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Ser solteira não é algo tão difícil de se levar. É praticamente como andar de bicicleta. Você nunca se esquece o gostinho da liberdade, e para obter sucesso, e não ficar pelos cantos remoendo o passado de uma companhia que não te pertence mais, existem algumas regrinhas básicas que você precisa pôr em prática em sua nova vida de solteiro. E a principal delas, e que não devemos descartar de maneira alguma, é voltar para sua badalada vida nas redes sociais, e resgatar aqueles contatinhos que ficaram esquecidos na sua agenda. Olho para o espelho e mexo o meu corpo de uma forma graciosa, vestindo apenas um biquíni com um decote tipo cabresto e uma tanga com nós laterais. Solto os meus cabelos, ponho um elegante chapéu de abas largas na cabeça, e um par de óculos escuros, e enfim, aponto a câmera do celular para o alto, onde a minha imagem surge exibindo a enorme porta dupla da majestosa varanda, com a vista de uma bela praia exótica bem atrás de mim. Abro um sorriso extravagante e clico, e logo depois, jogo a imagem no Instagram com uma #solteira destacando na postagem. Não demorou muito para que os likes e comentários começassem a surgir. Satisfeita, pego minha bolsa de praia estufada e vou à luta, se é que vocês me entendem.
— Jesus, que foi isso mulher?! — Mirela cantarola me olhando dos pés à cabeça e chama a atenção de Javier e de Val que tomam café da manhã — em pleno meio-dia, e sorrio me achando.
— A mulher resolveu mesmo sair do armário! — Javier comenta, fazendo graça e solta um assobio apreciativo.
— Eu pegava na maior! — Val fala e quando me aproximo, os três vêm me dá aquele estimado abraço coletivo. Amigos que elevam a sua autoestima é outro nível. Não que eu precise disso, mas elogios nunca é demais!
— Todos prontos para um dia de praia? — pergunto festiva e eles se animam gritando um “só se for agora!” e logo todos saímos do hotel.
Do lado de fora, o clima é quente e agradável, ao mesmo tempo. Típico para pegar um bronze maravilhoso e ainda paquerar os surfistinhas, que resolverem aparecer por aqui. Me livro dos saltos Anabela e os seguro entre meus dedos, enquanto sinto o calor da areia branca e solta debaixo dos meus pés e caminhamos até encontrar um ponto estratégico para nos acomodar. Decidimos ficar em um local perto de alguns quiosques estilo havaiano, para o fornecimento das bebidas e bem próximo ao posto salva-vidas, para limpar as nossas vistas. Vocês entenderam, não é? Abro a minha bolsa e tiro a minha toalha de dentro, e quando me preparo para estendê-la na areia, sinto um forte impacto na minha bunda e automaticamente, sou jogada na areia. Rasgo um: “FILHO DA PUTA!” e me levanto, limpando a areia do meu corpo, para ver quem foi o idiota que acabou de estragar toda a minha performance. Quando encaro os enormes pés descalços — e que pés eram aqueles?! — e depois deixo os meus olhos subirem pelas pernas peludas. Estaciono na sunga, que tem um volume protuberante bem em cima da estampa de um coqueiro. Juro que cheguei a salivar ao ver aquele pacote envolvido em uma malha azul-celeste, mas, tudo caiu por terra quando ouvi a voz máscula falar de uma forma até educada.
— Desculpe, moça, eu não a vi quando fui pegar a… bola! — O cara quase não concluiu sua frase, quando ergui os meus olhos e o encarei.
— Você de novo?! — indaguei irritada, na verdade, possessa. E, a coisa só piorou quando o infeliz sorriu para mim, erguendo as suas sobrancelhas de uma forma divertida.
— Fofinha? — Ele disse e eu fechei as minhas mãos em punho.
— Fofinha é a puta da sua…
— Oh, oh! Vê lá o que vai falar, hein?! — advertiu-me de modo debochado.
— Espera, vocês se conhecem? — Mirela pergunta, achando graça da situação.
— Sim!
— Não! — Respondemos ao mesmo tempo. Bato uma mão na outra, para me livrar da areia colada na minha pele e o encaro com rispidez. — Escuta aqui, ôh metido a playboy, o fato de ter me oferecido uma bebida em um bar não faz de nós dois conhecidos! — ralho possessa.
— Faz, quando de alguma forma compartilhamos a mesma bebida — Ele rebateu fazendo graça e os meus amigos imediatamente olharam para mim.
— Só para entender, vocês dividiram o mesmo copo? — Javier questionou, me olhando com curiosidade.
— Quase isso.
— Não! — Respondemos ao mesmo tempo outra vez, e o encarei com fogo nos olhos. — Você não está me seguindo, está? Porque se estiver, saiba que isso é crime e eu posso processá-lo por isso. — O acusei e ele riu. Filho da mãe, ele está se divertindo com essa situação ridícula!
