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05

• Matheus narrando •

Observo a Jéssica indo embora praticamente correndo com as crianças, aperto o volante com raiva e dou um soco no mesmo.

Fiquei anos imaginando como seria o nosso reencontro e se isso um dia fosse acontecer, e de tudo que imaginei jamais imaginaria que a Jéssica iria aparecer com duas crianças dizendo que são meus filhos.

— Droga! — digo com raiva.

— O que foi, papai? — Murilo pergunta curioso.

— Nada filho, vamos embora. — digo ligando o carro novamente.

Rapidamente chegamos no hospital, estacionei o carro novamente, ajudei o Murilo a descer e entramos no hospital.

Patrícia assim que nos viu veio correndo. Ela estava espumando de raiva.

— Aonde vocês estavam? — pergunta ao se aproximar.

— Fui dar uma volta com o Murilo. — minto.

— Custava me chamar pra ir junto?

— Mas mamãe, eu acho que não ia caber todo mundo no carro. — Murilo diz inocente.

— Como assim? — Patrícia pergunta me encarando.

— Dei carona pra um conhecido meu...

— Que conhecido? Quero nomes… — ela diz.

Levantei a sobrancelha lhe encarando. Eu não devo satisfação da minha vida pra ninguém.

— Fiz dois amiguinhos novos mamãe, a menina chama Alice e o menino Alex. — Murilo conta animadamente.

— Deu carona pra um conhecido ou para a vadia?

— Primeiro, não fale assim da Jéssica. Nos sabemos quem é a vadia aqui. Segundo, não começa com seu showzinho, estamos no hospital e eu tô de cabeça cheia.

— Então é isso?! Você sai, dá carona pra uma vadia qualquer e quer que eu fique de boa? Eu já te avisei ou você esquece que um dia conheceu aquela mulher ou eu vou embora pra sempre com o Murilo! — tenta me ameaçar.

Toda vez era essa palhaçada. Toda hora me ameaçava colocando o menino no meio. Não precisava ser a pessoa mais inteligente pra saber que eu morreria pelo meu filho e ela usava isso pra tentar me deixar preso a ela.

— E eu já te falei, se você for embora com ele, eu te caço até no inferno! Não me ameace, você sabe muito bem do que sou capaz. — digo apertando seu braço com força.

— Eita, vamos acalmando os ânimos por aqui né?! — Arthur diz me puxando pra trás.

Murilo olhava tudo com os olhinhos arregalados, peguei o mesmo no colo e me sentei afastado na sala de espera.

— Papai, você tá babo? — pergunta com seus olhinhos brilhantes.

— Não, filho — digo apenas, acariciando seus cabelos.

— Eu gostei de binca com o Alex e a Alice...

— Que bom meu filho.

As palavras da Jéssica em momento nenhum saíam dos meus pensamentos. Eu não parava de pensar nela e nas crianças.

Será que eles são realmente meus filhos?

Não, não pode ser!

A Jessica não me esconderia uma coisa dessa durante tantos anos…

Ou esconderia?

Balanço a cabeça para afastar todos os pensamentos que me levasse até a Jéssica.

Fazia quatro anos e meio que ela foi embora, no começo foi ruim, e agora que eu finalmente tô superando, ela volta e acende em mim novamente aquela chama do amor...

Eu estava conseguindo seguir em frente, sem olhar pra trás e de repente, ela surge como quem não quer nada e me diz que eu tenho dois filhos. Como ela acha que eu vou ficar? Eu ainda não lhe esqueci, eu ainda a amo, ainda penso nela, em nós. Precisava aparecer de novo e fuder com a minha mente dessa maneira?

Eu estava seguindo minha vida com a Patrícia. Porém, eu queria que fosse ela. Sim, eu desejava todos os dias da minha vida ter ela ao meu lado mais uma vez. Queria que ela fosse a pessoa certa pra mim, que iria me esperar o tempo que fosse. Que iria ficar no meu lado, pra sempre. Queria muito, sabe? Desejei isso com todas as minhas forças.

— Quer conversar? — Mariana pergunta chamando minha atenção se sentando ao meu lado.

— Não. — digo seco.

— Matheus, você precisa desabafar com alguém ou vai acabar explodindo guardando as coisas apenas pra você. Você está com essa mania feia de ficar guardando as coisas apenas pra ti. Antes você desabafava comigo e juntos a gente procurava uma solução. Agora você se fechou completamente. Não consigo me aproximar para te ajudar. — ela diz colocando as mãos em meu ombro.

