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Capítulo 2

Ana

Eu sou a única mulher nessa cozinha, com exceção das mulheres da limpeza. Às vezes quando o chef não está presente os outros três homens me enchem de perguntas, gostei deles. São respeitáveis e divertidos. Um deles é mais velho, aparenta ter na faixa dos cinquenta anos, os ouros dois devem ter entre os vinte e cinco à trinta anos.

— Ana, não se assuste com o Chef Lucas, ele é um bom homem, — o Luiz, o mais velho, me disse.

— Tudo bem, gostei dele, ele é casca grossa, são esses que formam grandes alunos.

— Sim, você vai se dar bem, não se assuste, só de o melhor de si que tudo vai dar certo.

— Obrigada, Luiz, estou animada pra isso.

(...)

— Fui comunicado que a família fundadora irá almoçar na empresa hoje, mas não se preocupem, eu garanto a qualidade das nossas receitas... está na hora de servirmos, Ana, você vem comigo, quero ver como você vai se sair — o Chef avisou, senti-me feliz em receber essa missão.

Servir a comida é uma das melhores partes, na minha opinião. É prazeroso ver a satisfação estampada no rosto das pessoas que provam e aprovam o nosso tempero.

— Ok, estou pronta — sorri confiante.

— Pare de sorrir, não está sendo filmada.

— Desculpe, chef.

Levamos as panelas para o refeitório através de um carrinho de ferro, foi fácil manuseá-lo, o que foi um pouco mais difícil foi a parte de retirar as panelas do carrinho e as colocar sobre a mesa.

— Eu deveria ter trazido um dos rapazes, — o chef resmungou.

Eu me esforcei, com todo o cuidado pra não cometer nenhum erro e consegui pôr as panelas em seus lugares.

Aos poucos foram chegando os funcionários da empresa, entendiam os pratos e eu os servia com a ajuda do chef Lucas.

— Tio, — o chef disse quando um senhor engravatado de postura séria estendeu o prato.

— Lucas, — o senhor respondeu com um pequeno sorriso.

— Primo, — O chef cumprimentou um rapaz jovem que se parece com o senhor anterior, faz sentido, deve ser o filho dele.

— Lucas, serve pouco, estou sem fome, — o rapaz avisou sem modificar as suas expressões de cansado.

Na minha vez de servi-lo ele me olhou por alguns segundos e deu um aceno com a cabeça, eu sorri em resposta, mas ele desviou o olhar muito rápido, não sei se percebeu que eu sorri.

Enfim, eu estou aqui para ajudar na cozinha e conquistar o meu espaço na cozinha.

Fico observando as pessoas comendo a comida que eu com as minhas próprias mãos descasquei as batatas. Isso é gratificante, ver o prazer com que levam as garfadas à boca. Até a Kelly parece estar se satisfazendo, comendo como se tivesse pousado no toco amarrado. Adoro.

— Que lindo, né chef? — comentei com as mãos pra trás, sorrindo.

— Pare de sorrir, o quê que é lindo? — arg, que mal humor.

Mas não me contagia.

— Ué, eles comendo — falei ainda sorrindo, — perdão, chef, não consigo conter o sorriso, imagino que eles estejam saboreando aquelas batatas que eu cuidadosamente descasquei e as cortei na proporção perfeita para combinar com os outros ingredientes da receita, isso é gratificante...

— Interessante essa sua percepção, gostei — o chef sorriu?

Uhull! Parabéns pra mim, não foi a minha intenção, mas pelo visto ganhei um ponto com ele.

Observei tudo, um por um, até que todos saíram do refeitório e só sobrou as louças sujas sob as mesas.

— Viu como ninguém restou? Eles adoraram — comentei orgulhosa.

— Parabéns, você descasca as batatas muito bem.

— Obrigada, chef.

— Recolha a louça e as lave.

Ok, agradeci muito antes da hora.

Odeio lavar louça. Mas são ossos do ofício.

(...)

— Como sabem eu preciso ir embora mais cedo hoje, amanhã eu quero ver essa cozinha intacta, — o chef avisou olhando-nos um a um, com um olhar ameaçador.

Que homem macabro. Eu já sabia que na cozinha havia bastante de pressão, mas com o chef Lucas as coisas são realmente assustadoras.

Quando o chef saiu, o clima mudou totalmente na cozinha... Brincadeiras, piadas e até cantoria. Me diverti bastante, foi bem legal lavar a louça nessas condições.

— Ana, o café da tarde vai ser por sua conta hoje, topa o desafio? Mas você precisa manter segredo, em? Se o chef desconfia que estamos confiando em você ele nos demite na hora.

— Sério, gente? Aí, vocês são tão legais! Não é uma brincadeira, é? — perguntei empolgada.

— Ana, será que você dá conta?

— Pois observem, e aprendam!

Entre sorrisos e piadas eu comecei a preparar os pratos para o café da tarde, foi bastante corrido e tenso para mim, mas eu consegui. E ficou lindo.

Os rapazes ficaram olhando por alguns segundos e depois um à um deu a sua breve opinião :

— Inovador.

— Interessante.

— Sorte que o Chef não está aqui.

— Como assim? Não gostaram? — questionei indignada.

As minhas tortas e bolos estão parecendo uma obra de arte!

Uma discussão começa entre os rapazes:

— Nós devíamos tê-la avisado!

— Relaxem, o chef não está aqui...

— Podemos dar um jeito!

— Não há tempo!

— São tortas e bolos!

— Devem estar apetitosos!

— São tortas e bolos!

— Ferrou.

— Gente, vocês estão de brincadeira, certo? Por favor parem com essa cena, estou ficando bastante assustada, hoje é o meu primeiro dia e eu não posso errar, vocês viram o que o chef disse quando cheguei, eu estou em fase de teste!

— Não há tempo, o que está feito já está feito, o erro foi nosso, não seu, fique tranquila, vamos dar um jeito.

Comecei a chorar bastante decepcionada. Eu não entendo o que pode estar errado. Eu me esforcei tanto e corri contra o tempo para impressioná-los e mostrar que eu sei e consigo cozinhar.

— Ana, pare com isso, estão lindas, vai dar tudo certo.

— É, Ana, devem estar deliciosas também.

— Pessoal, precisamos servir.

— Ana, deixe que nós faremos isso, tá?

— Não, eu vou, eu quero ver com os meus próprios olhos o resultado.

— Tem certeza?

— Sim, obrigada, eu cuido disso.

(...)

Aqui estou eu: com as pernas bambas, tremendo igual vara verde com medo do que pode dar errado.

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