Capítulo 14
Ana
O dia amanheceu mais colorido, sabendo que hoje eu vou vê-lo. Nos últimos dias conversamos bastante por ligação e agora me sinto bem mais próxima dele, falamos de gostos, preferências e detalhes desnecessários, falamos de tudo e já sabemos bastante de coisas um do outro. Incrível como eu não enjoo de falar com ela, pelo contrário, nunca é o suficiente, só me faz querer estar perto dele outra vez. Hoje vamos nos ver depois do trabalho e já estou me sentindo nervosa. Será que...
Não sei se eu estou preparada.
Será que eu sou uma pessoa normal e tudo acontece normal no meu corpo?
— O que você está fazendo, Ana?
— Perdão chef, estou um pouco distraída hoje.
— Faça as coisas direito, Ana, quer voltar a lavar a louça?
— Não, chef, desculpa, vou me concentrar.
O Du me olhou fazendo gestos, perguntando o que está acontecendo, dei com os ombros, explicando que não aconteceu nada. Nos últimos dias ele tem me perguntado da Pri, falou que não sabe o que aconteceu, estava tudo bem e do nada ela parou de falar com ele. Enfim, vou conversar com a Pri, descobrir se não tem jeito mesmo de ela dar uma chance pra ele.
Na hora do almoço, o Gustavo apareceu, não trocamos nenhuma palavra, mas conversamos pelo olhar. Na hora do café da tarde foi a mesma coisa, se alguém olhasse duas vezes iria perceber que alguma coisa está rolando... Mas quem iria suspeitar?
(...)
Depois do trabalho eu tomei banho e me arrumei especialmente para o nosso encontro. Com essa saudade eu seria capaz de me jogar nos braços dele assim que eu o ver. COM ISSO É POSSÍVEL?
Quando ele chegou e ficou me esperando na frente do carro eu já estava quase subindo pelas paredes de tão nervosa. Cheguei até ele e fui recebida com um beijo intenso e longo, seu perfume me embriagou e cheguei a ficar mole de tanta paixão.
Fomos comer em um outro restaurante dessa vez, e quando terminamos fomos para o cinema e vimos um filme de comédia, rimos bastante e ficamos o tempo todo de mãos dadas.
Para a minha surpresa e decepção, ele me trouxe pra casa, me deu um beijo longo e foi embora dizendo que iria me ligar quando chegasse em casa. Eu queria algo a mais...
E ele realmente me ligou, conversamos como se não nos víssemos há anos. No decorrer da semana aconteceu do mesmo jeito. Saímos todos os dias e no final da noite sempre terminávamos com um beijo.
Uma noite ele veio em casa e fiz uma janta pra nós três: eu, ele e a Pri. Ela não gostou muito, queria sair pra nos dar privacidade, mas insisti e falei que gostaríamos que ela ficasse.
Ele disse que em breve vai organizar um jantar na casa dele pra me apresentar aos pais, estou nervosa quanto à isso.
Eu o convidei pra ir comigo ver a minha avó no feriado e ele disse que vai. Estou muito animada e ansiosa pra contar pra ela sobre ele. Só faz vinte e cinco dias que estamos juntos, mas parece que faz vinte e cinco anos.
(...)
— Quer fazer uma parada no próximo posto de gasolina pra comer alguma coisa, Ana?
— Não precisa, por mim podemos seguir reto.
— Mas eu acho melhor você comer alguma coisa, ou vai passar mal.
— Se você está insistindo, então pode ser.
Finji que eu não sabia que na verdade era ele quem estava morrendo de fome. Sorri disfarçadamente. Esse Gustavo é de outro mundo.
O que será que a minha avó vai achar dele?
— Está vendo aquela montanha lá? — apontou com o dedo ao longe.
— Aquela que se parece com umu mulher deitada?
— Sim, vou nomeá-la de Ana.
— O que? Posso saber porque?
— Porque eu imaginei você ali deitada, esperando por mim enquanto eu estou no banheiro.
— Gustavo, você é louco, cada coisa que você pensa que eu vou te falar, viu?
— Eu disse alguma coisa impossível? Por acaso quando a gente se casar você não vai ter que me esperar enquanto eu estiver no banheiro? E algumas vezes estará deitada, né? Então faz sentido.
Apenas sorri e não falei nada. Tenho medo de concordar com ele e daqui a pouco acontecer alguma coisa e a gente se separe. Tudo está perfeito demais que dá medo.
— Ali, vamos parar ali pra comer, você está muito magrinha.
— Aham, estou morrendo de fome — brinquei com ironia.
Acho que ele nem percebeu.
Quando paramos, enquanto ele pedia os lanches eu aproveitei pra ir no banheiro fazer xixi... Dei uma molhada no cabelo e lavei o rosto para desamassar. Quando sai pra fora da porta do banheiro ele estava me esperando com uma rosa nas mãos que ele comprou ali mesmo. Peguei sorrindo e lhe dei um beijo. Comemos e logo estávamos na estrada outra vez. Agora só faltam umas duas horas de viagem e então estaremos em nosso destino.
— Será que a sua avó vai gostar do presente que eu estou levando pra ela?
— Claro que vai, ela vai amar você só por esse gesto de gentileza.
— Eu quero que ela me ame, eu quero que ela me ame muito.
— Ela vai, vai te amar mais do que eu.
— Quer dirigir um pouco?
— Você sabe que eu não tenho carteira de motorista.
— Mas você sabe dirigir, né?
— Um pouco, a Pri me ensinou um dia desses.
— Então, quer dirigir?
— Não!? Tá louco? Imagina se eu bato um carro desse, como que eu vou fazer pra pagar o conserto?
— Não vai bater, eu estou aqui com você, vou te ajudar.
— Eu desconfiava que você não tinha juízo, Guga, agora eu tenho certeza absoluta que você não bate bem da cabeça.
Ele começou a rir e aumentou a velocidade do carro.
— Você vai ver quem que não tem juízo!
— Ah! Não! Vai mais devagar, Gustavo!
— Eu ainda nem cheguei nos 180km!
— GUSTAVO PARA ESSE CARRO QUE EU QUERO DESCER!
— Pense que estamos na montanha russa!
— Se a gente morrer não vamos poder nos casar!
— Relaxa e viva a vida!
— Diminua!
Tanto insisti que ele diminuiu. O meu coração estava acelerado de medo e adrenalina, mas eu gostei. Minha avó que me perdoe, mas eu gostei.