Capítulo III - Magie
Eu fiquei realmente chocada quando ele foi pra cima do homem o socando sem nenhuma piedade, nunca tinha visto ninguém fazer algo assim por mim, nunca fui defendida de nada, muito menos de um assédio.
Então fiquei ali olhando ele fazer aqueles homens engolirem cada palavra que haviam dito, enquanto tentava decidir se era sexy ou maluco, talvez os dois ao mesmo tempo.
Quando ele finalmente levantou tinha uma marca vermelha bem no olho, com toda certeza estaria roxo amanhã. Mas é claro que ele tinha que me provocar e voltar na minha cola pra casa. Era difícil relaxar desse jeito, com ele ali atrás de mim, julgando cada passo que eu dava, cada pequena coisa que eu falava.
— Vai continuar me seguindo, seu maluco? — perguntei quando ele não atravessou a rua quando chegamos em frente a casa, ele deveria voltar ao trabalho, mas ao invés disso continuou no meu pé. — Aqui não tem nenhum perigo. — se essa era a desculpa dele para ter me seguido enquanto eu vendia os bolos ele não ia poder usá-la dentro de casa.
— O único perigo aqui é você! — ele afirmou soando irritado e eu parei para encará-lo, mas ele passou direto por mim subindo para o segundo andar.
O que eu tinha feito a esse cara? Era o que eu não conseguia entender, Alejandro era uma grande incógnita pra mim, homem maluco.
— Já de volta querida? — Rosa estava na cozinha já fazendo o almoço e eu sabia que seria delicioso só pelo cheiro.
— Vendi quase todos, só dois que acabaram no chão quando dois babacas me cercaram.
— Ai meu Deus. E você está bem? Eles fizeram algo? — ela perguntou já virando meu corpo de um lado para o outro analisando meu corpo.
— Estou, graças ao seu filho que estava me seguindo, já não posso dizer o mesmo dos dois idiotas. Alejandro deu um jeito nos dois rapidinho, uma bela obra de arte o que ele fez na cara dos dois.
Ela gargalhou jogando a cabeça para trás, rindo com vontade. Ficou claro que Rosa não se importou que o filho tivesse brigado, estava mais parecendo adorar que ele tivesse me defendido.
— Acho que foi bem feito, Alejandro sabe o que faz. — ela falou voltando a prestar atenção nas panelas.
Eu duvidava muito que ele soubesse o que faz, o homem me parecia apenas maluco mesmo. Mas não ia discutir isso logo com a mãe dele.
— Vou subir e tomar um banho rápido. Já desço pra te ajudar. — subi correndo antes que ela começasse a falar o quanto o filho era bom e blá, blá, como uma mãe querendo vender o peixe do filho.
Mas assim que passei na frente do quarto dele eu parei olhando para dentro tentando ver o que ele estava aprontando. Mas não tinha nenhum sinal dele por ali, tomada pela curiosidade eu entrei no quarto de uma vez.
O cheiro dele estava por todo lugar, de uma forma que quase me fazia sentir ele ali, mas diferente da maioria dos quartos masculinos o dele não tinha roupas espalhadas, nem pôster de mulheres nuas nas paredes. Tudo estava perfeitamente arrumado, nas paredes tinham quadros da família, pôster de banda e um enorme dele vestido de bombeiro.
Porque diabos vestido de bombeiro? Ele nunca foi um. Talvez modelo? Um barulho no banheiro me atraiu direto pra lá e eu fiz o que não devia, coloquei a orelha contra a porta me chocando com o que ouvi.
Alejandro estava se masturbando! Tenho certeza que meu queixo foi parar no chão quando ouvi o gemido dele vindo outro lado da porta. Alejandro praguejava e falava algumas coisas que eu não conseguia entender, mas que deixavam claro o quanto ele estava excitado.
