Capítulo 4
O jogo não acabou tarde, mas quando retornaram ao acampamento formou-se uma fila para usar o chuveiro, Abby ainda se sentia intrusa então permitiu que todos fossem antes dela.
Felizmente, Carl e os três mais velhos pararam para conversar em uma barraca repleta de funcionários da escola. Ao longe, a garota observou que os homens estavam tensos.
Quando Abby saiu do banho, os outros já estavam indo se deitar.
- Quer ficar com a cama de cima? - perguntou Adam assim que Abby entrou no quarto.
- Não, eu fico aqui.
- Bem, boa noite então.
- Boa noite, Adam.
Abigail se deitou mas não conseguia dormir, ela se perguntava até quando isso duraria.
Horas depois Adam percebera a insônia da garota embaixo dele, felizmente a cama não estava encostada nas lonas e Adam pôde descer seu braço pela lateral e passar seus dedos pelo cabelo de Abby.
A garota não se assustou, pegou a mão dele e beijou seu dorso antes de aninhar o rosto na palma.
Levou apenas alguns minutos, antes que os dedos de Adam começassem a ficar dormentes Abby já adormecera.
Mas o sono tranquilo da menina não durou muito, os garotos sonolentos foram acordados por Carl aos gritos.
Abby vestiu seu tênis e correu para fora ainda de pijama, Harry, Will e August empunhavam revólveres e dobravam suas mangas.
- Estão armados? - Abby perguntou ao tio.
- Ethan, Adam fiquem com as meninas - Sr. Coopers falava apressado, eles ouviram risadas altas e maléficas e viram as pessoas das barracas ao longo do acampamento correrem para a floresta, quatro pessoas eram postas à frente por homens portando rifles e Abby entendeu que eram ativistas e seus algozes membros encapuzados do Estado Novo - levem elas para a floresta e voltem pelo caminho que viemos.
Carl partiu seguido dos mais velhos, os demais se viraram para a floresta mas Abby correu para o outro lado, atrás de Harry.
- O que está fazendo?! - Adam agarrou-a pelo tecido do pijama.
- O que você está fazendo? Cadê sua arma?
- Você é maluca garota - Adam puxou Abby para trás de uma das barracas - porque eu teria uma arma?
- Me solta - ela se desvencilhou das mãos dele, Abby espiou pela lateral da lona - vocês são da máfia ou o que?
- Se abaixa Prewett - Adam sabia que Abby ia continuar ali, falando como uma tagarela - na versão resumida, a escola é uma máscara para um grupo que luta contra o Estado Novo, e minha família faz parte.
Um estampido alto como uma explosão ecoou fazendo seus ouvidos doerem. Perto deles duas outras barracas começaram a pegar fogo.
- Temos que correr para a floresta - Adam disse olhando em volta para garantir que ninguém os veria.
Enquanto ele olhava, Abby corria a toda velocidade para o meio das árvores obrigando Adam a ir atrás dela.
Uma vez no interior da floresta eles pararam, olhando de um lado pro outro, eles não faziam ideia de onde estavam os outros ou a estrada.
- Com pressa? - Abby olhou na direção da voz arrastada que chamava sua atenção.
- Liam? Porque tá parado aqui? Adam aqui - ela acenou com as mãos no alto para o garoto achá-la.
- Só apreciando o show.
- Do que está falando, isso é macabro.
- São rebeldes Abby.
- Rogue - rosnou Adam.
- Cadê seus pais? - Liam deu de ombros - vem, vamos achar a estrada.
- Pode ir, eu to muito bem aqui.
- Abby, vamos logo.
- Pode nos dizer pra onde fica a estrada? - Rogue olhou para Abby com nojo - por favor.
Liam desviou o olhar e voltou a fitar a confusão lá embaixo.
- Anda, Abby.
- Você é um idiot, Liam.
Os dois correram mais para dentro da floresta.
- Conhece ele?
- Longa história.
- Olha - Adam apontava mais a frente - nossa barraca era aquela então a estrada está pra cá.
Eles correram então para a direção indicada até encontrar a estrada e continuaram correndo por ela até Adam parar ofegante com as mãos nos joelhos.
- Você tá bem? - Abby perguntou apreensiva - vamos. Adam, temos que chegar até onde os outros estão, com sorte vão nos esperar.
- Ok, mas vamos mais devagar.
Eles ainda podiam ouvir a baderna e os gritos dos ativistas lá embaixo, mas estavam distantes.
- Quer me contar agora como conhece, Rogue?
- Nossas famílias eram amigas.
- Dúvido que o irmão da minha mãe fosse amigo do Luke Rogue.
- Certo, eles se aturavam mas a minha mãe era muito amiga da tia Ali e eu e Liam passamos muito tempo juntos nas férias de verão e Natal, mesmo morando tão distantes.
- Passavam tempo juntos?
- É, tínhamos aula de esgrima, piano, xadrez...
- Nas férias?
- Sim.
- Ele é problema, sabe disso né?!
- É, ele está estranho, imagina se descobrir que vou para o Barracão. Einda mais que não sou legítima da Elite.
- Seus pais morrerem não faz de você alguém da classe mais baixa. Ainda tem sangue da elite.
- Eu sou adotada.
- Adotada?
- Sim, minha mãe me dizia que era um milagre eu ser achada por ela, eles não se importaram com minha origem quando me tiraram do orfanato.
- Como assim?
- Eles estavam desesperados por um bebê e minha mãe não podia engravidar então não se importaram que eu fosse da casta - Abby voltou a caminhar.
Nossa sociedade era dividida assim, a elite, como meu pai, a tia Molly e os Rogue e a casta que é todo o resto da população
Às vezes eles se misturam, como quando tia Molly se casou com tio Carl se tornando uma Copper, mas isso era muito raro.
- Então você não é minha prima de verdade? - Adam abriu o maior sorriso possível.
- Nossa, que bom que você está feliz com isso.
- É que eu não esperava.
- Mas meus pais sempre diziam para os outros que eu era legítima.
- Acha que minha mãe sabe?
- Sim, ela sabe.
- Talvez seja melhor continuar guardando esse segredo em Vause.
- Os alunos são muito intolerantes?
- Não, só o Rogue e o grupinho dele, mas é melhor evitar. E na verdade você é filha deles e ponto não importa em qual barriga foi gerada.
- Tem razão. Obrigada Adam.
Ele ofereceu a mão para Abby e ela a segurou o restante do caminho.
Seus dedos ainda estavam entrelaçados quando encontraram os demais próximo ao topo.
- Estão de mãos dadas? - Ethan perguntou incrédulo.
- Está escuro aqui - Abby soltou rapidamente - não queriamos nos perder.
Ela se sentou com Emily e deixou a menina deitar em seu colo, Abigail começou a sentir um frio absurdo mas logo o Sr. Cooper chegou, o dia quase amanhecia e foi uma confusão até todos descerem o morro e passar pela trilha.
Carl teria que ficar para juntar as coisas e a barraca, então Harry acompanhou os mais novos, o caminho de volta foi mais árduo que a ida.
Chegaram a chacará exaustos, mas assustados demais, acabaram deitando todos na sala, Adam fez questão de ficar perto de Abby e quando achou que ninguém estava olhando ele tomou a mão da garota novamente.
- Vou ficar mal acostumada, Cooper.
- Eu também.