Capítulo 4
Benício estava preso a imagem de Valentina naquela dança, seu corpo e o tudo o que ele despertava em seus instintos.
Tinha acabado de transar com Adriana pensando nela, jamais havia feito isso e temia estar entrando em um redemoinho de sentimentos. Passou a noite pensando em sua, agora esposa.
Amanhece, Valentina estava pronta para ir até a cidade pois precisava fazer umas compras. Pediu ao seu Genésio que a levasse em seu velho carro para ajudar a trazer as coisas.
Benício
Ela vai até a cidade, talvez seja melhor sair um pouco desse lugar onde todos me olham como se eu fosse uma fera.
Saiu bem cedo com sua caminhonete para também ir até a cidade, estava trabalhando como armador em uma construção por lá. Assim que estacionou viu Valentina sair daquele carro com aquele senhor, apesar de tudo ela mantinha aquele sorriso encantador e isso o deixava intrigado.
– Se eu soubesse que queria vir até a cidade eu teria te dado uma carona. – Diz ele.
– Você poderia até oferecer, mas eu jamais aceitaria! – Responde ela se afastando e ele a segue.
Benício
O modo como ela anda, com tamanha graciosidade que me tira o controle a ponto de quase agarrá-la mais uma vez, mas eu não posso.
– Ainda está chateada por que tentei te beijar ontem?
– Você acha mesmo que eu sou uma garota estúpida, não é Benício? O que é um beijo diante de tudo o que fez a mim e a memória de minha família? Eu posso ter sido manipulada e induzida ao engano, mas isso nunca mais irá acontecer.
– Já chega de tanta revolta! Estamos casados e temos que ter pelo menos um tratamento mais civilizado.
– E estamos tendo, acredite que estou sendo ao máximo tolerante com vocês! – Diz ela.
Benício
Se esse é o melhor tratamento que ela pode me dar, eu nem quero pensar no pior. Ela apenas se afastou, deixando aquele cheiro doce pelo ar...só de pensar que ela ainda é virgem eu perco meu juízo por completo. As mulheres ciganas permanecem virgens até o casamento, ela é tradicional para se voltar contra essa regra.
Valentina vai até a feira e ele segue para o trabalho, ela fez suas compras e ficou esperando por horas seu Genésio terminar de vender seu artesanato, para voltarem.
Algum tempo depois, eles seguem de volta para o acampamento e ouvem um barulho estranho no carro.
– Eita minha filha, esse carro velho nos deixou no "prego" de novo!
– Nossa seu Genésio e eu preciso chegar logo, pois prometi a minha vó que ia levar essas compras para o almoço. – Responde ela preocupada e olhando para os lados.
– Vem vindo um carro aí.
– O que aconteceu? Posso ajudar? – Benício diz saindo de sua caminhonete. Ele estava feliz por dentro em vê-la mais uma vez.
Valentina
Mesmo fora do acampamento algo parece conspirar para que eu sempre o encontre, ou ele está me seguindo.
– Essa lata velha sempre me deixa na mão. Valentina vá com Benício, você disse que tinha pressa. Infelizmente vou ter que voltar a pé e arrumar alguém para rebocar. – Diz o senhor olhando o estrago no motor e consciente de que não conseguiria sair rapidamente daquele problema,
– Não seu Genésio, eu espero o senhor e não importa quanto tempo demore! – Ela respondeu nervosa.
– Vamos Valentina é apenas uma carona. – Benício sorriu para ela.
Benício
Ela está com medo, me evita por que sabe que não conseguiria me resistir. Basta que eu encontre o lugar e o momento certo para conseguir e quem sabe possa ser esse.
Valentina respira fundo, ele abre a porta para ela que o encara visivelmente incomodada. Eles seguem para lá, ela nem sequer olhava para o lado.
– Não sei por que tem tanto medo de mim? Sei que entrei em sua vida dessa maneira torta, mas eu...eu nunca te machuquei.
– Algumas pessoas conseguem ferir muito mais do que o corpo e você me machucou mentindo!
– Mas e se eu disser que quero recomeçar? Que a gente esqueça o passado e quem sabe até...
– Não continue ou eu pulo desse carro em movimento. Não seja hipócrita e cínico, não quero sua amizade e nada de você me interessa! – Gritou.
Benício enfiou o pé no acelerador enfurecido.
