Continua Capítulo Um
Parte 5
Ela ficou chateada pelo modo dele encarar o que tinham vivido, mesmo sabendo que se referia mais ao que poderia acontecer se seus irmãos soubessem. Ainda assim isso a irritou muito.
_ Não se preocupe. Vou sair de seu quarto e não vai ter roubada nenhuma.
Ele não queria que se aborrecesse, mas a verdade era essa, estavam em um grande problema.
_ Foi só um jeito de falar, Juliana. Claro que é um problema, tem que admitir isso.
_ Eu sei disso - falou alto.
De certa forma sabia que ela precisava sair de seu quarto, mas ao mesmo tempo não queria que se fosse. Só de olhar para ela já tinha vontade de começar tudo de novo.
_ Eu vou dar o fora logo e aí vai ficar tudo bem - ela torceu a boca fazendo bico _ Como se não tivesse acontecido.
_ Sério? - ele deu um risinho _ E você acha mesmo que é assim tão fácil. Pronto!
_ E por que não seria? - meneou a cabeça.
Ele a olhou de uma forma que ela sentiu o corpo esquentar de novo. Prendeu bem o lençol na frente do corpo.
_ Se fosse um dia normal eu nem chegaria perto de você - balançou os pés _ Trabalhamos juntos, você é irmã dos donos da fazenda - abriu as mãos _ E dona também, claro. Isso já me afastaria normalmente.
_ Por que você é só um empregado?
_ Por isso também - assentiu _ E também porque agora vai ser muito difícil que eu te veja do mesmo modo.
Ela apertou os olhos, analisando o que ele queria dizer com aquilo.
_ Se eu estivesse de boa e não atolado em bebida, jamais tocaria em um fio de cabelo seu. Não pertenço ao seu círculo social.
Realmente ele nunca iria dar em cima dela se estivesse em seu juízo normal. Juliana pertencia a outro nível e ele era só mais um empregado da propriedade que poderia ser descartado a qualquer momento sem preocupação.
Já ela era a princesinha da família.
Seria difícil trabalhar lado a lado agora depois de ter passado uma noite incrível e divertida em sua companhia.
Juliana abaixou a cabeça pensando no que ele disse sobre ser fora de seu nível. Sempre achou isso uma bobagem, mas sabia que isso era algo a se levar em conta. Não tinham grandes conversas, sempre o achou um machista, apesar de não se ofender com seu comportamento e ele nunca lhe faltou com respeito.
Só nunca imaginou que ele se sentisse inferior a ela por causa de dinheiro. Não sabia muito sobre a vida dele e também nunca procurou mesmo saber. Se os irmãos o deixaram ficar então sabiam o que estavam fazendo.
Sabia que ele pelo jeito não tinha família, porque nunca apareceu ninguém atrás dele na fazenda. Só quem aparecia eram as mulheres com quem ele ficava e às vezes outras que ele garantia não conhecer.
Nunca o ouviu atender um telefonema de parente ou de alguém mais próximo. De certa forma era até um pouco triste que fosse sozinho.
Sempre que havia algo na fazenda os irmãos o convidavam e ele até aparecia em algumas festas, mas geralmente era um dos primeiros a ir embora. Dava a entender que gostava mais de ficar sozinho.
_ Isso de círculo social é uma bobagem.
_ Não é não - colocou as mãos atrás da cabeça _ Sei que sou inferior e tudo bem.
_ Não acho isso.
_ E além disso, você é a caçula da família. Muito mais nova do que eu. Esqueceu?
_ Eu sei disso - fez uma careta _ Só que você está achando um monte de desculpas para dizer que se arrependeu de ter ficado comigo - se aborreceu.
_ Não me arrependi de ficar com você... Sou muito mais velho, não deveria ter te colocado nessa situação.
Ele parecia mesmo querer afastá-la e isso foi chato para ela.
_ Bom, eu também não planejei cair na sua cama, mas aconteceu. Já você parece querer esquecer.
_ Como se isso fosse possível - murmurou _ Juliana, me entenda, isso é grave. Eu não tenho nada a ver com você.
_ Tá, entendi... Só que você fala parecendo um crime.
_ Depende do ponto de vista - brincou _ Você é uma garota linda, fofa e delicada. É inteligente, tem grana e tem futuro. Eu sou um grosseirão, um cara da roça que adora morar no campo e trabalhar com animais.
_ E daí? eu também gosto disso.
_ Seus irmãos vão tirar meu coro se descobrirem o que aconteceu. Especialmente o Joel.
_ Eu não ligo para o que eles pensam. A vida é minha.
_ Não seja tão inocente, Juliana - riu _ Claro que o que eles pensam é importante para você. E qualquer cara ficaria feliz e seria sortudo se casasse com você.
_ E quem falou em casar? - ela bateu na testa.
Ele falou. Um medo louco de cair nessa de novo o fez abrir a boca. Depois de tudo o que aconteceu em seu casamento e com sua ex-mulher, ele não queria de forma alguma cair no velho truque de se apaixonar.
Não mesmo.
Marta tinha feito um inferno em sua vida e até o colocou em problemas bem sérios. Seria um tonto se entrasse de novo nesse caminho.
O pior não foi só descobrir as traições de Marta. Pior mesmo foi ficar feliz como um idiota por saber que ela estava grávida e logo depois ela revelar que o filho nem era dele.
_ Seja como for, quando seus irmãos descobrirem eles vão me colocar pra correr... Se não me matarem antes.
_ Não seja dramático. Só porque nós dormimos juntos, meus irmãos não vão fazer isso.
_ É que, não foi bem dormir... Teve mais coisas aí...
_ Ahh... Eu sei - apertou os lábios.
_ Calma - ergueu a mão _ Eu só estou dizendo que eles têm direito de achar errado. Eu entendo. E se ninguém te viu entrar aqui comigo, menos mal.
Ela não tinha intimidade com Vitor, apesar de terem passado a noite juntos, mas foi algo inesperado. Sabia que os irmãos eram protetores e até um pouco chatos às vezes quando se tratava de homens perto dela, mas eles não iriam mandar Vitor embora só por causa disso.
Ou talvez o fizessem? Ficou em dúvida.
_ Por isso mesmo eu tenho que sair logo daqui. Assim ninguém vai me ver e não vão saber.
_ Mas eu sei, Juliana - voltou a sentar _ E isso vai pesar em minha cabeça. Logo eles vão descobrir e acredite, a fofoca vai rolar pela cidade toda.
_ Não exagere.
Ela olhou em volta procurando um relógio para saber as horas. Não poderia ser tarde, ainda nem ouvia o barulho normal da fazenda quando começavam os trabalhos.
_ O que procura?
_ Saber as horas? - abriu os braços.
_ Espera.
Ele levantou e ela não deixou de olhar sua bunda. Pernas grossas, costas largas.
“Meu Deus.”
_ Aqui - entregou um relógio de pulso _ Eu larguei no chão perto da porta quando entramos.
_ E por que?
_ Porque você pulou em cima de mim e eu bati o braço na parede. Aí tirei o relógio junto com a roupa na empolgação.
Ela ficou rosada de vergonha. Não lembrava disso.
_ Jesus... - falou alto _ Não pode ser... Quase dez e meia? Todo mundo já está de pé. Preciso sair logo.