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Capítulo 5

Era início da tarde quando Abby acordou, ela ainda precisava organizar a mala para o dia seguinte.

Os acontecimentos da noite rondando sua cabeça.

Ela foi para o quarto arrumar outra mala, parecia que era só isso que fazia desde que chegara naquela casa.

Uma batida na porta.

- Oi, abelhinha.

- Oi.

- Eu posso entrar - Harry disse já do meio do quarto.

- Claro.

- Porque não está com os outros?

- Estou só arrumando minhas coisas para a escola.

- Não esqueça o traje para o baile

-Eu não pretendo ir.

- Você tem um vestido? - ele disse a ignorando.

- Tenho sim.

Harry olhou para o porta retratos na mesa de cabeceira.

- Você está bem?

- Estou sim, eu sinto falta deles só isso.

- Seu pai era um ótimo homem.

- Sim, lembra quando você nos mostrou ursos recém nascidos...?

- ... e ele ficava afastando uns dos outros para não se baterem.

Os dois riram com a lembrança, mas logo Abby ficou triste de novo.

- Eu queria ir com você.

- Você pode ir quando se formar, eu já disse-lhe isso - Harry suspirou fundo procurando as palavras certas para usar - Abby, você não está atrapalhando.

- Mas vocês não tem muito e agora precisam dividir comigo.

- Nós temos o suficiente, você é uma Cooper agora.

- Não quero ser uma Cooper - Abby respondeu rápido e alto demais, suas bochechas coraram mais uma vez.

- Porque? - ela desviou o olhar - porque está gostando do meu irmão?

- Eu... eu não....

- Calma Abelhinha, eu acho isso ótimo. Quer um conselho?

- Sempre.

- Siga seu coração. Se ele diz para você ir ao pomar colher amoras pretas e doces, faça isso - ele parou na porta e piscou para Abby antes de sair.

Ela olhou para além da porta aberta do quarto bagunçado dos gêmeos, pela janela era fácil identificar as inúmeras árvores frutíferas lá embaixo.

Abby desceu passando pela cozinha onde Molly já preparava o jantar.

O pomar não era muito grande mas era bem cheio, e rodeado por uma cerca feita de troncos e ripas pegos a esmo, e uma abertura na frente mas sem nenhum portão, o que não fez sentido para Abby.

Ela ouviu risadas abafadas lá dentro, e foi se aproximando do som, os gêmeos estavam agachados perto de uma macieira de tronco anormalmente largo.

- O que estão fazendo?

- Nossa Abby, não se assusta alguém assim - Ethan levou a mão ao peito enquanto Adam ria de se acabar.

- Com certeza estão aprontando, eu quero saber - ela se ajoelhou na frente deles.

- Estamos tentando colocar um mecanismo de choque nessa luva de goleiro

- E porque iam querer fazer isso?

- Pensa só - Ethan disse se levantando -você conseguir mandar a bola a metros de distância com um toque, Adam?

- Como por exemplo, você não consegue agarrar a bola mas não tem problema porque o choque vai lançá-la para frente - os dois falavam empolgados e Abby achou a idéia muito interessante.

- Acham que vai dar certo?

- Bem, nós já temos alguns produtos mas a criatividade tá baixa esse verão - Adam disse já se levantando.

- E fizemos doces com insetos dentro que minha mãe fez questão de jogar fora e nem eram insetos de verdade - Ethan chutou uma maçã que caiu.

- É isso que vocês fazem?

- Vamos abrir uma loja quando sairmos da escola - Adam deu a mão para Abby se apoiar mas ela só percebeu quando já estava em pé.

- Então são tipo inventores?!

- Muito melhor que isso, não é, Adam?!

- É.

- Só isso? - Ethan olhou indignado para o irmão

- O que é pra responder? Não sabemos ainda como vamos nos chamar.

- Certo, mas olhe Abby, uma palavra pra nossa mãe e você vai acordar em um colchão flutuando no lago.

- Ela não vai dizer - Adam sorriu para ela com cumplicidade.

- Eu não vou. Aliás, quando forem testar seus produtos eu vou querer ver.

- Vamos Adam, essa bateria já era, a gente tenta de novo mais tarde.

- Eu vou depois.

- Serio?! - Ethan olhou de seu gêmeo para Abby com um sorriso de canto - ok, só não amassem as frutas.

