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CAPÍTULO 2

SOFIA SALAZAR

Primeiro passo: dar um passo de cada vez. -eu repetia mentalmente como se fosse um mantra que traria algum tipo de calma e segurança de que precisava no momento.

"Edifício Village Green, apartamento de número 207, avenida das Américas, bairro Centro. Nos encontramos na portaria do prédio, tudo bem para você?"

Reli a mensagem pela décima vez em um curto período de tempo, conferindo se havia seguido todas instruções corretamente e estava no lugar certo.

"Claro, está ótimo para mim. Estarei às nove horas da manhã lá, como combinado."

Minha resposta havia sido enviada logo em seguida e após uma breve despedida, desliguei o aparelho tentando conter a ansiedade que me atingia. Era um grande passo que eu estava tomando, não poderia dar errado, portanto tudo deveria sair conforme o planejado.

A última mensagem trocada entre nós tinha sido no dia anterior e hoje era o tão aguardado momento em que nos encontraríamos para resolver finalmente o que seria feito e se tudo desse certo eu sairia daqui com pelo menos um dos meus problemas resolvidos.

-Sofia? -fui arrancada de meus devaneios por uma voz extremamente melodiosa e grave.

Me virando em direção ao chamado, acabei por dar de cara com uma visão completamente agradável aos olhos, que eu poderia admirar pelo resto do dia que com certeza não me cansaria.

-Sou eu mesma. -me adiantei em sua direção. -E você deve ser o Samuel, certo? -fiz a pergunta mesmo sabendo que não era necessário.

Era bem óbvio que ele era o cara.

-O próprio. -ele respondeu.

Com o sorriso mais claro e bem alinhado que já tive o prazer de ver na vida, Samuel me puxou para um abraço em um cumprimento e eu quase vim a desmaiar ao sentir o aroma fresco que emanava de seu corpo. Provavelmente ele tinha acabado de sair do banho, essa era a explicação mais óbvia. O contato entre nossos corpos foi breve e respeitoso, e logo já estávamos separados novamente.

-Puxa, você é muito mais bonita do que sua voz demonstrava no telefone. Quero dizer, assustadoramente mais bonita. -ele assoviou impressionado.

Ele estava brincando, não é? Só podia ser brincadeira uma coisa dessas ser dita por um cara tão absurdamente bonito como ele.

-Você também conseguiu superar as expectativas que eu fazia de você. -eu ri.

-Uau. Que bom que não estou me saindo tão mal assim. -ele respondeu com um sorriso tímido acentuando as covinhas que havia de cada lado de suas bochechas .

Samuel passou a mão entre os longos fios loiros escuros de seu cabelo, bagunçando-os ainda mais do que já estavam, mas de modo algum maculando sua beleza natural. Isso só o deixava ainda mais sexy.

-Bom, é melhor subirmos logo para ver o lugar.

-É uma ótima ideia. Eu tenho alguns compromissos para o resto do dia e também não quero tomar mais do que o necessário do seu tempo.

-Por aqui, por favor. -ele me deu passagem indicando o elevador e seguiu logo depois de mim.

-Você vai adorar, pelo menos eu adoro cada metro quadrado daquele lugar. Não é muito grande, afinal de contas é um apartamento de solteiro, além de ser um apartamento de solteiro bem no centro da cidade, o que faz com que o espaço seja ainda mais reduzido. Contudo acredito que é o ideal para uma ou duas pessoas viverem tranquilamente sem muitas complicações. -Samuel explicava enquanto os andares subiam.

Após alguns instantes o elevador parou, as portas metálicas se abriram revelando um longo corredor composto por cores e tons pastéis, e nós descemos no quinto andar do edifício. Dentro de poucos passos estávamos em frente a uma porta que exibia 207 em números pequenos e prateados.

-Então, aqui estamos. Seja bem-vinda a minha humilde residência, Sofia. -disse ao destrancar a fechadura e abrir caminho. -Sinta-se a vontade para olhar tudo, espero que goste.

-Eu também espero. -sorri em resposta passando os olhos por cada canto em uma rápida inspeção de reconhecimento do ambiente a minha volta.

-Aqui como pode ver, temos a sala. É um bom espaço, equipada com sofás, tv, mesa de centro e uma estante para equipar com os pertences de sua escolha. Eu nunca cheguei a preenche-la de verdade, já que os livros e apostilas que utilizo preciso deles comigo onde estou, lá na faculdade.

-Espera aí, você pretende alugar o apartamento mobiliado?

-Sim, esse é o objetivo. Não seria viável e eu nem teria onde alocar os móveis. Por que? Você se incomoda com a mobília?

-Não, eu não vejo problema em relação a isso. Mas no caso, iria aumentar significativamente o valor do aluguel, não? -questionei receosa.

-Ah, que isso! Relaxa, para uma moça tão bonita quanto você farei um preço bem camarada. -disse piscando um de seus olhos claros para mim.

-Está bem senhor galanteador, vamos ver o restante do apartamento.

-Siga-me por aqui, senhorita. -disse com um sorriso brincando em seus lábios e indicou um estreito corredor que ligava ao que parecia ser a cozinha.

Vinte minutos após conhecer cada parte do lugar que eu esperava que fosse meu lar dali para frente, pelo menos por um determinado tempo, um bem longo diga-se de passagem, eu estava fascinada com todas as características que compunham o imóvel. Era exatamente o que eu precisava em minha situação.

-E aí, Sofia? O que achou do meu casulo? -Samuel perguntou, a expectativa brilhando em seus olhos de um azul profundo.

-Eu adorei. -respondi com sinceridade.

-Então pronta para fechar negócio?

Samuel que estava até o momento sentado no braço do sofá se levantou e caminhando até onde eu estava, apoiada no batente da porta da sala, parou a minha frente fitando-me com ansiedade e empolgação.

-Posso te entregar as chaves ainda hoje. Na verdade posso entrega-las agora mesmo se quiser. É só fazer os ajustes na portaria e estará tudo certo.

-E quanto ao valor do aluguel?

-Porque é para você, que já considero como uma amiga, vou fazer por novecentos e setenta, o que acha? É um bom negócio.

Na realidade era mais do que um bom negócio, era um excelente negócio. O preço que ele me oferecia estava bem abaixo do mercado para os padrões ideais do apartamento e principalmente para a localização privilegiada em que se encontrava.

-Você está certo disso?

-Com certeza.

-Mas você nem me conhece direito. Como sabe que não vou incendiar ou alagar seu apartamento?

-Assim como você, também tive boas referências suas antes de encontra-la hoje. Sei que não faria nada do que disse.

-Não propositalmente. -me defendi e nós rimos.

-Além disso, seria vantajoso para mim ter alguém cuidando do apê e ainda por cima gerando renda e não despesas por um lugar vazio. Afinal de contas, sou um estudante universitário, ou seja toda grana que entra vem a calhar para meus pobres bolsos.

-Entendo. -ponderei enquanto sentia uma vontade enorme de roer as unhas, como forma de extravasar o nervosismo.

Era uma grande decisão a ser tomada e todo cuidado ainda seria pouco. Eu precisava ser cautelosa em minhas decisões.

-E então, o vai ser, Sofia? -ele indagou com as mãos descansando dentro dos bolsos da bermuda de jeans lavado que usava.

-Acho que agora você tem uma inquilina, querido Samuel.

-Isso é excelente! Pode se mudar para cá quando quiser. As chaves são suas a partir de hoje. -disse depositado o pequeno molho de chaves na palma da minha mão.

Então era isso. Estava feito. O primeiro passo tinha sido dado.

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