Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 4

-Nesse tempo? O que você acha? - perguntei, ficando na ponta dos pés, ansioso pelo veredicto fatídico.

“Acho que é seguro dizer que o aluno superou o professor, menina.”

-Então você vai assinar o contrato?-

-Tenho que pensar...-

-Pai!-

- Ah, ok, ok. Deus Nicole, quando você coloca algo na sua cabeça.-

De repente, um golpe da guitarra de Ryan fez com que todos se virassem em sua direção.

A criança olhou para um ponto preciso à sua frente, acompanhamos a trajetória do seu olhar.

Na segunda mesa à direita, um homem de terno escuro estava sentado na cadeira, olhando para o filho ao longe.

Atrás dele, com as mãos em seus ombros, uma garota observava extasiada, o rosto contorcido em um sorriso.

Juntos, eles representavam o maior pesadelo do menino agora de pé, pronto para retornar à sua prisão habitual.

Meu pai, como todo mundo, olhou para o pai de Ryan, mas sua reação não foi a de um estranho.

-Barth? “Barth Allen?”, exclamou, dirigindo-se ao homem que até então ninguém tivera coragem de chamar pelo nome.

Barth desviou o olhar do filho, agora um novo assunto havia chamado sua atenção.

O sorriso de Kayla vacilou por um momento, a situação era muito estranha para todos.

-Velho James! Você perdeu todo o charme que já teve! Certo, Bela?

Aquele homem virou outra pessoa diante dos nossos olhos, os meninos olhavam a cena deslocados, Ryan me procurava para entender, mas eu também não sabia o que estava acontecendo.

-Nós nos rendemos ao tempo.-

Minha mãe ria como uma menininha, naquele momento eram só os três, como se os filhos não estivessem ali para observá-los.

-Mostre suas mãos.-

Meu pai pegou a mão de Barth, examinando-a com um sorriso zombeteiro.

-Alguém está sem prática aqui. Olhe para a mão daquela princesinha.-

A mão de Barth, ao contrário da do amigo, era macia e sem calos nos dedos, o que era sinônimo de não praticar violão.

-Ah McCartney, mesmo quando você é velho você ainda é um completo idiota.-

Barth tinha uma risada profunda e cavernosa que era tão elegante que não se parecia em nada com meu pai, com uma camisa xadrez de flanela e jeans vintage surrados.

Ele olhou além de James, em direção a mim, nem um pouco surpreso em me ver.

“Ele cresceu muito, não é?”, disse aos meus pais sem tirar os olhos de mim, lembrando-me muito daquela noite de jantar, uma das piores da minha vida.

Ele se aproximou de mim e agarrou meu queixo com os dedos para examinar meu rosto.

-A semelhança é surpreendente, não pensei que fosse possível.-

Afastei-me instintivamente, Ryan se aproximou de mim olhando para seu pai interrogativamente.

-O destino também te atingiu, né? Velho Barth? - James apontou para o garoto que estava ao lado do amigo que segurava com força seu violão branco.

Ver meu pai em um ambiente tão estranho, caminhar até Ryan e colocar a mão em seu ombro me convenceu de que, no que diz respeito à minha vida, tudo poderia ser possível.

-Sim.- O tom de Barth tornou-se áspero.

-Mas não posso me dar ao luxo de me permitir tal bobagem. Ele não vai perder tempo como eu fiz na idade dele, ele deveria estar na empresa agora.-

A maneira como ele deu um tapinha nas costas do filho e sorriu me fez estremecer.

Admirei a capacidade de Ryan de não se conter, ele devia estar acostumado com isso.

-Jogue melhor que você, cara.-

As palavras do meu pai tiveram um impacto.

Barth pigarreou e Ryan pareceu cada vez mais surpreso.

“O que isso significa?”, perguntou ao pai.

-Seu pai já foi o guitarrista mais aclamado de toda Nova York, garoto.-

-É a verdade? Pai?-

Ele olhou para mim, mas fiquei tão surpreso quanto ele, não havia limite para o pior.

