Capítulo 1 - Irresponsável
Sete anos depois
Anton
Saí da piscina e olhei em torno à procura de uma toalha, que logo apareceu em minhas mãos. Analisei o entorno, procurando alguém interessante entre as várias garotas que estavam espalhadas pelo convés do iate enorme e luxuoso, mas nenhuma delas conseguiu chamar a minha atenção. Sempre as mesmas garotas. Ou talvez elas fossem apenas todas parecidas entre si.
— O que acha de um passeio de lancha até uma das ilhas?
— Não estou afim de me sujar todo de areia — recusei.
O convite tinha partido de Tony, o meu melhor amigo e parceiro regular nas minhas farras.
— Ah, quanta frescura! — Tony reclamou, rolando os olhos — Vai perder um grande passeio.
— Nossa, acho que nunca vou superar isso… — Falei com ironia, aproveitando para pedir a pessoa mais próxima a nós — Hei, garota! Me trás uma cerveja!
A garota acatou o meu pedido e eu voltei a sentar em uma das cadeiras ao sol, aproveitando a brisa marinha. Tony provavelmente seguiu com seus planos e não demorou para eu ter duas garotas me cercando em busca de atenção.
Mas eu não estava interessado e apenas as dispensei. Mas a sorte não estava do meu lado naquela tarde e logo a minha irmã estava do meu lado.
— Ainda não entendi por que não fomos para Mônaco esse fim de semana — Anneliese levantou a mesma questão pela décima vez naquela tarde.
— Porque o vovô quer uma reunião amanhã e não podemos faltar — repeti a mesma resposta de antes, mesmo sabendo que não era isso que ela esperava que eu dissesse.
Anneliese é a minha irmã mais nova, a caçulinha dos Baumann. Alto esguia, com olhos e cabelos castanhos claro, ela era a perfeita descrição de beleza estonteante. Mas assim como eu, Anneliese nunca se envolveu seriamente com ninguém. Somos muito próximos e temos o mesmo apreço pela diversão. Além, é claro, de nos manter o mais longe possível de qualquer situação que demande responsabilidade.
— Eu tenho certeza de que o assunto não vai ser do nosso interesse, Anton — Anneliese reclamou, sentando-se na cadeira ao meu lado. — Se a gente chamar o piloto agora, amanhã já estaremos em Mônaco.
— Você não quer aborrecer Leonel Baumann, Anneliese. Estou certo disso — falei, afastando o óculos esporte para analisar a garota que se aproximava de nós.
Era uma ruiva de cabelos longos e lisos, usando um biquíni minúsculo e um óculos de sol que cobria praticamente todo o seu rosto. Mas o seu rosto realmente não me interessava, pensei com malícia.
— Tony pediu para trazer isso para você, Anton — ela disse, me entregando um drinque.
Aquela era a forma de Tony me dizer que tinha gente nova na área e eu recebi o drinque, mas não o bebi. Jamais confiaria em desconhecidos. Isso foi um dos ensinamentos do meu avô que eu realmente absorvi.
— E você é? — perguntei, apenas por cortesia.
Eu não vou lembrar do nome dela na manhã seguinte.
— Pamela. Mas você pode me chamar de Pam — ela disse com voz doce.
Anneliese, que acompanhava a cena em silêncio, pareceu se exasperar naquele momento e levantou-se, dizendo com irritação:
— Pra mim já deu! Estou sem disposição alguma para ficar aqui hoje.
Observei enquanto Anneliese caminhava irritadinha em direção ao interior do iate, me questionando por que ela estava tão aborrecida. Contudo, a garota se colocou à minha frente, disposta a chamar a minha atenção de qualquer jeito.
— Por que você não se senta para tomar um drinque comigo? — falei para a garota, que atendeu prontamente ao meu convite. — Está sozinha aqui, Paula?
— É Pam — ela me corrigiu e com um sorriso sedutor, ela acrescentou — Estou com uma amiga…
— Humm… Por que não chama a sua amiga para se juntar à nós?
Horas depois elas estavam me fazendo companhia na minha cabine privativa, dividindo a hidromassagem comigo.
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A manhã seguinte chegou como uma rotina que se repetia há anos. As garotas com quem havia passado a noite já haviam ido embora, e eu me encontrava sozinho em minha cabine. Enquanto observava o reflexo no espelho, meus olhos cansados refletiam uma imagem que parecia distante de quem eu realmente era.
O dinheiro, o luxo e as festas intermináveis pareciam ter se tornado o meu único refúgio, mas essa vida vazia e descompromissada já não me trazia a mesma satisfação de antes. Novamente confirmei que Pietra sempre esteve certa sobre mim. Eu era o playboy que ela descreveu naquela noite há sete anos atrás. Sempre cercado de garotas, sem compromissos reais e vivendo uma vida superficial.
O que será que aconteceu com Pietra todos esses anos? Eu me perguntava constantemente. Talvez tivesse constituído uma vida plena e feliz enquanto eu continuava preso em meu ciclo autodestrutivo. Mas, como acontece há anos, eu refleti sobre as mesmas questões e voltei a fazer o mesmo de sempre. Beber e curtir a minha vida de luxo, festas e mulheres.