– Quem falou em amizade? O que eu quero de você é direito meu!
– Direito? Logo você exigindo um direito?
– Sim, você se casou comigo. Portanto eu posso sim, pedir que me satisfaça e posso fazer isso hoje mesmo!
– Realmente sua cara de pau pode pedir, mas daí a eu consentir, é impossível!
Benício para o carro no acostamento de maneira bem ríspida. Tira o cinto de segurança e se vira para ela puxando-a delicado, mas forte pela nuca para perto de seu rosto.
– Quero te deixar bem a par de tudo Valentina, sabe o que vou fazer contigo em breve?
– Me solta! – Pediu ela forçando para se afastar do rosto dele.
– Eu vou te provar e eu sei que você vai adorar. Vai me cavalgar gostoso, pois sua dança me provou ontem que é feita para isso!
Benício
Apenas tê-la assim e sentir o calor de sua respiração me deixa tão excitado a ponto de perder a noção do que estava fazendo.
– Para de me falar essas coisas horríveis! Você me dá nojo! – Ela consegue se desvencilhar dele, abre a porta com força e sai do carro.
Benício sai e vai atrás dela, dominando-a pela cintura.
– Por favor pare, pare com isso! Me deixe em paz!
Valentina
Eu sempre evitei chorar na frente dele, me mostrar fraca, pois é isso que ele espera que aconteça. Mas dessa vez eu fracassei no teatro de líder forte e inabalável.
– Eu não posso Valentina!
– Por que não? Já conseguiu seu propósito é só virar as costas e me deixar seguir. Entenda a minha dor, me deixa viver!
– Está enganada, eu também não posso te deixar ir. Por que você entrou dentro de mim e fincou raízes no meu coração ainda que eu tenha lutado contra com toda a força que eu pude.
Benício
Eu não deveria ter dito o que eu disse a ela, acreditando ou não. Valentina chorava, mas me olhou secando as lágrimas...
– Certo Benício, apenas me leve de volta.
– Me dê ao menos um beijo, você não sabe como foi longa a noite em claro que tive pensando em você. – Ele disse ao passar o rosto delicadamente no rosto dela.
– Foi a sua consciência que não te deixou dormir e não eu!
Benício pega mão dela e a puxa até o carro, mas não tenta se aproximar de novo. Eles chegam juntos e muitos os viram e aquilo sem dúvidas, seria motivo de muita conversa.
– Quer ajuda com as sacolas?
– Não! – Diz ela, pegando tudo e indo bem rápido para dentro.
Benício vai para sua tenda e já encontra Adriana.
– Por que chegou com aquela vadia?
– O carro de Genival quebrou e eu a trouxe. – Responde ele sem se abalar.
– Tem certeza de que foi apenas uma carona Benício?
– Não comece com seu ciúme. – Ele responde indo para o quarto e deixando-a com suas dúvidas.
Benício
Valentina nunca vai aceitar ser minha, enquanto Adriana estiver em minha vida. Essa ferida que eu causei a ela pode ter tornado meu sentimento por ela impossível de se realizar, mas eu não consigo convencer o meu coração de que não posso tê-la.
Mas não seria uma boa ideia se desfazer de Adriana assim, ela esteve ao meu lado a muito tempo e até me apoiou nessa vingança. Se eu a mandar embora ficarei sozinho, Valentina não ficaria comigo nem morta.
Valentina chegou em casa e colocou as compras sobre a mesa.
– Filha! eu te vi chegar com ele.
– Vó por favor não me recrimine. O carro de Genival quebrou e era ele, ou vir a pé com tantas sacolas.
– Eu não ia brigar contigo. Só quero saber o que aconteceu entre vocês no caminho, se é que possa me falar.
– Claro que posso falar, ele veio de novo jogando charme me pedindo beijos e dizendo mil e uma mentiras, mas eu não fiz nada do que ele queria.
– De agora em diante não vai mais sair sozinha Valentina!
– Não vou me tornar prisioneira por causa dele. – Ela responde com raiva da situação que estava sendo provocada pelo assédio dele.
– É para o seu próprio bem e se prepare para o humor de Salazar quando souber que chegou com seu marido da cidade.
– Ele é outro que vive na minha aba o tempo todo. Salazar precisa de uma namorada, assim ia me deixar sossegada.
– Ele faz isso, por que se preocupa com você assim como eu também Valentina.