Mas ao invés de questionar em que momento naquela loucura ele ficou excitado, eu me preocupei mais com o que causou no meu corpo, ouvir ele pareceu acender uma fogueira dentro de mim e em segundos senti minha calcinha ficando molhada.
— Estou ficando maluca. — murmurei pra mim mesma pronta para sair dali.
— Magie! — o gemido me fez paralisar com as costas contra a porta e eu fiquei com medo que ele tivesse soubesse que eu estava ali ouvindo atrás da porta e ainda mais excitada por mais louco que possa parecer.
Mas então os sons continuaram, os gemidos, o barulho da mão dele e antes que eu me desse conta estava deslizando a mão entre minhas pernas, sentindo o tecido molhado da calcinha enquanto eu começava a me tocar.
Precisei morder meu lábio para conter qualquer gemido eu nunca tinha me sentido assim e isso era totalmente insano.
— Caramba Barbie! — ouvi ele exclamar soltando um gemido gutural e cada vez que Alejandro falava ou gemia parecia controlar meu corpo.
Meu calor aumentou, assim como meu tesão e jogando toda a sanidade pela janela eu me deitei na cama dele, apoiando os pés no colchão enquanto meus dedos trabalhavam mais rápido em meu clitóris.
O perfume dele ainda mais forte na cama me enlouqueceu e eu fantasiei com Alejandro pela primeira vez, imaginando que eram os dedos dele em mim, me tocando e me transformando em uma poça de prazer.
Quando meu gemido saiu mais alto eu me obriguei a colocar o travesseiro dele contra o meu rosto para abafar, enquanto eu me contorcia bagunçando todos os lençóis. Ouvi em minha fantasia ele chamando meu nome mais uma vez e eu gozei, mordendo o travesseiro e me sufocando com o cheiro dele enquanto meu corpo todo estremecia.
Eu tinha enlouquecido, só podia ter perdido completamente a cabeça foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça e assim que ouvi o barulho dele desligando o chuveiro eu pulei da cama no mesmo segundo e corri pra fora do quarto dele.
— Que merda foi essa? — perguntei a mim mesma quando tranquei a porta do banheiro e apoiei as costas contra ela.
Tratei de esquecer o que tinha acabado de acontecer e tomei o banho que tinha dito a Rosa que ia tomar. Mas na minha pressa de fugir de Alejandro eu nem ao menos havia pegado uma roupa, então me enrolei na toalha e abri a porta dando uma espiada no corredor, torcendo para não dar de cara com o maluco, só então foi que sai do banheiro.
— Fugindo de alguma coisa, Barbie? — a voz de Alejandro soou atrás de mim, me fazendo paralisar em na porta do meu quarto. — Cuidado, só pessoas culpadas se ficam se escondendo assim loirinha, vou acabar achando que você aprontou alguma.
— Você é maluco, já disse isso e também falei pra parar de me seguir. — resmunguei entrando no quarto apoiando as costas contra a porta.
Não tinha como ele saber o que aconteceu, não é? Não definitivamente não, ele só está me provocando como faz sempre.
Respirei fundo e fui pegar uma roupa, minhas roupas estavam enfiadas no guarda roupa da melhor forma que deu, a maioria dela estavam socadas e três malas no canto do quarto, eu tinha tirado só as que usaria mais no dia a dia, assim como deixei todas as roupas de galã e baile na casa do desgraçado.
Quando Charles foi preso Sophie acabou ficando com a casa como um dos pagamentos por tudo o que ele roubou dela, então eu pude voltar e buscar minhas coisas que tinha deixado para trás. Mas só o essencial de verdade, já que eu não tinha o mínimo de dinheiro, do contrário eu não levaria nada, porque tudo daquele lugar me lembrava o horror que eu vivi.
E simples assim, apenas escolhendo uma roupa eu tinha voltado a me sentir sufocada, como se ele pudesse aparecer a qualquer instante exigindo coisas que só me deixariam com nojo de mim mesma.
