Lorena conformou e empurrou o marido irritada. — Mas e daí? Eu tenho obrigação de explicar para ele? Vocês estão tentando defender ele? Vão me bater agora? Vão em frente, me batam até a morte.
Ela começou a fazer um escândalo, quase se jogando no chão.
— Você...
Carlos estava furioso, se sentindo completamente envergonhado. Ele havia acusado Vitor injustamente e até o agredido. Isso o deixava sem saber o que fazer. Além disso, Lorena havia deixado a situação acontecer, sem intervir ou explicar, o que o colocava em uma posição muito difícil.
— Eu o que? Eu o que? — Lorena gritou. — A família Marinho sustentou ele por um ano, ele me humilhou ontem à noite, e eu não posso deixar ele sentir um pouco da mesma?
Carlos se sentia completamente humilhado, desejando que o chão se abrisse para ele se esconder nele.
Camila, com uma dor de cabeça que aumentava, disse:
— Pai, mãe, vocês precisam pedir desculpas ao Vitor.
— De jeito nenhum, por que eu pediria desculpas a um ingrato? — Lorena respondeu com desprezo. — E se eu pedir desculpas a ele, ele vai aguentar? Ele não tem alma?
Camila saiu da mansão da família Marinho, seu coração apertado de dor e confusão.