Capítulo 7
Helen sabia que Lauren nunca gostou de confidências, mas o fato de ele ter dificuldade em falar com ela até mesmo sobre um simples movimento a ofendeu. Em suma, não lhe tinha dito absolutamente nada: nem o nome da cidade, nem o seu novo quarto, nem o esforço necessário para mover... um cano!
- Que sorte poder escapar até agora e ainda ter um rosto familiar, essas não são coisas do dia a dia. âmbar exclamou.
Lauren timidamente colocou uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha.
- Sim, tivemos sorte. - ele acenou com a cabeça, olhando para a superfície brilhante da mesinha de centro.
- Acho que nem somos os únicos: outro amigo meu me seguiu; estúdios em Waxbee. Helen confessou, reservando algum tempo para resolver seu relacionamento com Eva.
- O Waxbee? - perguntou a ruiva, sem conseguir conter uma careta.
Emma, ao seu lado, imitou-a como um espelho.
- Acontece algo? Williams perguntou em tom neutro, para não assumir mau humor.
-Meu colega de quarto falou muito mal daquela escola. -
- Até meu colega de quarto. - Max interrompeu sem que ninguém perguntasse.
Amber o ignorou.
- Ele me disse que é uma escola maluca. Acredita-se que em anexo às fichas de registro esteja uma referência para laudo psiquiátrico... -
“As contas somam”, Helen quis confirmar.
- ...Todos os cadastrados sempre têm alguma coisa errada, e se quando entram parecem saudáveis, quando saem não estão mais saudáveis. São raros... Você já viu quantos deles se bronzeiam? -
- Outro dia vi uma menina com um boá de penas no pescoço. Emma acrescentou em estado de choque. - Foi horrível. -
- Que horrível... - Amber comentou, balançando a cabeça e agitando seus longos cílios pretos. - Desejo que seu amigo continue como está agora. -
“Bem, isso não é muito”, pensou a morena consigo mesma.
Helen só ouviu durante um breve telefonema no fim de semana passado, onde Eva não fez nada além de falar sobre si mesma e sobre o ensino médio; Das perguntas sobre seu caso, Helen não recebeu nem metade delas. No momento ela permaneceu absorta como sempre.
- Mas as meninas são fáceis. - Max estava de volta no meio, tendo terminado o iogurte, ele havia se levantado para jogar o copo fora. - Feio, mas fácil. -
O loiro levantou as calças com uma das mãos e com expressão concentrada apontou para uma lata de lixo próxima; Lançou a caricatura colorida do seu lanche, desenhando uma elegante parábola, formando uma cesta sem nenhuma dificuldade. Logan sibilou de admiração e Torres, virando-se para ele, curvou-se profundamente.
Chase, querendo imitar as façanhas do tão admirado Max, jogou sua xícara no mesmo recipiente e errou por uma mão. Envergonhado, ele se levantou apressadamente e correu para pegá-lo do chão.
- Tzé... - Nick sibilou, observando a cena.
- Fácil, mas começando pelo Tratamento de Saúde Obrigatório. - Amber apontou com um toque de acidez retomando a conversa com Max. - Enfim, combinar uma calça jeans de cintura baixa - bem antiga - com uma camisa de mangas bufantes... é preciso se sentir muito mal para criar um look desses. . - Ele continuou murmurando, poupando-se da piada: "ou dê a ele o sobrenome Ross."
- Ah, querido... - Emma a seguiu angustiada, separando seus lábios finos e colocando uma mão ossuda em sua boca.
-Sua colega de quarto lhe contou sobre a lenda do fantasma de Renée Forthbay? Maximiliano mudou de assunto.
- O meu sim: eu sabia que essa escola tinha algo especial. Logan respondeu.
- Que lenda? —Helen perguntou.
Sempre ávida por histórias sobre espíritos e construções encantadas, a garotinha da casa dos Williams não conseguia conter o interesse.
Logan, percebendo essa súbita curiosidade de seu colega, sorriu e usou o tom clássico que alguém usaria para intimidar alguém contando uma história assustadora.
- Diz-se que Renée Forthbay amava muito o irmão Adam, a ponto de beirar a obsessão por ele, que sofria de graves problemas mentais e que passou um ano e meio internada num hospital psiquiátrico; Uma noite, ao descobrir que Adam estaria noivo de uma nobre de Montreal, ele primeiro tentaria matá-lo com uma faca roubada da cozinha e, falhando na tentativa, se jogaria pela janela de um quarto abandonado no segundo dia. chão.-
Max, ainda de pé, tirou do bolso um cigarro amassado e um isqueiro.
