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QUATRO

Assim que o rapaz foi embora da pracinha! Fiquei por mais uns instantes pensando em toda a merda que era a minha vida, e no quanto eu queria que ela mudasse.

Limpei as lágrimas! Segurei firme a folha de papel com o meu desenho! E saí dali disposta a tomar uma decisão na minha vida!

Assim que cheguei no campus fui direto ao meu dormitório! Dormitório esse que agora eu habitava sozinha! Já que devido à tantas insistências do Silas, eu havia saído do quarto da Bruna, e por falar na peça, ele foi a primeira pessoa que eu encontrei ao voltar a faculdade.

— Meu amor! Me perdoa! Olha pega o celular! Eu fiz uma varredura nele e realmente não achei nada demais! Gatinha eu não fiz por mal! Mas você me deixou nervoso! Você sabe que eu morro de ciúmes de você e mesmo assim fica me provocando! Fica deixando esses caras se aproximarem de você! Se não fosse por isso eu não teria feito nada daquilo!

— Acabou tudo Silas. - Disse para ele friamente e ele me abraçou e começou a chorar.

— Não diz isso meu amor! Eu te amo! Eu te amo muito entendeu? Olha! No começo você me atraiu, e você é a garota mais linda que já pisou nessa faculdade! Aliás! Nessa cidade! Então lógico que você tinha que ser minha namorada! Mas Tais eu me apaixonei por você de verdade! Eu te amo! Eu te amo muito!

— Me solta Silas! Tira suas mãos de mim! - Eu pedia, mas ele insistia, ele não me soltava, quanto mais eu pedia pra ele me largar, mais ele me apertava.

— Eu não vou aceitar isso! Eu te amo! Você é minha! Só minha e de mais ninguém! Entendeu? Você me pertence! A gente não vai terminar! Me perdoa amor.

— NÃO É SÓ VOCÊ QUE DECIDE ISSO! - Falei o empurrando bruscamente. — Eu disse que não quero mais namorar você! Eu estou terminando tudo! Não estamos mais juntos! Entendeu?

Cuspi as palavras em sua cara totalmente decidida! E  então ele olhou para os dois lados e como viu que o corredor estava vazio, me empurrou contra a parede e apertou forte o meu braço.

— Olha aqui! Quem você acha que eu sou? Acha que pode ficar me descartando como se eu fosse um nada?

— E o que você vai fazer? Me bater? Eu já apanhei e não tenho mais medo de você!

— Deveria! Sabe a sua irmãzinha! É lógico que ela não chega aos seus pés! Mas até que ela gostosinha!

— Deixa a Laís fora disso!

— Eu até que deixo! Eu só tenho olhos pra você! Mas eu tenho vários amigos que adorariam topar com ela em alguma viela! Sabe, ela faz muita faxina por aí! Seria triste se algum grupo de marginais esbarrasse com ela em algum beco escuro e...

— Chega! - falei assustada.

Apenas imaginar uma crueldade dessas com a minha irmã me fazia revirar as entranhas, e o pior é que esse psicopata não tá brincando, ele era cheio de amigos, e tinha uns completamente mal encarados, apesar dele ser playbozinho e estudante de direito, o Silas era metido com muita coisa errada, inclusive vender drogas para o pessoal da Facul, e não era por causa de dinheiro, era puramente por diversão.

— Eu.... eu… - fico sem saber o que dizer.

— Vai continuar comigo? - ele pergunta e eu me rendo.

— Sim! - Respondi tentando engolir o choro.

— Eu vou provar pra você que eu sou o melhor namorado que você poderia ter meu amor! Você não vai se decepcionar! O nosso amor é lindo! Você tem que entender que tudo o que todas essas coisas que eu digo e faço, é pela gente!

Todas aquelas palavras que o Silas dizia me dava náuseas, ele não sabia, mas já fazia muito tempo que ele me enojava, e definitivamente eu não tinha mais medo dele, não por mim, mas eu tinha muito medo do que ele poderia fazer com a minha irmã.

Eu continuei com ele! Mas algo havia mudado em mim desde que havia encontrado aquele garoto na pracinha! Eu agora tinha novamente vontade de viver! Uma nova chama havia se acendido dentro de mim, e eu iria lutar pela minha liberdade!

Mais do que decidida! Coloquei um anúncio na internet procurando emprego! Em pouco tempo, recebi convites de vários homens de todas as classes e idades, me solicitando como acompanhante de luxo, o que me fez chorar de raiva, e excluir o meu perfil na mesma hora do site de empregos.

