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Ok, eu não estava preparada para voltar a minha vida rotineira tão cedo, pois, cada passo que darei de hoje em diante do meu trabalho para o meu apartamento, me trará lembranças gostosas, que automaticamente se tornarão dolorosas. E, então percebi que tirar o dito cujo do meu sistema não será algo tão fácil assim. Deveras, tive que cancelar dois dias da minha maravilhosa férias no Havaí, devido à minha oportunidade única de crescer dentro de uma empresa de propaganda, onde oitenta por cento dos seus funcionários são homens, então já viu, né? Assumir as contas da Stand Peterson é o mesmo que tirar na sorte grande. Isso é praticamente nascer com a bunda virada para o sol, e após anos torrando ali, ela finalmente saiu da sua órbita e se virou para a lua. Era a minha chance de ouro. Penso quando ponho os meus pés no primeiro batente da escadaria do avião e sorrio para o céu nebuloso de Seattle. Levo a minha mão ao chapéu que o vento frio insiste em querer levá-lo para longe de mim e sigo apressada para dentro do saguão do aeroporto, e após fazer o meu check-in, vou direto para a garagem, onde deixamos o jipe do Javier estacionado. Rio ao me lembrar dos protestos dos meus amigos quando resolvi dizer sim para o retorno ao meu trabalho. Eu só não podia perder essa oportunidade. Sabe quanto tempo uma garota como eu luta para chegar a esse patamar em uma empresa de publicidade grande como a Insights Advertising? Eu lhes respondo, muitos, muitos anos. A não ser que você resolva abrir as pernas para o seu chefe, o que não é o caso, pois, o mesmo é muito bem casado como já mencionei. Contudo, tem o vice-presidente… credo! Só de imaginar aquele velho com aqueles cabelos de piaçaba debaixo daquele nariz fuçando a minha… Pronto, fodeu a minha libido por pelo menos uma década! Como farei isso agora, com essa imagem escrota desenhada na minha mente? Jogo a mala no banco traseiro do carro e entro, ligando a ignição logo em seguida. Enquanto dirijo, mantenho a minha atenção no trânsito calmo, na pista úmida e no céu que ameaça derramar água a qualquer momento, e quando chego ao centro da cidade, um trovão alto anuncia o temporal que está por vir. Quase meia hora depois, estaciono o jipe na garagem do meu prédio e após pegar a minha mala, vou direto para o elevador. Em questão de minutos já estou dentro no meu apartamento. Respiro fundo e evito olhar ao meu redor, também não fui para o meu quarto, aquele sim, seria o pior cenário para uma noite de insônia. Juro que estou contando os minutos para amanhecer e eu poder finalmente ir para a tão esperada reunião. Depois de um banho quente e de atacar literalmente a minha geladeira, sento bem no meio da minha cama e ligo a televisão. Evito os filmes de romances, os programas de encontros de casais, os shows ao vivo de encontros às cegas e paro finalmente em um programa que fala sobre animais, até que o narrador falar sobre o acasalamento entre os felinos. O que é isso, um complô contra minha pessoa? Desligo a TV imediatamente e me concentro em devorar um terço da torta que estava na geladeira, com um copo de refrigerante e meia dúzia de bombons de chocolate, com recheio de licor de avelã. O quê? Não me julguem! Estou deprê, ok? Quando termino, deixo a bandeja de lado e me deito, puxando o edredom para cima do meu corpo e me aconchego, apreciando o seu calor. Fecho os olhos e me forço a dormir. Abro os meus olhos e encaro o relógio digital em cima do criado mudo, e os números vermelhos gritaram pra mim que apenas uma hora havia se passado. Suspiro e me viro para o outro lado, e nada! Salto para fora da cama e resolvo pegar um livro para ler, quem sabe o sono não me vem de modo sorrateiro?
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Triiiiiiimmmmm! O som irritante do meu despertador me fez abrir os olhos pesados de sono e irritada, eu passo a mão pelo pequeno móvel, o derrubando no chão. Então levo o meu olhar para uma brecha de janela e noto o dia já claro lá fora. Me viro na cama com um resmungo e encaro o relógio que já marca quase oito e meia da manhã.
