Capítulo 7 Eu quero o divórcio
— Por que ele não morre? Por que ele não morre? — Assim que voltou para a mansão da família Marinho, Lorena explodiu de raiva, mal conseguindo fechar a porta atrás de si. Seu rosto estava vermelho, e seus olhos brilhavam de fúria incontida.
— Mandem esse inútil embora, fora da nossa família! — Ela apontou para Vitor, que ainda estava do lado de fora da casa, e gritou. — Vá embora o mais longe possível!
Vitor expôs que a pintura era uma falsificação, não só humilhando Gustavo, mas também colocando-a, a anfitriã da noite, em uma situação embaraçosa.
Se até um aproveitador conseguia identificar uma falsificação, mas ela e Carlos não, não estariam eles abaixo do nível de um inútil?
Lorena não podia revelar a todos que estava apenas favorecendo Gustavo. Na verdade, o que a deixava verdadeiramente furiosa era o ginseng brasileiro que custava três milhões de reais! Um item de valor incalculável para a longevidade, consumido inteiramente por Vitor.
Aquela preciosidade era para ser um presente para o Carlos e para ela mesma! Lorena sentia como se tivesse jogado três milhões de reais na máquina de lavar roupas. Ela estava humilhada, furiosa e ressentida. Mas não culpava Gustavo e Carolina, ela guardava toda a sua raiva para Vitor.
— Vá embora, você ouviu? — Lorena gritou novamente para Vitor, com uma veia pulsando em sua testa. — A família Marinho não precisa de você, ingrato!
Carlos, visivelmente desconfortável, queria dizer algo, mas permaneceu em silêncio, olhando para o chão, incapaz de confrontar a fúria da esposa.
Vitor não entrou na casa, evitando o tumulto. Desde que começou a praticar Sutra Taichi e a controlar a vida e a morte, ele se tornava mais confiante e sereno. Ele respirou fundo, controlando suas emoções e mantendo a calma.
— Mãe, o que eu fiz de errado? — Vitor perguntou, com um tom tranquilo, diferente do passado. — A pintura não foi presente minha, foi do Gustavo. Se alguém deve ser criticado, é ele por ter dado uma falsificação. E quanto ao ginseng brasileiro, vocês mesmos disseram que era lixo. — Vitor enfrentou o olhar severo de Lorena com serenidade. — Por mais que você esteja chateada, não pode culpar a mim.
— Você acha que eu sou burra e não percebi que a pintura era falsa e que o ginseng era autêntico? Naquela situação, eu podia expor Gustavo? — Lorena gritou, furiosa, seus olhos brilhando de raiva e desdém.
— Você não podia expor o Gustavo, mas podia me expor? — Vitor sorriu ironicamente, balançando a cabeça em descrença. — Inverter os fatos dessa maneira é muito injusto comigo.
Camila franziu a testa, sentindo que Vitor estava diferente. Havia uma determinação em seus olhos que ela nunca havia visto antes.
— Expor você? Que importância tem você, um marido sustentado? — Lorena estava ainda mais furiosa, sentindo-se desafiada. — Você acha que sua dignidade é mais importante que a do seu cunhado? Um mero dono de casa, como pode se comparar ao seu cunhado, que é um empresário? Gustavo contribui com dezenas de milhares de reais por ano para a família Marinho, enquanto você só nos custa dinheiro. Como você se compara? Humilhá-lo é um privilégio que você deveria valorizar! — Ela apontou para Vitor e gritou, seu dedo tremendo de raiva. — Um privilégio, entendeu?
Para Lorena, Vitor deveria suportar toda opressão e injustiça. Qualquer resistência era uma traição.
Vitor sorriu levemente e ficou em silêncio, olhando para Camila, esperando que ela dissesse algo justo. Ele não temia romper com Lorena, mas queria saber que não estava sozinho. Ele queria lembrar que tinha uma esposa.
— Chega, parem de brigar. Vitor, peça desculpas à minha mãe. Não importa o que aconteceu, ela é a sua mãe, e deixá-la chateada é errado. — Camila, impaciente, disse friamente, seus olhos evitando o olhar de Vitor. No final, ela tomou o partido de Lorena. — Peça desculpas a ela imediatamente.
— Vitor, peça desculpas. — Carlos, olhando de soslaio para Vitor, acrescentou, tentando mediar a situação.
— Eu não quero suas desculpas. Quero que você vá embora. — Lorena, apontando para fora, gritou com ainda mais fúria.
Vitor deu um passo à frente, mantendo a calma.
— Mãe, quero me divorciar da Camila. — Sua voz era firme, sem hesitação.
— Ótimo... Divorcie-se então. — Lorena respondeu instintivamente, mas, no meio da frase, ela parou, chocada. Seus olhos se arregalaram em surpresa. — O quê?
— Quero me divorciar de Camila. — Vitor repetiu, com a mesma firmeza.
Divórcio?
A casa inteira ficou em silêncio.
Lorena e os outros olharam para Vitor, boquiabertos. Ninguém esperava que Vitor dissesse algo assim. De acordo com o que Lorena e os outros imaginavam, Vitor deveria se ajoelhar, chorando e pedindo perdão. Afinal, ele era inútil, sem emprego, e dependia da mesada da família Marinho para cuidar de Renata. Mas, em vez disso, ele queria se divorciar de Camila. Isso não só os chocou, mas também os deixou desconfortáveis.
