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A Revelação

O sol começava a se pôr no horizonte, e os tons dourados da tarde

banhavam o Souq Waqif, destacando ainda mais as cores e texturas ao

redor. Alicia e Amir continuavam conversando na pequena mesa da

cafeteria. Para Alicia, aquela tarde parecia um sonho; a cultura vibrante

do Catar e a companhia de Amir haviam criado uma experiência que ela

nunca imaginara. Havia algo em sua presença que a fazia sentir-se em paz,

como se o conhecesse há muito tempo.

O garçom chegou com duas xícaras fumegantes de chá de hortelã, cujos

aromas preencheram o ar. Amir ergueu a sua xícara e olhou para Alicia,

sugerindo um brinde.

— Aos encontros inesperados — disse ele, com um sorriso que iluminava o

ambiente.

Alicia riu levemente e ergueu sua xícara.

— Às aventuras — respondeu, levando o chá aos lábios. O sabor era forte e

refrescante, um pouco amargo no início, mas cheio de nuances que ela

nunca havia experimentado.

Por um momento, ambos desfrutaram do chá em silêncio. Alicia observava

Amir com atenção; havia algo enigmático em seu olhar, algo que parecia

carregar segredos. Cada palavra que ele dizia era medida, como se

guardasse histórias que não podiam ser completamente reveladas.

— Então, Amir, conte-me mais sobre você — disse ela, finalmente decidida

a saber mais. — Até agora, sei que gosta do Souq e de chá de hortelã,

mas… o que você faz? O que o trouxe aqui hoje?

Amir ficou pensativo, olhando para sua xícara por um instante antes de

responder.

— Digamos que tenho certas responsabilidades neste país. O Catar é meu

lar e também meu dever. Nasci aqui e sinto uma conexão profunda com meu

povo e minha cultura — respondeu, mantendo o mistério.

— Responsabilidades? — perguntou Alicia, sua curiosidade cada vez maior.

Amir sorriu levemente, ciente de que ela buscava mais respostas.

— Minha família está envolvida nos assuntos do país. De certa forma,

tento contribuir para que o Catar continue crescendo e preservando sua

essência.

As palavras de Amir despertaram um novo nível de interesse em Alicia. Ela

começou a notar como as pessoas ao redor o saudavam com respeito, algumas

até se curvavam levemente. Uma suspeita começou a se formar em sua mente.

— Não quero parecer indiscreta — disse ela, escolhendo as palavras com

cuidado —, mas… você é algum tipo de líder aqui?

Amir riu suavemente, com uma honestidade desarmante.

— Pode-se dizer que sim — admitiu, finalmente. — Meu pai é um dos

príncipes do Catar. E, de certa forma, isso também me faz um príncipe.

A palavra "príncipe" ficou suspensa no ar, e Alicia precisou de alguns

segundos para processar. De repente, tudo fazia sentido: sua postura, a

maneira como falava, e a reverência das pessoas ao seu redor.

— Nossa… — murmurou ela, ainda surpresa. — Nunca imaginei… Quer dizer,

você parece tão… normal.

Amir soltou uma gargalhada genuína.

— E sou, em muitos aspectos. Mas, claro, há coisas que nunca serão

"normais" para alguém na minha posição — disse, com um tom que misturava

humor e resignação. — Mas devo dizer que gostei muito desta tarde com

você. Não é todo dia que posso conversar com alguém que me trata como uma

pessoa comum.

Alicia sorriu, sentindo-se um pouco mais à vontade. Apesar da revelação,

Amir continuava sendo o mesmo homem cativante que conhecera algumas horas

antes.

— Então, o que significa ser um príncipe aqui? — perguntou, curiosa. —

Suponho que não seja apenas glamour e festas…

— Não mesmo. Significa ter a responsabilidade de preservar nossa cultura

enquanto construímos o futuro. O Catar tem uma rica história e muitos

desafios pela frente. Minha família e eu trabalhamos para equilibrar

tradição e modernidade, o que nem sempre é fácil.

Alicia assentiu, tentando imaginar o peso de tais responsabilidades. Ela

admirava a seriedade com que ele falava sobre seu papel.

— Eu admiro isso. Ter um propósito tão claro, saber que está ajudando a

construir algo maior que você mesmo… É algo que poucas pessoas têm.

Amir sorriu, seus olhos brilhando com gratidão.

— Obrigado, Alicia. Suas palavras significam muito para mim.

Houve um momento de silêncio. A intensidade do olhar de Amir fez o

coração de Alicia acelerar. Sentia como se houvesse algo mais, algo que

ele não dizia, mas que pairava entre eles.

Finalmente, Amir levantou-se, olhando para o horizonte onde a noite

começava a tomar conta de Doha. As luzes dos arranha-céus acendiam-se,

criando um espetáculo deslumbrante.

— Infelizmente, preciso ir — disse ele, virando-se para Alicia com um

sorriso suave. — Minhas responsabilidades me chamam. Mas gostaria de vê-

la novamente, se você também quiser.

A proposta inesperada fez o coração de Alicia saltar. Algo dentro dela

dizia que aquela história estava apenas começando.

— Eu adoraria — respondeu, com um sorriso que não conseguiu conter.

Amir inclinou-se levemente, em um gesto que parecia tanto uma despedida

quanto uma promessa.

— Até breve, Alicia.

E com essas palavras, ele partiu, desaparecendo entre a multidão do

mercado. Alicia ficou ali, sentada, com a xícara vazia e o coração cheio

de emoções. Observando sua silhueta desaparecer, soube que, de alguma

forma, sua vida nunca mais seria a mesma.

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