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Prólogo - Verdade ou Consequência

Anton

A garrafa de vidro vazia girou novamente e dessa vez a indicada foi Pietra, a garota mais linda de todo o colégio e por quem sou apaixonado há exatos dois anos, desde o primeiro momento em que os meus olhos encontraram os olhos mais negros e brilhantes de todo o mundo.

— Sua vez, Pietra! — Priscila falou com animação — Verdade ou consequência?

Pietra sorriu. Ela sempre sorri. Seus olhos também sorriem, mesmo quando ela não estava sorrindo.

— Verdade! — Pietra escolheu.

Eu não tinha dúvida da sua escolha. Pietra jamais arriscaria receber uma consequência, pois ela sempre é tão careta, totalmente o oposto de mim, mas isso nunca seria um problema entre nós. Eu a amo exatamente como ela é.

— O que você vai fazer a partir de agora? — Foi a pergunta de Priscila.

Alguns emitiram expressões de descontentamento, nitidamente considerando a pergunta sem graça. Mas essa pergunta foi perfeita para mim. Pietra é sempre tão reservada sobre a sua vida fora da escola, que apenas dessa forma eu poderia ouvir dela quais eram os seus planos agora que estamos terminando o Ensino Médio.

— Eu consegui uma bolsa de estudos em uma faculdade inglesa — Pietra contou com empolgação — Vou para Londres daqui há dois meses.

Aquela informação me pegou de surpresa. Londres? Não seria um problema para mim, é claro. Tenho dinheiro suficiente para visitá-la quantas vezes eu desejar. Soltei a respiração que tinha prendido por um rápido instante.

Todos aplaudiram e comemoraram a grande conquista de Pietra, mas logo voltamos ao nosso jogo e algumas rodadas depois, fui eu a ser questionado sobre verdade ou consequência.

— Consequência, com toda a certeza! — Falei com uma gargalhada alta.

Eu não poderia arriscar a ser exposto de alguma forma diante da garota que amo. Há aspectos da minha vida que é melhor que Pietra não saiba, pensei com um sorriso escroto. Sim, eu a amo, mas eu também tenho as minhas necessidades.

Fui obrigado a tomar duas doses de tequila e isso não foi nada difícil para mim. Voltamos ao jogo, mais algumas rodadas, a garrafa novamente apontou para Pietra. Eu já tinha bebido bastante a essa altura, as coisas pareciam um pouco turvas e eu não tinha certeza se ainda conseguia disfarçar o quanto aquela garota é especial para mim.

— Verdade! — Ela optou de maneira alegre.

— Você ainda é virgem? — A pergunta foi feita pelo idiota do Tony, é claro.

— Você não precisa responder isso! — Eu falei, elevando a voz com aborrecimento.

— Calma, Anton! — Maria Luiza pediu, segurando-me pelo braço — Pietra sabe que isso é apenas uma brincadeira. Ninguém a está forçando a nada.

— Sim, Tony, eu sou virgem — Pietra respondeu ao questionamento — Eu só tenho dezessete anos!

Todos riram das palavras de Pietra, pois a idade realmente não tem nada a ver com experiência sexual, mas eu não estava surpreso com a forma de pensar da minha garota. Ela é sempre tão certinha, pensei com um sorriso.

Pietra, ainda com um leve rubor nas bochechas, girou a garrafa mais uma vez, desta vez apontando para ninguém menos que eu, Anton.

— Verdade ou consequência, Anton? — perguntou ela, com um olhar curioso e divertido.

Encarei Pietra por um breve momento, sentindo meu coração bater mais forte. A verdade era tentadora, queria revelar meus verdadeiros sentimentos, mas uma pontada de medo me fez hesitar. Esconder minha paixão por tanto tempo criou uma zona de conforto, e admitir isso poderia mudar tudo. Entretanto, algo dentro de mim gritava para ser sincero, para arriscar tudo.

— Verdade — respondi finalmente, decidindo ser honesto, ao menos dessa vez.

Os olhos de Pietra encontraram os meus, parecendo procurar algo mais do que apenas uma resposta à pergunta do jogo.