— Você quer se divorciar de mim? — Camila, atônita, perguntou, sua voz tremendo.
— Vamos nos separar amigavelmente. — Vitor disse calmamente, olhando diretamente para Camila. — Para a família Marinho, meu valor como marido temporário já acabou. Ficar só vai incomodar vocês. Camila, amanhã leve o seu documento de identidade, e vamos ao cartório nos divorciar. — Sua voz estava cheia de determinação, sem espaço para dúvida.
A atitude de Camila fez Vitor perder a última gota de esperança. Ela nunca o viu como marido, foi tudo unilateral da parte dele. Na mente dele, as memórias de dezoito anos atrás, quando a conheceu, voltaram. Mas as pessoas mudaram, e a menina justa e temperamental de antes não existia mais...
— Divórcio? — Lorena, recuperando-se, riu de raiva. — Um aproveitador ousa pedir o divórcio? Você realmente se acha importante, né?
Nos últimos meses, ela pediu várias vezes para Camila se divorciar de Vitor, mas sempre havia algum imprevisto. Lorena secretamente desejava que Vitor saísse da família Marinho. Mas agora ela não queria mais isso. Porque era Vitor quem estava pedindo o divórcio. Isso não só afetava a filha dela, mas também a ela e à família Marinho, tirando-lhes a dignidade.
— Quem você acha que é para pedir o divórcio? — Lorena apontou para Vitor, furiosa. — Sem a família Marinho, você morreria de fome em dois dias.
— Vamos nos divorciar. Não quero mais ter nada a ver com a família Marinho. — Vitor disse, com um olhar sereno.
Não queria mais ter nada a ver com a família Marinho?
Ouvindo isso, Lorena riu de raiva.
— Certo, divórcio. Se você quer tanto isso, pode conseguir. Nem vou falar dos cinquenta mil. Neste último ano, você comeu e bebeu às custas da família Marinho, viveu conosco. Você nos deve um enorme favor. — Ela elevou a voz. — Quer se divorciar? Tudo bem. Primeiro, pague essa dívida.
— Como eu pago? — Vitor pergutnou calmamente, sem se deixar abalar.
— A Sociedade dos Quatro Oceanos me deve dois milhões de reais. — Lorena riu friamente. — Você é tão capaz e audacioso, então vá lá cobrar esse dinheiro para mim amanhã. Se conseguir, eu deixo Camila se divorciar de você imediatamente. — Ela estava empurrando Vitor para o limite, acrescentando. — Caso contrário, você terá que trabalhar duro, fazer qualquer coisa para pagar a família Marinho.
— Mãe... — Camila interveio, com o rosto pálido, tentando acalmar a situação.
— Cala a boca! — Lorena interrompeu Camila, olhando friamente para Vitor. — Algum problema com isso?
— Nenhum problema. — Vitor assentiu, com um leve sorriso no rosto.
Logo ele atravessou a sala, sem fazer barulho, e subiu para o segundo andar, indo até o quarto de Camila. O quarto dela era uma suíte, com uma pequena sala na entrada e um quarto nos fundos. Camila estava dormindo no quarto, enquanto Vitor dormia no sofá da sala menor. Durante o ano, Vitor e Camila estavam separados por uma parede, nunca tendo dormido juntos.
Lorena sempre o ridicularizava, chamando-o de cão de guarda. Muitas vezes, Vitor sonhava em poder dormir na cama grande do quarto. Mas, depois de um ano, ele sabia que era uma fantasia inalcançável. E aquela noite, Vitor percebeu que era hora de desistir...
Sentado no sofá, Vitor viu Camila entrar no quarto, furiosa.
— Vitor, O que você é, afinal? Com que direito você me despreza? — Ela o confrontou sem rodeios, seu rosto contorcido de raiva e confusão. — Quem você acha que é para pedir o divórcio?
— Uma mulher louca e irracional? Por que eu ficaria casado com você? — Vitor respondeu com um sorriso irônico, provocando-a intencionalmente.
— Louca? — Camila riu de raiva, suas mãos cerradas em punhos. — E você? O que você é? Não consegue arrumar um emprego, não sabe fazer tarefas domésticas e ainda precisa do dinheiro da louca para tratar sua mãe. Você é pior que uma louca.
Ela olhou para Vitor com mais desprezo ainda, achando-o não só fraco, mas também arrogante.
Vitor sorriu ironicamente, balançando a cabeça.
— Se sou um inútil, vamos nos divorciar logo. Melhor para todos. — Ele olhou para ela, seus olhos refletindo uma tristeza profunda, mas também uma resolução firme.
— Você não tem o direito de pedir o divórcio. Só eu posso te dispensar. Você acha que pode cobrar os dois milhões? Vitor, não se iluda. — Camila, envergonhada e furiosa, disse com a voz tremendo de emoção. Ela sorriu com desdém. — A dívida daquela Sociedade dos Quatro Oceanos? Você acha que vai pegar isso de jeito nenhum, hein?
Camila saiu, fechando a porta com força. Ela não acreditava que Vitor pudesse realmente cobrar os dois milhões. Mas, ao mesmo tempo, sentia um sentimento inexplicável. Ao olhar nos olhos de Vitor, ela notou uma profundidade e uma confiança que nunca antes havia percebido.