— Por que ela voltou? — pergunto com a voz falha.

— Eu liguei para que ela viesse. Dona Ana pediu. Elas se gostavam muito. Mas você deveria estar preparado para esse momento, era de se imaginar que uma hora ou outra, ela voltaria.

— E eu achava que estava preparado pra esse momento, mas vi que não. Ou melhor, eu não estava esperando que ela chegasse depois de quatro anos com duas crianças dizendo que são meus filhos. — suspiro — Mari, eu sei que errei, sei que eu fui um filho da puta com ela e eu me arrependo muito disso! Se eu pudesse voltar no tempo faria tudo ao contrário, me deixei levar pela dor de ter perdido meu filho, sei que não devo ficar procurando um culpado sendo que o único culpado fui eu, mas não consigo evitar. Eu amo aquela mulher. — desabafo na sinceridade.

— Quem ama cuida, mas não sufoca . Porquê tudo que sufoca, mata. E quem ama não mata! — Mariana diz.

— Ela me disse que Alice e Alex são meus filhos… — suspiro — Por que ela está mentindo pra mim? Vocês sempre falaram tanto da Patrícia mentir sobre a paternidade do Murilo e vejam só…. A sua amiga,  a protegida de todos esta mentindo pra mim. Por que, Mariana? Por que?

— Matheus, ela não mentiu. Realmente, vocês tiveram dois filhos juntos.

— Você também, Mari?

Eu me nego a acreditar que todos mentiram pra mim esse tempo todo.

— Matheus, um mês depois que a Jéssica foi embora ela descobriu que estava grávida.

—  Co-como? — digo nervoso — Por que ela nunca me falou? E vocês sabiam disso o tempo todo e não me falaram, por quê? — digo indignado.

Como puderam me esconder uma coisa dessas? Eles não tinham esse direito. São meus filhos, porra.

— Ela foi embora pra te esquecer… — lhe interrompi.

— Foda-se, vocês não tinham o direito de me esconder uma coisa dessas! São meus filhos. Eu perdi quatro anos da vidas deles. A minha filha chama outro cara de pai. Vocês tem noção do que fizeram? — digo sentindo um milhão de coisas ao mesmo tempo. Raiva. Ódio. Sentimento de traição.

— Talvez, ela tenha errado em ter te escondido isso durante todo esse tempo, mas você lembra que a alguns anos atrás você me disse que ela havia te ligado? — apenas assenti — Então, ela tinha ligado para te contar sobre a gravidez e o que você fez? Falou para a Patrícia que ela não era ninguém... Você já parou pra se colocar no lugar dela por um minuto? Ela foi traída, sequestrada, abusada, perdeu um filho, ficou praticamente presa no morro por você, e você só sabia chegar em casa, bêbado, drogado e com cheiro de mulheres, que mulher aceitaria isso?! Nenhuma! Ela pensou em tirar a própria vida m, Matt... Por sua culpa. Então ela decidiu ou ir embora, ou se entregar de vez pra morte. A decisão mais dolorosa da vida dela foi ter te abandonado, mas era necessário... Quando ela descobriu a gravidez ela pensou em te contar, de verdade, mas ela tinha medo... Ela tinha medo de contar pra você sobre a gravidez, e você querer que ela voltasse e ela sofresse tudo novamente, ela estava com medo de que acontecesse tudo novamente, de perder os bebês. Se coloca por um segundo no lugar dela e vê o quão maravilhosa ela é, o quão guerreira ela foi, o quanto ela sofreu por você... Mesmo longe, mesmo as crianças não te conhecendo ela sempre deixou claro para as crianças que o pai delas é você! Se você ama mesmo ela, corre atrás. Mas seje homem dessa vez e não um moleque. — Mariana joga as verdades na minha cara sem dó.

— Eu… puta que pariu, caralho. Minha cabeça ta girando, a gente teve dois filhos. Meu Deus. Aquela nossa despedida nos rendeu dois frutos do nosso amor.

— Sim, eles são lindos. Alex é seu xerox. Alice é mais chatinha —ri — ela insiste em chamar aquele otário de pai. — resmunga.

— Como assim ela chama outro de pai? — digo bravo.

