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Uma Convite Inesperado

Na manhã seguinte, Alicia acordou com a sensação de que tudo o que havia

vivido no dia anterior tinha sido um sonho. A figura de Amir, a conversa

no zoco e a revelação de que ele era um príncipe do Catar giravam em sua

mente como se seu subconsciente não conseguisse aceitar completamente o

que havia acontecido. Como era possível que, em seu primeiro dia em Doha,

tivesse conhecido alguém como ele?

Tentando clarear os pensamentos, decidiu que o melhor seria sair para

explorar a cidade. Depois de um banho rápido, vestiu uma blusa de linho e

uma calça leve, preparada para enfrentar o calor. Seu plano inicial era

visitar o Museu de Arte Islâmica, que haviam recomendado como um local

essencial para conhecer mais sobre a cultura do Catar.

Ao sair do hotel, o porteiro se aproximou com um sorriso cordial.

— Senhorita Alicia, perdoe a intromissão — disse ele, educado. — Tenho

uma mensagem para a senhora.

Surpresa, Alicia pegou o pequeno cartão que o porteiro lhe entregava.

Parecia ligeiramente amassado, como se tivesse sido escrito às pressas.

Ao abri-lo, leu o texto breve, mas cheio de significado:

*"Alicia, espero que tenha descansado bem. Gostaria de convidá-la para

uma pequena celebração esta noite em minha residência. Será uma

oportunidade para que conheça mais sobre meu mundo e eu, sobre você.

Amir."*

O coração de Alicia acelerou com as palavras. Era a primeira vez que

recebia um convite tão formal, e menos ainda de alguém da realeza. Estava

claro que Amir não era uma pessoa comum e que sua vida devia estar

cercada de tradições e figuras importantes que ela mal começava a

compreender.

Passou o dia explorando Doha, tentando distrair-se, mas a ideia do

convite permanecia em sua mente. O Museu de Arte Islâmica era realmente

fascinante. Alicia ficou encantada com os manuscritos antigos, cerâmicas

e tecidos que contavam séculos de história e cultura islâmica. Contudo,

sua mente continuava voltando a Amir, imaginando como seria o evento,

quem estaria presente e, principalmente, por que ele sentiu necessidade

de convidá-la.

---

Ao cair da tarde, Alicia retornou ao hotel para se preparar. Não fazia

ideia de qual traje seria adequado para a ocasião, mas escolheu um

vestido longo de tom azul-escuro que trouxera "por precaução". Era

simples e elegante, conferindo-lhe um ar sofisticado sem exageros.

Penteou o cabelo em um coque baixo e aplicou uma maquiagem leve.

Um carro preto com motorista a aguardava na entrada do hotel. O

motorista, um homem sério, mas educado, cumprimentou-a com uma leve

reverência e abriu a porta para ela. Durante o trajeto, Alicia observava

as luzes da cidade, que se multiplicavam com o anoitecer, imaginando para

onde estava sendo levada.

Finalmente, o carro parou em frente a uma grande residência cercada por

jardins. A casa era uma combinação de arquitetura tradicional e moderna,

com colunas imponentes e detalhes que refletiam tanto a cultura árabe

quanto a opulência da realeza.

— Senhorita Alicia, bem-vinda à residência Al-Thani — disse o motorista,

ajudando-a a sair.

Mal colocou os pés no chão, uma mulher vestida com um traje elegante

aproximou-se com um sorriso caloroso.

— Bem-vinda, senhorita. Meu nome é Mariam. O príncipe Amir está à sua

espera no salão principal. Por favor, siga-me.

Alicia seguiu Mariam por um corredor amplo, decorado com tapetes

intricados e quadros que retratavam paisagens do deserto e cenas da vida

tradicional qatari. A decoração, embora luxuosa, era discreta, como se

cada detalhe tivesse sido cuidadosamente pensado.

Ao entrar no salão principal, a música suave de um *oud* preenchia o

ambiente, e vários convidados conversavam em pequenos grupos. A maioria

usava trajes tradicionais, transmitindo uma elegância inquestionável.

Alicia sentiu um nervosismo crescente, mas logo localizou Amir, que

conversava com um homem de barba branca, vestindo uma túnica com bordados

dourados.

Amir levantou os olhos e sorriu ao vê-la, interrompendo a conversa para

se aproximar.

— Alicia, fico muito feliz que tenha vindo — disse ele, com um olhar

sincero e acolhedor que a tranquilizou imediatamente. — Você está...

radiante.

— Obrigada, Amir. Para ser honesta, estava um pouco nervosa — confessou,

rindo levemente.

— Não há razão para isso. Venha, quero apresentá-la a algumas pessoas.

Ele a conduziu até um grupo de convidados, incluindo o embaixador de um

país vizinho e sua esposa, que a receberam com simpatia. Durante a noite,

Amir permaneceu ao seu lado, explicando tradições locais e compartilhando

anedotas sobre os presentes.

Mais tarde, os dois encontraram-se sozinhos em um dos balcões da

residência, de onde podiam admirar a vista deslumbrante da cidade

iluminada, com as luzes de Doha refletindo no mar e os arranha-céus

brilhando ao longe.

— Este mundo é tão diferente do meu — comentou Alicia, olhando para a

paisagem.

— Eu sei — respondeu Amir, apoiando-se na grade ao lado dela. — Mas, no

fundo, não somos tão diferentes. Às vezes, o que separa as pessoas é

apenas a percepção de seus mundos.

Alicia o encarou, surpresa pela profundidade de suas palavras.

— Você sente isso, Amir? — perguntou, curiosa. — Sente-se preso em uma

percepção?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, observando a cidade antes de

responder.

— Às vezes, sim. Minha vida tem limitações e compromissos... mas também

grandes recompensas. Há dias em que me sinto livre, e outros em que

carrego o peso das expectativas.

A noite estava tranquila, com o som distante das ondas conferindo um

toque mágico à conversa.

— Deve ser difícil. Não consigo imaginar o que é carregar esse fardo —

disse Alicia, solidária.

Amir a olhou, seus olhos brilhando com uma intensidade que a fez sentir

vulnerável, como se ele enxergasse além do que ela mostrava.

— Alicia, desde que a conheci, sinto que posso falar com você de uma

maneira que não consigo com mais ninguém. É estranho, mas libertador.

Como se... você me permitisse ser apenas eu, sem títulos ou obrigações.

Alicia corou, surpresa pela sinceridade dele. Não sabia como responder,

mas sentia o mesmo. A conexão entre eles era natural e profunda, como se

o tempo ao redor tivesse parado.

A conversa foi interrompida por Mariam, que se aproximou com uma

reverência.

— Príncipe Amir, desculpe interromper, mas seu pai o espera no salão

privado.

Amir assentiu, olhando para Alicia com um sorriso de desculpas.

— Preciso ir, mas, por favor, aproveite o restante da noite. Você será

sempre bem-vinda aqui, Alicia.

Ela assentiu, compreendendo. Enquanto o observava se afastar, uma certeza

tomava forma dentro dela: sua história com Amir estava apenas começando.

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