Capítulo 3
Valentina entra no quarto de Carmem visivelmente abalada.
– Você o expulsou daqui Valentina?
– Ele é meu marido agora vó, se eu fizer isso ele pode se queixar de mim com os mais velhos. – Ela estava de mãos atadas, pois a cultura cigana sempre privilégiava aos homens.
– Deus...havia me esquecido desse detalhe. O que você vai fazer agora?
– Tentar sobreviver a isso, ignorar o fato de ter que ver a cara dele e da família que destruiu minha vida! – A jovem trocava de roupa enquanto conversava com Carmem.
– Destruíram minha vida também Valentina. Minha filha, teve a vida ceifada diante de meus olhos e agora o filho dele está dormindo sob meu teto!
– Me perdoe, eu me sinto tão culpada e envergonhada por tudo isso!
– Você também é uma vítima, não se sinta assim. – Diz Carmem tocando o rosto da neta tentando lhe passar algum conforto.
– E se formos embora agora mesmo daqui?
Valentina
Talvez indo embora daqui as dores pudessem ficar para trás também, mas eu sei que a sombra de todas as culpas e dores nos seguiriam para onde quer que formos.
– Não pode abandonar seu povo a própria sorte, não se esqueça de que você é nossa líder filha.
– Eu era, agora é Benício!
– O que vou dizer agora pode parecer loucura, mas se quer vencer o domínio deste homem precisa acatar meu conselho.
– Fale então e eu farei, eu preciso saber como. – Diz ela tocando a mão de Carmem.
– Tente ser cordial com ele e um pouco mais tolerante Valentina.
– Cordial com o homem que me enganou e ainda por cima, é filho de um assassino? – Ela levantou a voz.
– Calma menina, eu disse que não seria fácil. Mas se ficar batendo de frente com ele, sempre vai sair perdendo por ser mulher!
– Como cordial? Posso até deixar de ofender ele e sua família, mas não farei mais do que isso por que não merecem e eu não conseguiria. Aquele olahr dele de altivez e deboche me mata todos os dias!
– Sim, isso já é um começo filha. Procure ficar longe de discussões com ele e te confesso que o que mais temo não é seu ódio por ele e sim o amor!
– Eu não o amo, amava aquele homem que me cortejava na cidade e dizia gostar de mim, mas ele não existe. Era apenas uma invenção dele para entrar na minha mente e conseguir voltar para cá passando por cima da decisão os baniu a anos.
– Isso é sua cabeça quem diz, mas seu coração não. – Carmem sabia o quanto seria difícil para Valentina ficar longe dele, mesmo que a razão gritasse que não, o coração dela pedia por ele.
– Não importa o que um dia eu senti, deixei de querer Benício assim que eu soube a verdade.
– Eu sei que ele vai querer você minha linda, mesmo tendo outra mulher a tentação é forte. Os homens são assim, mesmo que tenham alguém de quem possam até gostar...vocês estão casados perante as nossas leis e ele tem direito.
– Mas eu nunca vou permitir que ele me toque, com ou sem direito.
– Benício vai te querer justamente por causa desse ódio que você sente por ele e também por que é jovem e bela...vai se aproveitar do amor que despertou em ti com mentiras. – Diz Carmem.
– Quando estávamos no quarto, ele quis tocar em mim. Mas a senhora está certa deixarei de bater de frente com ele e talvez assim ele me deixe em pare de me atormentar tanto. Não posso mudar o passado, mas não permitirei que ele controle o meu futuro.
Valentina
Eu bloqueei para sempre as minhas ilusões de um dia me casar, ser amada e ter filhos. Agora que eu disse sim para ele, me condenei a nunca ter uma família ou ser feliz, o divórcio não existe para nós e eu nunca mais poderei constituir uma família e nem mesmo se um dia ele deixar de existir.
– Ele foi muito mais depressa do que eu pensei, mas Benício também pode cair na própria armadilha!
– Por favor vamos tentar esquecer isso pelo menos até amanhã vó. Vamos descansar por que essa guerra está apenas começando.
As duas se deitam, Valentina mal pregou os olhos naquela noite...Carmem temia que Benício e a neta repetissem a mesma tragédia de anos atrás. Que aquele desejo que ele sentia por ela se tornasse uma obsessão sangrenta e mortal onde o ciúme e o sentimento de posse levou para sempre uma vida inocente.
