Capítulo 1
Ana:
O êxtase que estou sentindo viajando pelas minhas veias nesse exato momento é indescritível, muito melhor do que eu poderia ter imaginado. Ok, ok, é só um emprego de assistente de cozinha em uma empresa gigante e provavelmente o meu cargo será o menor deles, mas não é o cargo em si, é a sensação de saber que eu consegui chegar até aqui.
O meu nome é Ana Paula Machado, eu tenho dezoito anos e sou estudante de cozinha, quero ser a melhor chef que esse país já viu. A minha avó é a minha inspiração de vida, o meu sonho é futuramente abrir o meu próprio restaurante e nomeá-lo Tempeiro da Rute, em homenagem a ela, ela não pode abrir o próprio restaurante porque sempre colocou a necessidade das outras pessoas acima da sua e ao invés de juntar as economias para o seu próprio sonho ela simplesmente usava o seu maravilhoso dom na cozinha e fazia marmitas para doar para os mais necessitados... E o mais estranho pra mim era que nós éramos os mais necessitados, com o tempo eu aprendi o que realmente é importante e entendi a minha avó, mas temo não ter a mesma devoção que ela quanto à me pôr no lugar das outras pessoas.
Eu sempre morei com a minha avó em uma pequena cidade do interior, meus pais eram muito novos quando me tiveram e foi ela quem cuidou de mim desde sempre. Eu vim embora pra capital pra estudar e praticar enquanto trabalho, também esse sempre foi um dos meus objetivos: sair do interior e vim tentar a vida na cidade. Eu vim pra cá fazem aproximadamente vinte e cinco dias, estou morando na casa de uma amiga, por isso estou tão feliz em ter conseguido um emprego, pois agora poderei ajudá-la nas despesas e não irei me sentir um peso. Morar sozinha só futuramente.
Me vesti da forma mais confortável possível, sei que cozinhar parece fácil, mas é uma verdadeira guerra contra o tempo e espaço que te faz suar e se sentir pressionada. Estou usando uma calça de moletom cinza um pouco justa, um tênis branco e uma camisa branca, bem básica mesmo porque o meu objetivo é me sentir livre pra fazer o melhor de mim nessa cozinha. O meu cabelo preto está muito bem amarrado e até passei gel para que os fios rebeldes permaneçam em seus devidos lugares, no rosto eu só passei o protetor solar porque com a minha aparência à longo prazo eu me preocupo... Futuramente eu desejo ser uma linda chef de cozinha bem sucedida e reconhecida, pra isso preciso cuidar da minha pele.
— Olá Kelly, poderia por gentileza me indicar o caminho para a cozinha? — perguntei para a assistênte que me olhou dos pés à cabeça.
Eu vi o nome dela escrito no crachá que está usando.
— Ah, por que você deseja saber? — juntou as mãos em uma pose.
— Eu sou a nova ajudante, muito prazer, o meu nome é Ana e eu farei a sua comida a partir de hoje, — estendi a mão sorrindo simpática.
— Posso ver a papelada? — ela questionou ignorando a minha mão estendida.
Me sinto um pouco indignada pela falta de educação da Kelly, mas mostrei a ela o que ela queria ver.
— Você pode conferir com alguém, se está pensando que eu não estou dizendo a verdade — expliquei magoada.
Eu sou muito magoada. Muito. Muito mesmo, se alguém me decepcionar é perigoso eu sofrer um ataque cardíaco e morrer jovem porque eu realmente sofro muito.
— Arg, eles contratam qualquer um hoje em dia, — revirou os olhos e eu fiquei de boca aberta, — é por ali, siga reto e pergunte pra outra pessoa no meio do caminho.
— Muito obrigada pela sua gentileza, nunca vi alguém tão bondosa como você, parabéns, essa empresa está de tirar o chapéu — falei sarcástica e me afastei sem dar tempo para ela me responder.
Inacreditável. Enfim, a vida que segue, jamais, nunquinha que eu vou permitir eu me abalar por causa de uma mal amada que não tem empatia pelas pessoas.
Mas que eu estou passada, isso eu estou.
(...)
Não foi difícil encontrar a cozinha, por sorte conheci alguém que diferente da Kelly foi super legal e gentil. A humanidade ainda tem salvação.
— Novata, você vai descascar as batatas hoje, não quero saber de cascas grossas, lembre-se que você ainda está em fase de teste e eu posso recusa-la se você não atender às minhas expectativas e necessidades — o chef, um homem de aproximadamente trinta e cinco anos disse enquanto outros três homens vestidos de cozinheiros observavam-nos atentos.
Só consenti balançando a cabeça diversas vezes. Preciso me preparar para dar o melhor de mim e conseguir continuar nesse emprego.
— Sim senhor, darei o melhor de mim e não vou decepcioná-lo — tentei soar bem firme, do jeito que eu aprendi nos vídeos da Internet.
— Comece dando o melhor de si se preparando, o que você está fazendo dentro de uma cozinha sem ter posto o avental e escondido esse cabelo todo? Já começou mal, mas vou te dar uma colher de chá porque você só tem dezoito anos e esse é o seu primeiro emprego, mas seja mais atenta daqui pra frente, somos uma cozinha séria que cozinha pra uma empresa séria, o nosso trabalho é servir a comida mais magnífica que existe no continente, entendeu? — nossa, ele é bem difícil.
— S-sim senhor, eu vou dar o melhor de mim, peço perdão por esse inconveniente, com licença, vou me preparar e logo voltarei para descascar as batatas.
Assim que fiquei sozinha na sala de preparação, soltei o ar e respirei fundo. Uau. Quantas emoções fortes e eu ainda nem coloquei as mãos em uma faca.
Voltei pra cozinha e comecei a descascar as batatas, sou boa nisso, a minha avó me colocou pra descansar batatas desde nova. Pois é, uma criança de oito anos com uma faca nas mãos, enfim, foi bom, essa tarefa é mais que fácil para mim.
Me pergunto o que me aguarda nessa nova etapa da minha vida, será que os meus planos darão certo? Será que eu vou conseguir cumprir com as expectativas desse chef tão exigente?