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Capítulo 9

Ana

Foi difícil eu me concentrar no que eu estava fazendo, mas consegui manter a minha mente focada no que é essencial pra eu não perder a pose. É surreal, não parece que é verdade.

O que aquele rapaz lindo, maravilhoso e gentil quer comigo?

Será que ele sempre soube que eu trabalhava aqui?

Minha mente ficou vagando em perguntas e suposições até a hora de servir o almoço. Eu sei que o Gustavo Brastlimp e o pai dele, assim como grande parte dos executivos não frequentam o refeitório, por isso me sinto à salvo, por enquanto.

Eu e o chef Lucas começamos todo o procedimento para servir o almoço e quase me perdi e derrubei tudo no chão quando vi o Gustavo na fila, com as mãos no bolso olhando pra mim de forma indecente, sem nenhum pingo de vergonha.

Corei e desviei o olhar.

Ele certamente está vendo que eu não estou na minha melhor forma, né? Estou só um caco e com o meu cabelo todo preso nessa touquinha, como ele consegue me olhar assim?

Eu evito olhar na direção dele, mas a vez dele está chegando e quanto mais perto ele chega, mais forte o meu coração bate.

Na primeira vez em que eu o vi, ontem, aqui nesse mesmo lugar, eu não dei muita importância e nem reparei muito em suas feições. Já no churrasco eu o vi direito, mas ele estava vestido de uma forma completamente informal e despojada... Agora ele está usando uma calça social, camisa social e até uma gravata. E mesmo assim continua lindo de morrer.

O que vai ser de mim?

— Lucas, — ele cumprimentou o chef.

— Primo, — o chef cumprimentou ele.

— Estou com uma fome, — Gustavo disse pra mim passando a mão na barriga, eu sorri e o servi.

Eu devo estar parecendo uma tonta sem saber o que fazer e o que dizer... Mas é o que eu sou. Não sei o que fazer e o que dizer.

— Pode colocar mais um pouquinho, — ele me disse quando eu já havia enchido o seu prato.

Está na cara que ele está fazendo isso pra mim ver que ele quer ficar perto de mim. É o que eu consigo captar.

— Vai buscar mais salada, Ana, hoje vamos precisar de mais — o chef me instruiu.

Assim eu fiz.

Quando voltei passei o tempo todo admirando esse momento sagrado para todos, como sempre gosto de fazer. O meu maior prazer é ver as pessoas se satisfazendo com um prato de comida.

Conforme as pessoas iam terminando, iam saindo do refeitório, até que só sobrou o Gustavo e o seu prato de comida pela metade.

Olhei pro chef Lucas e ele estava com um olhar estranho, eu diria que é de raiva. Certamente não está entendendo nada do que está acontecendo, é bom que ele não saiba que eu tenho a minha parcela de culpa nisso.

O chef Lucas foi até o Gustavo e vi que eles trocaram algumas palavras. Logo i chef veio até mim e disse:

— Me ajude a levar a louça pra cozinha, depois você traga um pouco da sobremesa que está na geladeira azul e sirva para o Gustavo, — disse bufando.

Não falei nada, só comecei a ajudá-lo com a louça um pouco feliz por ele não ter me mandando fazer isso sozinha dessa vez.

E claro, estou chocada com a capacidade que o Gustavo tem de se mostrar interessado em mim.

Logo eu já estava voltando com a sobremesa e ele me olhando de forma relaxada.

— Você pediu sobremesa?

— Sim, eu pedi você de sobremesa, tem como?

— Está bom assim? — servi uma pequena parte do doce, fingindo não me abalar pelo seu comentário.

— Posso te levar pra jantar hoje? — segurou a minha mão.

Olhei pros lados com medo de alguém nos ver.

— Eu te mando mensagem, — sorri e puxei a minha mão.

— Então eu estou satisfeito, muito obrigada pelos seus serviços, essa empresa está de parabéns pela qualidade das cozinheiras.

O que ele quer que eu diga? A única coisa que eu consigo fazer é sorrir mesmo.

Para o meu alívio ele se foi, não sei o que aconteceu aqui. Tá, eu sei, ele está dando em cima de mim incansavelmente na cara dura e não tem vergonha nenhuma. Eu gosto tanto disso.

Não vejo a hora de terminar o expediente e eu mandar a mensagem pra ele.

(...)

Eu lavei a louça do almoço e depois apenas observei a preparação para o café da tarde, esse é bem mais minuciosamente detalhado. Tudo bem, nada que eu não consiga dar conta.

Para a minha decepção e alívio ao mesmo tempo, eu não servi o café da tarde... Fiquei triste porque não o veria, mas aliviada porque isso não iria me trazer problemas.

Quando alguém perceber o que está acontecendo, terei problemas na certa.

Por enquanto eu devo apenas tomar cuidado e viver isso que estou tendo a oportunidade de viver, esse sentimento louco e sinsero que faz o meu coração bater tão forte e quase explodir de felicidade quando ele me sorri daquele jeito que ele faz.

Quando tudo acabar eu devo simplesmente voltar ao que já estava. Terei adquirido experiência pra minha vida, é bom ter experiências.

(...)

Quando o trabalho acabou eu fiz de tudo pra sair despercebida, escondida entre as pessoas e na primeira oportunidade eu pulei pra dentro de um taxi. Imagina se ele resolve me dar uma carona? Isso não iria acabar bem.

O caminho até em casa foi longo. Nunca chegava e eu estava ficando aflita e só pensando no Gustavo, por isso escrevi uma mensagem pra ele:

"Guga, podemos sair hoje, beijos."

Eu sei, só falei isso. Mas pelo menos eu fiz a minha parte e mandei a mensagem que disse que iria mandar.

Quando cheguei em casa já veio a resposta dele:

"Me manda o seu endereço e esteja pronta às oito horas da noite, linda."

Isso foi o gás que eu precisava pra ficar eufórica e sair que nem doida pela casa pra tomar banho, me depilar por completo, fazer hidratação no cabelo e deu tempo até de dar uma atenção pra minha sobrancelha. Logo eu já estava pronta e ainda faltava um bom tempo pras oito. Enviei o endereço pra ele e disse que iria esperá-lo.

Aí meu Deus. Espero não estar cometendo um erro. Espero não estar cometendo o maior erro da minha vida.

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