- Você fuma?! - Amber perguntou estupefata, interrompendo rudemente a história de Logan.
- Não, mas sempre há uma primeira vez. - repetiu Max, piscando para ele e acendendo desajeitadamente o tabaco.
-De quem você roubou? Âmbar perguntou.
- Ninguém, meu colega de quarto me deu. É o isqueiro que tive que roubar. -
- Ahem ahem... - Logan pigarreou.
- Por favor continue. - Max insistiu, inspirando profundamente por trás.
Ele sentiu a garganta apertar assim que a fumaça quente que dela saía desceu até seus pulmões, um desconforto que o levou, ainda que involuntariamente, a tossir algumas vezes. Ele o tirou dos lábios quase com uma expressão perplexa, concentrando-se em analisar essa nova sensação, após o que Max o colocou de volta na boca, encolhendo os ombros: afinal não era tão ruim assim.
- Diz-se que a janela pela qual Renée se suicidou abre e fecha continuamente, embora o quarto esteja trancado e não seja possível entrar, e que muitas vezes se ouvem ruídos vindos dela. - Logan continuou.
Depois de pensar duas vezes devido à familiaridade do nome "Renee", Helen conseguiu conectá-lo a algumas placas de identificação em exibições pela escola.
- Mas Renée não possui muitas exposições? Em frente ao grande salão há uma reportagem de jornal com seu nome. -
- É ela. -Logan confirmou. - Renée Forthbay era apaixonada por música, pelo que sabemos tocava três instrumentos diferentes; Diz-se que de vez em quando é possível ouvir o piano usado nas aulas de música, mesmo que não haja ninguém na sala. -
-Minha colega de quarto também me disse que todos os relógios marcam dez e dez porque é a hora da morte de Renée, e que alguns alunos afirmam ter visto o fantasma dela vagando pelo jardim à noite. - Max acrescentou, rodeado pelo cheiro de cigarro.
- Magnífico, esse instituto é tão chique que oferece até uma versão própria de “O Fantasma da Ópera” – ironiza Nick.
Esses rumores provavelmente a afetariam e surpreenderiam se ela se encontrasse sozinha no pátio da escola ou no último andar da escola, mas Helen sentiu um arrepio de excitação percorrer sua espinha.
- Não acredito. Fantasmas não existem. - Amber afirmou com firmeza.
- Eu não quero. - mentiu Chase, cujas mãos tremiam imperceptivelmente.
Max soprou outra nuvem cinzenta.
- Sim, bem, seja verdade ou não, essa é a lenda. Diz-se também que no segundo andar, de vez em quando, ouve-se o grito desesperado de uma mulher. -
- Não entendo. - Helen disse alto e pensativa, virando a cabeça de todos em sua direção. - Por que manter uma história como essa em segredo? Em suma, há um fantasma, um caso de amor errado e uma louca suicida envolvida: se escrevessem isso no folheto, as pessoas venderiam a alma ao diabo para se inscreverem aqui. -
Esse assunto teria sido um verdadeiro ímã para pessoas curiosas como ela, e Helen simplesmente não conseguia entender por que o diretor ainda não o havia usado como isca para novos membros.
- Não sei, acho que é para não deixar escapar os mais supersticiosos ou os mais religiosos. Afinal, essa história aborda dois temas tabus: incesto e transtorno psiquiátrico.- Nick respondeu.
Ninguém notou o apagamento gradual das luzes no interior das lojas.
Helen pensou em sua avó Concórdia, uma crente ávida e firmemente convencida da existência de uma vida após a morte: se ela tivesse lhe contado que estava no ensino médio onde falavam de uma mulher apaixonada por um parente próximo dela, todos pensariam, teria levantado o resto do cabelo tingido da cabeça. Ele provavelmente teria entrado em Forthbay com um bando de sábios e uma comitiva de amigos escolhidos pela igreja armados com Bíblias e água benta.
- Sim, você também está certo. - concordou com o amigo.
- Mas pense por um momento: anos e anos atrás, nessa época, Renée Forthbay pulou de uma janela do segundo andar - refletiu Logan.
Um homem com uniforme de segurança do shopping se aproximou deles gravemente.
- Pessoal, fechamos em dez minutos. - ele os avisou.
Os alunos do ensino médio trocaram um olhar gélido: não eram cerca de dez horas?