Abby arregalou os olhos surpresa enquanto Ethan saía para o quintal.

- Desculpe.

- Tudo bem, não precisa pedir desculpas quando ele é inconveniente, não são a mesma pessoa.

- Quer andar um pouco? - Adam tentou disfarçar sua timidez.

Abby se lembrou do que Harry dissera, foi específico demais para não significar nada.

- Vocês tem amoras?

- Temos sim - Adam disse com um enorme sorriso - vem.

Eles caminharam em silêncio até uma longa fileira de arbustos ao longo da cerca.

As frutinhas escuras brotavam por toda a extensão e pareciam mesmo apetitosas.

- Tcha-rán - Adam apontou teatralmente para a vegetação - aqui está.

- Obrigada, Adam.

Ele dobrou a barra da camisa e começou a encher, mas então olhou de relance para Abby e viu que a garota levava uma das amoras à boca.

- Você não vai lavar?

- Eu devia? - Abby sorriu enquanto mastigava.

- É, devia - Adam encheu a mão com as frutas em sua camisa e levou de uma vez a boca - É engraçado você pedir para ver as amoras.

- Porque? São deliciosas.

Adam olhou para a plantação e apertou os lábios, ele não tinha percebido até então o quão a vontade se sentia com Abby.

- Quando éramos pequenos e Ethan aprontava, minha mãe sempre colocava nós dois de castigo - ele fez uma pausa longa, não sabia se Abby estava interessada no que ele tinha a dizer.

- Isso é muito injusto, mas e as amoras?

- Sim, Harry sempre me tirava de casa escondido pela janela e me trazia aqui, é afastado não dá pra ver de fora e fazíamos guerra com elas.

Abby notou que Adam ficou triste, ela não pensou duas vezes, pegou a maior amora que seus olhos avistaram e jogou com toda força em Adam, acertando seu quadril e deixando uma mancha escura em seu jeans gasto.

Ele se surpreendeu, mas abriu um sorriso e apanhou várias frutinhas com suas mãos grandes.

- Não - ela levou a mão espalmada em frente ao corpo dando alguns passos para trás, tateando a plantação com a outra mão - Adam, eu só estava brincando, você é um garoto e muito mais forte que eu.

Ele relaxou o sorriso e assentiu meio desapontado, mas Abby já estava com a mão cheia e jogou várias frutas de uma vez no garoto que por sua vez fez o mesmo com ela.

Os dois correram por entre as árvores e atiraram amoras um no outro, até que Adam perdeu o equilíbrio e caiu de quatro, Abby estava logo atrás dele, tropeçou no garoto e passou por cima dele caindo a frente com as costas no chão.

- Abby, Abby, se machucou? - ele foi até ela preocupado se debruçando sobre a menina que ria, eles se olharam e o sorriso de Abigail foi cessando.

Adam tirou uma mecha de cabelo do rosto dela e se abaixou um pouco.

- A mamãe está chamando para jantar - a voz de Emily se aproximava deles, os dois se levantaram rápido como se estivessem fazendo algo proibido - ah vocês estão ai. Jantar.

- Obrigada, Emily.

Os dois voltaram à sede calados, Abby envergonhada demais para olhar para Adam.

- Meu Deus - Molly se assustou ao ver os dois sujos de terra, cheios de manchas roxas e vermelhas no corpo causadas pela amora - Adam, o que vocês fez?

- Tia, nós estávamos só brincando.

- Chega, de castigo. Os dois, me entreguem as chaves das motos - Molly estendeu a mão, Adam e Abby colocaram seu chaveiro sobre ela - você não, querida.Ethan, a chave.

- Eu nem estava lá.

- A chave - ele entregou contrariado.

- Desculpe - Abby disse se sentando ao lado de Ethan.

- Tudo bem, ela vai ter que devolver amanhã.

A noite Abby ficou pensando sobre o que aconteceu, ela achou que mais alguns segundos encarando Adam no pomar e ela o teria beijado, aos poucos os olhos dela foram se fechando e Abby adormeceu profundamente.

Adam esperou até que seu gêmeo dormisse e saiu para o corredor, abrindo uma pequena fresta na porta do quarto à frente. Ele espiou Abby e não pode ficar decepcionado ao perceber que ela dormira sem segurar a sua mão.

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