— Não seja ridícula, fofinha! Estou curtindo as minhas poucas horas de férias aqui e que eu saiba, cheguei aqui primeiro, então eu podia acusá-la de fazer o mesmo. — Ri do seu comentário absurdo, mas eu ri com vontade mesmo.
— Nem se me pagassem todo o dinheiro desse mundo viria atrás de você, resto de Don Juan! Agora vaza, que você está bloqueando o meu sol! — Pus os meus óculos escuros, lhe dei as costas e me concentrei em abrir a minha toalha na areia, ouvindo um som baixo que dizia “que delícia!” Pensei em rebater tal audácia, mas fiz vista grossa e me deitei no pano macio. Fechei os meus olhos e tentei relaxar, para apreciar bem o calor do sol.
Então, sobre esse tipinho que vocês acabaram de ver nesse episódio, não se enganem não, é uma armadilha! Sabe o cara gostosinho, todo sexy, metido a engraçado e, ao mesmo tempo, educado, que surge do nada na sua frente e tenta te envolver de alguma forma? Se afaste! É um conselho de amiga, para aquelas que acabaram de sair de um relacionamento que era um sonho e que de alguma forma se tornou um pesadelo. Essa categoria de Ken que fugiu do mundo mágico da Barbie, simplesmente não existe. Então pelo amor de todos os santos, que ajudam as solteiras desiludidas, não caiam nessa!
Minutos depois, senti minha pele esquentar consideravelmente e resolvi passar um protetor solar. Sentei-me em cima da toalha, no exato momento que um rapaz trouxe uma bandeja com as nossas bebidas. Abri a minha bolsa e pequei o creme para espalhar no meu corpo e ergui os meus olhos para apreciar a vista. Foi quando o vi dá um salto na areia e bater com força na bola, que atravessou a rede estendida na sua frente e bateu com violência no campo do adversário. De quem estou falando? De um certo Ken moreno, o tal fugitivo do mundo dos brinquedos — e que brinquedo, Deus do céu! A Barbie realmente sabe o que é viver! — Suspirei e peguei o meu copo de vodca com limão e gelo, que estava ao meu lado e bebi um gole considerável. Santo Deus, nunca façam a merda que acabei de fazer. A porra da vodca desceu queimando tudo dentro da minha garganta e automaticamente os meus olhos se encheram d`água e eu puxei a respiração, tentando sobreviver a esse quase afogamento alcoólico.
— Eita! Está tudo bem por aí? — Val indaga, arregalando os olhos em minha direção. Forço um sorriso para a minha amiga e sem condições alguma de lhe responder, faço um legal para ela com meu polegar.
— Miga, vou te dizer uma coisa, se você não quiser, eu quero! — Mirela resmunga, praticamente babando na cena a nossa frente. Gustavo tirou os óculos, ergueu os braços para o alto, para alongar as costas, que ressalta cada músculo do seu corpo e em seguida ele correu de encontro ao mar, que trazia algumas ondas altas para a margem. Ele se jogou ali, inclinando o seu corpo e sumiu nas águas esverdeadas. Esvaziei o meu copo diante daquela maldita e deliciosa visão.
— Hum, pode ficar! — rebato com desdém e ela sorri, dando de ombros.
— Santo Deus, estou passando mal! — Val disse, dando algumas pancadinhas com as pontas dos dedos no seu peito do lado do coração.
— Cacete, me segure, senão eu vou atacá-lo! — Mirela sibilou, pegando a minha mão para eu segurar em seu braço. Sem entender toda essa cena dramática, olhei na direção que elas olhavam de uma forma fixa, e quase tive um infarto, quando vi Gustavo sair da água, sacudindo os cabelos encharcados e água me fazia inveja, escorrendo por todo aquele corpo bronzeado. Ele caminhou pela areia, pegou as suas coisas no chão e veio em nossa direção, parou bem na minha frente e olhei aquele monumento parado ali.
— Divirta-se fofinha, para mim já deu! — Ele piscou um olho e pôs seus óculos de sol, e eu juro que senti todas as minhas entranhas se esquentar por dentro e derreter na mesma hora.
Quê que isso, mulher de Deus? Se recomponha! Me repreendi imediatamente.