— Merda! Merda! Merda! — Salto exasperada para fora da cama, me enroscando no lençol e caio de bunda no chão frio. No ato, solto um grunhido abafado e me levanto rapidamente, correndo para dentro do banheiro. Eu preciso ser rápida agora, não posso chegar atrasada logo na primeira reunião com o senhor Peterson. Isso seria um ponto negativo na minha carreira inicial com a Stand Peterson. E, foi pensando assim que tomei o banho mais rápido do mundo, vesti minha melhor roupa, que vive separada para uma ocasião como esta, e fiz uma maquiagem rápida, tendo o cuidado de ressaltar bem os meus olhos castanhos claros. Não tive tempo de arrumar os meus cabelos, então, os prendi em um coque frouxo e após calçar os saltos altos, pego a minha bolsa e saio voando do apartamento. É claro que o destino não ia facilitar a minha vida, pois, assim que peguei o asfalto, encontrei um trânsito parado e xinguei um “porra” baixinho. Olho para os lados a procura de uma saída de emergência desse longo corredor de carros infernais e sorrio ao ver que a contramão estava liberada. Imediatamente saio da fila para entrar em uma rua paralela logo mais à frente, ligo o som do meu carro e tento relaxar enquanto dirijo para a empresa.
— Senhorita Andrada, em nome de Deus, eu já estava ficando maluca! — Sidney, minha secretária fala assim que me vê sair do elevador. — Liguei várias vezes para o seu celular, mas não atendeu nenhuma ligação.
— Oh, merda, esqueci o meu celular em casa! — xingo desanimada.
— O senhor Marrero já está lhe aguardando na sala de reuniões com o senhor Peterson. — Sinto um maldito frio tomar conta do meu estômago e encaro a minha secretária.
— Ok, Sidney, estou correndo para lá agora! Por favor, peça que leve um café, eu não comi nada, e você sabe que eu não sou ninguém de estômago vazio. — Ela me abre um sorriso nervoso e sai apressada para fazer o que lhe pedi. Sigo para o outro lado, tentando andar o mais rápido possível dentro de uma saia-lápis apertada e sinto o meu corpo esquentar, e consequentemente começo a transpirar também. Era só o que me faltava! Saio rapidamente do elevador e vou direto para a sala de reuniões, mas, antes de abrir a porta, ajeito alguns fios dos meus cabelos atrás da minha orelha, seco levemente a minha testa com um lenço de papel e respiro fundo, para enfim, abri-la. Ouço no mesmo instante as vozes masculinas, que conversavam animadamente lá dentro e forço um sorriso para não parecer nervosa, e entro, chamando a atenção do meu chefe sentado de frente para a porta.
— Olha ela ai! — Ele fala saudoso e se levanta para me receber com um forte aperto de mão.
— Desculpe o meu pequeno atraso! Sabe como é, chegar de viagem tarde da noite e ainda ter que lidar com esse fuso horário.
— Claro, Andrada! Venha, vamos começar logo com essa reunião, pois, o senhor Peterson tem alguns compromissos inadiáveis. — Ramon me aponta o caminho para a mesa e eu o sigo satisfeita. O homem elegante que ainda está sentado de costas para a porta se levanta, ajustando o seu terno escuro em seu corpo e após mexer em sua gravata, ele se vira para mim. — Vitória, este é Gustavo Peterson, o mais novo presidente da Stand Peterson.
— Você?! — perguntamos em uníssono. Eu o encarando duramente, porém, ele tem aquele sorrisinho ordinário no canto da boca.
— Vocês se conhecem? — Meu chefe parece surpreso e olha de mim para o meu perseguidor. Perseguidor sim, porque eu não vejo outra explicação para isso.
— Digamos que tivemos alguns encontros esporádicos — disse piscando um olho para mim. Bufo, mas bufo engolindo o som, a final essa conta era muito, muito importante para mim.
— Ora, que surpresa maravilhosa! Então, já que vamos dispensar as apresentações, eu vou deixá-los à vontade para conversarem sobre trabalho. — O Dom Juan fajuto abre um enorme sorriso e acena um sim, satisfeito para o meu chefe, e assim que o homem se move do seu lugar, eu o acompanho com passos curtos e, ao mesmo tempo, rápidos devido à saia apertada.