Então eu reservei um momento do meu dia! Geralmente a tardinha para distribuir eu mesma o meu currículo nos demais estabelecimentos de Teresina! E sempre que eu finalizava, ia direto para aquela pracinha, eu queria muito encontrar o garoto loiro novamente, eu ansiava por olhar mais uma vez em seus olhos, por ouvir mais uma vez a sua voz.

Nisso já haviam se passado duas semanas e nada de eu reencontrar o garoto, e também nada de conseguir um emprego, mesmo assim eu não desisti, todos os dias eu procurava emprego, e depois voltava à pracinha.

E assim veio o mês das férias! Eu consegui arrumar um emprego como garçonete em um restaurante! Eu fiquei tão feliz que nem conseguia explicar, ao contrário do que sempre dizia a minha mãe, eu consegui sim um bom trabalho sem precisar usar a minha beleza pra isso, e estava tão feliz e orgulhosa de mim mesma, que as idiotices do Silas já nem me importavam mais, e este por sinal estava cada vez mais envolvido com gente perigosa, metido em festas quase todos os dias com as amigas dele, o bom era que contanto que ele soubesse que eu estava em casa, não me importunava, e eu podia trabalhar e descansar tranquilamente, quanto ao que ele fazia ou deixava de fazer por aí, pouco me importava.

E sobre o garoto da pracinha! Eu já estava quase perdendo as esperanças! Já tinha colocado na cabeça que ele havia sido um anjo que tinha vindo fazer apenas uma breve visita para me resgatar das trevas e me fazer voltar pra luz, ele seria uma lembrança maravilhosa que eu guardaria para sempre.

Foi aí que as férias acabaram! E com o novo semestre vieram novos cursos, e consequentemente novos alunos! E em um belo dia eu estava sentada na grama do pátio estudando durante o intervalo, quando de repente eu o vi passar pelos portões e adentrar o campus, e o meu coração parou nesse momento.

Ele se destacava no meio dos outros alunos! E chamou a atenção de todas as garotas, inclusive a minha, ele parecia ainda mais lindo do que a última vez em que eu o havia visto, logo os burburinhos para saber quem ele era começaram, e o que eu mais achei bonito no jeito dele, era que ele parecia alheio a tudo isso.

Fiquei observando ele por mais um tempo! Lógico que com muito cuidado! Pois a Soraya e a Karin continuavam me vigiando para fazer fofoca para o Silas, mesmo assim eu percebi que o garoto loiro ia em direção ao prédio onde funcionavam os cursos relacionados a arte, então eu disfarcei durante um breve momento, e fui até o meu dormitório, de lá peguei o segundo corredor e fui sem mais demoras para o prédio de artes.

Caminhei um pouco em meio aos alunos, ficava de olho nas salas, tinha muita gente, mas ele não se encontrava em lugar nenhum! Foi aí que eu cheguei até a saída do prédio, e observei que em seu exterior havia um grande campo, maior o pátio das disciplinas exatas onde eu continuava estudar, era um campo muito grande, com muitas árvores e por trás destas havia a entrada de uma floresta.

Fiquei caminhando por um longo tempo! Admirando aquela paisagem que para mim era totalmente nova, os alunos do outro lado do campus dificilmente andavam por aqueles lados, e eu estava achando o espaço um lugar bem lindo, silencioso, calmo e que transmitia muita paz.

Então já no finalzinho do campo, em um cantinho embaixo de umas árvores, eu o vi sentado, e de repente uma alegria que há muito tempo eu não sentia tomou conta de mim, e sem ao menos perceber comecei a andar em sua direção.

Quando ele percebeu que havia alguém se aproximando se assustou e ficou balançando as mãos, então eu parei imediatamente, fiquei com medo dele não me reconhecer, mas quando o vi fixar o olhar na árvore à nossa frente e se acalmar aos poucos resolvi puxar assunto, mesmo estando a mais de um metro de distância.

— Desculpa! Eu não quis assusta-lo! - Falei olhando diretamente para a árvore.

_ Não assustou! - Ele disse bem baixinho, ou foi o que eu pensei que ele tivesse falado, então eu me aproximei um pouco mais, mesmo correndo o risco dele se afastar de mim e ir embora, mas eu estava muito curiosa, ele chamava muito a minha atenção, o que era impressionante, porque geralmente era eu quem me saía dos demais garotos.

Mas para a minha felicidade ele não se levantou, continuou no mesmo lugar quando eu sentei ao seu lado, com as pernas cruzadas e as mãos juntas em cima das folhas de papel que estavam em seu colo.

