1. Prólogo
"Diz a lenda que o Rei Lycaon, na Grécia Antiga era fervorosamente devoto à Zeus, construindo para ele um templo na cidade de Arcádia e em homenagem ao deus, realizava sacrifícios humanos. Porém, infringindo a lei sagrada de hospitalidade, o rei sacrificava a vida de visitantes de Arcádia. Zeus, quis saber se isso era mesmo verdade e então disfarçou-se de peregrino. Mesmo os súditos de Lycaon desconfiando que o visitante era um deus, convidou-o para um banquete, servindo à ele carne de suas vítimas.
Zeus, enfurecido, transformou Lycaon em uma besta, e foi assim que surgiu o primeiro lobisomem."
Nada é comum em Helltown. Foi o que Ayla ouviu assim que chegou com sua família na cidade pacata e tranquila escolhida pelo pai, e que segundo a mãe ira ajudá-la a entrar nos eixos. Sem os amigos, e a influencia negativa e distrações de uma cidade grande. Ayla ouviu nos dias anteriores a mudança, que uma cidade do interior, com outros valores e algumas regras, ela voltaria a ser a garota que era antes de Ash Daniels. Ou como eles costumavam sussurrar quando não queriam que ela ouvisse, o maldito Ash. Mas, Ayla ouvia. Do seu quarto no andar de cima, por entre paredes e enquanto a lenha queimava na lareira da casa vizinha, e a criança chorando por estar de castigo na rua de trás. Ela sentia o cheiro da embalagem da pizza na lixeira da casa da frente e o perfume masculino no lenço que sua mãe usava, não era do seu pai, ela sabia. E ainda sentia o primeiro tênue odor da morte, quando os olhos de Ash ficaram turvos e ele se foi.
– Ayla – ouviu a voz da mãe e um leve sacudir enquanto ela segurava seu braço como se estivesse despertando-a de lembranças, talvez as últimas do que deixara para trás – vamos, me ajude com as caixas menores.
Concordou silenciosa, afastando Ash dos seus pensamentos. Ajeitou o capuz do casaco sobre a cabeça, e depois pegou no bolso um chiclete de melancia, depois de algumas horas de viagem, acreditava não ser a visão mais perfeita da “garota nova”, mas tinha a impressão que o cara da voz bonita que falava com seu pai naquele instante não ligaria para o fato que esteve sem dormir nos últimos dias, e tudo o que precisava assim que entrasse em casa era de café.
Achou-o bonito naquele uniforme de xerife, apesar de parecer muito jovem para o cargo, os cabelos bem cortados, uma covinha suave no queixo e olhos cor de tormenta. Alto, atlético, e com um cheiro que fez Ayla perceber que nunca havia sentido nada parecido. Era intenso, cinzas, sangue, caramelo e algo para que seus sentidos não pareciam treinados. Era indescritível e oculto, como se algo sombrio e cruel se escondesse bem ali, dos seus olhos e do seu nariz, e dos seus ouvidos pois quando ele lhe estendeu a mão, ao segurá-la por um breve momento, pode ouvir que seu coração batia normalmente.
– Mason Field – ele sorriu, os dentes brancos imaculados, e a boca perigosamente contorceu-se em um sorriso de canto, Ayla sentiu um calafrio, como quando Ash abriu os braços, a beira do terraço onde sua família vivia, era como se a morte estivesse bem a sua frente.
– Ayla Greenwood – ela disse, nenhum sorriso, apenas o calor da mão de Mason ainda formigando na sua como um aviso para ficar longe dele.
– Ayla vai estudar no St. Anna College, estamos todos muito animados com a mudança – Rose perguntou, os olhos brilhantes, arrumando o cabelo loiro enquanto inclinava o rosto de maneira charmosa, fazendo Ayla se perguntar se a mãe queria mesmo fazer aquele papel ridículo.
– A senhorita vai gostar de lá, é uma excelente escola – sua voz soou quase condescendente, como se lidasse com uma criança.
– Eu já começo a gostar daqui – disse Aidan, o pai de Ayla – grato xerife, pela acolhida.
– E lembre-se, Sr. Greenwood, se precisar de mim, pode me achar nos contatos que dei ao senhor, na delegacia – ele falou virando-se ligeiramente para sua direita – ou na casa ao lado.