— Não posso trabalhar com esse homem! — cochicho exasperada ao lado do meu chefe. Ele me olha de lado, sem tirar do seu rosto másculo, contornado por uma barba muito bem feita um sorriso de dentes perfeitos que não se apagava.
— Do que você está falando, Andrada? Você sempre quis uma conta grande para administrar e agora tem uma — rebate com impaciência. Respiro fundo e olho rapidamente para trás, para o homem que tem os braços cruzados rente ao peito, de modo desafiador. Ele ergueu as sobrancelhas para mim e eu penso que eu estava ferrada.
— É que… é que…
— É que nada, Andrada! Volte agora mesmo até aquela mesa e faça o seu trabalho! — ordena com um tom firme na voz, que nunca ouvi sair da sua boca antes. Suspiro e suspiro de novo me sentindo completamente vencida, deixo meus ombros caírem e faço sim, com a cabeça, e por alguns míseros segundos, fico em pé olhando o meu chefe passar pela porta e fechá-la em seguida. Ok, não é algo tão impossível, certo? Eu só preciso ser profissional com ele, ser direta e encerrar essa reunião quanto antes. Penso me sentindo determinada e após puxar uma respiração profunda, viro-me para olhar o homem ainda em pé me olhando. Limpo a garganta e me forço a voltar para a mesa.
— Então, senhor Peterson, eu me chamo Vitória Andrada e de hoje em diante serei a pessoa responsável pelos eventos e propagandas da sua empresa. O senhor trouxe as ideias para os novos projetos? — indago de uma forma estupidamente profissional, mostrando lhe a cadeira para se acomodar e em seguida me sento e o olho em seus olhos. Ele não me responde, apenas arrasta uma pasta cor de chumbo, com as iniciais SP em tons de dourado e preto pelo tampo da mesa e a deixa bem na minha frente. Abro a minha bolsa e pego uma caixinha anatômica, com estampa floral, e tiro de dentro dela um par de óculos de grau e os coloco. Noto o olhar observador do meu mais novo cliente e dou de ombros, tentando focar no conteúdo da pasta. — Ideias interessantes, senhor Peterson! — comento sem tirar os meus olhos de cima do papel.
As empresas Peterson sempre investem muito dinheiro em suas propagandas, mas, acredite, não é qualquer propaganda, é algo excitante, exclusivo, empolgante e que mexe com vários públicos, seja ele feminino, ou masculino e tirando as crianças, todas as faixas etária são conquistadas por esse monstro dos cosméticos. O que isso quer dizer? Que terei que me destacar se não quiser perder essa conta para o Richard outra vez. Deu até uma descompassada no meu coração só de pensar nessa possibilidade. O silêncio do meu cliente seria bem-vindo, se não tivesse me incomodando tanto. Então baixo um pouco a pasta e o olho através da borda fina dela. Gustavo Peterson continuava com aquele maldito olhar cravado em cima de mim e incomodada, me ajeito na cadeira e cruzo as pernas com um pouco de dificuldade. Volto o meu olhar para o papel, mas não estou conseguindo raciocinar direito. Cadê a droga do meu café, por que ele não chega nunca? Um movimento na cadeira do outro lado da mesa me faz baixar a pasta e encarar o homem em pé na minha frente.
— Vamos! — Ele diz me deixando confusa.
— Como? — Volto a me ajeitar em cima da cadeira.
— Estou com fome, fofinha, e acredito que você também está. Então se falaremos sobre negócios e faremos isso enquanto comemos.
— Ok, senhor Peterson, precisamos estabelecer algumas regrinhas aqui. Primeiro, meu nome não é fofinha e se insistir nisso, farei questão de mostrar lhe o sentido contrário dessa palavra bem na sua cara. Segundo, preciso que me leve a sério se quiser que essa relação dê certo, e terceiro, não se iluda com as aparências, não estou com tanta fome assim!
— Desculpe interrompê-los! A senhorita Sidney pediu para servir um café aqui nessa sala, mas, como sei que a senhorita não trabalha bem sem tomar um café da manhã bem reforçado, tomei a liberdade de trazer algumas torradas e bolos. — Quase fulmino a Solange quando ela entra na sala tagarelando sem parar e segurando uma bandeja retangular recheada de comida, café e suco. Trinco os dentes ao perceber o olhar debochado de Gustavo em cima de mim.