Já fui levado para ensaios muitas vezes quando criança, pensei lembrar dos rostos dos integrantes da banda do meu pai, mas aparentemente não reconheci nenhum deles.

-Todos aqueles discos que você sempre me deu, eram seus?-

As perguntas do menino permaneceram sem resposta.

Ele deixou cair o violão no chão, olhando para o pai que não reconhecia mais, o vi sair da sala seguido pela menina que havia permanecido à margem até aquele momento.

E pela primeira vez decidi segui-lo.

————

Virei a esquina e o encontrei encostado na parede com um cigarro entre os lábios.

Kayla ficou na frente dele com os braços cruzados.

Escondi-me para não ser visto, sentindo de repente que era demais.

-Foi você. “Eu tive que imaginar”, disse ele com a voz rouca, daqui eu podia sentir sua raiva.

-Ele me pediu para cuidar de você. Você sabe que não pode dizer não ao seu pai.-

-É sempre a mesma história com você, Kayla!-

Pulei de trás da parede esperando de todo o coração que eles não tivessem notado o barulho.

"Não se envolva", ele continuou, baixando a voz.

-Ryan, eu--

-Você é. Fora. De mim. Vida.- ele escaneou fazendo-a pular.

-Assinei aquele contrato muito fortuito e nem você nem ele podem me impedir de jogar. Eu vou para a empresa e fico com você, faço todas as besteiras que me pedirem. Mas você também não poderá tirar isso de mim.-

Ele estendeu o braço para a direita, apontando para o Bar da esquina, ele se referia a nós, sua turma.

Eu a vi enrolar o casaco e dar dois passos para trás, mas sem sair.

Se eu fosse ela, eu teria feito isso, teria ido embora, mas essa era Kayla, ela não teria desistido tão facilmente.

-Eu também não gosto de tudo isso, Ryan.-

"Claro, claro," ele bufou ironicamente, virando a cabeça para o lado, cruzando os olhos com os meus.

Saí imediatamente, mas já era tarde, ele tinha me visto.

-Você acha que tudo isso não vai me machucar também? Você acha que estou feliz em ser sua alternativa? - Ele disse.

-É melhor você tirar isso da cabeça, Ryan. Nós dois estamos nesta história e não vou deixar você arrastar minha família para o inferno com você.-

Ela se afastou dele e começou a se afastar, mas percebi que ela estava vindo em minha direção.

Encostei-me na parede, esperando que ele não me notasse, mas quando virei a esquina, ele parou bem na minha frente e me agarrou.

Já fazia muito tempo que não a via, mas seu rosto não havia mudado, apenas ficou mais duro, mais adulto. Eu podia entendê-la, a posição dela era pior que a de Ryan.

-Espero que você tenha ouvido corretamente, para não precisar repetir. Se você realmente se importa com ele, fique longe dele. Não seja egoísta, Nicole. É para o seu próprio bem.-

Eu a observei sair, abalado com suas palavras.

Nem mesmo ela desejaria tal destino, ela conhecia os sentimentos de Ryan e compartilhava seu humor.

Ela também tinha alguém de quem foi forçada a desistir? Nunca me perguntei, sempre pensei que só o Ryan estava na vida dela, mas entendi que não poderia ser assim mesmo.

Ouvi passos vindo em minha direção mas não esperei ele se aproximar, voltei para o clube vendo meu pai ainda imerso em uma discussão com Barth.

“Ele é maior de idade, não posso impedi-lo, mas sei como impedi-lo de exagerar”, disse ele.

-Você acha que ele já superou o que aconteceu com Tom? Não cara, mas não posso impedir minha filha de viver a vida dela só porque não consegui viver a minha.-

-Não vou mudar de ideia James, corro o risco de perder tudo se não repassar as ações para meu filho. Eu já deixei ele se divertir o suficiente, mas agora é a vez dele assumir a responsabilidade.-

-Eles são problemas seus, não dele, Barth.-

"Foi um prazer, James," ele se despediu friamente, interrompendo a discussão.

Meus pais observaram o amigo entrar no carro sem dizer uma palavra.

Kayla e Ryan entraram atrás dele e o carro partiu.