— Pode continuar o seu desenho! Finge que eu não estou aqui! - Falei baixinho no mesmo tom de voz dele.

_ Impossível fingir que você não está aqui! - Quando ele falou isso eu imaginei que meu coração iria sair pela boca, de tanto que ele saltitou.

— Eu sou a Tais!

— Taiiis!

Ele parecia saborear a palavra, ouvi-lo dizer o meu nome dessa maneira fez um longo arrepio percorrer todo o meu corpo, sua voz era baixa, rouca e arrastada, ele não tinha noção, mas seu timbre de voz era extremamente sensual.

— Fico feliz que nossos caminhos tenham se cruzado novamente Tais! Eu sou o João! Mas você pode me chamar de seu Super Herói! - Eu sorri quando ele disse isso! E também de alegria ao perceber que ele se lembrava de mim. — O seu nome é muito bonito João! Você também pode me chamar de Tata!

Assim que disse isso, percebi o rosto dele ficar vermelho, ele era branquinho, então dava pra perceber ele corando com muita facilidade, eu fiquei me perguntando como ele ficaria se me ouvisse dizendo que o dono do nome também era muito lindo.

— Você quer ser minha amiga?

Dessa vez o sussurro veio quase inaudível! Mas eu fiquei tão feliz que não consegui mais fixar o olhar na árvore, e virei para ele, percebi que ele apertava as mãos ao lado das coxas, com certeza ele estava nervoso, mas estava se esforçando para me ter ali ao lado dele, o que fez eu me sentir muito especial.

— É claro que eu quero ser sua amiga João. - Falei baixinho e vi que ele relaxou as mãos e voltou a desenhar, foi aí que eu tive a brilhante ideia de perguntar sobre seus desenhos.

— Você gosta bastante de desenhar não é?

Então eu percebi que o João conversava muito mais calmo e descontraído sobre assuntos que o interessava, descobrir sobre isso foi a mesma coisa que abrir uma porta para entrar no mundinho dele.

— Sim! Desenhar me relaxa e me deixa calmo! Eu faço aulas de desenho como terapia desde criança!

Bingo! Ele não só falava abertamente, como o timbre da sua voz até aumentava, o que facilitava bastante a nossa comunicação.

— Entendi! Essa paisagem é muito linda! Com certeza é uma bela inspiração!

— Dessa vez minha inspiração foi outra. - Falou me entregando a folha que estava em seu colo, e mais uma vez eu fiquei de boca aberta ao ver a minha cópia perfeita olhando para a árvore, dessa vez fui eu quem fiquei sem palavras. — Eu gosto de desenhar paisagens e garotas bonitas.

Eu comecei a sorrir como a muito tempo eu não sorria, e nesse momento o João tirou a atenção da árvore e olhou diretamente para o meu nariz, e também começou a sorrir.

E minha nossa! Eu me derreti no mesmo instante! O sorriso dele era muito lindo! Ele tinha os dentinhos bem branquinhos e perfeitos, por um longo período eu me senti hipnotizada, até o momento em que fui despertada pelo meu celular que começou a tocar insistentemente no meu bolso, e quando o peguei e olhei a tela, aquele arrepio de medo tão familiar se fez presente quando eu li o nome do Silas.

— Até mais João.

Sai muito apressada! E atendendo o telefone que nem uma louca, contando para o Silas que estava no meu dormitório.

Mal deu tempo de entrar e guardar o desenho, e ele apareceu batendo na porta me chamando pra sair com os amigos dele, fazia dias que ele queria que eu experimentasse uma paradinha que ele estava vendendo.

— Desculpa Silas eu tô sentindo febre!

— Vê se fica boa até sexta então! Você vai comigo! De que adianta ter uma namorada tão linda assim se ninguém me vê com ela! - ele diz autoritário.

— Tá bom.

Ele me deu um selinho nojento e foi embora, então eu peguei o desenho do João e me joguei na cama, olhando e sonhando acordada com ele, até o momento em que realmente dormi, e realmente sonhei com ele.

(….)

No outro dia após chegar do meu trabalho, fui direto para a cantina, e sorri ao ver o meu novo amigo sentado em um dos bancos tomando um suco, na mesma hora me aproximei e sentei ao lado dele.

— Um suco de laranja porfavor! - Eu pedi e o rapaz da lanchonete foi buscar.