— Do que você está falando, mulher?! — Quase berrei a indagação, fazendo a mulher parar dura no canto.
— Do seu caf…
— Eu não pedi nada disso, agora saia daqui! — Tadinha! A coitada da copeira olhou de mim para o Gustavo sem entender porra nenhuma.
Tanto a Sidney, quanto a Solange são muito grudadas em mim. Nós temos um tipo de cumplicidade de dá inveja em qualquer grupo de trabalho, até porque como já mencionei, somos a minoria aqui dentro. Contudo, depois desse vexame colossal, terei que fazer um sério pedido de desculpas a garota.
— Chega de jogar conversa fora, fofinha, ou, você vem, ou a reunião está encerrada! — Ele rosna, me despertando. Oi! Desde quando ele dá as ordens por aqui? Penso em rebater e mostrar lhe quem manda na porra toda, mas, ao invés disso, eu fecho a pasta, pego a minha bolsa, ajeito rapidamente no meu ombro e saio feito o Marvin, o ET da turma do Perna Longa.
— Dá esperar, ôh seu mal-educado? — ralho o olhando segui na minha frente com seus passos largos e elegantes. Ele para em frente ao elevador para apertar o botão e eu o alcanço quando as portas se abrem. Ele baixa o seu olhar, olhando direto para a minha saia, depois entra no elevador e se encosta na parede camurçada. Eu entro logo depois dele e as portas se fecham. Gustavo sai do seu lugar para apertar o botão do térreo e quando se afasta do teclado, para bem na minha frente e põe suas mãos nas laterais da minha cabeça. Engulo literalmente em seco e encaro um par de olhos negros vívidos e intensos. — O… que pensa que… está fazendo? — gaguejo. Merda, eu gaguejei e isso é imperdoável na minha atual situação!
— Se quiser realmente me acompanhar, teremos que tomar certas medidas providenciais. — Ele rosna baixo e um com tom firme e rouco
— Providenc… o que você quer diz… — Fico completamente sem palavras quando o meu cliente abaixa lentamente o seu corpo diante do meu e me esqueço de respirar, escutando apenas as batidas desenfreadas do meu coração e completamente desejosa, fecho os meus olhos esperando algo extraordinário acontecer. E, algo realmente extraordinário aconteceu. Gustavo segura a barra da minha saia e no segundo seguinte escuto o tecido se rasgar. — Que merda é essa? — berro enfurecida, ele ergue o seu corpo e depois me olhou nos olhos.
— Agora você consegue me acompanhar — ralha com um tom sério e se afasta. As portas se abrem e ele sai, mas, continuo lá colada na parede, o olhando. Provavelmente com uma cara embasbacada e de queixo caído. — Você vem? — indaga me despertando do meu estado de torpor.
— Você rasgou a minha saia! — brado, saindo do elevador.
— Não se preocupe, comprarei outra para você.
— Eu não quero que compre outra saia para mim, seu idiota! O fato é que você a rasgou! — rebato irritada. Ele destrava seu carro e abre a porta para mim, e antes que eu entre, e me acomode no banco, ele se aproxima e sussurra perto do meu ouvido.
— Devia ousar mais, Vitória, suas pernas ficaram lidas nessa fenda! — Viro o meu rosto lentamente e os nossos rostos ficaram muito, muito próximos. Não tive palavras para rebater, então apenas escorreguei para dentro do carro e caí sentada no banco do carona. Dessa vez, Gustavo não riu, ele continuou sério, fechou a porta, contornou o carro e se apossou do volante.
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O trajeto até o café foi feito em silêncio. O tempo todo fiquei com a cara enfiada nos papéis e nos meus ouvidos só ecoavam as últimas palavras do meu cliente cafajeste… “suas pernas ficaram lindas nessa fenda!”. Ok, eu tenho espelho em minha casa, um daqueles bem grandes que mostra você da cabeça aos pés e acredite, eu me olho nele diariamente, e me acho gostosa pra caralho! Tenho as pernas roliças, um quadril largo, busto cheio, seios grandes e apesar de ser gordinha, não sou barriguda, mas, o fato de o senhor Peterson verbalizar algo sobre gostar das minhas pernas me deixou… Como posso dizer isso? Com a minha autoestima em alta, bem lá no cume mesmo, no pico do Everest. Viro o rosto para a janela para rir, pois, não quero que ele testemunhe esse sorriso espontâneo, menos ainda que descubra que gostei do elogio. Então respiro fundo, fecho a cara outra vez e volto para os papéis.