O resto dos meninos já tinha ido embora, até Eve tinha ido com eles.

Éramos só nós, Giuly e um menino silencioso sentados em uma mesa vazia.

Ele movia o lápis sobre o papel aos trancos e barrancos, olhando pela janela de vez em quando.

Ele levantou a cabeça para ajustar os óculos no nariz e quando me viu não parou de sorrir, me fazendo uma saudação militar.

“Estamos indo embora, querido, você vem para casa conosco?” meus pais perguntaram antes de sair do bar.

-Vá você, voltarei para casa mais tarde.-

Eles saíram de braços dados conversando um com o outro, falando de mim, me perguntei como pude tê-los negligenciado por tanto tempo quando eles literalmente viveram para me ver feliz.

-Você veio!-

Dan se levantou da mesa para se juntar a mim, me esperou até a hora de fechar, presenciando toda aquela bagunça sem ser notado, aposto que estava com medo de atrapalhar.

-Repito o que te disse ontem, sua vida é muito agitada.-

Tinha o caderno debaixo do braço, o mesmo lenço e o mesmo casaco, o mesmo estilo extravagante, parecia saído de um romance parisiense.

-Agora estou curioso.-

Ele estava apontando para seu caderno, eu o vi coçando a cabeça de vergonha.

-Eu não sou tão bom desenhando quanto você cantando.-

-Ah, bobagem!-

Peguei o caderno de desenho da mão dele, abrindo-o antes que ele pudesse retirá-lo.

Houve vários respingos do meu rosto em ângulos diferentes e de repente senti calor.

“Eu te avisei.” Ele tirou o bloco das minhas mãos, rindo sem graça.

-Eu não sou tão bonita quanto você me desenha.-

-Bem, eu desenho o que vejo.-

————

Descobrimos que a praça que havíamos encontrado para assistir ao pôr do sol também era perfeita para observar as estrelas.

Eu estava deitado no casaco de Dan traçando os contornos das constelações que consegui identificar com meu dedo indicador, ele fez o mesmo prendendo-as no papel.

Abaixei-me para olhar seu desenho com a ajuda da lanterna do meu celular.

-Ei! E de onde vem isso? - Apontei para uma determinada estrela que havia desenhado ao lado da constelação da Ursa Maior.

-Essa...- ele disse apontando com o dedo para outro grupo de estrelas -...é Cassiopeia, olha.-

Direcionamos nosso olhar para o céu, para o espetáculo acima de nossas cabeças.

“Para encontrá-lo, basta localizar a última estrela da Ursa Maior e seguir em direção à Estrela Polar”, explicou, direcionando minha mão ao longo da constelação em questão.

Nós dois deitamos no chão com a cabeça apoiada em seu casaco, para ter uma visão melhor.

-Parece um W.- verifiquei observando a linha imaginária que unia as estrelas de Cassiopeia.

-Segundo a lenda, Cassiopeia era a rainha da Etiópia, linda mas extremamente vaidosa, tanto que queria competir com Hera, esposa de Zeus.-

Eu conhecia esse mito, era um dos meus preferidos e parei com ele, sem resistir à vontade de continuar.

-Diz-se que ele também queria competir com as Nereidas que, indignadas com esta afronta, pediram ajuda a Poseidon.-

“Ele enviou um monstro para devastar a Etiópia”, concluiu, olhando para mim com estranheza.

"O que há de errado?" Perguntei, rindo de sua expressão.

-Você sabe demais para ser uma garota transgressora.-

-Eu nem sempre fui assim.-

Eu não pude deixar de rir toda vez que o via maravilhado com algo que saía da minha boca, sabia que ele ainda não tinha descoberto quem eu era e isso me divertia.

Foi uma façanha impossível, dadas as minhas inúmeras personalidades.

“Orion visto!” eu gritei.

-Não, já chega, tenho que conseguir vencer você.-

Ele se concentrou no leito de estrelas acima de nós, seus olhos atraídos especialmente para perto da constelação que ele conseguiu localizar.

-Veja Bellatrix!- ele disse me fazendo rir.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.