— Você sempre flerta com várias garotas, mas nunca se envolveu realmente com nenhuma delas. Por quê? — perguntou ela, sem rodeios.

— Em outras palavras, Anton — Lucas interveio, antes que eu pudesse dar uma resposta — Você pega geral, mas não nunca namorou ninguém. É isso o que ela está dizendo.

— Todo mundo entendeu o que ela disse — Anneliese também acabou se metendo na história, rolando os olhos como se estivesse entediada.

Anneliese é minha irmã e ela realmente deveria estar entediada, pensei com diversão.

— Gente, deixem o Anton responder! — Priscila tentou voltar ao jogo.

Todos os olhos se voltaram para mim agora. A nossa turma do terceiro ano do Ensino Médio aguardando a minha resposta. Apenas a música ambiente continuou a tocar e percebi que em todos os rostos havia um sorriso de expectativa, aguardando por alguma resposta sarcástica.

— Porque eu sou apaixonado por você, Pietra — Confessei, esquecendo de todas as pessoas que estavam à nossa volta.

No momento em que minhas palavras ecoaram na sala, o clima mudou instantaneamente. O ar ficou pesado e tenso, e a expressão animada de Pietra desapareceu. Sua reação era a última coisa que eu esperava.

— Eu… preciso ir embora…agora — ela disse com uma voz trêmula, olhando com certa apreensão para o relógio em seu pulso.

A turbulência de emoções em seu rosto era evidente. Pietra se levantou apressadamente, evitando olhar para mim, e saiu correndo da sala. Sem pensar duas vezes, ignorei a curiosidade e os comentários de todos e decidi segui-la. Encontrei Pietra já na calçada.

— Pietra, espere! — Chamei, correndo para alcançá-la.

Ela parou, mas ainda evitava olhar diretamente para mim. Seu silêncio me deixou nervoso, mas eu precisava saber o que estava acontecendo.

— Me desculpe, Pietra, eu... não queria te deixar desconfortável. Eu só... precisava dizer o que estava guardado aqui — falei, apontando para o meu coração.

Finalmente, Pietra levantou os olhos para me encarar. A tristeza em seu olhar era palpável.

— Anton, eu sinto muito... — começou ela, a voz embargada — Eu não sabia que você se sentia dessa forma. Eu tenho namorado, o Tales. E... eu estou apaixonada por ele.

As palavras dela atingiram meu coração como uma faca. Eu nunca tinha sentido uma dor tão profunda antes. Tudo o que eu mais temia acabou se tornando realidade.

— Eu não sabia... — murmurei, lutando para conter a tristeza que ameaçava me dominar.

Pietra olhou para mim com compaixão, mas suas palavras eram firmes.

— Anton, você é um cara legal, mas nós dois sabemos que somos muito diferentes. Eu gosto de você como amigo, mas... não consigo me ver envolvida com alguém como você. Você é um playboy, sempre cercado de garotas, e eu... eu quero alguém que seja responsável e que me trate com carinho.

Suas palavras foram como golpes sucessivos no meu coração. Ela estava certa.

— Eu entendo — murmurei — Desculpe por estragar tudo.

Pietra colocou a mão no meu ombro, mostrando compreensão.

— Não é sua culpa, Anton. Nós apenas somos diferentes. E eu nunca imaginei que pudesse te magoar.

Eu sabia que ela estava sendo sincera, mas aquilo não diminuía a dor que eu sentia. Pietra me deu um abraço reconfortante antes de se afastar.

Naquele momento, um carro encostou em frente à residência de Priscila, onde tínhamos feito a nossa festa de despedida da turma.

— Eu realmente preciso ir agora — disse ela, olhando para o carro parado.

Concordei com um aceno, incapaz de falar qualquer outra coisa ao perceber que aquele provavelmente era o namorado dela. Pietra se afastou e partiu, deixando-me com o coração partido e a sensação de que eu nunca conseguiria ser o homem que ela desejava e sem a menor disposição de lutar para mudar isso.

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