Eu coloquei uma bermuda, um par de óculos escuros e caminhei até o deck, onde já haviam algumas pessoas espalhadas pelos bancos. Todos visivelmente cansados da festa do dia anterior, que havia rolado até o amanhecer.
— Estou exausto — Tony falou, jogando-se na cadeira ao meu lado — Pensar que tenho uma reunião hoje a tarde me deixa preocupado.
Eu nada comentei em resposta. Diferente de Tony, que havia assumido os negócios da família após a perda prematura do seu pai, eu continuava livre para usufruir de uma vida despreocupada, pois o meu avô continuava à frente de suas empresas, me deixando feliz em todos os sentidos.
— O que vai fazer hoje? — Tony perguntou, me encarando com uma careta.
— Almoço com os meus avós e depois vou ao clube. Ressaca?
— Com toda a certeza — Tony confirmou — Nos encontramos amanhã à noite no aniversário da Érica?
Érica é irmã do Tony e somos amigos há muito tempo demais para que eu pudesse simplesmente fugir desse compromisso. Mesmo quando não desejo ir, pois Érica tem se tornado cada dia mais insistente sobre uma aproximação entre nós. Algo que eu realmente não desejo.
— Sim, claro.
Conversamos por mais alguns minutos, enquanto o iate retornava ao cais. Outros amigos se aproximaram e combinamos a programação para o próximo fim de semana. Algumas horas depois eu já estava em meu carro, dirigindo para a mansão dos meus avós, mas enquanto eu guiava, os meus pensamentos estavam longe demais daquele carro.
Os meus pensamentos sempre estavam em Pietra. Seu sorriso sincero, sua maneira carinhosa de tratar as pessoas, sua determinação em seguir seus sonhos... tudo isso permanecia vívido em minha memória, apesar do tempo que havia passado.
A vida nos separou desde o dia da festa na casa da Priscila e nunca mais tivemos contato. Eu sabia que ela tinha um namorado e eu nem mesmo tentei me aproximar novamente. Na época, sua rejeição me deixou devastado, e eu escolhi me fechar ainda mais, assumindo definitivamente a vida de um playboy vazio, rodeado de pessoas que não significavam nada para mim.
Mas agora, sete anos depois, eu estava exausto dessa vida superficial, e o nome de Pietra ressoava como uma resposta para o vazio em meu peito. Talvez, em algum lugar no fundo do meu coração, eu ainda nutrisse a esperança de que poderia haver uma segunda chance para nós.
Absorto em pensamentos, demorei a perceber que tinha seguido pelo caminho errado e agora eu não tinha a mínima ideia de onde eu estava. Não tentei corrigir o destino e apenas dirigi pelas ruas de um bairro qualquer de São Paulo. Pelo aspecto cada vez mais desgastado de alguns prédios e casas, presumi que se tratava de um bairro menos favorecido, financeiramente falando.
Até que o carro falhou e terminou por estancar no meio da rua. Olhei para o painel, perplexo, e vi que o indicador de combustível marcava vazio. Suspirei, percebendo que a falta de atenção aos detalhes estava me custando caro. Meu celular também tinha descarregado, o que tornava impossível pedir ajuda.
Decidi sair do carro e empurrá-lo para a calçada. Ao fazê-lo, notei que algumas pessoas me olhavam curiosas, provavelmente surpresas em ver um carro de luxo parado em um bairro humilde. De certa forma, senti-me deslocado, como se estivesse num mundo distante.
Resolvi dar uma volta pelo bairro para tentar encontrar algum posto de combustível. Enquanto caminhava, pude observar a realidade das pessoas que viviam ali. Crianças brincando em praças simples, pessoas conversando animadamente na porta de suas casas modestas e pequenos comércios locais movimentados.
Em uma esquina, avistei uma pequena lanchonete com o nome "Lanchonete da Vó Maria". Decidi entrar para pedir informações e, ao fazê-lo, deparei-me com uma senhora simpática e sorridente, provavelmente a tal "Vó Maria". Ela perguntou se eu precisava de algo, e expliquei minha situação.
Com muita gentileza, ela me indicou um posto de combustível próximo. Agradeci e, antes de partir, decidi pedir um café. Percebi que já passava das catorze horas e eu ainda não tinha comido nada.
— Você parece cansado, jovem — A senhora apontou, algo que não era nada difícil de perceber — Posso trazer uma refeição mais completa, o que acha?
— Eu aceito — Concordei prontamente — Acabo de descobrir que estou faminto.
A senhora deixou o lugar só, eu era o único cliente no momento, e entrou por uma discreta porta por trás do balcão. Só percebi a aproximação da garçonete quando um par de mãos femininas depositou na mesa um prato de comida à minha frente.
— Algo mais, senhor? — Uma voz conhecida perguntou.
Aquela voz despertou em mim um carrossel de emoções. Uma agitação asfixiante tomou conta de todo o meu corpo e uma palpitação estranha atingiu o meu coração.
— Pietra? — Perguntei com dificuldade.