— Laranja é minha fruta preferida! - O loiro disse olhando para o meu nariz, fiquei boba ao perceber que ele já conseguia se virar para mim e conversar numa boa, isso era um grande avanço.

—É a minha fruta preferida também!

Eu falei sorrindo! Era impossível não sorrir ao lado dele, simplesmente porque ele despertava em mim uma felicidade sem tamanho, fenômeno esse que eu não conseguia explicar, e por isso ele despertava tanto o meu interesse e a minha curiosidade.

—Só pode ser brincadeira!

Ouvi a voz do meu namorado atrás de mim e nesse momento meu coração congelou e comecei a me desesperar, não por minha causa, mas por medo dele fazer alguma coisa com o João.

— Eu....  tô tomando um... um suco!

Eu disse trêmula, querendo puxar a atenção do Silas  pra mim, mas ele olhava para o João com uma expressão de ódio que eu nunca havia visto antes, e olha que eu já presenciei muitos momentos raivosos do meu dele, inclusive vários direcionados para mim.

— O que faz ao lado da minha namorada?

Nesse momento o João se assustou e começou a ficar vermelho e sua mão balançava o copo de suco repetidamente enquanto o líquido todo se derramava.

— É doido! Pessoal olha esse cara! Ele é retardado!

Apenas nesse momento foi que eu percebi que a turma do Silas estava ao nosso redor e todos começaram a gargalhar muito alto e o João começou a tapar os ouvidos, e eu fiquei sem saber o que fazer, pois se eu demonstrasse o mínimo de interesse por ele na frente do Silas, seria bem pior.

Então o João levantou e para o meu alívio começou a se afastar, mas o Silas entrou na frente dele, impedindo a sua passagem, o João tentou desviar mas o Silas colocou o pé na frente o fazendo tropeçar e ele caiu e novamente tapou os ouvidos, e todo mundo começou a gritar e o Silas começou a fazer barulho de propósito bem próximo a ele e instigando os amigos a se aproximarem e fazerem o mesmo, como se de alguma forma ele tivesse conhecimento de que aquelas coisas deixavam o João assustado.

E foi nesse momento que a Soraya apareceu e fez tudo o que eu estava querendo fazer e não podia! Ela o levantou e os dois saíram juntos dali.

— Vai Soraya! Dá a buceta pra esse retardado! Tomara que ele não babe em você!

O Silas gritava e todo mundo na faculdade caía na gargalhada! A Soraya virou toda sorridente para o moreno e mostrou o dedo! Era uma vagabunda mesmo! E eu fiquei me perguntando se ela realmente queria fazer sexo com ele, é lógico que queria! O João era lindo, cativante, e maravilhoso e...

— O doido assustou a coitadinha da minha namorada! Vem aqui amor! - o Silas me puxou pra um abraço no qual eu me soltei rapidamente.

— Eu vou tomar um banho! - Falei com o semblante enojado! Por mais que eu tentasse, eu já não estava conseguindo disfarçar o quanto o Silas estava me causando asco.

— Vai lá amor! Tadinha tá toda enojada! Não se preocupe eu não vou deixar aquele retardado se aproximar de você.

Eu me afastei o mais rápido possível! Eu não conseguia mais ficar nenhum minuto perto daquele asqueroso nojento! Tudo o que eu queria era encontrar o João! Pedir desculpas pelo o que o Silas havia feito com ele, eu estava me sentindo muito culpada, mas eu não consegui encontrar ele em lugar nenhum, eu não sabia onde ficava o seu dormitório, então eu tive que voltar para o meu quarto completamente frustrada.

Deitei na minha cama e comecei a chorar copiosamente! Eu havia conseguido reencontrar o João! Mas não podia me aproximar dele pelo seu próprio bem! Eu queria protegê-lo! Ele era muito puro e inocente para se sujar com um merda como o Silas, se fosse para eu ficar longe dele, por mais que me doesse eu ficaria.

Foi então que meu celular vibrou e eu recebi uma mensagem do Silas.

Silas

"Oi princesa! Lembra que hoje é sexta feira e nós temos uma festa para ir! Se arruma bem linda! Pois eu tenho uma grande surpresa pra você! Vou te provar que eu sou um maravilhoso namorado e te protejo dos malucos que há no mundo! "

Naquele momento um terror extremo tomou conta do meu corpo, da minha alma e do meu coração! Eu sentia que ele estava aprontando alguma coisa muito terrível com o João e eu não podia deixar algo assim acontecer com ele.

