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Uma amizade

(Bianca)

Ao chegar no aeroporto, avistei uma amiga que fiz na faculdade. A Alice é querida, uma pena não termos nos visto muito pois a mesma virou pesquisadora de biomas para uma Universidade Federal.

_Pensei que desistiria, Bia._Me abraça com afeto.

_Não, não mesmo._Me solto do seu abraço._Tudo certo então. Quando vender o meu carro, fique com metade da quantia. Te mandarei os novos dados da minha futura conta que abrirei lá. Tenho que ir, Alice. Não me esqueça, mande notícias sempre.

_Eu só quero que seja feliz._Ela beija minha testa._Tenha cuidado e avise assim que chegar, por favor. Agora vai, vai logo. Te cuida.

Dou mais um abraço nela, lhe passo a chave do carro e todos os documentos. Ela agradece e assim vou embora. O meu voo já estava sendo chamado, corri o mais rápido que pude. A pausa na estrada me fez atrasar.

...

Muito tempo depois, desembarco. Minha coluna está um caco, minhas pernas piorou. Depois de toda a burocracia pra pegar minhas malas, entro em um táxi e dou as diretrizes para onde estou indo. Escolhi ficar na cidade de Montreal, no Canadá. Achei uma cidade interessante pra viver, e também achei um apartamento tomado por brasileiros. É confuso morar no meio de um povo que fala inglês e francês quase que ao mesmo tempo.

Uns minutos depois, o taxista avisa que chegamos. Pago, agradeço e desço do carro com minhas malas. O apartamento é bonito, tem um toque europeu sofisticado. Vou até o porteiro afim de perguntar informações. Preciso encontrar a síndica do prédio, dona Simonie.

_Salut, peux-tu me dire si Simonie est là?_Prefiro usar o francês pra perguntar se a mesma se encontra.

_Você é a Bianca González?_Eu já deveria esperar que o porteiro era brasileiro também. Assinto sem graça._Ela está aguardando a senhorita naquela sala ali.

Ele aponta para uma sala ao lado. Peço para que o mesmo olhe minhas malas e sigo para a tal sala. Abro a porta e peço licença ao entrar.

_Simonie?_Pergunto assim que vejo uma senhora sentada bebendo algo escuro, provavelmente bebida alcoólica.

_Oui, sou eu._Ela caminha na minha direção._Você é ainda mais linda pessoalmente, eh?

_Obrigada. Eu realmente estou exausta e queria saber se já posso ir até meu apartamento._Tento não soar mal educada.

Conversamos sobre algumas coisas como normas do apartamento, pagamento, horários. Ela por fim me entrega a chave e me faz assinar o contrato de 6 meses que pode ser renovado. Logo me acompanha até o meu apartamento no quarto andar.

_Você não trouxe muita coisa. Não pretende ficar por muito tempo, eh?

_Tudo ainda é muito confuso pra mim. Só preciso dormir um pouco. Obrigada por me ajudar com as malas.

Ela assente e vai embora. Ela tem um forte cheiro de bebida que me deixou enjoada. Observo meu apartamento que por mais pequeno que seja, é acolhedor. Uma cozinha americana, banheiro, sala, quarto e uma área de serviço. Está de bom tamanho. Me permito olhar as horas e me surpreendo ao perceber estou com mais de 12 horas de sumiço. As horas aqui são diferentes, acho que 3 horas a mais de diferença do Brasil.

Deixo tudo como está e vou tomar um banho. Ao sair apenas de roupão, pego meu celular afim de me comunicar por e-mail com o banco. Consigo resolver a troca de conta, ficando apenas pra visitar meu atual banco aqui. Vou até a janela observar o tempo e realmente está frio. A cidade é incrível, muito iluminada.

Espero me adequar aqui, que eu seja feliz aqui.

Me jogo na cama, fecho os olhos e me permito descansar um pouco. Acordo com batidas leves na porta. Esfrego os olhos e me arrasto até a porta.

Espero que não sejam vizinhos irritantemente receptivos e simpáticos me trazendo bolo ou qualquer coisa do tipo.

_Oi, novata._Uma garota tendo mais ou menos a minha idade sorri largamente._Vim saber se está tudo bem com você.

_Que horas são? Acho que um trem passou por cima de mim._Resmungo de olhos fechados._Entra.

_Excusez moi._Ela pede com licença e entra._Simonie falou sobre você para os moradores do prédio na reunião que tem todo mês. Eu não sou muito sociável, mas vim saber se está tudo bem com você.

_Na verdade não. Posso pelo menos saber seu nome? O meu é Bianca, mas pode me chamar de Bia.

_Eu sou a Leslie, mas a maioria me chama de Lilie._Ela senta no sofá logo depois de mim._A maioria dos moradores desse prédio são velhos. Menos eu, você e o bonitão desse andar. Como falei, não sou muito sociável, mas tive curiosidade sobre você. Me veja como uma amiga, oui?

Ela parece doidinha, mas gente boa. Ficamos conversando um pouco e já era madrugada. Mas cadê o sono? Descobri que Lilie veio ao Canadá afim de conhecer o país. Já andou por várias cidades daqui, mas preferiu morar em Montreal. Segundo ela, é uma cidade de homens bonitos. Tem 22 anos, estuda inglês e é de uma família de políticos bem sucedidos. Expressou bem a revolta ao falar da família, mas não perguntei detalhes.

_Provavelmente você não está com sono, posso fazer café pra você?_Ela pergunta._Você parece precisar de um bom café.

_Não tem absolutamente nada nos armários._Digo me deitando no sofá._Tenho que ir às compras.

_Vou fazer lá no meu apartamento._Ela toca na maçaneta._Vamos até lá?

Olho pro meu corpo que está coberto apenas por um roupão, mas desejo não ligar pra isso. É de madrugada e ninguém deve estar andando pelos corredores. Saímos do meu apartamento indo diretamente pro elevador. O mesmo estava vindo do primeiro andar.

_Vocês daqui, digo da cidade, são muito receptivos com estrangeiros?_Pergunto o que estava me deixando temerosa.

_Sim, Montreal é uma cidade bastante escolhida por brasileiros para cursinhos de inglês e francês. É um povo educado, em sua maioria.

A porta do elevador é aberta, eu estava distraída olhando pra Lilie que abre a boca em um O perfeito. Resolvo olhar pra frente e vejo um homem nos encarando. Ele sorri ao olhar pra mim de roupão. Acho que devo estar da cor de um tomate.

***

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