CAPÍTULO 06
LUANNA
EM MEIO A TANTOS obstáculos, a esperança e o amor sempre fizeram com que acreditássemos num futuro melhor. Emma desde criança, sempre nos contagiou com seu sorriso, sempre foi o melhor presente que a vida deu a nossa família. Ainda lembro que quando a comida era pouca e os nossos pais davam prioridade para nós, ela era a primeira que se levantava com o prato em suas mãos, nos incitando a devolver parte da comida para que eles também viessem a se alimentar.
Ela sempre dizia que a nossa imaginação era a melhor arma para vencer a dor da fome e sempre imaginávamos que a nossa frente tinha um verdadeiro banquete e éramos privilegiados por ter mesmo que pouco, algo para nos manter vivos.
Depois da morte de Michel e a doença do nosso pai, aquela menina de olhos negros como a escuridão, se tornou o meu porto seguro. Sempre fui a mais medrosa, mas ver a minha irmã caçula tão determinada, me fez ter forças para seguir em frente e fazer de tudo para ajudar os nossos pais.
Sei que era errado o que estávamos fazendo, tentamos de toda forma andar no caminho certo, mas na vida nem tudo são flores e às vezes as circunstâncias nos levam a trilhar um caminho o qual não desejávamos. Sabíamos do risco que estávamos correndo, porém, muito maior do que viver com a culpa de fazer algo errado, era ir contra a vontade dos nossos pais, que sempre nos ensinaram o que era certo e errado. Mesmo sabendo disso, a certeza que tínhamos em meio a tudo que estávamos fazendo, era que no dia seguinte eles teriam algo para comer.
Desde o ocorrido, o arrependimento está me corroendo por dentro, é como um câncer que aos poucos está me destruído. Eu falhei com os meus pais e mais ainda com ela, que arriscou a sua vida para me proteger. Voltar para casa naquele dia foi o meu maior desafio, eu não sabia como encarar os meus pais, e, como eu já previa, a notícia pelo ocorrido só piorou o estado de saúde do meu pai que desde então está se culpando por não ter protegido a sua família.
A nossa casa se tornou um mar de tristeza e por mais que eu pense, ainda não encontrei um jeito para ir até aquele lugar. No entanto, nem que tenha que perder a minha vida, eu vou ajudá-la a se livrar daquele monstro.
ALEJANDRO
No momento que ouvi o nome dos três infelizes, um clarão que havia em minha frente deu lugar a escuridão e uma fúria incontrolável tomou conta de mim. Saí em disparada do lugar e depois de várias passadas, assim que os gritos dela atingiram os meus tímpanos, me movi rapidamente em direção ao barulho que ecoava no ar.
Entre os gritos dela, eu ainda ouvia os sussurros de Joseph chamando o meu nome, mas no instante em que abri a maldita porta, me deparando com a cena que fez o meu corpo inteiro ficar quente como brasas ardentes, meu coração acelerado batendo próximo à minha garganta, como se fosse saltar fora do meu peito, meu dedo foi em direção ao gatilho e o estrondo do disparo ressoou dentro do ambiente.
Meu pulso está muito acelerado, meu coração palpita loucamente dentro do meu peito. Meus demônios estavam todos despertos, fazendo espasmos violentos me atingir enquanto gritavam, a medida que as trevas se apossava de todo o meu ser. Eu jamais havia dado um tiro que deixasse alguém vivo, ia fazer do modo fácil, dando a eles um aviso para que fiquem cientes de não encostar um dedo nela, porém, diante do que aconteceu o recado será dado de uma forma que nenhum deles irá cogitar em lança um olhar na direção a ela.
O medo estava visível nos olhos dos dois infelizes que estavam feito duas estátuas próximo à cama. Por suas expressões, além de bêbados, estavam drogados e isso de alguma forma a ajudou a ganhar tempo ou caso contrário eles teriam conseguido o que tanto almejavam. Movi-me na mesma velocidade da bala que havia atingido o miserável e de supetão puxei o seu corpo de cima dela e lancei em direção ao chão.