Uma coragem e uma força inexplicável surgiu dentro de mim! Eu levantei daquela cama e fui até a festa completamente decidida! O Silas poderia ter sido um completo escroto comigo em todos os sentidos! Mas eu não deixaria ele fazer nenhum mal ao João.

Do lado de fora da festa, já dava pra ouvir o volume alto do som e muita gritaria, se o João tivesse mesmo lá dentro ele não estaria bem, pois eu já havia percebido que ele era sensível a barulhos.

Comecei a correr e abri a porta de uma vez! E a imagem que eu vi doeu no fundo do meu ser! O João estava amarrado no meio da sala, e se debatia bastante, fui empurrando todo mundo que estava atrapalhando a minha passagem e quando cheguei até ele comecei a desamarra-lo, e para a minha total surpresa o Gustavo também veio me ajudar, o que facilitou bastante pois os nós estavam muito fortes.

— Oi princesa! Vejo que já encontrou a sua surpresa! Isso é pra você. - Silas disse todo sorridente e me entregou uma cartela de ovos que pelo cheiro que estava emanando,  já dava para entender que estavam todos estragados. - Joga nele meu amor! Desconta o susto que ele fez você passar mais cedo.

— NÃO! - Gritei com todas as minhas forças! E todo mundo se calou e ficou observando a gente, aquele momento em que alguém ousava desafiar o grande Silas estava sendo inédito.

O Silas me puxou para perto dele e falou baixinho na minha orelha.

— Faz isso logo! Não tá vendo que tá todo mundo olhando? Faz ou você vai sofrer as consequências.

— Ta bom. - Então ele me soltou feliz da vida e novamente me entregou a cartela de ovos, eu olhei para o João, e vi que o Gustavo já estava quase terminando de desamarrar ele, respirei fundo, peguei o ovo e arremessei.

— Ahh! O que você fez?

Silas perguntou surpreso assim que sentiu o ovo estragado atingir a sua roupa, mas eu nada respondi, continuei a atacá-lo com tudo, joguei um, joguei, dois, joguei três, todo mundo começou a sorrir e zoar da cara dele, eu continuei com a chuva de ovos, eu sabia que eu estava mais do que ferrada, mas eu fui até aquela festa para proteger o João e era isso o que eu ia fazer mesmo que fosse a última coisa que eu faria na vida.

— VAGABUNDA! ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM!

O moreno disse subindo as escadas apressado! Provavelmente procurando um banheiro, o cheiro na sala estava terrível e todo mundo começou a ir embora, a essa altura o João também já tinha desaparecido dali junto com o Gustavo, eu soltei a cartela no chão e sai correndo dali o mais rápido que pude.

Quando cheguei na faculdade fui direto para o campus de artes! Provavelmente o Gustavo devia ter levado o loiro para outro lugar! Mas eu precisava estar ali! Precisava daquela paz! E também precisava me esconder!.

Fui até o local onde estive com o João no dia em que ele me desenhou pela segunda vez, passei pelos arbustos e me deitei na grama que havia ao pé da árvore, apesar de saber que o Silas se vingaria de mim, eu não sentia medo, apenas um grande sentimento de alívio.

Deitar naquela grama olhando as estrelas brilhantes no céu me fizeram compreender que o João era mesmo um super herói! Ele tinha o poder de despertar os mais fortes sentimentos em mim.

— Não esperava te encontrar aqui!

Meu coração começou a palpitar no instante em que o João se deitou ao meu lado e assim como eu, ficou contemplando as estrelas acima de nós.

— Esse lugar se tornou o meu predileto assim que descobri que também era o seu. - respondi e o mesmo ficou vermelho.

— Porque não jogou os ovos em mim? Afinal, era o seu namorado quem estava mandando.

— Eu não podia permitir que ele fizesse aquilo com você. - respondi de todo o meu coração.

— Sinto muito! Eu não deveria ter deixado aquela situação chegar até onde chegou! Assim você não precisaria ter batido de frente com o Silas! Obrigada por isso! Mas eu sei me defender.

— Se você sabe se defender, então porque deixou ele fazer aquilo?

— Eu não queria mais confusão com o meu irmão!

Naquele momento eu me levantei com um sobressalto, o que fez ele se assustar, mas ele não se afastou, aquela altura ele já não se afastava quando eu estava perto dele.

— Você é o irmão do Silas?

— Sim! Não sabia?

— Eu sabia que ele tinha irmão! Mas não sabia que era você! Ele foi muito cruel contigo! Como ele pôde?

