Capítulo 8
Ana
— Ana, elevador de serviço! Tem coisas que eu não preciso dizer, né? Elevador de serviço!
— Desculpa, chef, eu nunca trabalhei antes em uma empresa dessa.
— Olha, eu espero que eu não esteja perdendo tempo com você, sinceramente, você é muito nova e demonstra não ter comprometimento o suficiente pra fazer dar certo.
— Isso não é justo, chef, eu decorei o cardápio do mês inteiro!
— Isso não é o suficiente, você precisa ter no mínimo o bom senso de saber como deveria agir em determinadas situações...
— Me dê mais uma chance, chef, prometo não cometer mais nenhum erro.
(...)
— Quando vai ficar mais fácil? — questionei para mim mesma em frente ao espelho enquanto tiro as minhas roupas.
O meu celular apitou uma mensagem, o meu coração começa a acelerar com a chance de ser o Guga. Abro a mensagem para ler:
"Ana, Guga aqui, tudo bem? Já estou com saudades de você, não vejo a hora de te buscar hoje à noite pra jantar, manda o endereço!"
Leio e releio a mensagem várias vezes, sorrindo igual besta.
Nem tudo no meu dia tem que ser ruim, né?
Será?
Eu estou louca pra estar nos braços dele... Pra saber o que aqueles lábios travessos são capazes de fazer...
Quando estou prestes a responder eu reparei que tem mais uma mensagem antes da que ele mandou:
"Ana, olá, sou o Gustavo Brastlimp, filho do Rafael Brastlimp, venho por meio dessa mensagem me desculpar pelo ocorrido, saiba que você não será demitida e espero que você esteja bem e que continue cozinhando as suas tortas tão lindas para nós, sinto-me triste por não ter provado nenhum pedaço, acredito que haverá novas oportunidades. Atenciosamente, Gustavo."
Ai que grande merda.
Sento-me na cama encarando o celular mas mãos, tremendo. Não pode ser.
Por que eu não tenho sorte? Por que ele tinha que ser o meu chefe?
Eu quero responder, mas nada me parece adequado. Alguns minutos se passaram até que o celular começou a tocar, é ele.
Lágrimas começam a descer do meu rosto, lágrimas de frustração. Pra ele é fácil, é só pegar a cozinheira, dar uns amassos e depois deixar que a demitam, vida que segue.
Mas e quanto à mim? Eu não posso perder o meu emprego!
O celular parou de tocar e uma nova mensagem chegou:
"Ana, estou louco por você, não consigo parar de pensar no seu cheiro, nas suas mãos segurando o meu braço enquanto dançavamos, me atende por favor, eu prometo fazer valer a pena..."
Eu também, Gustavo, eu também... Mas diferente de você eu não posso me dar ao luxo.
Desliguei o meu celular com todas as forças que eu consegui reunir. E fui tomar banho.
No banho, com a água caindo em cima de mim, logo a minha imaginação me fez fantasiar ele aqui comigo, me acariciando e dizendo que ficaríamos juntos pra sempre... Enquanto vou passando o sabonete por todo o meu corpo é as suas mãos que eu vou imaginando. Arrastei o toque até o meio das pernas com o propósito de aliviar essa frustração, mas abri os olhos e interrompi.
Eu não posso fazer isso. Não posso dar cordas pra mim mesma.
Terminei o banho o mais rápido que pude e logo fui ajudar a Pri com o a janta, assim eu me distraio.
— O Guga não te mandou mensagem referente ao pequeno acidente? — perguntei como quem não quer nada.
— Graças a Deus não mandou, por que? Ele te disse que vai mandar? Ele mandou mensagem pra?
— Pri, eu estava certa, é o Gustavo Brastlimp, não vou responder ele.
— Então ele te mandou mensagem.
— Sim, mas eu não posso fazer isso, só iria atrapalhar a minha vida, tenho certeza que ele é confusão na certa.
— Amiga, a única coisa que eu consigo ver são duas pessoas que se gostaram e estão loucas pra se pegarem.
— Não fala assim, como se fosse fácil assim.
— Eu e o Douglas vamos dormir juntos hoje.
— O que? Mas, já?
— Minha filha, aqui não tem conversinha não, ambos somos diretos e é assim que as coisas devem ser.
— Ah, por que justo pra mim tem que ser difícil?
— Não tem nada difícil pra você, gata, é só mandar ver e descobrir como as coisas ficam mais fáceis quando você para de complicar.
Pri continuou me encorajando, mas não foi o suficiente pra me fazer ligar o celular e retornar a ligação. Logo o Douglas chegou e eu me retirei pro meu quarto, aproveitei pra ligar pra minha avó e perguntar como estão as coisas na minha cidade. Adorei falar com ela, percebi o quanto eu estava com saudade e já não vejo a hora de ir visitá-la. Depois que falei com ela desliguei o celular outra vez.
Logo o dia amanheceu e eu estava indo pro trabalho novamente, eu estava passando pela porta quando senti alguém me puxando pra trás, no instante em que virei o meu estômago começou a dar piruetas e todos os pelos do meu corpo se arrepiaram...
— Não fuja de mim, — Gustavo disse segurando a minha mão.
Encarei-o com os olhos arregalados.
— Você estava me esperando aqui?
— Sim, eu estou louco por você, louco mesmo — colocou a minha mão em seu peito e eu pude sentir o seu coração acelerado no mesmo ritmo que o meu.
— Isso não daria certo, você pode ter qualquer uma, por que eu?
— Por que o sol é amarelo? Por que não tem estrelas de dia? Por que as rosas são vermelhas?
— Você sabe que tem uma explicação para cada coisa do que disse, né?
— Exatamente, do mesmo jeito que tem uma explicação pra eu te querer tanto.
— Tem muitas pessoas aqui...
— Eu te quero tanto porque você me conquistou desde o primeiro sorriso, e danem-se as pessoas, eu tô louco pra roubar um beijo seu aqui mesmo.
— Não, por favor, eu perderia o meu emprego.
— Eu te dou um emprego melhor.
— Não, não é simples assim.
— Pare de complicar, eu sei que você me quer também.
— Depois eu te mando mensagem.
— Promete?
— Sim, eu mando.
— Vou esperar ancioso.
Sai correndo em direção à cozinha sem olhar pra trás, com o ar me faltando e uma vontade imensa de chorar de felicidade.
O que é isso? Será que eu já estou apaixonada?
Mas a gente ainda nem se beijou!