A mulher estava em pânico com o corpo tremendo. Seus olhos cheios de lágrimas, enquanto sua expressão estava temerosa e vazia, era como se ali estivesse um corpo sem alma. Acabei com a distância entre nós dois e ela permaneceu imóvel, minha atenção logo se voltou para porta quando Joseph entrou ao lado da sua esposa. Mandei que Simone se aproximasse e assim que parou próxima a cama, o som da minha voz reverberou no espaço.
— Cuide dela!
Por alguns segundos olhei para Joseph e ele entendeu o que deveria fazer. Os dois homens ainda estavam petrificados, mas logo saíram do estado catatônico que se encontravam quando fechei minhas mãos em um punho e o golpe foi de encontro à face de um deles, fazendo o sangue jorrar pelos cantos da sua boca, ele tropeçou nas próprias pernas, enquanto o outro ainda tentou reagir, mas um grito estrangulado saiu rasgando sua garganta quando meu punho atingiu a boca do seu estômago com um soco violento.
Puxamos os três infelizes para fora do quarto, até chegar na arena próximo a sede. No espaço circular já havia uma grande movimentação, se antes passou pela minha cabeça que assim que me desse por satisfeito ela ia servir para agradar aos demais, saber que ela era virgem mudou completamente os meus planos. Seria um desperdício matar a infeliz sem aproveitar o máximo o seu belo corpo, no entanto, eu não dei autorização para que ninguém fosse até o quarto onde ela estava.
O som de várias vozes ecoava no ar, assim como os gritos dos três malditos pedindo clemência se fez presente assim que seus olhos foram direcionados para as chamas no centro do lugar. Os três foram presos nos mastros de ferro próximo as chamas e assim que levantei o meu braço o silêncio predominou no ambiente.
— Aqui a minha vontade é a lei e quem se atrever a passar por cima de mim terá um único destino: "a morte".
Assim que minhas últimas palavras se fizeram presente, enquanto caminhei em direção ao fogo, Joseph e mais dois homens se aproximaram dos miseráveis e começaram a fazer o que eu havia mandado. Os gritos deles se espalharam pelo ar e à medida que a agulha ia sendo enfiadas em suas peles, fechando o canal urinário, os ruídos aumentavam, dessa forma eles seriam impedidos de urinar, o que tornaria a morte deles mais dolorosa.
Olhei para a barra de ferro e ao constatar que ela já estava tomada pelo fogo escaldante, peguei o objeto e caminhei na direção deles. Gemidos agonizantes saiam entre seus lábios e ao notaram a minha presença, o desespero pairou no ar. Fiquei centímetros de distância e olhando fixamente para os três vermes, novamente o som da minha voz se fez presente.
— Vocês, por anos me serviram, mas acharam que por estar aqui há tanto tempo poderiam fazer o que bem entendessem. Já que viram algo que me pertence, se vão morrer, a imagem dela não será a que ficará em suas lembranças e sim a do meu rosto.
Com o ferro quente em minhas mãos, levei de encontro aos olhos do primeiro maldito, os gritos dados por ele só fez meus demônios se agitarem ainda mais, me movi em direção ao próximo. O barulho que ecoava a minha volta só fazia com que uma corrente de eletricidade tomasse conta de mim, fazendo o meu corpo todo vibrar e uma sensação inexplicável se apoderar de mim por inteiro. Como já era de se esperar, as dezenas de homens que estavam como plateia do espetáculo, todos em uníssono começaram a gritar pedindo a morte dos três desgraçados, mas depois de tudo o que fizeram, morrer tão rápido seria um presente e caridade é algo que não faz parte da minha vida.
Dei algumas passadas para trás, observando silenciosamente a imagem a minha frente. E quando levantei o ferro, uma grande movimentação surgiu ao meu redor. Os três foram colocados cada um dentro de um cesto e pendurados nas árvores onde estava concentrada uma grande quantidade de abelhas nativas. Irritadas com o barulho que ressoavam no espaço, elas logo invadiram os cestos, porém, a medida que os três gritavam com as picadas, elas ficavam mais agitada, ciente que eles não eram alérgicos, a morte seria lentamente e dolorosa, pois se não viessem a morrer pelas diversas picadas, não aguentariam muito, já que não podiam urinar.
Respirei calmamente ao sentir que o calor que antes estava em volta do meu corpo foi se dissipando. Em passos largos deixei o lugar e depois do que aconteceu, ela não poderia mais ficar naquele lugar.