Capítulo 4
Ana
- Pri, você não faz ideia de como foi tenso, eu tive vontade de dizer poucas e boas, foi tão difícil eu me segurar - contei pra minha amiga sobre o ocorrido no meu primeiro dia de trabalho, enquanto tomo um copo de água para acalmar os meus nervos que ainda estão tremendo.
- Ana, você deve estar preparada pra coisas bem piores, aqui nem todos são gentis como a sua avó e os seus conhecidos do interior, se você for criar caso com cada desaforo que você leva, então nunca irá durar em trabalho nenhum - respondeu massageando as minhas costas.
- Eu sei, por isso respirei fundo e educadamente me desculpei pelo meu erro, mas Pri, foi difícil desde que coloquei os meus pés dentro daquele edifício, juro, por sorte os meus companheiros de cozinha são uns amores e bastante divertidos.
- Mas pelo que você me contou a culpa é deles de você ter cometido o erro.
- Não é bem assim, eu não me atentei às regras e eles se esqueceram de me lembrar, enfim, o que importa é que eles me convidaram para um churrasco hoje na casa de um amigo como forma de perdão, e ainda falaram que eu poderia levar uma amiga, eu disse que ia pensar...
- Pois você deveria ir, assim se enturma melhor e faz amigos.
- Eu tenho medo de conhecer pessoas como a Kelly, como o presidente da empresa, sei lá, não sei se estou preparada pra isso.
- Pare de ser mortadela e vai tomar um banho, eu só preciso trocar de roupa.
- Como assim?
- Ué, você pode levar uma amiga, não é mesmo?
- Ah, eu sabia que tinha alguma coisa por trás dessa sua preocupação comigo eu preciso fazer amigos, né?
Sorri e fui tomar banho, quando saí pra me vestir o meu celular apitou uma mensagem, é de um número desconhecido, abro a mensagem para ler:
"Ana, olá, sou o Gustavo Brastlimp, filho do Rafael Brastlimp, venho por meio dessa mensagem me desculpar pelo ocorrido, saiba que você não será demitida e espero que você esteja bem e que continue cozinhando as suas tortas tão lindas para nós, sinto-me triste por não ter provado nenhum pedaço, acredito que haverá novas oportunidades. Atenciosamente, Gustavo."
Leio e releio a mensagem por várias vezes, não sei explicar como me sinto, na verdade, estou aliviada por não perder o emprego.
O filho é bem mais gentil que o pai, como isso é possível? Geralmente os filhos são o que os pais são. Bom, que bom pra mim que o Gustavo Brastlimp não é como o pai, ele deve ter falado ao meu favor, se ele é alguém decente ele sabe que errar é humano, e era só o meu primeiro dia.
Sorrio e agradeço a Deus por ter me dado esse livramento, eu não vou perder o meu emprego já no primeiro dia.
Primeiro dia sobrevivido com sucesso.
Agora posso ir no churrasco me sentindo bem mais leve e com um bom motivo para comemorar.
Vesti um vestido meia coxa, vermelho com flores de manguinha caída estilo ciganinha e uma sandália baixa, branca. Deixei o meu cabelo solto, eu amo usar o meu cabelo solto... Ele é lindo, cumprido até a cintura em um corte reto, extremamente preto. Passei só um rimel e um batom. Usei um par de brincos bem basiquinho porque não quero aparecer muito.
(...)
- Uau! Que gata! - elogiei a Pri que não economizou na produção.
- Vai que tem um gatinho por lá?
- Você não vai esquecer o Bruno tão fácil, Pri.
- Vamos? Eles te mandaram o endereço, né?
- Claro que sim, tá doida? Dirija com cuidado, em?
- Você está com a melhor pilota do continente.
Pri ganhou um Corsa bem conservado do pai dela, Pri trabalha como fotógrafa e tem clientes o suficiente para sobreviver e ainda bancar algumas mordomias. Ela tem um projeto de abrir o próprio espaço, tenho certeza que ela vai conseguir.
Ela está usando uma mini saia preta e uma sandália preta extravagante, um blusinha branca tomara-que-caia e o cabelo loiro em corte Chanel está solto e brilhoso.
- Estou um pouco acanhada, da última vez que eu saí com você as coisas não deram muito certo - falei fechando a porta do carro e colocando o cinto de segurança.
- Ah, esquece aquilo, Ana, todo mundo dá PT na vida, pelo menos uma vez, difícil um raio cair no mesmo lugar... Tenta relaxar e não vai espantar os caras que se interessar por você, tá? Dê uma chance pra algum, quem sabe assim você mude esse seu jeito.
- Eu não sou madura como você, eu tenho só dezoito anos.
- Vai fazer dezenove, né?
- Mas só daqui há quatro meses.
- O tempo voa, e você precisa evoluir.
— Quer maior evolução do que vim embora pra cidade grande estudar gastronomia e começar em um emprego onde eu posso por em prática tudo o que eu aprendi e lutar para alcançar os meus objetivos?
— Devo dizer que estou orgulhosa de você.
— Pare com isso, vou ficar com vergonha.
— Acho que chegamos, né? O GPS indica que é aqui, preciso encontrar um lugar pra estacionar.
Estamos em frente ao endereço, é um muro alto e portão fechado, já possível ouvir o som alto de música sertaneja vindo lá de dentro e na rua tem vários carros estacionados, acho que a Pri vai sofrer pra estacionar.
— Vou mandar uma mensagem pro du, pra falar que estamos aqui em frente.
— Tá, vou tentar estacionar atrás daquele carro vermelho ali, será que dá?
— Você que é a melhor pilota do continente, se lembra? O problema é que se você encostar nesse carro chique e aí que eu bem sei o nome, aí vamos ter que vender os nossos ruins pra pagar o conserto.
— Relaxa, manda a mensagem pro rapaz e deixa que eu tomo conta da boléia.
Mandei a mensagem pro du, um dos meus colegas de trabalho e em questão de segundos ele já apontou pra fora do portão.
— CUIDADO! — du gritou lá de onde estava, mas já era tarde, a Pri já tinha batido o Corsa no carrão e agora estamos ferradas.
— Ai que merda, Ana, o que eu faço agora?
— Não sei, você não deveria ter tentado encostar aqui.
— Vamos fugir.
— Pare de ser precipitada, por favor, — abri a porta do carro e desci.
Logo percebi que várias pessoas que estão no churrasco vieram ver o que tinha acontecido.
Que mico.
Acho que vou concordar com a ideia da Pri e vou dar o fora daqui.