– Mas ele não precisa ser tão exagerado, é apenas um amigo e um dia estivemos noivos, mas tudo acabou e ele vai ter que aceitar.
Ela fez o almoço, tomou um banho para pegar o ônibus e ir para faculdade.
Lá conversou com Sofia sobre tudo o que havia acontecido e seu casamento fracassado graças aquela mentira.
– Meu Deus e o que pensa em fazer?
– Sobreviver a tudo e me manter longe dele Sofia.
– Mas de verdade, você não gosta dele nem um pouco?
– Como pode me perguntar isso? Claro que não, ele me enganou e tem outra em sua vida, outra que ele se atreveu a levar para lá também. É humilhante que todos saibam que estamos casados e ele tem outra mulher.
– Mas nada disso consegue apagar um sentimento se ele for verdadeiro Valentina.
– Sofia por favor não coloque minhocas na minha cabeça. Já estou pagando caro pela escolha que fiz.
Era fim do dia Valentina voltou, sorriu para umas crianças que jogavam bola, chegou em seu quarto e foi logo tirando o vestido por cima. Estava sem sutiã, Benício chega e a surpreende assim, fica em transe olhando pra ela. Até que a moça se dá conta da presença dele e se assusta.
– Estúpido! o que faz aqui? Por que entrou desse jeito? – Ela diz se cobrindo rápido com os braços.
– Esqueceu essa sacola no meu carro. E não precisa me agradecer, essa visão incrível que tive paga qualquer favor! – Benício sorri deixando a sacola sobre uma cômoda. Ele dá mais uma olhada lamentando não ver mais uma vez o que tinha adorado e sai.
Benício
Cheguei em êxtase, que delícia de mulher ela é. Sempre idealizei seu corpo o tamanho e os detalhes de seus seios, mas ela me surpreendeu ainda mais. Se pudesse estaria com ela naquele mesmo instante, mas eu não posso e esse NÃO me deixa ainda mais afim. Me toquei pensando nela e em tudo o que minha mente fértil, quente e máscula queria realizar com aquela garota inocente e ao mesmo tempo tão sexy.
Tarde da noite já estava cansado e tinha se satisfeito sozinho pensando em sua esposa segundo as leis ciganas, a muito tempo ele não recusava sexo. Aquela era a primeira vez que Adriana passava por isso, ele não a quis...e ela só pensava em uma razão para isso: Valentina.
Amanhece e Adriana resolve fazer o que sua intuição feminina mandava. Foi até ela para ter uma conversa de mulher para mulher.
– Valentina, quero lhe falar um instante.
– Entre. – Ela responde conduzindo sua rival até a mesa, sabia que os ânimos se exaltariam em poucos segundos de conversa.
– Somos adultas e não sou de rodeios.
– Eu também não sou Adriana!
– Quero que fique longe de Benício. Sei que se casaram, mas você sabe bem o motivo e não quero te ver perto dele!
– Eu sei sim, mas deve dizer a ele tudo isso e não a mim!
– Eu vi os dois chegando da cidade, não venha agora bancar a puritana.
– Foi apenas uma carona e ele insistiu para que eu aceitasse.
– Não importa, onde está sua dignidade? Vai dar para o homem que te enganou para se casar?
– Com quem eu me deito ou não, diz respeito a mim. Mande seu macho ficar longe, que lhe agradeço o favor! Agora trate de sair daqui eu já gastei demais o meu tempo com você!
– Certo Valentina, mas ainda não acabamos essa discussão. Se eu te pegar perto dele eu sou capaz de tudo.
– Diga para Benício para ficar bem longe de mim!!!!
Adriana sai e Valentina suspira de raiva.
Valentina
Além de todo o sofrimento que me dá ter que conviver com eles aqui, ainda tenho que lidar com o ciúme dessa mulher maluca.
Carmem chega e vê Adriana sair.
– O que ela queria Valentina?
– Me ameaçar para ficar longe do homem dela!!!
– Então ele realmente está dando motivos a ela para fazer uma cena assim.
– Uma simples carona, como ela é estúpida! – Valentina diz constatando a insegurança da rival.
– Não, se ela veio aqui é por que tem percebido ele diferente. Ela não me parece uma mulher tola a ponto de enxergar algo que não exista.
– Pois ela que dê conta dele e me deixe fora disso!