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Melhores amigos, melhores eventos. Eu não faço a menor ideia de como eles descobrem esses lugares, mas eles descobriram uma amiga havaiana rolando na mansão de um ricaço e acreditem ou não, entramos de penetra. O lugar está simplesmente bombando e o tema da festa é piscina. Ou seja, nada de roupas elegantes aqui e nada de requinte também. Os convidados são todos barulhentos e dentro da enorme piscina acontece de tudo, então nem em sonho que eu entrarei ali. O local está iluminado por um tipo de lanternas de papel, o que deixa o ambiente agradável e o som alto, as luzes coloridas piscando e a variedade de bebidas é quem garante toda animação da galera. E eu dou um doce, se vocês adivinharem aonde eu estou exatamente agora. Ganhou o meu docinho quem pensou em uma pista de dança lotada e acrescento um pouquinho de creme de leite por cima para quem imaginou que estou segurando um copo da minha bebida preferida. Gente, os havaianos sabem se divertir. Isso aqui não é apenas um paraíso tropical, é “O PARAÍSO” em todos os sentidos de uma boa vida. Bebi um pouco da minha bebida, ergui os meus braços e de olhos fechados, me deixei levar pelo ritmo dançante. Meus amigos estão a minha volta, se divertindo como nunca e pela primeira vez desde que chegamos aqui, eles não estão caçando ninguém para levar para cama. É só diversão mesmo.
— Quem quer mais bebida? — Javier perguntou quase aos berros, por conta do som alto. Esvaziei o meu copo e sorri sentindo a minha cabeça dá um leve giro.
— A minha acabou de acabar — falei alto e perto do seu ouvido.
— Eu quero fazer xixi. — Val gritou em seguida.
— Eu vou com você. — Mirela se ofereceu. — Você vem? — perguntou, mas sério, estava tão gostoso ficar aqui, que eu disse não com a cabeça. Eles se foram e eu continuei com a minha dança. Eu simplesmente adoro dançar e fiz muito isso com vocês sabem quem. O quê? Decidi não falar mais no nome do dito cujo. Eu sei que parece infantilidade, mas não é. É só uma maneira de lança-lo no mar do esquecimento de vez por todas, embora como vocês acabaram de ver, o infeliz vez ou outra me vem ao pensamento. Enfim, eu adoro dançar e trocar isso aqui pelo xixi da Val e da Mirela está fora de cogitação. O meu ritmo começou a esquentar, quando senti um par de mãos grandes e quentes envolver a minha cintura e seja lá quem estiver atrás de mim, começou a roçar o seu corpo no meu, seguindo o meu ritmo. Gostei disso e me deixei levar. Aos poucos os meus amigos foram voltando. O Javier me entregou mais uma bebida e logo me vi envolvida demais outra vez.
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— Hum! Alguém desliga essa sirene pelo amor de Deus! — resmunguei jogando o meu travesseiro na direção do som alto demais. A minha cabeça pulsava de dor e a claridade que vinha das janelas parecia que ia explodir os meus olhos. — Hum! — gemi, pegando outro travesseiro e pus em minha cabeça para abafar o som e me esconder da luz. O silêncio voltou e eu sorri aliviada, sentindo o sono tentar me abraçar de novo.
— Mas que merda, alguém atende a droga desse telefone! — Mirela gritou, jogando o seu travesseiro em mim. Eu ergui uma brecha do meu e me forcei a abrir os olhos, então percebi que o telefone que insistia em tocar era o meu.
— Foda, quem é o louco que está me ligando a essa hora da madruga? — resmunguei baixinho, me forçando a sair da cama e peguei o aparelho em cima do criado mudo, o atendendo sem olhar quem era o infeliz.
— Até que enfim! Tuca, você precisa voltar.
— Ramon? O que houve? — Ramon Marrero é o delícia do meu chefe. O cara é podre de rico, apesar de ser tão jovem, lindo, sarado e... estupidamente apaixonado e casado, portanto não é da minha ossada. Mas é um cara quase legal. Quase porque já faz mais de três anos que eu trabalho para ele e espero ansiosa por uma boa promoção, mas o carinha não tem me dado a menor chance. O que é ridículo, porque eu sou muito boa no que faço. Isso é o fator "homem" que está sempre em primeiro lugar, em qualquer parte do mercado de trabalho, então a "mulher" aqui que lute para ganhar o seu lugar ao sol.
— Surgiu um cliente novo para você. Uma conta que não podemos perder por nada desse mundo.
— Cliente novo? Ramon, eu estou de férias — rebati consternada.
— Eu sei. Por mim, deixaria você curtir as ilhas e tudo mais por um mês inteiro.
— Mas?
— Peterson quer você administrando a propaganda dele.
— Peterson, quem porra é Peterson? — O homem bufou do outro lado da linha.
— Das indústrias de cosméticos. — Eu quase gritei um “Eitxa Porraaaaa”! Quando ouvi de quem se tratava.
—Guido Peterson me quer? — Exasperei.
— Não, mas o filho dele, sim. Guido acabou de se aposentar e o seu único filho e herdeiro assumiu todas as empresas, e parece que não está muito satisfeito com o trabalho do Richard. Ele quer você aqui e quer para ontem.