Amanhece e Benício sai bem cedo antes que o vissem, Valentina se levanta e vai até o quarto verificar aquele hóspede indesejado e felizmente se dá conta de que ele tinha ido. Ela vai até a cozinha e prepara um café.
– Bom dia, e Benício?
– Aquele maldi....aquele homem já foi embora! – Diz Valentina tentando controlar seus instintos.
– Esta noite teremos roda de dança como de costume, as você pode adiar isso, suponho que não queria receber a família dele com festa. – Avisa Carmem.
– Pelo contrário, não iremos mudar a tradição por causa deles. Hoje eu vou dançar mais linda e mais feliz do que nunca, não vou dar a eles o gosto de me ver fracassada ou triste.
– Isso mesmo, te quero sempre forte. Você é nossa princesa, tem sempre que mostrar-se uma verdadeira fortaleza.
Benício voltou no meio da manhã em uma caminhonete e com os materiais para erguer sua tenta, felizmente escolheu um local afastado de Valentina. No fim do dia estava tudo pronto e ele trás sua mãe Domênica, Karen sua irmã e Adriana que depois do casamento com Valentina havia se tornado amante dele.
Elas chegaram sob o olhar de todos a essa altura a fofoca havia se espalhado. Que graças ao casamento com Valentina a família exilada estava de volta ao grupo.
Benício
Mesmo que nos apontem e nos odeiem, eu sou o líder graças ao poder que ela me deu. Não permitirei que nos ofendam e nunca mais seremos amaldiçoados.
Era noite e a roda de dança estava pronta, todos ao redor até que Benício e sua família juntam-se a eles mesmo sob os olhares condenatórios de todos. Salazar o olhava com sede de acabar com aquela pose de líder dele, mas não faria uma loucura apenas por que Valentina lhe pediu calma, Karen se encanta pela beleza de Salazar assim que o viu, era apenas uma criança de 2 anos quando foram embora.
Carmem se junta a todos. Benício logo se dá conta, parecia estar procurando Valentina com o olhar. Alguns minutos depois, Valentina surge mais linda do que nunca, roubando os olhares de todos para ela. Entrou na roda dançando e sorrindo fazendo Benício, Salazar e muitos outros a desejarem com força.
Benício
A beleza dela me faz perder o foco, me sinto sufocado pelo desejo que tenho de possuí-la, fazendo valer o direito que me dá estar casado com ela segundo as leis Caló. Salazar é um pobre desgraçado, minha vontade é de arrancar os olhos dele de cima da minha mulher.
Ela dançou e depois se sentou ao lado de sua avó, para realizarem a oração em torno da fogueira. Após as preces, Valentina foi até sua tenda tomar um copo d'água e Benício a seguiu.
– Valentina?
– O que você faz aqui? – Ela se assusta com a presença dele.
– Calma princesa, não precisa se armar assim contra mim. Só vim para te dizer duas coisas: a primeira é que quero que me apresente a todos como seu marido essa noite!
– A essa altura todos já sabem, não vejo necessidade de me gabar por um casamento de mentira. – Responde ela alterada.
– Não importa, se não fizer isso eu mesmo farei, acho que tiraria a sua autoridade de magestade.
– E o que mais vossa auteza ordena? – Pergunta ela com ironia.
– Vim dizer também que não abro mão do que é meu por direito!!!
– Se fala do seu direito as decisões do clã eu sei e não vou me opor, eu infelizmente não posso fazer nada contra isso.
– Não me refiro só a isso, falo de nós dois. – Diz ele dando uma bela olhada no corpo dela.
– Não existe "nós dois". Eu assumo todas as consequências da minha ingenuidade por ter caído em suas garras, mas aceitar ser sua mulher de fato, isso nunca! – Diz ela passando por ele para sair.
Benício a puxa pela cintura e cola seu corpo ao dela.
– Eu sei que me ama. Se não, por teria se casado comigo, ainda mais assim tão depressa? Você me quer Valentina e não vai me resistir por muito tempo.
– Isso é o que nós veremos! – Ela diz e lhe dá uma joelhada nas partes íntimas. Deixando ele urrando de dor e raiva.
Benício
Ela pode fingir e se fazer de forte o quanto quiser, mas me jurava amor dias atrás e nada disso pode ter mudado do dia para a noite.
