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— Por que ela fez isso? – Sussurrei sem realmente querer a confirmação dos pensamentos.

— Aparentemente Stefano não era o único a desrespeitar uma esposa italiana – Jack rugiu. — Precisei falar com ela para que participasse da sua morte conosco, e a encontrei amarrada como um bicho naquele apartamento.

A tensão no corpo de cada um dos três revelou mais do que as palavras, ainda assim, senti a necessidade de confirmar.

— O que você fez Jack? – Perguntei assustada com medo de que o plano fosse pelo esgoto.

— O que um irmão poderia fazer vendo o seu próprio sangue daquela forma? – Ele bufou — Quando Salvatore Riina chegou passei algumas horas me divertindo com ele.

— Seu idiota, os soldados podem ter te visto entrando no prédio – O medo de perder meu irmão tomou conta de mim.

Hunter riu acenando para que me acalmasse, como se fosse óbvio que ele não deixaria Jack ter toda a diversão para si.

— Eu ajudei o idiota a forjar a cena, no final vai parecer que foi um ataque coordenado por isso precisamos agir rápido, em algumas horas nossos telefones começaram a tocar informando a morte de Riina e o Don vai mandar fazer uma limpeza na cidade buscando o traidor – Ele parou suspirando.

— Nós precisamos estar em casa nesse momento – Giacomo decreta — Don Sartori provavelmente irá me avisar da morte de Bianca pessoalmente, como forma de demonstrar seu apreço.

Giacomo é um dos homens de confiança do Sartori, e ele merece o posto. Sempre esforçado, leal, sendo o executor do seu Don, sem nunca desobedecer a uma única ordem. A culpa por colocá-los em uma posição de traição atingiu meu coração traidor, eles são a única família que tenho e entre todas as possibilidades, entre todas as merdas saber que realmente somos uma família verdadeira, que em nenhum momento meus irmãos hesitaram em seguir um plano mirabolante para me libertar e agora libertar Bianca, só fez o meu amor e admiração crescer.

Essa lealdade é apenas nossa, e duvido que qualquer outro dentro da máfia seja tão leal quanto somos uns aos outros.

— Estou fazendo com que vocês percam a honra dos seus nomes – Suspirei sabendo que isso deveria ser como uma tortura para os homens honrados.

— Não pense nisso Beatrice, defender meu sangue é a única honra que preciso. Seu marido e o marido de Bianca deveriam honrá-las, não vou me perdoar por tê-las levado ao altar e as entregado a esses desonrados. – Giacomo falou com um tom de pesar.

— Além disso, a regra da família é clara, as esposas não devem ser tratadas dessa forma e Don Sartori com toda certeza sabia das ações de Riina e Stefano, seu filho e seu sobrinho, os dois treinados pelo próprio. – Jack bufou.

— As regras são para todos, só vamos colocar ordem na casa, Cosa Nostra só vai passar por uma pequena limpeza – Hunter sorriu de maneira sombria e ali entendi.

Eles estão ao meu lado para tudo, com todos os nossos defeitos e sobre toda briga idiota entre irmãos, que por algum motivo tive certeza de que um deles acabaria fazendo isso, matando Stefano Sartori por mim.

Mas não precisava ser protegida, não mais.

— Para todos os efeitos, Bianca morreu na madrugada em um atentado, junto do seu esposo Salvatore Riina – Giacomo prosseguiu — O veneno que Hunter conseguiu tem efeito de vinte e quatro horas, vai parecer um corpo frio e é o tempo que precisamos para fazer o velório de caixão fechado.

— Enrico deve aparecer por aqui a qualquer momento para noticiar a morte de Bianca, a hipótese de uma traição vai se confirmar quando encontrar o seu corpo e não achar Stefano já que apenas nós capos sabemos os endereços de cada membro – Jack respirou — Precisamos matar os soldados que estão na segurança.

A porta se bateu e no meio da conversa calorosa nos surpreendendo com o visitante inesperado, o cabelo curto e o terno sempre bem composto do soldado.

— Não precisa, já fiz isso – A voz de Frank cortou o silêncio, Hunter já estava com a arma apontada na sua direção.

— Por que faria isso? – Giacomo questionou o soldado da família Sartori.

— Sua irmã sabe o porquê – Ele me encarou com os olhos verdes.

Descobri o seu segredo a alguns anos, nos primeiros dias ele parecia esperar que contasse a Stefano até que numa das poucas vezes que ficamos a sós no carro, garanti a ele que ninguém saberia.

Aparentemente, esse é o seu modo de retribuição.

— Beatrice tem minha lealdade, se quiser me matar faça o agora, mais saiba que seria um bom aliado.

Ponderei as possibilidades, preciso de ajuda, proteção e nenhum dos meus irmãos pode fazer isso, eles não vão poder estar disponíveis o tempo todo, não tenho a mínima noção de como é a vida fora dessa casa ou fora da máfia.

Eles precisam mostrar que estão procurando os assassinos das irmãs.

— Hunter tem veneno suficiente para Frank também – Meu irmão olhou exasperado na minha direção — Frank vai vir comigo.

— Você confia nele? – Jack pareceu desconfiar

— Sim, e ele não tem motivos para ficar, se Don Sartori o encontrar vivo com o desaparecimento do filho ele morre, se ele me trair vou garantir que descubram seu segredo, isso o levaria a morte também – Meus irmãos se olharam por alguns segundos, Hunter abaixou a arma.

Frank observou sabendo que cada uma das minhas palavras era uma ameaça silenciosa, só porque fui piedosa uma vez não quer dizer que seria uma segunda, principalmente diante da nova vida que pretendo ter. Lhe dou essa chance como um voto de confiança por ter ido avisar a Giacomo do meu cativeiro, algo que nunca tive coragem em todos esses anos.

Analisei toda a cena montada pela casa com o sangue espalhado no carpete verde horrendo, estico a mão fazendo questão de deixar a marca dos dedos sujos contra o papel de parede relembrando as noites ao lado do homem que jurei amar.

Suspiro virando o rosto e me encontrando com a fúria do meu irmão sendo só o incentivo para finalmente fazer a minha voz ser escutada. É incrível como a arrogância cega os homens ao ponto de não perceber que uma mulher nunca perde o seu poder, uma mulher não perde a guerra, e quando quer é capaz de destruir tudo.

Esse foi o maior erro do Stefano não ter provocado minha morte quando teve oportunidade, ter se armado com a arrogância e todo o machismo, me colocando sempre abaixo de si mesmo, imaginando a minha incapacidade em retribuir esse amor perverso, o carma é uma vadia traiçoeira e essa reviravolta só foi possível graças ao seu egocentrismo exacerbado pensando ser indestrutível. E o meu maior erro foi pensar que era capaz de amar, não sou, e de brinde perdi qualquer oportunidade em fazer nascer algum sentimento aqui dentro.

Não consigo entender o motivos dos rostos preocupados com a forma de seguir o plano mesmo sabendo que a guerra declarada no momento é impossível, a maneira como seus olhares analisam todos os meus movimentos chega a ser irritante.

Quem espalhou por aí que mulheres são frágeis?

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