Com o coração batendo forte de angústia no peito, Logan tirou a manga do relógio de pulso digital, e a expressão que todos puderam ler em seu rosto foi mais exaustiva do que qualquer palavra.
Sem dizer nada, os oito retardatários pegaram todos os seus pertences (bolsas, jaquetas, moletons e sobras de sorvete) e seguiram em direção à saída, rezando a Deus para não terem perdido o ônibus de volta.
Quando os meninos voltaram para a escola, o toque de recolher já havia passado e a porta dos fundos estava trancada com cadeado. Seus apelos ao Pai Celestial foram ouvidos, pelo menos em parte: eles não tiveram que correr todo o caminho chorando por seu infortúnio, mas a demora foi tão exagerada que, se alguém os tivesse visto, teriam imediatamente pensado em uma gangue. de ladrões prontos para matá-los e entrar sorrateiramente para roubar o prédio, em vez de estudantes excessivamente descuidados.
- Oh brilhante! - Nick bufou. - Exatamente o que precisávamos. -
Helen olhou preocupada para as barras de ferro forjado: ela estava lá há duas semanas e já estava em apuros. Seu humor era muito parecido com uma gangorra, oscilando rapidamente entre o desânimo por não saber como sair daquela situação e o terror sagrado da diretora. Ele ainda se lembrava de quando, no primeiro dia, havia aconselhado a todos que não ficassem presos fora do toque de recolher no jardim... quem sabe o que ele teria feito se os tivesse visto lá fora.
- E agora o que fazemos? na verdade ela perguntou aterrorizada.
- Eu não quero dormir aqui. Emma acrescentou desanimada.
- Não vamos dormir aqui! - repetiu Amber, na tentativa de tranquilizar as amigas e, principalmente, a si mesma.
Lauren esfregou as mãos para aquecê-las e ficou ao lado de Chase, mais desesperada do que nunca.
- Faz apenas duas semanas... - Nick lembrou.
- Talvez a entrada principal esteja aberta! Emma sugeriu ingenuamente.
Se não for este, certamente não será aquele. - Helen disse obviamente.
Ao pé da porta, Logan observou cuidadosamente a textura da cerca cor de alcatrão, distanciando-se completamente do zumbido de fundo dos outros meninos, e só depois de estudar cada centímetro da porta é que abriu a boca.
- Acho que acabei de encontrar uma alternativa. -
Helen se aproximou dele e, percebendo imediatamente o que o menino queria dizer, perguntou incrédula:
- Você quer mesmo passar pela porta?! -
- Certamente. - Ross respondeu calmamente.
- Mede dois metros! -
- Escalar nunca matou ninguém, Williams. Logan minimizou apressadamente, levantando as mãos para começar a subida.
- Pare aí! Amber levantou a voz.
Logan se virou bem a tempo de ver a ruiva marchando em sua direção, seu andar furioso como o de um ganso.
- Não vou pular nada! - Amber insistiu, batendo agressivamente o dedo indicador no peito. - Não posso nem se quisesse: tenho saia. -
- Então desejo-lhe uma boa noite aqui. Logan respondeu.
- Helen, por favor, diga uma coisa a ele! -
Amber, de repente ainda gentil e bonita, começou a acariciar o cabelo preto de sua colega, mas, antes mesmo que Helen pudesse ficar do lado de um dos dois litigantes, Max interveio:
- Amigo, você está absolutamente certo. - O loiro disse se aproximando de Logan e dando tapinhas em seu ombro.
- Nenhum de nós fez nada parecido! - Helen objetou.
Ele sofria de vertigens e os outros não conseguiam imaginá-lo subindo portas de dois metros. Talvez apenas Lauren tivesse sobrevivido.
- Bem, sempre há uma primeira vez. Max piscou, repetindo a mesma frase pela terceira vez durante toda a noite.
- A única maneira de não dormir aqui é passar pela porta e torcer para que o zelador seja inútil... - acrescentou Nick.
-Lauren? o que você acha disso? Amber perguntou esperançosa.
O pianista, desconfortável por ser forçado a intervir, encolheu os ombros.
- Não quero dormir aqui... - ele teve que admitir com seu habitual tom baixo.
- Anderson? Logan perguntou, esperando por uma resposta.
Chase, tentando desesperadamente conter o nervosismo diante da perspectiva de ter que subir, engoliu em seco de medo.
- Sim, vamos lá. - juntou-se ao grupo maior.
- Está decidido então, somos a maioria. - Max avaliou com um sorriso.