Valentina
Benício nunca vai entender que o que eu sentia morreu, assim que eu soube que ele me usou. Não vou ser objeto de prazer de um homem que tem o sangue do assassino da minha mãe.
Ela se junta aos outros, Adriana percebe que Benício tinha sido atrás dela e se enfurece de ciúmes. Benício volta com cara de poucos amigos, era notável o quanto um mexia com o outro e aqueles sentimentos estavam se misturando e formando algo ainda mais forte. Salazar trata de ficar mais próximo de Valentina e sempre encarando o rival.
– Antes de encerrarmos a roda desta noite há uma coisa que acredito que todos saibam, mas meu marido faz questão. – Valentina chama Benício até ela, ele vai todo envaidecido de agora ser apresentado a todos como líder.
Valentina
Se ele queria aumentar ainda mais o ódio de todos por ele e sua família, aqui está a resposta que ele espera!
– Todos sabem que me casei ontem. Benício filho de Kayon, ele me enganou e me fez casar com ele ocultando de fato quem era. Esse é meu marido, agora líder do nosso clã um mentiroso e filho de um assassino!
Benício
Eu tremi de vergonha e ódio das palavras de Valentina, mas a puxei para junto de mim. Ela suspirava de raiva, eu pude sentir toda a energia que emanava do seu corpo para o meu. Ainda assim vale a pena tocá-la ainda que seja despertando o seu ódio, nos separamos de corpo e ela limpava a boca enquanto as lágrimas rolavam de seu olhar, tão lindo e penetrante.
– Minha esposa está certa. Seja por uma mentira ou por justiça, estamos casados!
Salazar quis dar uma lição nele, mas Carmem o impediu antes que uma briga terrível pudesse começar entre eles. Valentina corre para casa seguida por Carmem.
Adriana e a família de Benício logo o puxam para casa antes que aquela noite terminasse em mais confusão.
– O que pensa que está fazendo Benício? Prometeu essa vingança ao seu pai e conseguiu o que queria, mas fazia parte do seu plano se envolver com essa maldita, para isso me trouxe para cá? – Grita Adriana cheia de ciúmes.
– Essa vingança é minha, não tem o direito de cobrar eu sempre disse a você que me casaria com ela.
– Se casar para ter poder sim, mas não arrastar asa para o lado dela. Esse maldito beijo doi desnecessário e me machucou ver a sua cara de felicidade ao fazer isso. – Completa Adriana.
– Não me diga que caiu na própria armadilha meu irmão. Não seria tão imbecil, não é? – Pergunta Karen, ela não queria nem pensar na hipótese do irmão ter se encantado com Valentina.
– Chega dessa confusão! Filho, já estamos aqui como sempre sonhamos e amanhã irei visitar seu pai na cadeia, ele ficará feliz em saber que cumpriu sua promessa de nos colocar aqui dentro de novo.
– Diga a ele, que tiveram que nos aceitar de volta!
Benício
Eu me sinto orgulhoso por ter conseguido o que todos nós sonhamos juntos por anos, meu pai não é culpado pela morte da mãe dela, não da forma que todos imaginam. Minha mãe, minha imrã e eu não merecíamos ter sido banidos como se tivéssemos uma doença contagiosa ou como se fôssemos demônios sobre a terra.
– Mas quero que me prometa que vai ficar longe dessa mulher! – Domênica conhecia bem seu filho e até onde a fraqueza de um homem podia levá-lo.
Benício não podia prometer isso, apenas saiu deixando as três sem resposta.
– Viram só? aquela mulher já está na mente dele. Não devia ter permitido que ele se casasse com ela, eu apostei alto demais ao aceitar que ele a tocasse e ficasse perto. – Diz Adriana suspirando de raiva.
– Seja inteligente, não fale mais dela. Tente envolver ele ainda mais na cama, Benício é homem e se tiver saciado até a exaustão, não terá por que ir atrás dela! – Domênica aconselha a jovem.
Adriana corre para o quarto o abraça por trás alisando seu peito másculo. Ele se vira para ela, se beijam e vão para a cama. Benício a agarra forte, parecia desesperado para estar com ela, tira a roupa apressado e ela faz o mesmo.