Em um passe de mágica a memória do infeliz colocou em segundo plano o momento divertido e sensual que eu tive a pouco. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto aquela sensação nauseante tomava conta de mim.
Antes que me desse conta estava encolhida no chão chorando me lembrando de toda merda que passei nos últimos anos, anos em um casamento sem amor, presa a um abusador que sempre me lembrava o preço que tinha pagado por mim.
Eu deveria ter deixado que ele me matasse, seria muito melhor não ter que enfrentar toda a realidade agora, eu detestava sentir pena de mim mesma, me ver como uma vitima, quando eu me aproveitei por anos do dinheiro dele, da fama, ainda por cima deixei que fizessem o mesmo que fizeram comigo. Sophie poderia ter entrado no mesmo inferno que eu se Patrick fosse um monstro como Charles, e eu não fiz absolutamente nada, apenas fiquei ali quieta assistindo tudo, fazendo o que ele me mandava fazer sem nem ao menos discutir.
— Ei menina, o que aconteceu? — a voz de Rosa me fez erguer a cabeça no mesmo instante engolindo os soluços.
Eu comecei a secar as lágrimas, pronta pra me levantar e fingir que nada tinha acontecido, mas ela foi mais rápida e me puxou para a cama se sentando ao meu lado e me abraçando com força.
Aquilo foi a gota d’agua que fez a barragem romper e eu explodi em lágrimas, chorando como uma criancinha que precisa da mãe e Rosa não tinha ideia do quanto eu precisava de uma mãe.
Ela me deu a segurança que eu precisava para colocar tudo pra fora, me deixou chorar até que não tivesse mais lágrimas e apenas me deixou ali com a cabeça deitada em seu colo enquanto ela acariciava meus cabelos.
— Porque está fazendo isso? Eu não mereço... não mereço. — perguntei entre os soluços que não iam embora, mesmo que eu não estivesse mais chorando.
— Você merece sim menina! Merece isso e muito mais, não diga uma coisa dessas! — ela falou, mas eu não achava que merecia de verdade, não depois de tudo. — Já te disse que você não é um monstro por ter feito de tudo para sobreviver naquela casa, não tinha ninguém pra te defender e era só uma menina, você fez o melhor que conseguiu, não tem que se culpar por isso.
Eu estava tentando pensar como ela, mas tudo era mais fácil só na teoria do que na prática, na prática eu me sentia como uma vadia que se deixou ser usada todos esses anos e agora se sentia aliviada de se ver livre do marido.
— Sabe que eu nunca mais falei com a minha mãe desde o dia em que me “casei”? — soltei mesmo sem saber o porque.
— Não, mas porque isso? Porque nunca se falaram? Charles não deixava?
— Charles convivia com meu pai o tempo todo no clube, então não, não foi por causa dele, mas sim dos meus pais. — dava pra sentir a minha amargura nas palavras e eu me sentia ainda mais ridícula. — Eles já tinham todo o dinheiro que precisavam e sabiam que depois de entregar a filha não iam conseguir arrancar mais nada do velho, então nunca mais se importaram em falar comigo. Que tipo de mãe faz isso?
Rosa me empurrou no mesmo instante me obrigando a levantar e ficar cara a cara com ela.
— Ela não é mãe! Uma mulher que vende a própria filha não é uma mãe! — ela afirmou com tanta convicção antes de segurar meu rosto com as duas mãos. — Não deixe o que eles fizeram acabar com a vida que você tem pela frente, sua vida está começando agora, não destrua essa chance que tem bem na sua frente só por tudo de ruim que sofreu. Você merece ser feliz criança!
E lá se iam as lágrimas de novo, não consegui conter quando ela falava daquela forma comigo, Rosa tinha um toque materno que Sophie já havia me avisado, mas eu só estava reparando agora.
— Eu...
— ROSA! — o grito de Luke vindo do portão interrompeu meus pensamentos. — É o Alejandro! Ele sofreu um acidente!