Novamente comecei a ficar com medo! Se ele era capaz de fazer aquelas crueldades com o próprio irmão! Imaginava o que ele não faria com a Laís.

— Eu não me importo! Nunca me importei! Eu não tenho essa necessidade de aceitação social que o Silas tem! Ele faz essas coisas pra chamar atenção.

— Seu irmão é um monstro da pior espécie!

Ele olhou diretamente para o meu nariz, a expressão que ele tinha no rosto era de absoluta confusão.

— Então porque você namora com ele se pensa essas coisas dele?

— Lembra quando eu te falei que estava presa?

No momento em que eu disse isso ele começou a ficar vermelho e nervoso, com a respiração pesada e balançando as mãos.

— Calma! Você está se sentindo bem?

Me aproximei dele e coloquei as mãos em suas bochechas, olhei em seus olhos, e ele olhou para o meu nariz, aos poucos sua respiração foi se normalizando, e eu senti as costas das minhas mãos queimar no instante em que ele as tocou com as suas.

— Ele está fazendo mal para você?

Não consegui responder! Apenas afirmei com minha cabeça enquanto lágrimas escorriam pelos meus olhos, estar tão perto dele assim, ter ele conversando tão abertamente comigo era tudo o que eu queria, mas não por esses motivos.

— Acreditou quando eu disse que seria o seu super herói?

— Sim! Você não faz ideia do quanto já me salvou.

Ele tirou calmamente minhas mãos do rosto dele, entrelaçou com as suas e depois olhou para o céu.

— Aqui sob a luz dessas estrelas eu prometo que protegerei você.

Nem consegui explicar tudo o que senti no momento em que ele pronunciou aquelas palavras, uma mistura de frio e calor, alegria e emoção, vontade de rir e chorar, e acima de tudo, uma enorme vontade de beijar ele.

E foi isso o que eu fiz! Fiquei na ponta dos pés o máximo que consegui e toquei meus lábios no dele.

Nosso beijo foi calmo, doce e ao mesmo tempo intenso, apenas com o simples toque macio de seus lábios, João tinha o poder de me deixar toda derretida.

— Porque me beijou? - Ele perguntou no momento em que soltou suas mãos das minhas e se afastou de mim, sua atitude não era de raiva, mesmo assim ele estava muito sério.

— Desculpa! Eu....  eu....  prometo que não faço mais.......    não deixe de ser meu amigo por causa disso. - Balbuciei as palavras olhando para o chão! Eu estava muito envergonhada! Pela primeira vez na vida eu realmente tinha tentado alguma coisa com alguém, jogando todo o charme que minha mãe havia me ensinado, e pelo visto eu havia falhado miseravelmente, João Melis era mesmo diferente dos outros garotos.

— Não pense que eu não quero te beijar Taís! Quem não gostaria de beijar uma estrela linda que nem você? - João disse parecendo perceber como eu estava me sentindo! Ele estava olhando para o céu, e de costas para mim. — Eu apenas não posso fazer isso com a namorada do meu irmão! Eu não acho certo.

— Me beijaria novamente se eu te dissesse que não tenho absolutamente mais nada com o Silas?

— Sim!

Ele disse sem rodeios, se virando para mim e olhando para baixo, seu rosto lindo estava muito vermelho, e seus lábios fizeram um pequeno esboço de um sorriso envergonhado.

— João, eu preciso resolver um assunto! Promete me encontrar amanhã nesse horário, naquela mesma pracinha?

— Prometo!

Assim que ele disse isso eu saí em disparada para fora do campus e pedi um táxi! No caminho eu ligava desesperada para a Laís, já era tarde da noite e com certeza ela estaria dormindo, mesmo assim eu continuei insistindo até ela atender com a voz toda sonolenta.

Laís

Alô!

Taís

Laís escuta! Deixa a janela aberta que eu vou entrar em silêncio pra não acordar a mamãe e o papai.

Laís

O que houve?

Taís

Eu te explico tudo com calma quando chegar aí! Lembra da tio Hiago que mora em São Paulo?

Laís

Claro que eu lembro! Ele vive nos convidando pra passar uma temporada na casa dele e eu sou louca pra ir, mas a mamãe nunca liberou dinheiro!

— Então! Eu trabalhei nos últimos dois meses e juntei um bom dinheiro pra você ficar um longo tempo por lá! Você aceita?

— Pera! Deixa eu ver se eu ainda tô dormindo! É lógico que eu aceito. - minha irmã respondeu e um sentimento de alívio inundou o meu coração.

— Então abre a janela que eu já estou chegando aí.

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