Transam alucinados de desejo, ela monta sobre o corpo dele e sorri enquanto o cavalga. Benício fecha os olhos e alisa seus seios. Ela repousa o corpo sobre ele ainda se mexendo forte, ele suspirava no ouvido dela.
– Você me enlouquece Valentina!
Benício
Naquele instante era com ela que eu estava, meu corpo pede, grita por isso e cedo ou tarde eu terei que ceder a ele.
Adriana paralisou um segundo, ele havia chamado por ela, devia estar pensando nela. Mas Domênica havia pedido a ela que não falasse na moça e tudo poderia piorar ao interroper o ato para pedir explicações. Ela continuou se mexendo até ele ejacular, Adriana se deitou e ele permaneceu de costas para ela.
Adriana queria matar ele ou Valentina, nunca havia se sentido tão diminuída como mulher. Não sabia como, mas ia dar um jeito de fazer ele retirar essa mulher de seus pensamentos.
Adriana
Se Benício teve a audácia de me comer chamando por ela, é por que essa desgraçada entrou forte na mente dele, tenho que fazer algo e logo.
Benício só conseguia pensar em Valentina era ódio, desejo e uma vontade enorme de dominar aquela mulher. Apesar de saber que mentir para se casar com ela havia sido uma sacanagem enorme, ele devia deixar ela em paz.
Benício
Eu devia me afastar e te deixar em paz, Valentina. Eu deveria, mas eu não posso e se eu não te fizer minha sou capaz de enlouquecer!
Valentina estava deitada em sua cama, olhando para cima e apenas se deixando levar pelos acontecimentos daquele dia.
Valentina
Eu preciso me manter firme e afastada, tentar manter o foco em outras coisas que são importantes para mim. Minha vida não acabou e não me darei por vencida.
– Valentina já está dormindo?
– Não vó, entre!
Carmem entra e senta na beirada da cama.
– A senhora está chateada comigo por eu ter dito a verdade sobre ele, não é? – Pergunta Valentina.
– Não, acho que naquele momento era necessário!
– Ele me tira do sério, veio até aqui atrás de mim pedindo que eu o apresentasse a todos.Como se fosse meu marido de verdade e como se nos amássemos como um casal, ele é falso dissimulado e a cada dia eu tenho mais ódio.
– Eu vi quando ele te seguiu, percebi como ele te olha e o desejo que ele tem por você é assustador!
– Vou me manter longe, eu prometo!
– Mas ele não vai...seja forte Valentina. As mulheres de nossa família são vítimas de uma maldição!
– Maldição? – Valentina questiona.
– Sim, por quatro gerações morremos pelas mãos de um homem obsessivo.
– Mas e a senhora vó, como conseguiu fugir desse destino?
– Por que abri mão do amor. Quando engravidei de seu avô eu fugi para bem longe, fui aceita nesse clã e aqui estamos até hoje.
– Então nossa origem não é daqui?
– Não filha, eu vim de Cuba com sua mãe ainda no ventre para fugir desse fim. – Responde ela.
– Minha mãe sabia desse carma, desse destino tão triste?
– Sim, mas ainda assim ela julgou que valia a pena viver um amor! Ela sabia que ia morrer por isso, mas se entregou de corpo e alma a seu pai e pagou com a vida. Morreu pelas mãos de Kayon que tinha um amor doente por ela. – Carmem chorou ao lembrar.
– A história não vai se repetir, estou casada e em nossa cultura não existe separação... só a morte. Não terei o mesmo destino de minha bisavó e minha mãe...como a senhora, eu escolho não amar e continuar seguindo meu caminho! – Valentina sente uma lágrima percorrer seu rosto, agora ela sabia que se ela se atrevesse a viver um amor isso poderia e iria custar sua vida.
– Eu daria a minha alma para que você fosse plenamente feliz minha pequena!
– Não diga isso, vamos esquecer tanto sofrimento e nos apegarmos a outras coisas nessa vida. Eu preciso da senhora, mais do que nunca!
As duas se abraçam.
Valentina
Eu nunca imaginei que amar pudesse ter um preço tão alto, a vida! Mas Benício e eu não sentimos amor um pelo outro, ele só me usou para ter poder e o que eu sentia por ele deu lugar a desprezo. A profecia não se cumpriu e nem vai se cumprir, nunca vou permitir que ele me toque...nasci e morrerei casta.