— Estarei aí — falei sem titubear e escutei um; “yes” do meu chefe do outro lado, antes de encerrar a ligação. Olhei a hora na tela do celular e quase caí para trás, quando vi que já era uma e meia da tarde. — Cacete! — Xinguei surpreendida, sem acreditar que dormimos por mais de doze horas. Mas estava feliz demais para me apegar a esse fato.
A Stand Peterson, além de ser uma das maiores empresas de exportação de produtos de beleza do país e do mundo, é também uma das maiores e melhores contas que a Insights Advertising possui e se brincar, é a que mais rende na empresa também. Saber que o mais novo presidente desse magnífico império prefere a mim, me deixa a cima do auge da minha autoestima profissional. Sorri amplamente e me apressei a ir para o banheiro. Preciso de um banho gostoso e demorado para despertar e começar a providenciar o meu retorno para Seattle quanto antes. Meus amigos vão pirar, mas não no bom sentido. Com certeza depois de tudo que passei com Marrero dentro daquela empresa, catando as migalhas e praticamente implorando por uma boa promoção, eles não vão ficar muito satisfeitos com o fato de euzinha interromper as minhas merecidas férias, só para livrar a bunda branca do meu chefe. Mas vai, a vida é feita de sacrifícios e ficar com a conta que era do metido a gostosão do Richard é praticamente uma glória para mim. Horas mais tarde eu estava de banho tomado, com as malas prontas e sentada na frente do computador a procura do próximo voo para Seattle. A campainha tocou e eu me levantei do sofá ansiosa pelo brunch que havia pedido minutos atrás. Com certeza o cheirinho dessa comida os tiraria da cama. Pensei quando o rapaz entrou no quarto, carregando o carrinho recheado de pratos deliciosos.
— Que cheiro divino! — Mirela falou, surgindo na sala, envolvida em um roupão branco e felpudo e foi direto para o carrinho, atacando as maravilhosas rosquinhas açucaradas. Sorri para a minha sagacidade e depois de dispensar o funcionário do hotel, me aproximei para pegar um potinho de pudim.
— Nossa, meu estômago está parecendo Luciano Pavarotti quando canta a mais alta nota do tenor, de tão alto que está roncando. — Javier disse, alisando sua barriga e se juntou a nós duas. Rimos do seu comentário.
— Ai, merda! Quem pôs essa mala no meio do caminho? — Val resmungou e veio cambaleando para o centro da sala.
— Fui eu — falei atraindo a atenção de todos para mim.
— Estava pensando em ir embora sem falar conosco? — Val questionou imediatamente.
— Por Deus, mulher, me diz que não está tendo uma recaída e está indo atrás do traste do Alec? — Imediatamente a criatura levou a mão ao peito e puxou a respiração como se o ar lhe faltasse e eu rolei os olhos para a ideia estúpida da minha amiga.
— É lógico que não, Mirela! — rebati. — O Alec não passa de um defunto para mim. Está morto, mortinho da Silva e enterrado — enfatizei.
— Então, qual é o da mala? — Meu amigou indagou e os três olharam para mim com uma enorme interrogação na testa. Abri um sorriso largo para eles e juntando as minhas mãos debaixo do meu queixo, reprimi uma explosão de felicidade.
— Recebi uma ligação essa tarde.
— E?
— Eu ganhei a minha oportunidade de ouro. — Praticamente grunhi a novidade.
— Como assim? Ah, já sei, resolveu dar uma chance para o moreno da praia. — Val abriu um sorriso sabichão e eu soltei o ar com força. Ela não podia apostar na pior na sugestão.
— Qual a parte do sexo sem compromisso que eu não quero por hora, vocês não entenderam? — rebati sem humor.
— Se eu fosse você, colocaria um cinto de castidade nesse negócio e um anúncio bem grande dizendo, falência total. Tuca, não é porque o Alec aprontou contigo, que o sexo foi banido da sua vida, eu hein! — Mirela ironizou e eu ri pra ela debochadamente.
— Nem vou rebater esse seu comentário absurdo, porque estou feliz demais para isso. Meu chefe me ligou para me dizer que a conta Stand Peterson é minha. — Agitei, jogando os braços para o alto e logo em seguida um couro de gritos eufóricos surgiram na sala. Eles me abraçaram de forma coletiva e nós começamos a pular em círculo.
— Parabéns, Tuca! — Eles diziam e repetiam várias vezes em meio a esse abraço animado.
— Espera, mas você vai voltar hoje para Seattle? — Mirela indagou, acabando com a festa de todos.
— Pois é, eu prometi para o Ramon que voltaria ainda hoje. O problema é que eu só estou encontrando voo para Seattle para o início da noite.
— Nesse caso, temos tempo — disse me deixando atônita.
— Tempo, tempo para quê?
— PARA COMEMORAAAARR! — Os malucos gritaram me fazendo gargalhar.