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Capítulo 6

Ana

— Mas você é chatinha, em Ana? Poxa, será que você não poderia esperar mais um pouquinho? — resmungou quando saímos do portão.

— Amanhã a gente trabalha, se esqueceu? Esse povo tá doido se eles pensam em passar a noite assim — falei abrindo a porta do carro da Pri.

— Tá, vamos lá então, você está certa, pelo menos conheci o Douglas e ele pediu o meu número — girou a chave e ligou o carro.

— Ah, viu, se deu bem — falei enquanto estávamos passando em frente ao portão e o Douglas deu com a mão.

— Olha amiga eu preciso te agradecer —  a Pri disse depois de alguns minutos de silêncio durante o trajeto.

— Me agradecer? Por que? — perguntei confusa.

Não faço a mínima ideia do que ela está falando.

— Ué, você deu mole pro carinha da Land Rover, talvez ele não tome sérias providências por causa do acontecido, pois ele ficou caidinho por você, né? — me engasguei com a minha própria saliva por causa do comentário infeliz da Pri.

— Eu não tava dando mole pra ele, não seja doida — me defendi assim que me recompus.

— Ah, eu tava de olho em vocês, toda vez que eu olhava pra você, você estava sorrindo igual besta, bem assim, oh — fez uma cara de boba alegre e eu dei um tapinha no braço dela.

— Tá bom, eu dei um pouquinho de mole sim, mas é porque ele é muito insistente, ele não desiste! — me expliquei sorrindo, lembrando das gracinhas dele.

— Só assim pra conseguir alguma coisa com você, né? Todos os outros não sabiam, mas esse rapaz descobriu o grande segredo... Ficar no seu pé — zombou.

— Ficar no meu pé? — arqueei a sobrancelha.

— Sim amiga, você gosta que fique no seu pé, hoje eu vi tudo!

— Pare de ser boba, acho que foi a forma como ele nos tratou desde o começo, sei lá, ele é charmoso... Por isso eu dei o meu número pra ele.

— Eu acho que ele vai ligar...

— Acho que vai mandar uma mensagem perguntando qual é o meu nome, ou qual Ana eu sou.

— Não seja pessimista, com certeza ele sabe muito bem o seu nome e qual Ana você é.

— Sabe, Pri, gostei dele, mas sinto alguma estranha, eu acho que não posso respondê-lo, caso ele realmente entre em contato comigo.

— Não começa, por favor!

— Parece bobagem, mas eu acho que ele é o Gustavo Brastlimp, o filho do presidente da empresa que eu comecei a trabalhar.

— Não viaja, vai, o quê que um ricaço desses ia estar fazendo em um churrasco cheio de povão como a gente?

— Você viu o carro dele?

— Não é só porque ele tem um carrão, que ele seja o Gustavo Brastlimp.

— Ele também se chama Gustavo, e é um pouco parecido.

— É só a sua mente sonhadora te iludindo, pregando uma peça em você.

— Você está enganada, isso não seria um sonho, seria um enorme pesadelo, isso sim.

— Mas então pare de viajar na maionese, tá? Ele não é o Gustavo Brastemp.

— Brastlimp!

— Foi divertido, obrigada por me trazer, adorei conhecer o Douglas.

— Acha que ele te fará se esquecer do seu ex?

— Que ex?

— Gracinha.

(...)

Chegamos em casa eu fui direto lavar o meu rosto e escovar os dentes para dormir. Amanhã eu preciso acordar cedo e tenho muito medo de perder a hora. Isso seria um desastre e acho que eu não teria perdão, dessa vez.

Espero que o ocorrido hoje na empresa não chegue aos ouvidos do chef Lucas. Ou tenho certeza que estarei no olho da rua.

Deitei-me com o olhar divertido e sensual do Guga na minha cabeça atormentando a minha imaginação, até que eu me peguei fantasiando um beijo com aqueles lábios carnudos... Me pergunto se são macios...

(...)

— Bom dia — cumprimentei a Pri quando ela chegou pra tomar café.

— Ele mandou mensagem?

— Quem? — perguntei me fazendo de desentendida.

— Mandou, né? O que ele disse?

— Ele não mandou nenhuma mensagem, eu te falei que ele não iria se lembrar de mim, vou nessa, tá?

— É cedo ainda, o coitado deve estar dormindo.

— Como ele iria pagar aquele carro dormindo até tarde?

— Vai trabalhar, Ana, vai trabalhar e pare de me encher.

— Beijão.

— Não vai se meter em confusão hoje, em?

— Também te amo.

Sai correndo pra pegar o metrô. Por sorte tudo dentro dos conformes, não vou me atrasar. Deu tudo certo.

(...)

Quando cheguei na cozinha os rapazes estavam novinho em folha, não pareciam os mesmos que estavam farreando ontem, em pleno dia de semana.

— Bom dia, — cumprimentei.

— Bom dia, gata, você arrasou corações ontem, né? — o João zombou.

Será que ele está se referindo ao Guga.

— Não vamos falar nada sobre a nossa vida pessoal, tá? Estamos no trabalho, precisamos ser profissionais! — comentei ajeitando o meu cabelo dentro da touquinha.

Eles riram entre insinuações e piadinhas. Revirei os olhos, mas ri escondida também.

(...)

— Espero que você aprendido alguma coisa ontem, Ana, não vou dizer nada pra você, saiba que eu estou mais atento às suas atitudes — o chef disse assim que pisou os pés dentro da cozinha.

— Darei o meu melhor, chef.

— Eu não quero o seu melhor, Ana, eu quero o melhor do mundo.

— O que eu vou descascar hoje, chef?

— Hoje você vai decorar o cardápio do mês inteiro.

— Decorar o cardápio?

— Sim, pode começar, ali dentro da segunda gaveta tem um exemplar, pegue e use para memorizar tudo.

— É pra já, chef, — consenti, desanimada.

Eu preferia mil vezes estar descascando babatas, cebolas, qualquer coisa, desde que tivesse a ver com o almoço de hoje.

Mas pensando bem, até que ele não está sendo tão severo comigo...

Pego o cardápio e me retirei para um canto do lado de fora da cozinha, assim eu poderia "estudar" em paz.

Passei a ler e reler todas as receitas programadas para a semana e para o mês.

Deliciosas, mas não fazem o meu tipo. Eu sou mais caseira, mas entendo que se eu quero ser uma chef de prestígio, devo me adaptar aos costumes da sociedade.

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