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Capítulo 13

Gustavo

Eu fiz a minha parte com o coração apertado. Fiz o possível pra ninguém notar a minha falta de vontade de estar ali, fingi me divertir e comi forçado, a melhor parte do meu dia era quando a noite chegava, eu luva a pra Ana e conversávamos por horas e horas até sermos obrigados a desligar. Não adianta, estou apaixonado por uma moça que conheci há poucos dias igual menininho bobo que acabara de ganhar um brinquedo e agora quer dormir com ele todos os dias. Finalmente chegou a hora de voltar pra casa, por sorte tivemos sucesso em nossa viagem e o meu pai comprou o resort, se fosse o contrário eu teria que aguentar o seu meu humor pelo resto do mês e seria mais difícil de ele aceitar que eu estou namorando e é pra vale. Pra falar bem a verdade do jeito que eu estou me sentindo eu pularia a parte do namoro e já a pediria em casamento hoje mesmo e faríamos uma longa viagem de lua de mil. Só de imaginar eu tocando naquele corpo eu fico em chamas... Vou preparar um clima romântico e único para a nossa primeira vez, pra fazê-la se lembrar pra sempre que ela é minha e eu sou dela.

Estamos no jatinho de volta pra casa.

— Pai, a nossa casa de campo já foi aberta? — questionei o meu pai, interrompendo as anotações que ele estava fazendo.

— Sim, há duas semanas, nunca deixo passar porque todos os anos eu vou lá para o meu retiro espiritual, — explicou me olhando sério.

— Estou planejando usá-la no próximo feriado — comento.

— Não se esqueça de levar o gás, a menos que esteja a fim de cortar madeira — voltou a sua atenção ao que estava fazendo.

— Eu vou cortar madeira, é assim que as pessoas fazem, né? Pra economizar dinheiro — já me imagino cortando a madeira enquanto a Ana me oferece um copo de água.

— As pessoas cortam porque precisam economizar, elas não o fazem por diversão.

— Me admira muito que o senhor não mande funcionários fazer tudo lá.

— Eu gosto de fazer as coisas com as próprias mãos de vez em quando, acho que é por isso que você às vezes tem complexo de pobreza, porque eu tenho umas manias estranhas.

— Bem de vez em quando eu o vejo sendo um homem normal.

— Eu sou um homem normal, a diferença é que eu sou vivido o suficiente pra não deixar me enganar pelas pessoas, sabe o que atrapalha o sucesso de um homem? Más influências que o levam para longe do caminho pra cumprir os seus objetivos... Não tem como você chegar a Roma se está caminhando com quem vai a Belém

— Com isso o senhor está me cutucando por causa dos meus amigos, né?

— Sim, você precisa de libertar deles, eles não vão te levar a lugar nenhum, são uns sanguessugas que vão roubar os seus projetos e quando você menos perceber vai estar igual eles.

— Eles não são sanguessugas, além do mais eu não misturo as coisas, eu sei como o trabalho deve ser feito e sei que tem horas pra tudo.

— Se eu falo isso é para o seu bem, não tem mais ninguém com quem eu me preocupo mais que você, você deveria ouvir tudo o que eu falo porque é tudo para o seu bem, escreve o que eu estou te dizendo... Esses seus amigos vão te decepcionar de uma maneira que te fará pensar igual eu, que pena que terá que ser assim, eu não quero vê-lo se lamentando, mas a vida é assim.

— Pai, isso aconteceu com você?

— O que aconteceu comigo?

— Você tinha amigos e eles decepcionaram você?

— Não, eu nunca me deixaria ser enganado.

— Então como pode pensar desse jeito?

— O meu pai, ele tinha amigos que andavam lado à lado com ele e na primeira oportunidade o apunhalaram pelas costas, por sorte o meu pai tinha sangue de guerreiro e deu a volta por cima, se hoje somos homens de sucesso é porque ele aprendeu como que funciona as coisas.

— Entendo o seu pensamento, mas não podemos julgar todo mundo com base no que uma única pessoa fez.

— É assim que as coisas são, como eu disse, você verá com os seus próprios olhos e tomará as suas próprias conclusões.

Isso que o meu pai fala não me abala nem por um momento. Eu sei que ele está muito enganado. Os meus amigos são amigos de verdade e não se importam com o meu dinheiro, eles nunca vão me decepcionar. Eu tenho pena do meu pai por ele não se permitir viver de verdade, ter pessoas que o amam de verdade, fazer coisas que despertem o espírito da vida.

— Por que o senhor faz retiro espiritual?

— Pra focar no que é importante e não adoecer, o terapeuta me indicou há muito tempo atrás e desde então eu me retiro e busco a minha paz interior.

— Por que nunca me convidou pra ir junto?

— É algo que eu tenho que fazer sozinho.

— Eu vou fazer um retiro espiritual também.

Meu pai sorri.

— Pode não funcionar pra você, cada pessoa tem a sua própria forma de se encontrar.

— Eu acho que eu me encontro em aventuras que fazem o meu coração esquentar e o meu corpo tremer de excitação.

— Sim, com certeza é a sua aérea, como quando você era criança e adorava irritar os cachorros só pra sair correndo deles.

— Sim, eu gostava da sensação de estar em perigo.

— Você era uma criança levada, deu muito trabalho pra mim.

— Em compensação, agora eu sou um filho exemplar.

— Precisa de uns ajustes, mas é um bom filho.

Sentei do lado dele e beijei a sua mão. O meu pai é um bom homem, por isso eu o ouço bastante...

Chegamos no aeroporto, pegamos o carro e voltamos pra casa, mas no caminho paramos no restaurante chinês pra comprar comida. Eu queria ir comer com a Ana, mas ele parecia tão empolgado em passar mais um tempinho comigo que eu não tive coragem de recusar... Amanhã eu vejo a minha namorada.

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