— Você não é muito de conversar, não é? — pergunta quando para o carro no sinal vermelho.
— Se formos falar sobre negócios, é para isso mesmo que estou aqui. — Olho para o lado e encontro um par de olhos divertidos me encarando.
— Você é sempre assim? — Ergo as sobrancelhas.
— Assim como?
— Durona, sempre na defensiva. Olha se está pensando que quero te comer…
— Não ouse terminar essa frase, senhor Peterson! — O advirto duramente e o imbecil sorri ainda mais.
— Ok, então eu não terminarei minha frase, senhorita Andrada! — O QUÊ?! Como assim ele não vai terminar a maldita frase? A culpa é sua Tuca! Agora não saberei o final dela. A minha libido gritou pelo meu corpo inteiro. Ah, sim! Eu tenho uma certa intimidade com a minha libido e às vezes posso dizer que ela é um tanto fresca demais e cheia de vontades também. Que importância tem de saber o que o idiota do meu cliente sente ou não vontade de comer? Bufo mentalmente. — Chegamos! — Ele avisa e eu olho para fora da janela e depois o encaro possessa.
— Não acredito que me trouxe para esse lugar! — ralho entre dentes. Gustavo me lança um olhar confuso, que eu bem sei, acreditem, que de confuso ele não tem é nada! Ele fez isso de propósito, eu sei que sim!
— Não gosta do Breackfast? Dizem que o café daqui é uma delícia!
— Eu amo o café daqui! Mas, acontece que o meu cliente imbecil rasgou a minha saia e eu não vou entrar ali desse jeito! — rebato furiosa.
— Deixa de frescura, Vitória! — rebate e sai do carro. Solto um grunhido estrangulado, fechando uma mão em punho, simulando a sua garganta entre os meus dedos, apertando com força e por fim olho para o céu.
— Tinha que ser ele, né? Porra Deus, eu queria uma oportunidade do cacete, mas precisava ser com esse idiota?! — Pois é, eu reclamei diretamente com o criador, a final ele sabe de tudo e podia ter evitado esse estrago.
— Vamos, Vitória, não temos o dia inteiro! — Gustavo rosna. Abro a porta do carro puta da vida e engulo uma resposta à altura, a final, quanto mais cedo começarmos essa maldita reunião, mais cedo me livrarei dele. Ergo a minha cabeça e dou alguns passos firmes, porém, elegantes e paro ao seu lado. Ele fez um gesto com a mão, me incitando a seguir na sua frente e eu faço sem reclamar. Gustavo escolhe uma mesa afastada, em um local mais reservado e educadamente ele puxa uma cadeira para mim e eu me acomodo. E, quando se senta do outro lado da mesa e de frente para mim, ponho a pasta em cima da mesa e a abro. Puxo o folego para falar algo, mas ele ergue um dedo e eu paro, engolindo o ar que deliberadamente puxei. — Agora não, Vitória, primeiro, pediremos o nosso café da manhã, depois, comeremos algo e só então, falaremos de negócios.
— Alguém já te disse que você é mandão? — resmungo entre dentes. Ele faz sinal para uma garçonete e depois me olha.
— E alguém já te disse que você é frustrante?
— Imbecil! — rebato. A garçonete se aproxima e pegamos o cardápio em cima da mesa.
— O que vai querer, Vitória?
— Depende, você vai pagar a conta? — Ele arqueia as sobrancelhas para mim.
— Eu jamais faria algo desse tipo com você, não nos dias de hoje. — Semicerro os olhos.
— Não entendi.
— Vocês mulheres lutam por igualdade, certo? E imagino que isso inclui dividir uma conta. Então não, não pagarei a conta, nós dividiremos. — rolo os olhos.
— Lindo, gostoso, rico e mão de vaca, uma combinação em tanto! — Ele sorri para o meu comentário e pisca um olho.
Ok, é oficial, eu odeio o meu novo cliente!
NOTAS DO AUTOR:
Quem diria que o seu novo cliente seria o mesmo carinha do Havaí, fofinha? Isso não vai prestar. hahahahahaha