— Pois é, amigo... Jéssica tá noiva de um cara ai, e ele desde quando a Jéssica estava grávida sempre esteve ao lado dela e inclusive ele tenta fazer o papel que é seu! — joga na minha cara — Ele assistiu seus filhos nascer, ele ajudou a Jéssica a cuidar, trocar fraldas... Adivinha qual foi a primeira palavra do Alex? Sim, foi papai... Mas não foi pra você, foi para outro... Você quer mesmo isso?

Abri a boca pra me defender, mas Mariana logo me cortou.

—  Não, não culpe a Jéssica. Eu sei que ela errou em te esconder, mas quem decidiu afastar ela da sua vida foi você mesmo! Se você não tivesse sido tão babaca, ela teria ficado com você, você teria cuidado cada segundo da gravidez dela.

— É muita coisa pra raciocinar — digo balançando a cabeça — Só de imaginar a Jéssica com outro me dá uma vontade de matar esse filho da puta.

— Você achou que ela iria continuar falando sobre você comigo? Que ela iria chorar todos os dias sentindo sua falta? Que ela iria se trancar pro mundo e achar que depois de você, não existiria mais vida lá fora? Cê achou mesmo que ela iria ficar esperando a sua incerteza? Você pensou que ela iria sentar e esperar você ir atrás dela? Você pensou que ela iria acreditar pra sempre que você iria mesmo mudar por ela, não foi? Ela até acreditou nisso durante num tempo. Ela pensou que você fosse capaz de mudar, ela queria que vocês estivessem juntos e bem. Ela acreditou nas suas palavras, uma, duas, tantas vezes, mas ela cansou...

— Mariana... — tento falar, mas ela continua despejando as palavras na minha cara.

— Não — balança a cabeça negativamente — Deixa eu falar primeiro... — voltou a falar — Ela acreditou quando você disse que tudo iria ficar bem, mesmo que depois tudo ficasse ainda mais complicado, mas ela como sempre acreditava nas suas falsas promessas. Cê dizia que iria mudar, mas piorava. Cê pedia desculpa, mas fazia o mesmo depois. Você prometia e nunca cumpria. Ela cansou, cara. Você achou que ela iria te esperar pra sempre? Ela até te esperou por muito tempo, Matt. Bem mais do que ela pode suportar, mas chegou o dia que ela cansou de você, trocou o chave do peito e te expulsou de lá. Vestiu o melhor amor que ela tinha e saiu pra ver o mundo lá fora, um mundo que ela só consegui enxergar sem você. Você deveria deixar de ser o babaca de achar que ela ficaria pra sempre em tuas mãos, porque ela não iria, o lugar dela é no coração, cara. Cê achou que ela jamais conseguiria seguir em frente, mas você se enganou, mais uma vez, você se enganou...

— Você é minha amiga ou minha inimiga? — pergunto levantando uma sombrancelha. A mina joga as coisas na minha cara assim, sem medo de morrer.

— Eu sou sua amiga, sua melhor amiga e por isso eu tô te dizendo isso... Eu não quero ver você se arrependendo o resto da vida por ter feito certas coisas, ter tomado certas atitudes... Eu sou sua amiga, mas nem por isso, vou passar a mão na sua cabeça vendo você tendo essas atitudes idiotas.

— Eu concordo com o que você falou... Eu realmente, pensei que ela nunca iria seguir em frente, eu pensei que ela ainda estaria sozinha e de braços abertos pra mim... Eu fui um idiota né?

— Quer mesmo que eu te responda? Todos aqui sabemos o quão idiota você foi — ela diz rindo.

— Preciso falar com ela, sobre as crianças, sobre nós, sobre tudo...

Olho Mariana nos olhos e eu nem precisei dizer nada, ela já sabia o que eu queria.

— Sei que ela vai me matar, mas vou te passar o número dela — diz mexendo no celular.

Mariana me passou o número da Jéssica e eu pedi pra ela olhar o Murilo um pouco enquanto eu iria dar uma volta pra colocar meus pensamentos em ordens.

As palavras da Jéssica dizendo que aquelas duas lindas crianças eram meus filhos, não saia da minha cabeça. Juntamente com a conversa que acabei de ter com a Mariana. Eu preciso ir atrás dela. Preciso conversar com ela. Além do Murilo, agora eu tenho mais dois filhos e eu realmente quero recuperar o tempo perdido com eles.

“E eu que tive tanto medo de te perder para a morte, te perdi para a vida.”

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